Quando a Terra tremeu, os corações comoveram-se

Histórias de esperança, na sequência do terramoto de 6,9 no dia 30 de setembro, em Cebu, nas Filipinas.

Foi um daqueles desastres naturais que a ciência nunca consegue prever, na sua totalidade.

O terramoto de magnitude 6.9, com origem numa falha pouco vigiada e sem nome (agora denominada Falha de Bogo Bay), abalou as Filipinas por volta das 22h00, do dia 30 de setembro. É hoje considerado o terramoto mais mortal e destrutivo do país, da última década. Sismólogos filipinos e estrangeiros identificaram o epicentro a 10 quilómetros da costa leste de Daanbantayan, na ponta norte da Ilha Cebu, a mais de 600 quilómetros a sudeste de Manila.

O terramoto foi responsável por 79 vítimas mortais, 1271 feridos e o dano ou destruição de quase 152 mil casas. As primeiras estimativas relativas à destruição de infraestruturas rondam os 63,7 mil dólares, incluindo 5 587 salas de aula, que afetaram 19 mil estudantes e 950 profissionais, entre professores e pessoal. O impacto económico em Cebu, turismo incluído, ainda está por determinar.

Um dos símbolos mais notáveis do impacto do terramoto é o Santuário arquidiocesano de Santa Rosa de Lima, em Daanbantayan, com danos estruturais de 70 a 80%. Mais de 140 edifícios turísticos e de património foram fortemente afetados, desalojando 2 mil trabalhadores. Os serviços, incluindo o turismo, foram responsáveis por mais de 70% das receitas económicas de Visayas, em 2024.

Quando o terramoto se deu, pareceu que o mundo parou. Colapsaram casas, perderam-se vidas, e cidades outrora pacíficas tornaram-se paisagens de escombros. Apareceram crateras na terra, mas ainda mais profundas eram as feridas no coração das pessoas.

Peregrinação da esperança

Naquelas horas sombrias, a ajuda veio de corações que se comoveram à distância. A Fundação Juvenil de Kalinangan (KALFI), sedeada em Manila, enviou imediatamente ajuda financeira para as operações de socorro. Em questão de dias, equipas de jovens voluntários partiram numa jornada longa e incerta, para o norte de Cebu.

Uma viagem que normalmente duraria três horas, levou 12 horas extenuantes. As ruas estavam com fendas e bloqueadas; milhares de veículos entupiam as autoestradas, com o propósito de levar ajuda às mesmas áreas devastadas.

Mas os voluntários continuaram, apesar do calor, da chuva e da exaustão, com um único objetivo: levar ajuda e esperança.

“Não era só uma viagem – disse um dos voluntários da KALFI –. Parecia uma peregrinação, uma jornada de amor, dor e fé”.

Na primeira viagem, distribuíram água, tendas e lonas (trapals). Prepararam e serviram refeições, a mais de mil pessoas, cozinhadas durante a noite para que o abastecimento pudesse ser feito de manhã.

Os que não conseguiram juntar-se à comitiva encontraram formas de ajudar, empacotando produtos, recolhendo donativos e dando o pouco que tinham.

“Alguns deram enlatados, outros garrafas de água – relembrou um dos organizadores da KALFI –. Mas quando toda a gente deu um bocadinho, tornou-se a multiplicação dos pães e dos peixes”.

Pedidos de ajuda

Os voluntários chegaram a bairros de Bogo, tais como Tabuelan, Medellin, Borbon, Tabogon, e San Remigio, regiões que tinham recebido pouca ajuda.

Ao longo do caminho, as famílias acenavam, munidas de cartazes escritos à mão: “Daghang Salamat sa Tabang!” (Muito obrigado pela ajuda!) ou “Amping sa byahe!” (Cuidado na estrada!). Outros apenas imploravam: “Tabogon precisa de água”.

“Conseguem ver-se os buracos no chão – disse um voluntário da KALFI –, mas o buraco dentro de nós, ao ver o sofrimento deles, é ainda mais profundo”.

Abrigo nos escombros

Em Borbon, uma estudante do Centro para o Desenvolvimento Profissional de Banilad, enfrentava a destruição da sua casa. Apenas partes da parede subsistiram, memórias dispersas. A filha mais velha, cujo pai trabalha como segurança e a mãe é dona de casa, perguntava-se como a família iria sobreviver.

