Intervenções do Papa Leão XIV durante o Jubileu dos jovens

Neste artigo, estão reunidos os discursos do Papa Leão XIV durante o Jubileu dos jovens, influencers e missionários digitais, em Roma.

De 28 de julho a 3 de agosto, mais de um milhão de jovens de todo o mundo deslocaram-se à Cidade Eterna para viver o Jubileu da Esperança, no primeiro grande encontro de jovens com o Papa Leão XIV.

Nos dias 28 e 29 de julho, realizou-se também o Jubileu dos influencers e missionários digitais. Leia a mensagem que o Papa lhes dirigiu.

O Jubileu dos Jovens começou na terça-feira com uma Santa Missa na Praça de São Pedro, presidida pelo Arcebispo Rino Fisichella, pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização do Vaticano. No final da Missa, o Papa Leão XIV surpreendeu os presentes ao sair no papamóvel para saudar todos. No final da missa, dirigiu algumas breves palavras, que reproduzimos num artigo anterior.

Os principais eventos do fim de semana terão lugar em Tor Vergata, o mesmo local onde se realizou a Jornada Mundial da Juventude durante o Jubileu de 2000. No sábado à noite, haverá uma vigília de oração e, no domingo, uma missa. Ambas as celebrações serão presididas pelo Papa Leão XIV.



Saudação aos influencers e missionários digitais (29 de julho)

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

A paz esteja convosco!

Queridos irmãos e irmãs, começamos com esta saudação: a paz esteja convosco!

E quanta necessidade temos de paz neste nosso tempo dilacerado por inimizades e guerras! E quanto nos chama a dar testemunho hoje a saudação do Ressuscitado: «A paz esteja convosco!» (Jo 20, 19). A paz esteja com todos nós. Nos nossos corações e nas nossas ações.

Esta é a missão da Igreja: anunciar a paz ao mundo! A paz que vem do Senhor que venceu a morte, que nos traz o perdão de Deus, que nos dá a vida do Pai, que nos mostra o caminho do Amor!

1. Esta é a missão que a Igreja hoje confia também a vós; que estais aqui em Roma para o vosso Jubileu; que viestes renovar o vosso compromisso de alimentar as redes sociais e os ambientes digitais com a esperança cristã. A paz deve ser procurada, anunciada, partilhada em toda a parte; quer nos dramáticos cenários de guerra, quer nos corações esvaziados de quem perdeu o sentido da existência e o gosto pela interioridade, o gosto pela vida espiritual. E hoje, talvez mais do que nunca, temos necessidade de discípulos missionários que levem ao mundo o dom do Ressuscitado; que, indo até aos confins da terra (cf. At 1, 3-8), deem voz à esperança que Jesus vivo nos dá; que cheguem a todos os lugares onde houver um coração que espera, um coração que procura, um coração que sente necessidade. Sim, até aos confins da terra, até às fronteiras existenciais onde não há esperança.

2. Há um segundo desafio nesta missão: procurar sempre a “carne sofredora de Cristo” em cada irmão e irmã que encontrardes nos espaços digitais. Hoje, encontramo-nos numa nova cultura profundamente caracterizada e formada pela tecnologia. Cabe-nos a nós – cabe a cada um de vós – assegurar que esta cultura permaneça humana.

A ciência e a tecnologia influenciam a nossa maneira de viver no mundo, até ao ponto de afetar a compreensão que temos de nós mesmos e o modo como nos relacionamos com Deus, como nos relacionamos entre nós. Mas nada do que provém do homem e da sua criatividade deve ser usado para diminuir a dignidade do outro. A nossa missão – a vossa missão – é cultivar a cultura do humanismo cristão, e fazê-lo juntos. Esta é para todos nós a beleza da “rede”.

Perante as mudanças culturais, ao longo da história, a Igreja nunca ficou passiva; sempre procurou iluminar cada época com a luz e a esperança de Cristo, discernindo o bem do mal e o que era bom daquilo que precisava de ser mudado, transformado e purificado.

Hoje, estamos numa cultura em que a dimensão tecnológica está presente em quase tudo, especialmente à medida em que o amplo uso da inteligência artificial marcará uma nova era na vida dos indivíduos e da sociedade no seu todo. Este é o desafio que devemos enfrentar: refletindo sobre a autenticidade do nosso testemunho, sobre a nossa capacidade de ouvir e de falar; de compreender e de ser compreendido. Temos o dever de trabalhar juntos para desenvolver um pensamento, desenvolver uma linguagem que, sendo frutos do nosso tempo, deem voz ao Amor.

