Como conheci o Opus Dei
Apercebi-me da existência do Opus Dei no Canadá. Os meus pais eram embaixadores nesse país e aí conheci o Víctor, o meu futuro marido, que era Supranumerário e trabalhava, nessa altura, na embaixada de Espanha. Foi ele a primeira pessoa que me falou do Opus Dei.
Os meus pais eram católicos, mas em casa havia uma atitude que dava por adquirido que a piedade era coisa de mulheres. Ao terminar o ensino secundário, desliguei-me de todo esse mundo religioso, que me dizia muito pouco.
O Víctor, pelo contrário, era um homem de uma grande fé. Quando ia regressar a Roma, para apresentar a minha tese, pediu-me para visitar o túmulo de um sacerdote “muito bom, que está sepultado em determinado local ”. Não fazia ideia de que se tratava de São Josemaria. O local era a rua Bruno Buozzi, no bairro Parioli, onde eu tinha vivido durante anos. Tinha passado todos os dias em frente daquela casa sem saber que era a sede do Opus Dei. Para satisfazer o pedido do meu namorado, toquei à porta da casa de Bruno Buozzi.
Encontro com D. Álvaro
A partir daí entendi com toda a clareza que não fui eu que escolhi o Opus Dei, foi Deus que me escolheu para a Obra.
Quando ia já a sair e interiormente acabava de me despedir para sempre daquele lugar, vi entrar três sacerdotes. Fixei-me especialmente no que estava no meio. Tinha uns olhos muito celestiais, um olhar cheio de bondade. Supôs que eu era amiga de alguma das raparigas da Obra presentes e dirigiu-se a mim: “As amigas das minhas filhas são como filhas minhas”. Tocou-me a bondade do seu olhar. Perguntei como se chamava o sacerdote: D. Álvaro.
Quando cheguei a casa escrevi uma carta a D. Álvaro. Contei-lhe a minha história. Não sei por que o fiz. Mas nessa mesma tarde levei a carta a Bruno Buozzi. Nessa mesma noite, a rapariga que me tinha atendido telefonou-me da parte de D. Álvaro del Portillo. Assim começou a minha relação com o Opus Dei. Foi o início de um processo que me levou a descobrir realmente Deus.
O meu encontro com o Opus Dei foi realmente de Deus. Nunca tinha pertencido a nada, tinha um total sentido de provisoriedade, vivendo pouco tempo em locais diferentes... Encontrar-me com o Opus Dei fez com que se reestruturasse a minha própria existência, foi como encontrar um caminho, encontrar Deus. A religião tinha-me parecido até aí o refúgio dos inseguros. Achava tudo muito ritualista e enfadonho e sufocava-me, gerava-me una certa aversão. Ficava nas formas, não entendia os conteúdos. Quando comecei a perceber os porquês, mudei a minha vida. A partir daí entendi muito claramente que não fui eu que escolhi o Opus Dei, foi Deus que me escolheu para a Obra.
Para mim rezar era entrar numa igreja. Através do Opus Dei aprendi a fazer com que tudo seja uma conversa com Deus, foi algo revolucionário. Entendi que o trato com Deus e a vida cristã não supõem sair do sítio em que se está. O trabalho, a família, são precisamente o ambiente onde encontrar Deus. Ao princípio, evidentemente, custou-me adquirir hábitos de piedade, até que percebi que falar com Deus é como falar com um pai. Para mim estar com Deus é conversar com Ele.
Uma dupla vocação profissional: a Psicologia clínica e o lar
Se não me tivesse podido dedicar à vida intelectual, não teria sido feliz, não teria sido feliz sem um espaço no meu campo profissional, a Psicologia. Nem sempre pude dedicar-me à Psicologia com a mesma intensidade. Houve momentos em que a família necessitava de mim e tive que deixar o meu trabalho para acompanhar o meu marido e começar a partir do zero noutro local. Sendo mãe de família numerosa tive, além disso, bastantes problemas. Não podia ter um trabalho profissional qualquer, do tipo de relógio de ponto e horários longos. Tinha que trabalhar a horas convenientes, quer em Roma, quer em Barcelona onde exerci profissão liberal. Em Itália, com um neuropsiquiatra catalão. Em Barcelona, trabalhei primeiro numa clínica e em várias coisas, até que pude montar um consultório juntamente com um psiquiatra. Entretanto esse consultório cresceu imenso. Podemos atender muitas pessoas, desde crianças a idosos, no âmbito psiquiátrico e no âmbito da psicoterapia.
Digo sempre que o nosso trabalho não é um trabalho profissional, mas uma missão. Una missão especialmente bela porque permite consolar, permite fazer o bem, no concreto, a pessoas concretas. Não é um trabalho de exibição, mas é um trabalho que dá uma grande gratificação.
Há que respeitar muito a liberdade das pessoas, mas se me abrem as portas e mo possibilitarem – fazem-no muitas pessoas – posso introduzir também o aspecto espiritual, porque faz parte da vida do ser humano.
Pode-se actuar a muitos níveis. A boa educação é a base para levar para a frente uma pessoa, para que entenda valores, reestruture a sua personalidade, reoriente a sua própria vida, mesmo que apenas humanamente. Se não houver uma doença mental que impeça ou obstaculize a percepção da vida de uma pessoa, se se pode fazer com ela este tipo de trabalho, mesmo que seja apenas nos primeiros substratos, é extremamente positivo. Qualquer pessoa que se equilibre tenderá sempre para a Verdade e poderá potenciar a dotação vital, ou seja, os seus talentos não desenvolvidos.
Há que respeitar muito a liberdade das pessoas, mas se me abrirem as portas e mo possibilitarem – fazem-no muitas pessoas – posso introduzir também o aspecto espiritual, porque faz parte da vida do ser humano. E como faz parte da vida do ser humano e a mim o que me interessa é a sua vida integral, se a pessoa lhe dá importância, falo também disso. Mas, apesar de se falar apenas no âmbito humano, muitas destas pessoas já estão orientadas para a busca da Verdade. Não nos inquieta o ponto que atinjam, nem em que circunstâncias se encontram, porque sempre se pode fazer algo por elas. Sempre, sempre.
A formação dos filhos
Graças aos nossos filhos, o meu marido e eu podemos fazer imensas coisas. Ao contrário do que costuma dizer-se, a família numerosa foi o que fez com que as nossas habilidades se tenham multiplicado, porque por eles trabalhamos e por trabalhar nos multiplicámos. Graças aos nossos filhos, e ao esforço que supôs para nós os dois, podemos progredir dentro do que é possível. Poderíamos ter optado por ter uma vida muito mais cómoda, mas com muito menor qualidade humana.
Para educar os filhos, o importante é a formação pessoal. Em que te queres converter? Quem queres ver ao espelho quando te levantas? Queres ver uma pessoa boa, educada, generosa? Pois então constrói-a. Descobrir que cada um se pode construir a si próprio, é verdadeiramente maravilhoso. Aos filhos ajuda-os muito aperceberem-se de um testemunho de luta dos pais em vez de um testemunho de perfeição, em que os erros têm lugar, em que é preciso recomeçar... Tudo isto aprendi no espírito do Opus Dei e é o que procuro viver.