Quando a equipa KALFI chegou, depois de 12 horas de viagem, ela e cerca de 100 moradores receberam tendas e trapals para abrigo temporário que foram, nada mais nada menos do que a sua salvação.

“Não sabíamos para onde ir – segredou, quase a chorar –. Mas, naquele dia, voltámos a ter um teto”.

Naquela noite, a família dormiu debaixo de uma nova tenda, com medo do vento, mas a sensação de segurança, ainda que apenas por um tempo, não teve preço.

Debaixo do céu

Em Tabogon, Laliane e a família tinham estado a dormir na berma da estrada, a céu aberto. Quando um organizador da Kalfi os contactou para saber como estavam, ela enviou uma foto: famílias estendidas no pavimento, amontoadas, a céu aberto.

“Precisamos de trapals, água, comida” – escreveu.

A equipa entregou o que pôde, distribuindo tendas e lonas aos mais velhos, que seguraram como se de ouro se tratasse. A montanha era íngreme e a viagem foi longa, mas valeu a pena. Nesse mesmo dia, uma família ofereceu cocos frescos aos voluntários, sorrindo para além das suas perdas.

Gamay ra ni – disseram –, pero gikan ni sa among kasingkasing” (Pode ser pouco, mas é de coração).

A rapariga não só matou a sede aos voluntários, também lhes renovou o espírito.

Pensar nos outros primeiro

Em San Remigio, a equipa encontrou-se com Cherylyn, um ex-aluno de um organizador da KALFI. A casa de Cherylyn tinha ruído, o irmão tinha fraturado um braço e a mãe havia sofrido uma lesão pélvica. Ainda assim, não pediu para si.

“Pode trazer camas dobráveis e água para os meus vizinhos?” – disse.

E assim fez a equipa, distribuiu camas para os mais velhos e partilhou refeições e água pela pequena comunidade na sua totalidade.

Uma avó, que havia perdido a casa, ofereceu uma quantidade grande de bananas.

“Isto é para vocês – disse, suavemente –. Quando as vi amadurecer, pensei nos que viriam ajudar”.

As camas que receberam tornaram-se tesouros. Para os que dormem no chão, uma cama dobrável representa conforto, dignidade e esperança.

À medida que a equipa de socorro continuou, os pequenos milagres desdobraram-se: um fornecedor ofereceu um desconto em camas desdobráveis e uma empresa de camiões cedeu temporariamente veículos, de forma gratuita.

Quando as pessoas recebem uma única garrafa de água, uma tenda, ou uma trapal, agarram-se a elas como se fossem os seus bens mais preciosos. A gratidão irradiava dos seus rostos. Estavam cansadas, mas sorriam, esgotadas, mas cheias de fé.

“O terramoto partiu paredes – disse um voluntário –, mas construiu pontes entre corações, estranhos, entre os que dão e os que recebem”.

Esta missão contínua (agora no terceiro fim de semana) tornou-se mais do que uma operação de socorro. É uma história de solidariedade, de multiplicação de amor, de ilhas de compaixão, de tremores de fé duradouros.

«Que a tua vida não seja uma vida estéril. – Sê útil. – Deixa rasto. – Ilumina, com o resplendor da tua fé e do teu amor» (São Josemaria, Caminho, n. 1).

Estas palavras continuam a inspirar o coração da KALFI. Que nasceu da visão para formar jovens que vivem com propósito, Kalinangan Youth Foundation, Inc. é uma fundação privada, sem fins lucrativos ou ações, que se dedica a trazer à tona o melhor da juventude, desbloquear a sua criatividade, despertar a paixão pelo trabalho com sentido e acordar nela um amor pela verdadeira liberdade.

Na sequência do terramoto de Cebu, este espírito ganhou vida, mais uma vez. Voluntários, incluindo jovens profissionais, estudantes e mentores, ofereceram os seus fins de semana, a sua força e o seu sono para levar esperança onde tudo parecia perdido. Venceram o calor, a chuva, as longas estradas, não por glória, mas por amor.