Montse Grases, um exemplo vivo para a Igreja

Conferência de José Carlos Martín de la Hoz no Oratorio de Bonaigua (Barcelona)

José Carlos Martín de la Hoz durante a conferência sobre Montse Grases, em Barcelona (3 de março de 2017).

Montse Grases, uma mensagem viva para a Igreja

Ens trobem en aquest lloc privilegiat de Barcelona on es troben ben custodiats les restes mortals de la Venerable Serventa de Déu Montserrat Grases, una d'aquelles inoblidables dones del segle XX. Moltes gràcies al rector de Bonaigua, el Dr. Ignasi Sala, per convidar-me aquesta tarda a venir aquí. (*)

O exemplo do sorriso de Montse perdura e perdurará através dos anos, mais ainda, tem-se difundido por toda a terra, e já há milhões de homens e de mulheres de todas as idades, raças e culturas que desejam parecer-se a ela e a têm como amiga e intercessora perante Deus.

O seu exemplo e as suas virtudes nunca se irão apagar. Os santos são modelos e intercessores do Povo de Deus. Percorreram o caminho da santidade, chegaram à meta, e depois regressam e acompanham-nos a nós, amparam-nos, animam-nos e ajudam-nos a alcançar de Deus as graças de que necessitamos para perseverar até ao fim.

Estamos perante um exemplo concreto do que nós, os cristãos, levamos vinte séculos a repetir no Credo da Missa: creio na Comunhão dos Santos. Há uma cumplicidade divina com os santos que nos faz pedir com simplicidade: Montse, ajuda-me!

Montse nasceu em Barcelona em 10 de julho de 1941, era a segunda de nove irmãos, e morreu serenamente, em 26 de março de 1959, uma Quinta-Feira Santa. O seu pai, grande entusiasta da fotografia e do cinema, deixou-nos imagens da Montse em todas as idades e a todas as horas. Podemos dizer, com verdade, que é uma santa fotogénica.

Mas o que o pai não podia fazer, fê-lo o Prefeito da Congregação para a Causa dos Santos de Roma, o Cardeal Amato: resumiu em quatro folhas de papel o milagre da santidade de Montse. A heroicidade das suas virtudes e a harmonia heroica da sua santidade.

Vou-me deter sobre esse decreto de virtudes heroicas da Venerável Serva de Deus. A santidade da Montse, na minha opinião, é o resultado de ter sabido, com a graça de Deus, dar a resposta adequada às três interrogações chave da vida.

A primeira questão deparou-se-lhe seriamente em Novembro de 1957 em Castelldaura, a poucos quilómetros deste lugar onde estamos, embora tivesse, logicamente, antecedentes de anos, como todas as histórias de amor. A pergunta é a de Jesus quando se cruza no caminho da nossa vida e nos olha com carinho. Depois do impacto do encontro, talvez inesperado, pergunta: Queres seguir-me? Vens comigo?

A resposta de Montse, bem amadurecida, foi dada em 24 de dezembro de 1957, quando no decorrer de um tempo de oração se apercebeu, teve luz e graça, de que quem chama dá a sua graça. Quer dizer que a resposta à pergunta “queres seguir-me” não eram outras perguntas: Como sei que não estou enganada? Como sei se vou perseverar? Não! A resposta à pergunta “Vens comigo?” É: Contigo, até ao fim do mundo!

Por isso, nessa tarde quando sai de Llar, o Centro do Opus Dei onde ia receber formação depois de ter pedido a admissão no Opus Dei, Montse afirmava que Barcelona lhe parecia diferente. Claro. Estava iluminada por uma luz especial, a luz do amor e da fé, que a vão acompanhar até à eternidade. Barcelona é diferente e imensamente mais bela quando se vê com os olhos da fé: tanta gente maravilhosa e simpática para conhecer, para convidar para conhecer e conversar com Jesus.

Aqueles de nós que nascemos perto do mar sabemos o que é viver entre a água e a terra. Entre o sol e o mar. Entre pessoas que têm um olhar profundo, horizontes grandes e o céu na alma.

Passam rapidamente os dias e as pequenas lutas, os trabalhos do dia a dia, a caridade, ajudar em casa, estudar, manter o armário arrumado, conviver com os irmãos, tudo isso é paixão de amor, amor jovem, rejuvenescido cada dia. Porque os dias nunca mais serão iguais, nem aborrecidos.

Montse foi tão rápida no amor que Jesus não teve de esperar para lhe fazer a segunda pergunta chave. A pergunta da maturidade no amor. Dá-se a circunstância de a pergunta de Deus ter chegado quando Montse se está a preparar para ir levar avante o trabalho apostólico do Opus Dei em Paris. Ao mesmo tempo que se ocupava dos trabalhos do dia a dia, preparava-se para a grande aventura em França.

De repente, a dor na perna, que já tinha começado há dias, não passa. Que parecia não ser nada; mas não: aí está ela. Depois de muitos médicos, de tentar esquecer, chega o veredicto: a dor instala-se. Era o Senhor que lhe estava a perguntar: Ofereces-me isto? Queres seguir-me com essa dor? Mas ela respondia com outra pergunta: Se me pedes que te dê a vida, se me estou a preparar para ir para França, por que me dói a perna?

