"O meu fim é servir a todos, como o faria Cristo"

Entrevista a D. Jaume Pujol Balcells publicada em "La Vanguardia" (Barcelona). Nomeado arcebispo de Tarragona por João Paulo II, tomou posse como titular da arquidiocese catalã no passado dia 19 de Setembro. "Quero que a colegialidade e o diálogo na Igreja e com a sociedade caracterizem o meu pontificado", afirmou.

Jaume Pujol Balcells tomou posse como arcebispo de Tarragona no decurso de uma cerimónia que contou com a presença de três mil pessoas. Assistiram 35 bispos, incluídos o núncio Manuel Monteiro de Castro, o cardeal de Madrid Antonio María Rouco e os abades de Montserrat e Poblet. Durante o acto, o novo arcebispo manifestou o desejo de que o seu pontificado mantenha o caminho traçado pelos bispos catalões. "Quero que a colegialidade e o diálogo caracterizem o meu pontificado: vontade de escutar, de acolher e aprender de todos, de ser arcebispo de todos", assinalou. Também fez uma referência específica ao Opus Dei e ao seu prelado, Javier Echevarría: "Quero agradecer publicamente os incontáveis bens espirituais que recebi ao longo de mais de 40 anos no Opus Dei", disse.

ENTREVISTA

Jaume Pujol Balcells (Guissona, 1944) é membro do Opus Dei desde 1961 e durante trinta anos deu aulas na Universidade de Navarra. É autor de 23 livros e numerosos artigos em revistas científicas e no domínio pastoral. Os seus colaboradores mais próximos definem-no como "catalão, pastor, catequista, homem do Vaticano II e professor universitário".

O seu nome aparecia já nos primeiros prognósticos como possível arcebispo de Barcelona. Finalmente, foi nomeado arcebispo de Tarragona. Quando é que lhe fizeram a proposta?

No dia 2 de Junho. Foi pessoalmente o núncio D. Manuel Monteiro de Castro quem me comunicou que o Santo Padre João Paulo II me nomeara arcebispo de Tarragona. Foi um momento de intensa emoção para mim. Amo muito Tarragona, terra a que me sinto unido pelas minhas raízes de Guissona e onde estive com frequência. Apesar de que a minha aceitação não teve outro motivo que a plena disponibilidade para servir a Igreja onde seja necessário, dou muitas graças a Deus de que tenha sido chamado precisamente para Tarragona. Há poucos dias, ao acabar o consistório que aprovou a beatificação do estimado doutor Pere Tarrés em Roma, o Santo Padre quis dar-me uma benção especial para todos os fiéis desta diocese.

A sua nomeação quebra algumas tradições. Não é um bispo, mas um sacerdote, quem acede ao arcebispado e ao primado da Tarraconense. Além disso, é o primeiro arcebispo do Opus Dei em Catalunha e em Espanha.

A nomeação foi também para mim uma autêntica surpresa. Sei que o episcopado é uma grande responsabilidade, mas é sobretudo um grande dom de Deus. Confio principalmente na sua graça e na oração de todos, aos quais desde o primeiro momento senti próximos. Por outro lado, os sacerdotes da prelatura do Opus Dei, como todo o mundo sabe, são sacerdotes seculares, iguais aos outros, em todas as dioceses do mundo.

Alguns sectores de sacerdotes, religiosos e leigos mostram-se reticentes porque consideram que acede ao episcopado uma pessoa sem experiência pastoral diocesana, e além disso num momento crucial da Igreja na Catalunha.

Sinto-me sinceramente impressionado pelas demonstrações de afecto que recebi nestes dias de toda a categoria de pessoas: dos que, depois da minha consagração, serão meus irmãos no episcopado, os bispos de Catalunha, e de muitos sacerdotes, religiosas, religiosos e fiéis. Estou muito agradecido. Compreendo perfeitamente que haja outros que, diversamente, não expressaram os mesmos sentimentos. A estos quero dizer-lhes que têm todo o meu afecto e disponibilidade, exactamente como os outros, ou mais se é possível.