Não se trata apenas de gerar conteúdos, mas de criar um espaço de encontro de corações. Isto permitirá procurar aqueles que sofrem, aqueles que necessitam conhecer o Senhor, para que as suas feridas possam ser curadas, para que se reergam e encontrem um sentido para suas vidas. Este processo começa sobretudo com a aceitação da nossa própria pobreza, deixando de lado qualquer tipo de pretensão e reconhecendo que a nossa inerente necessidade do Evangelho. E este processo é um empenho comunitário.

3. E isto leva-nos a um terceiro apelo, e por isso faço este apelo a todos vós: “Ide consertar as redes”. Jesus chamou os seus primeiros apóstolos quando eles estavam a consertar as suas redes de pescadores (cf. Mt 4, 21-22). Ele pede-nos também a nós, aliás pede-nos hoje, que construamos outras redes: redes de relações, redes de amor, redes de intercâmbio gratuito, nas quais a amizade seja autêntica e seja profunda. Redes onde se possa consertar o que está partido, onde se possa curar a solidão, sem se importar com o número de seguidores [os followers], mas experimentando em cada encontro a grandeza infinita do Amor. Redes que deem espaço ao outro mais do que a nós mesmos, onde nenhuma “bolha de filtros” possa apagar a voz dos mais fracos. Redes que libertem, redes que salvem. Redes que nos façam redescobrir a beleza de nos olharmos uns dos outros, olhos nos olhos. Redes de verdade. Assim, cada história de bem compartilhada será o nó de uma única e imensa rede: a rede das redes, a rede de Deus.

Sede vós, então, agentes de comunhão, capazes de quebrar a lógica da divisão e da polarização; do individualismo e do egocentrismo. Ponde a Cristo no centro, para vencer a lógica do mundo, das fake news e da frivolidade, com a beleza e a luz da Verdade (cf. Jo 8, 31-32).

E agora, antes de me despedir com a Bênção, confiando o vosso testemunho ao Senhor, quero agradecer-vos por todo o bem que fizestes e fazeis nas vossas vidas, pelos sonhos que levais adiante, pelo vosso amor ao Senhor Jesus e pelo vosso amor à Igreja, pela ajuda que dais a quem sofre, pelo vosso caminhar nas estradas digitais.


Vigília de Oração com os jovens em Tor Vergata (2 de agosto)

Pergunta 1 – Amizade

Santo Padre, chamo-me Dulce María, tenho 23 anos e venho do México. Dirijo-me a vós como porta-voz de uma realidade que nós, jovens, vivemos em tantas partes do mundo. Somos filhos deste tempo: vivemos numa cultura que nos pertence e que, sem nos darmos conta, nos molda; ela está marcada pela tecnologia, especialmente no âmbito das redes sociais. Frequentemente, iludimo-nos com a ideia de ter muitos amigos e criar relações próximas, enquanto cada vez mais experimentamos diversas formas de solidão. Estamos próximos e conectados com tantas pessoas e, no entanto, não são relações verdadeiras e duradouras, mas passageiras e muitas vezes ilusórias. Santo Padre, a minha pergunta é: como podemos encontrar uma amizade sincera e um amor genuíno que nos levem à verdadeira esperança? Como pode a fé ajudar-nos a construir o nosso futuro?

Queridos jovens, as relações humanas, nossas relações com outras pessoas, são indispensáveis para cada um de nós, a começar pela razão de que todos os homens e mulheres do mundo nascem filhos de alguém. A nossa vida começa com um vínculo e é através de vínculos que crescemos. Neste processo, a cultura desempenha um papel fundamental: é o código com o qual nos compreendemos a nós mesmos e interpretamos o mundo. Como um dicionário, cada cultura contém tanto palavras nobres quanto palavras vulgares, valores e erros que devemos aprender a reconhecer. Buscando apaixonadamente a verdade, não apenas recebemos uma cultura, mas transformamo-la através das escolhas de vida. A verdade, com efeito, é um vínculo que une as palavras às coisas, os nomes aos rostos. A mentira, pelo contrário, separa estes aspectos, gerando confusão e mal-entendidos.

Atualmente, entre as muitas conexões culturais que caracterizam a nossa vida, a Internet e as redes sociais tornaram-se «uma oportunidade extraordinária de diálogo, encontro e intercâmbio entre as pessoas, bem como de acesso à informação e ao saber» (Papa Francisco, Christus vivit, 87). No entanto, estes instrumentos tornam-se ambíguos quando dominados por lógicas comerciais e interesses que destroem as nossas relações em milhares de fragmentos. A este respeito, o Papa Francisco recordava que, por vezes, «os mecanismos da comunicação, da publicidade e das redes sociais podem ser utilizados para nos tornar sujeitos adormecidos, dependentes do consumo» (Christus vivit, 105). Então, as nossas relações tornam-se confusas, ansiosas ou instáveis. Além disso, hoje em dia, como sabeis, existem algoritmos que nos dizem o que temos de ver e pensar, e quem devem ser os nossos amigos. E então as nossas relações tornam-se confusas, por vezes ansiosas. É que quando o instrumento domina o homem, o homem torna-se um instrumento: sim, um instrumento do mercado e, por sua vez, uma mercadoria. Só relações sinceras e laços estáveis fazem crescer histórias de vida boa.

