Há muitos anos, quando todos estes bairros
praticamente não existiam, eu ia ao Hospital do Rei,
há muitos, muitos anos, mais de quarenta;
onde estáveis?,
pois...,
e ali recordo que precisamente junto à cama
de uma doente tuberculosa,
nessa altura a tuberculose era uma doença terrível,
como agora o cancro, não tinha cura,
uma pessoa mierável que tinha tido uma boa posição na vida,
que devido a certas circunstâncias dolorosas, fora abandonada pela família;
ali estava estendida num catre de um hospital e estava feliz
e esforçava-se por sorrir e sorria, sorria,
porque sorrir era uma mortificação, porque, por outro lado, também
não era uma mortificação, era sorrir a Deus e agradecer-lhe a dor,
e então eu ensinava-a a dizer como jaculatórias:
Bendita seja a dor, amada seja a dor, santificada seja a dor,
glorificada seja a dor e já sabes tanto como eu.
De modo que a dor, minha filha, a dor não é um mal,
é um mal quando se recebe de má vontade, mas quando se recebe cristãmente
uma pessoa com dor física ou moral,
chega a sentir-se muito feliz e, além disso, não anda por aí a
dizer que tem essas dores, tem pudor na sua dor, como uma carícia de Deus.