Há muito que Cannes não alimentava tanta expectativa, escolhendo para a inauguração uma estreia planetária, pomposamente anunciada pelos media como o grande acontecimento do ano. Quase se diria que não há filme mais aguardado desde que Cristo veio à Terra!
A equipa de «O Código da Vinci» (o realizador Ron Howard, os actores Tom Hanks, Audrey Tautou e Jean Reno, o autor do livro, Dan Brown, etc.), saiu da Inglaterra, de comboio, inaugurando a linha comercial Londres-Cannes, o «record do mundo do mais longo trajecto ferroviário sem paragens», alguém explicou.
A comitiva chegou ontem à Riviera, a tempo de abrir o 59º Festival de Cinema. Foi a cereja em cima do bolo de uma das maiores campanhas de «marketing» já vistas. Em Cannes, não se pode dar um passo sem tropeçar num cartaz do filme, que hoje estreia nos quatro cantos do mundo.
Da polémica às gargalhadas
O segredo do «código», já todos o sabem: o Santo Graal não é o cálice da Última Ceia, mas sim a linhagem perdida de Cristo. Baseado no livro, o filme avança com uma leitura codificada do Novo Testamento, cruzando fontes históricas, obras de arte (Leonardo Da Vinci é o ponto de partida), alquimia e esoterismo às três pancadas, tudo para provar que Jesus Cristo e Maria Madalena foram amantes e tiveram uma filha, Sarah, que assegurou a descendência sagrada. Em cena, após um assassínio em pleno Museu do Louvre, entram um professor americano de simbologia (Tom Hanks), uma criptóloga francesa (Audrey Tautou) e um comissário da polícia (Jean Reno).
Confirma-se o que se temia: nem é preciso ter lido o livro de Dan Brown para perceber que o filme é uma espécie de «best of» da obra literária, colando à pressa os seus capítulos. A estrutura policial do livro, traduzida para o filme, não passa de um jogo de escondidas infantil, uma espécie de Harry Potter para adultos que se leva a sério, um jogo de vídeo onde todas as perguntas obtêm resposta nos cinco segundos seguintes, não vá o espectador aborrecer-se ao longo das duas horas e meia de duração. Resta saber se o filme vai ter o êxito esperado, se o «boca-a-boca» vai funcionar: colocamos as nossas dúvidas.