Por fim, como quanto à primeira pergunta, um dia, Montse percebe que se trata de segui-Lo a Ele com a dor na perna. Como os primeiros apóstolos, também ela tinha de passar pela prova da cruz.

E, então, chegam os inexplicáveis frutos de santidade e apostolado. Aquilo que custa, resolve-se sem esforço. E Montse já não se aborrecia ou controlava-se mais e interessa-se por aquela colega. Noutro sábado, as luzes do oratório de Llar apagaram-se para começar a meditação e uma rapariga chegou tarde. Ficou junto de Montse que estava sentada ao fundo da capela, com a perna engessada e sobre um banco. A rapariga ficou de pé, ao lado de Montse, e estava muito distraída. Montse sofria ao vê-la de pé, a olhar para todos os lados e decidiu deixar o banco livre. Cada movimento era um golpe de dor, mas aquela rapariga estava de pé e estava distraída! Conseguiu, pouco a pouco, libertar o banco. Finalmente a rapariga sentou-se e ficou a olhar fixamente para o sacrário. Vitória! Então recordou as palavras de S. Josemaria que tantas vezes tinha ouvido: "Se não fizerem das raparigas almas de oração, então terão perdido o tempo".

Veio o mês de junho e chegou o momento da terceira pergunta. A pergunta final. Um dia Montse repara que os pais lhe ocultam algo. Aproveita aquela noite de bom tempo e “encurralou” a mãe. Finalmente, confessa-lhe que já se sabe que doença tem. Trata-se de um sarcoma de Ewing na perna e não tem cura. Vai morrer dentro de uns meses.

Trata-se da terceira pergunta de Jesus ou do terceiro convite em menos de um ano. Vê-se que Montse cresceu depressa em santidade e nas virtudes cristãs, pois Jesus vai-lhe perguntar: Queres vir para o céu comigo? Mas ela, num primeiro momento, volta a responder à pergunta com outra pergunta: E se me cortarem a perna? Poucos minutos depois adormece junto da mãe. No dia seguinte, vai ver a diretora de Llar que, logicamente tinha sido avisada pela mãe de Montse sobre a situação.

Quando chegou a Llar, Montse procurou a diretora que estava ocupada. "Podemos falar uns momentos? - pergunta Montse". "Sim, logo que acabar, aviso-te" – diz Lia, a diretora. Lia, enquanto escuta a pessoa que tem diante de si, não pode evitar ir pensando no que há-de dizer à Montse. Porém, logo percebe que não é preciso pensar em nada, pois ouve-se a voz firme e límpida de Montse que está a cantar enquanto aproveita esses minutos para fazer alguma coisa. Já disse a Deus que sim!, pensa Lia. E pouco depois, pode confirmá-lo e encher-se de paz.

Os meses seguintes consistem num acelerar de santidade, de intensidade de amor e na história do extremo carinho com que os pais e irmãos, amigos e amigas e irmãs no Opus Dei a vão rodear e acompanhar até ao céu, vendo-a crescer até à santidade com aquela doença suportada com o amor de Deus.

No dia onze de novembro, Montse foi uns dias para Roma. S. Josemaria disse a Encarnita Ortega, então Secretária Central, para garantir que Montse estivesse bem preparada para o que iria acontecer nos próximos meses: “O Fundador da Obra tinha-me encarregado de lhe falar com delicadeza e claramente sobre o alcance da sua doença para que a aproveitasse com eficácia sobrenatural e para que se dispusesse a ganhar a última batalha. Fi-lo com a maior delicadeza e clareza que me foi possível. Disse-me que tinha horror à dor física, mas «penso que se for fiel ao que Deus me pede cada dia, Ele me dará a sua graça»; confirmei assim a força com que se tinha enraizado nela o sentido da filiação divina, ao mesmo tempo que, de maneira muito humana e simples, manifestava o seu medo da dor. A sua profunda piedade tornava-se evidente: carinho a Nossa Senhora através das normas marianas que vivemos na Obra; devoção à Eucaristia que revelava na sua forma de fazer a genuflexão, embora lhe custasse esforço devido à doença. Ao vê-la com uma alegria que tinha sempre – nos momentos de vida em família, na sala de jantar, etc. – pensei que a minha explicação talvez não tivesse sido suficientemente clara e antes de se ir embora perguntei-lhe se estava disposta a tudo. Sorriu e disse que sim. Depois, enviou-me do avião um cartão em que dizia: «Estou disposta a tudo porque vale a pena» ” (Testemunho Encarnación Ortega Pardo sobre Montse Grases, AGP, EOP, E-0055). Esta é a conclusão: vale a pena responder aos convites de Deus e fazê-lo pela mão dos santos.

Barcelona, 3 de março de 2017

José Carlos Martín de la Hoz.

(*) N.T. As palavras do início deixam-se propositadamente em catalão.