Queridos jovens, qualquer pessoa deseja naturalmente esta vida boa, como os pulmões buscam o ar, mas como é difícil encontrá-la! Como é difícil encontrar uma amizade autêntica. Há uns séculos, Santo Agostinho, mesmo sem conhecer o desenvolvimento tecnológico de hoje, compreendeu o desejo profundo do nosso coração, que é o desejo de todo coração humano. Também ele passou por uma juventude tempestuosa, porém não se conformou, não silenciou o clamor do seu coração. Agostinho procurava a verdade, a verdade que não decepciona, a beleza que não passa. E como a encontrou? Como encontrou uma amizade sincera, um amor capaz de dar esperança? Encontrando Aquele que já o procurava: Jesus Cristo. Como construiu o seu futuro? Seguindo a Ele, seu amigo desde sempre. Com palavras suas: «Nenhuma amizade é fiel senão em Cristo. E só n’Ele pode ser feliz e eterna» (cf. Contra duas cartas dos pelagianos, I, I, 1). Santo Agostinho diz-nos: “Não há autêntica amizade se não for em Cristo. E a verdadeira amizade encontra-se sempre em Jesus Cristo, com verdade, amor e respeito”. Ele diz-nos ainda: «Ama verdadeiramente o seu amigo aquele que no seu amigo ama a Deus» (cf. Sermão 336, 2). A amizade com Cristo, que está na base da fé, não é apenas uma ajuda entre muitas outras para construir o futuro, é a nossa estrela polar. Como escreveu o beato Pier Giorgio Frassati, «viver sem fé, sem um património a defender, sem lutar pela Verdade, não é viver, é apenas ir vivendo» (Cartas, 27 de fevereiro de 1925). Quando as nossas amizades refletem este intenso vínculo com Jesus, tornam-se certamente sinceras, generosas e verdadeiras.

Queridos jovens, amem-se uns aos outros! Amem-se em Cristo! Saibam ver Jesus nos outros. A amizade pode realmente mudar o mundo. A amizade é um caminho para a paz.

Pergunta 2 – Coragem para escolher

Santo Padre, chamo-me Gaia, tenho 19 anos e sou italiana. Esta noite, todos nós, jovens aqui presentes, gostaríamos de falar-lhe dos nossos sonhos, esperanças e dúvidas. O nosso tempo é marcado por decisões importantes que somos chamados a tomar para orientar a nossa vida futura. No entanto, devido ao clima de incerteza que nos rodeia, somos tentados a adiar, e o medo de um futuro desconhecido paralisa-nos. Sabemos que escolher significa renunciar a algo e isso bloqueia-nos, mas, apesar de tudo, percebemos que a esperança aponta para objetivos alcançáveis, mesmo que marcados pela precariedade do momento presente. Santo Padre, perguntamos-lhe: onde encontrar a coragem para escolher? Como podemos ser corajosos e viver a aventura de uma liberdade viva, fazendo escolhas radicais e cheias de sentido?

Obrigado pela pergunta. A escolha é um ato humano fundamental. Observando-o com atenção, compreendemos que não se trata apenas de escolher algo, mas de escolher alguém. Quando escolhemos, em sentido forte, decidimos quem queremos ser. Na verdade, a escolha por excelência é a decisão sobre a nossa vida: que homem queres ser? Que mulher queres ser? Queridos jovens, aprende-se a escolher através das provações da vida e, antes de tudo, lembrando que nós fomos escolhidos. Tal memória deve ser explorada e educada. Recebemos a vida gratuitamente, sem a escolher! Na origem de nós mesmos não houve uma decisão nossa, mas um amor que nos quis. Ao longo da existência, quem nos ajuda a reconhecer e renovar esta graça nas escolhas que somos chamados a fazer mostra-se verdadeiramente amigo.

Queridos jovens, vós dissestes bem: “escolher significa também renunciar a outras coisas, e isso às vezes bloqueia-nos”. Para sermos livres, é preciso partir de um fundamento estável, da rocha que sustenta os nossos passos. Essa rocha é um amor que nos precede, surpreende e supera infinitamente: é o amor de Deus. Por isso, diante d’Ele, a escolha torna-se um juízo que não tira nenhum bem, mas leva sempre ao melhor.

