No evento, que reuniu mais de 150 pessoas, foi analisado Caminho a partir de diferentes perspetivas e deu-se a conhecer a sua centésima edição em espanhol que contém o texto original de Escrivá de Balaguer, anotado brevemente e uma introdução sobre o seu conteúdo, estilo e contexto. O autor desta edição especial foi o filólogo Fidel Sebastián, especialista no Século de Ouro e autor de edições de crítica literária de Teresa de Jesús, Baltasar Gracián ou Luis de Granada.
A sessão de apresentação foi iniciada por Javier Ortega, diretor da divisão cultural da Biblioteca Nacional de Espanha, e contou com a participação de Fidel Sebastián, autor da edição 100, Marcela Duque, Prémio Adonáis de poesía e editora de Rialp, Santiago Herraiz, conselheiro delegado de Rialp, e Fernanda Lopes, presidente do Comité do Centenário do Opus Dei.
Um livro que continua vivo e está cheio de poesia
Quase noventa anos depois da sua primeira publicação (29 de setembro de 1939), Herraiz destacou no evento que Caminho «é um livro que continua vivo, e o decorrer do tempo torna-o cada vez mais valioso». Explicou que em 1944 foi publicada a segunda edição, pelas Ediciones Luz, e a terceira, no ano seguinte, pela génese de Rialp, Ediciones Minerva. A Ediciones Rialp nasceu pouco depois, e encarregou-se de editar esta obra a partir da 4.ª edição, até apresentar ontem a 100ª.

Por sua vez, Marcela Duque, poeta e escritora, abordou a figura de São Josemaria como escritor, destacando o seu «olhar contemplativo e simbólico», que o leva a desenvolver uma escrita «cheia de imagens quotidianas porque consegue ver nelas todo um universo espiritual». «O autor consegue uma verdadeira unidade entre a forma de expressão e o expressado, e isto, que é a natureza da poesia, converte-se em todo um símbolo da mensagem poética do Opus Dei, o de transformar a prosa diária em hendecassílabos», declarou Marcela Duque.
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Durante a sua intervenção no evento, Fidel Sebastián quis revelar os segredos desta edição de Caminho. Explicou que, ao realizar outra edição especial dos textos de santa Teresa de Jesus, pensou em fazer algo semelhante com Caminho, procurando aproximar a obra e a mensagem de São Josemaria às novas gerações, mas respeitando o texto original. No processo, descobriu o santo como místico e a obra como um verdadeiro clássico da literatura.
A caminho do Centenário do Opus Dei
Fernanda Lopes, presidente do Comité do Centenário do Opus Dei, enquadrou o livro na celebração dos cem anos do Opus Dei, que terão lugar de 2028 a 2030. Recordou o desejo de São Josemaria de «escrever uns livros de fogo, que corressem pelo mundo como chama viva, ateando a sua luz e o seu calor nos homens…», desejo que se tornou realidade em Caminho, um livro que «inspirou milhares de caminhos de intimidade com Cristo».
Mons. Fernando Ocáriz, prelado do Opus Dei, destaca no prólogo do livro — a que Fernanda Lopes fez referência — a conexão deste volume com a preparação espiritual para o centenário desta realidade eclesial. A atual presidente do Comité do Centenário definiu-o como «uma viagem, como um itinerário, como um caminho». Madrid, afirmou Fernanda Lopes, é o «lugar onde o Opus Dei realmente faz cem anos, é a cidade que o viu nascer».
O fenómeno do Caminho
O carácter universal desta pequena obra, que contém 999 pontos breves de meditação pessoal, é demonstrado pelos mais de cinco milhões de exemplares vendidos em todo o mundo e as suas mais de 500 edições em 142 traduções. O livro, dirigido a todas as pessoas que desejam procurar Deus, resume o testemunho da pregação de São Josemaria nos primeiros anos do seu trabalho pastoral como fundador do Opus Dei.
O fenómeno editorial de Caminho, reconhecido como uma obra clássica da literatura espiritual, continua na atualidade: em março deste ano atingiu nos Estados Unidos o 7.º lugar na lista geral de livros mais vendidos da Amazon (e o primeiro lugar na categoria de espiritualidade). Um pico de vendas que se deveu ao facto de a Hallow, a aplicação de oração católica mais descarregada do mundo, ter utilizado os pontos do livro para o seu tempo de oração na Quaresma.
Próprio do género aforístico, Caminho é um livro que anima o leitor –de todas as épocas e latitudes– a contemplar a beleza do amor de Deus e a contagiar aos outros o entusiasmo do encontro com Jesus Cristo. Mas o êxito desta obra não radica apenas no aprofundamento da vida cristã, mas também num estilo incisivo e numa prosa brilhante. Por isso, alguns críticos afirmam que a força do livro é o resultado de uma feliz conjugação entre o santo e o escritor, entre a sua elevada experiência mística e a sua memorável qualidade literária.
