Como viver o mandamento do amor ao inimigo e, mais concretamente, ao terrorista? Esta é a pergunta à qual responde o prelado do Opus Dei. «Rezando por sua conversão: ou seja, rezando por sua redenção», afirma, nesta entrevista concedida à Zenit, D. Javier Echevarría Rodríguez. Prelado do Opus Dei desde 1994, segundo sucessor de S. Josemaría Escrivá de Balaguer, D. Javier Echevarría fala à luz do Evangelho e da experiência concreta de pessoas da Prelatura tocadas pelo flagelo terrorista em diferentes países.
Na sua declaração após os atentados de 11 de março, o senhor convida a rezar pelos terroristas. É possível rezar por pessoas que são capazes de matar dessa maneira tão selvagem?
Basta olhar para Jesus Cristo, modelo permanente para o homem. À luz de seu exemplo se conclui que sim, que é possível rezar quando se sabe distinguir entre o crime e quem o comete. Ao pedir por quem assassina de modo selvagem, não estamos negando a maldade de sua ação nem a necessidade de que seja julgado segundo as normas equânimes do direito. Não existe justificativa ante o mal, a violência não pode ser defendida. Mas esta intransigência ante o mal em si é compatível com algo que está no coração da missão da Igreja: o perdão dos pecados. A justiça não está brigada com a misericórdia.
Cristo diz no Evangelho: «amai os inimigos». O que significa na prática amar o terrorista?
Jesus Cristo convida a viver a misericórdia não só com os seres queridos, mas também com o inimigo; não só com quem arquiteta o mal, mas também com quem nos causa dano direta ou indiretamente. Na realidade estamos ante um mistério que resulta indecifrável, ainda que de alguma maneira se entenda com o prisma da maravilhosa virtude da caridade. Como aplicá-lo ao caso do terrorista? Rezando por sua conversão: ou seja, rezando por sua redenção, mais além de seu justo castigo nesta vida.
É possível perdoar quem não quer ser perdoado? Como viver esse perdão na prática?
Penso que é preciso começar pela prática do espírito de perdão na vida cotidiana. Precisamos aprender a perdoar e a pedir perdão, «em pequena escala», nas relações familiares, profissionais e sociais. Atreveria-me a parafrasear o Evangelho: quem perdoa no pouco, será capaz de perdoar no grande. Essa atitude dá frutos «em grande escala». É algo que posso dizer que toquei com as mãos na conduta de São Josemaría Escrivá, que jamais se sentiu inimigo de ninguém, tampouco de quem o maltratava.
Na Espanha, nas últimas décadas, imagino que pessoas da Prelatura ou próximas sofreram com o terrorismo. Qual foi sua experiência?
Tive ocasião de compartilhar essa experiência com alguns fiéis da Prelatura e com outros católicos, não só na Espanha, mas também em outros países, como Colômbia, por citar só um exemplo. São momentos de grande comoção e dor. O golpe é tão forte que pode arrastar à perda do controle das próprias emoções. Mas fui testemunha, graças a Deus, de como pessoas afetadas em sua família ou nelas mesmas souberam sobrepor-se e enfrentar com heroísmo essa situação. No fundo, negam-se a reconstruir suas vidas desde o rancor --plantar a semente do ódio é talvez o efeito mais diabólico do terrorismo-- e decidem continuar seu caminho cristão, como antes, e talvez melhor que antes. Estou convencido de que as vítimas do terrorismo contam com uma graça especial de Deus, que lhes concede fortaleza. E assim, acabam sendo para quem lhes rodeia, como a luz na escuridão.
Quais o senhor crê que são os elementos fundamentais da resposta cristã ao terrorismo islâmico?
É importante não tomar o todo pela parte, não desqualificar um conjunto de países formados por milhões de pessoas, uma cultura inteira, pela ação de uma minoria. Por isso resisto a usar a expressão «terrorista islâmico». Penso que na vitória sobre o terrorismo também devem desempenhar um papel importante os próprios muçulmanos, os muitos cidadãos pacíficos que amam a liberdade e a vida --própria e dos demais-- e que praticam sinceramente e sem fanatismos sua religião. Também, minha experiência é que os católicos árabes desempenham uma tarefa essencial, porque estão em condições de erguer pontes de entendimento.