Para o alto com Pier: não basta dar do que sobra

Apesar da sua vida confortável, Pier Giorgio Frassati escolheu entregar-se aos pobres com tempo, amizade e presença real. O seu funeral, cheio de pessoas humildes, foi testemunho de uma vida gasta em generosidade autêntica. Neste artigo partilhamos breves notas biográficas e datas importantes da sua vida.

Pier Giorgio Frassati nasceu em Turim em 1901. A sua vida destacou-se pela coerência entre fé e ação: assistia diariamente à Missa, ajudava doentes e pobres através das Conferências de São Vicente de Paulo e da Ação Católica, e promovia a justiça social. As suas escapadas alpinas eram também momentos de alegria, oração e amizade. João Paulo II chamou-lhe “o homem das Bem-aventuranças” por as viver no dia a dia e por o considerar um modelo para os jovens cristãos.

Morreu repentinamente em 1925 devido a poliomielite, aos 24 anos, após uma semana de serviço intenso aos doentes.

A festa litúrgica de Pier Giorgio Frassati celebra-se a 4 de julho.

Um coração para os pobres

Frassati nasceu numa família com uma posição económica privilegiada em Turim, Itália. O pai era um político e empresário influente, e o seu meio social proporcionava-lhe comodidades e oportunidades que muitos jovens nem podiam imaginar. No entanto, o que realmente definia Pier não era a sua vida de luxo, mas a sua profunda sensibilidade para com os mais necessitados.

Longe de se contentar em dar apenas o que lhe sobrava ou com gestos simbólicos, Pier comprometia-se de verdade. Era frequentemente visto a participar em obras de caridade, a visitar hospitais, a ajudar os doentes e a colaborar com associações que trabalhavam pelos pobres e marginalizados. Para muitos à sua volta, esta dedicação era desconcertante: como podia alguém da sua classe social preocupar-se tanto com os que viviam na pobreza?

Pier não dava apenas dinheiro ou bens materiais, mas também tempo, amizade e uma presença sincera. Para ele, a caridade era um modo de vida, reflexo de uma fé viva e da convicção de que o amor cristão exige um compromisso real, que vai muito para além da comodidade ou conveniência.

Quando morreu, o seu funeral foi uma clara demonstração do carinho que cultivara: não só compareceram familiares e amigos, mas também muitos pobres e pessoas humildes que tinham sido ajudadas por ele. Isto mostra a marca profunda que deixou nos que mais precisavam.

Para além do conforto, o apelo a dar de coração

Na vida de hoje, é muito fácil cair na tentação de dar apenas do que nos sobra: umas moedas, um pouco de tempo quando realmente não temos mais nada para fazer, ou ajudar de forma que não nos complique demasiado as rotinas. Mas Pier convida-nos a ir para lá disso, a ver a caridade de outra forma.

A sua caridade não era dar do que sobrava, mas amar até que doa, como pedia a Madre Teresa de Calcutá. Só quando sentimos o peso da nossa entrega, quando custa renunciar a algo nosso – tempo, comodidade, planos, dinheiro – é que começamos a amar de verdade. Pier Giorgio vivia isto de forma radical, não porque lhe sobrasse, mas porque entendia que o amor autêntico pede algo de nós: pede que nos atrevamos a ir mais além do que é fácil, e que entreguemos não apenas coisas, mas uma parte de nós próprios.

Por isso, a verdadeira caridade, a que transforma, tem sempre um preço: o da nossa própria generosidade. E é nesse momento que descobrimos que Deus dá sempre mais do que esperamos: Ele preenche com a sua alegria o vazio que sentimos ao renunciar a alguma coisa pelos outros. O que parecia uma perda converte-se num dom muito maior.

Pode ler mais conteúdos sobre a vida e os ensinamentos de Pier Giorgio Frassati na nossa página especial de Youth em espanhol e em inglês.


Momentos importantes da vida de Pier Giorgio Frassati (1901-1925)

1901
6 de abril

Nasce em Turim, Itália, numa família nobre e influente. O pai, Alfredo, era fundador e diretor do jornal La Stampa e senador; a mãe, Adelaïde Ametis, era uma pintora reconhecida.

1909
Aos 8 anos, recebe a Eucaristia. Desde então desenvolve um profundo amor por Jesus sacramentado. Começa a assistir à Missa diária, a confessar-se com frequência e a rezar o Terço todos os dias.
Embora tenha crescido num ambiente agnóstico, a sua fé fortalece-se. Rejeita as comodidades do luxo familiar e procura uma vida simples, comprometida com os necessitados e com Deus.

1918
Entra na Faculdade de Engenharia do Politécnico de Turim, especializando-se em Engenharia de Minas. Queria trabalhar entre os operários para evangelizar a partir de dentro.

1919
Entra para a Conferência de São Vicente de Paulo. Ocupa-se de doentes, crianças órfãs e famílias pobres. Muitas vezes dá o seu próprio casaco ou meio de transporte para ajudar outros.

1920
Torna-se membro ativo da Ação Católica, da Federação Universitária Católica Italiana e de movimentos políticos católicos que enfrentavam a ascensão do fascismo. Foi corajoso e firme na defesa da fé, mas sempre com caridade e respeito.
Amava a natureza, o alpinismo, a fotografia, a música e os amigos. Via as montanhas como símbolo do caminho para Deus. Nas suas excursões, combinava alegria, amizade e oração. O seu lema foi: Verso l’alto – Para o alto.
Uma juventude alegre, generosa e exigente. Destaca-se pela caridade e fortaleza interior. Apaixona-se por uma jovem, Laura Hidalgo, mas renuncia a manifestá-lo para não causar problemas à família. Esta decisão mostra a sua maturidade afetiva e capacidade de entrega.

1925
30 de junho

Começa a sofrer dores fortes. Oculta os sofrimentos para não interromper os cuidados à avó, que também estava gravemente doente. Diagnosticam-lhe uma poliomielite fulminante, que provavelmente contraiu nas suas visitas aos doentes.

1925
4 de julho

Morre aos 24 anos. A família esperava um funeral íntimo, mas centenas de pobres encheram as ruas: era o “santo escondido” dos pobres. A sua morte deixou uma profunda marca de santidade e um testemunho de vida exemplar.

1990
20 de maio

É beatificado pelo Papa São João Paulo II, que o chamou “o homem das oito bem-aventuranças”.

2025
7 de setembro

O Papa Leão XIV vai proclamá-lo santo.