A sua experiência pastoral...?

Desde que recebi essa responsabilidade não quero ter outro horizonte que o de servir a todos como o faria Cristo, independentemente do que se possa pensar. Creio que Deus Nosso Senhor me ajudou a desenvolver uma tarefa pastoral muito ampla como sacerdote desde que fui ordenado em 1973. Dou por isso particulares graças a Deus porque pude atender a outros sacerdotes, muitos deles do Terceiro Mundo, também nas suas necessidades materiais. Outro campo em que pude trabalhar amplamente foi o da catequese. Naturalmente, não desempenhei funções episcopais, mas tenho uma grande esperança nos sacerdotes que actualmente trabalham em Tarragona, que são para mim colaboradores necessários. Por outro lado, não quereria perder esta índole pastoral e evangelizadora característica precisamente da Igreja delineada pelo Concílio Vaticano II.

Também se expressaram reticências porque o novo arcebispo é do Opus Dei. Que implica para o Opus Dei a sua nomeação?

Para o Opus Dei esta nomeação supõe ter que procurar quem me substitua nas tarefas académicas e pastorais que vinha levando a cabo em Pamplona. Agora já só me devo à arquidiocese de Tarragona e a todos os tarraconenses, em dependência exclusiva do Santo Padre. Neste terreno, o Opus Dei não tem nada que dizer.

Como vê a Igreja catalã: as suas características, os seus problemas?

Com uma extraordinária vitalidade e riqueza, também histórica, da qual me sinto parte, porque as minhas raízes são catalãs. Neste último capítulo histórico, a arquidiocese de Tarragona, tem precisamente un papel único. Os cristãos do nosso tempo recebemos uma grande herança, não só aqueles que são chamados a ser os seus pastores. Além das questões específicas - para as quais como se compreenderá, há que esperar o encontro com os outros bispos neste espírito de plena colegialidade - incide a forte secularização que sofre todo o Ocidente. É uma hora de fé e de esperança para os cristãos, já que o pluralismo conseguido abre-nos uma oportunidade histórica para dar razão da própria fé, de evangelizar, sempre com tolerância, mas talvez de uma forma mais interiorizada, mais real dentro da própria consciência. Dando voltas a esta ideia estou a pensar escolher como lema episcopal uma frase de S. Paulo, que está tão unido a Tarragona: "O que ouviste, ensina-o" (2 Tim 2,2). Desejaria que o meu estímulo chegasse rapidamente a todos os que trabalham, de uma ou de outra forma, em diferentes tarefas de evangelização.

O seu irmão Joan é sacerdote diocesano do bispado de Urgell. Comentaram a sua nomeação?

É verdade que somos uma família muito unida e numerosa. O mais velho é vigário geral da diocese de Urgell e não deixou de dizer coisas bonitas de mim em todo o lado. Agradeço-lhe, principalmente porque é verdade que nos amamos. Sobretudo, dou graças a Deus pela fé e o amor que deu aos meus pais - que estão na base de tudo isto -, aos meu tios, e a tantas outras famílias catalãs com quem me relacionei. Este é um grande tesouro com o qual quereria trabalhar no futuro: a família e, concretamente, a família cristã.

Qual é o principal tema abordado no Instituto de Ciências Religiosas da Universidade de Navarra que dirigiu até agora?

Uma das tarefas principais do Instituto de Ciências Religiosas é a formação de professores de religião, catequistas, agentes de pastoral, etc. Isto é, os agentes de evangelização. Uma formação que tenha uma série de dimensões, como por exemplo em primeiro lugar testemunhos de Jesus Cristo, vinculados à fé e à vida da Igreja, ao serviço do homem de hoje, transmissor da verdade e que sejam capazes de comunicar aquilo que receberam. Em Tarragona funciona o "Institut Superior de Ciències Religioses Sant Fructuós", que tenho muita vontade de conhecer a fundo.