A coragem para escolher vem do amor que Deus nos manifesta em Cristo. Foi Ele que nos amou com todo o seu ser, salvando o mundo e mostrando-nos assim que o dom da vida é o caminho para realizar a nossa pessoa. Por isso, o encontro com Jesus corresponde às expectativas mais profundas do nosso coração, porque Jesus é o Amor de Deus feito homem.

A este respeito, há vinte e cinco anos, aqui mesmo onde estamos, São João Paulo II disse: «é Jesus quem buscais quando sonhais a felicidade; é Ele quem vos espera, quando nada do que encontrais vos satisfaz; Ele é a beleza que tanto vos atrai; é Ele quem vos provoca com aquela sede de radicalidade que não vos deixa ceder a compromissos; é Ele quem vos impele a depor as máscaras que tornam a vida falsa; é Ele quem vos lê no coração as decisões mais verdadeiras que outros quereriam sufocar» (Vigília de oração na XV Jornada Mundial da Juventude, 19 de agosto de 2000). O medo dá então lugar à esperança, porque temos a certeza de que Deus leva a cabo tudo o que começa. Reconhecemos a sua fidelidade nas palavras de quem ama verdadeiramente, porque foi verdadeiramente amado. “Tu és a minha vida, Senhor”: é o que um sacerdote e uma consagrada pronunciam cheios de alegria e liberdade. Tu és a minha vida, Senhor. “Aceito-te como minha esposa e como meu esposo”: é a frase que transforma o amor do homem e da mulher em sinal eficaz do amor de Deus no matrimónio. Eis escolhas radicais e cheias de significado: o matrimónio, a ordem sagrada, a consagração religiosa expressam a doação de si mesmo, livre e libertadora, que nos torna verdadeiramente felizes. E é aí que encontramos a felicidade, quando aprendemos a doar-nos a nós mesmos. Doar a vida pelos outros.

Estas escolhas dão sentido à nossa vida, transformando-a à imagem do Amor perfeito, que a criou e redimiu de todo o mal, inclusive da morte. Digo isso esta noite pensando em duas jovens, María, de 20 anos, espanhola, e a egípcia Pascale, de 18 anos. Ambas decidiram vir a Roma para o Jubileu dos Jovens e a morte as surpreendeu nestes dias. Rezemos juntos por elas. Rezemos também por seus familiares, seus amigos e suas comunidades. Que Jesus Ressuscitado as acolha na paz e na alegria do seu Reino. Gostaria ainda de pedir as vossas orações para outro amigo, um jovem espanhol, Ignacio Gonzalvez, que foi internado no hospital “Bambino Gesù”. Rezemos por ele e pela sua saúde.

Encontrar a coragem para fazer escolhas difíceis e dizer a Jesus: “Tu és a minha vida, Senhor”. Obrigado.

Pergunta 3 – Apelo ao bem

Santo Padre, o meu nome é Will. Tenho 20 anos e sou dos Estados Unidos. Gostaria de lhe fazer uma pergunta em nome de tantos jovens que, em seus corações, anseiam por algo mais profundo. Nós somos atraídos pela vida interior, mesmo se, à primeira vista, somos julgados como uma geração superficial e irrefletida. No íntimo de nós mesmos, sentimo-nos atraídos pelo belo e pelo bem como fontes de verdade. O valor do silêncio, como nesta Vigília, fascina-nos, ainda que às vezes gere medo por causa de uma sensação de vazio. Santo Padre, gostaria de lhe perguntar: como podemos encontrar verdadeiramente o Senhor Ressuscitado nas nossas vidas e ter a certeza da sua presença mesmo no meio de provações e incertezas?

Para convocar este Ano Jubilar, o Papa Francisco publicou o documento intitulado Spes non confundit, que significa “a esperança não engana”. Neste documento, ele escreveu: «No coração de cada pessoa, encerra-se a esperança como desejo e expectativa do bem, apesar de não saber o que trará consigo o amanhã» (Spes non confundit, 1). Na Bíblia, a palavra “coração” geralmente refere-se ao mais íntimo de uma pessoa, o que inclui a nossa consciência. A nossa compreensão do que é bom reflete, então, como a nossa consciência foi moldada pelas pessoas que fazem parte da nossa vida, aquelas que foram bondosas conosco, aquelas que nos ouviram com amor, aquelas que nos ajudaram. Essas pessoas ajudaram-te a crescer na bondade e, portanto, a formar a tua consciência para buscar o bem nas tuas escolhas diárias.

Queridos jovens, Jesus é o amigo que sempre nos acompanha durante a formação da nossa consciência. Se quereis realmente encontrar o Senhor Ressuscitado, escutai a sua palavra, que é o Evangelho da salvação. Refleti sobre o vosso modo de viver e procurai a justiça para construir um mundo mais humano. Servi os pobres e dai assim testemunho do bem que sempre gostamos de receber do nosso próximo. Estejais unidos a Jesus Cristo na Eucaristia. Adorai Cristo no Santíssimo Sacramento, fonte da vida eterna. Estudai, trabalhai e amai segundo o exemplo de Jesus, o bom Mestre que caminha sempre ao nosso lado.

A cada passo, enquanto buscamos o que é bom, peçamos-lhe: fica conosco, Senhor (cf. Lc 24, 29). Fica conosco, porque sem ti não podemos fazer o bem que desejamos. Tu queres o nosso bem; na verdade, Senhor, tu és o nosso bem. Quem te encontra também quer que os outros te encontrem, porque a tua palavra é uma luz mais brilhante do que qualquer estrela, que ilumina até a noite mais escura. O Papa Bento XVI gostava de dizer que quem acredita nunca está sozinho. Dito em outras palavras, encontramos Cristo na Igreja, isto é, na comunhão daqueles que O buscam sinceramente. O próprio Senhor nos reúne para formar comunidade, não uma comunidade qualquer, mas uma comunidade de fiéis que se apoiam mutuamente. Quanto precisa o mundo de missionários do Evangelho, que sejam testemunhas de justiça e paz! Quanto precisa o futuro de homens e mulheres que sejam testemunhas de esperança! Queridos jovens, esta é a tarefa que o Senhor Ressuscitado confia a cada um de nós!

Santo Agostinho escreveu: « Tu o incitas para que sinta prazer em louvar-te; fizeste-nos para ti, e inquieto está o nosso coração, enquanto não repousa em ti. […] Que eu te busque, Senhor, invocando-te; e que eu te invoque, crendo em ti» (Confissões, I, 1). Seguindo estas palavras de Agostinho, e em resposta às vossas perguntas, gostaria de convidar cada um de vós a dizer ao Senhor: “Obrigado, Jesus, por me terdes chamado. O meu desejo é permanecer como um dos vossos amigos, para que, abraçando-vos, eu possa também ser um companheiro de viagem para todos aqueles que encontro. Concedei, Senhor, que aqueles que me encontram possam encontrar-vos, mesmo através das minhas limitações e fraquezas”. Ao rezar estas palavras, o nosso diálogo continuará cada vez que olharmos para o Senhor crucificado, pois os nossos corações estarão unidos n’Ele. Cada vez que adoramos Cristo na Eucaristia, os nossos corações estarão unidos n’Ele. Por fim, a minha oração por vós é que possais perseverar na fé, com alegria e coragem! E podemos dizer: “Obrigado, Jesus, por nos amares”. Obrigado, Jesus, por ter-nos amado. Obrigado, Jesus, por ter-nos chamado. Fica conosco, Senhor.

Saudação no final da celebração:

Gostaria de agradecer ao coro pela música: obrigado por nos acompanharem! Obrigado a todos vocês! Obrigado! Por favor, descansem um pouco. O encontro é aqui amanhã de manhã para a Santa Missa. Tudo de bom para todos. Boa noite!


    Homilia do Papa na Missa do Jubileu dos jovens (3 de agosto)

    Queridos jovens,

    Depois da Vigília que vivemos juntos ontem à noite, reunimo-nos hoje para celebrar a Eucaristia, Sacramento do dom total de Si mesmo que o Senhor fez por nós. Nesta experiência, podemos imaginar que estamos a percorrer o caminho feito pelos discípulos de Emaús na tarde do dia de Páscoa (cf. Lc 24, 13-35): antes, eles afastavam-se de Jerusalém assustados e desiludidos; partiam convencidos de que, após a morte de Jesus, não havia mais nada a aguardar, nada em que esperar. Em vez disso, encontraram precisamente a Ele, acolheram-no como companheiro de viagem, ouviram-no explicar-lhes as Escrituras e, finalmente, reconheceram-no ao partir o pão. Os seus olhos abriram-se e o anúncio alegre da Páscoa encontrou lugar nos seus corações.

    A liturgia de hoje não nos fala diretamente sobre este episódio, mas ajuda-nos a refletir sobre o que nele se narra: o encontro com Cristo Ressuscitado que muda a nossa existência e que ilumina os nossos afetos, desejos e pensamentos.

    A primeira leitura, tirada do Livro de Eclesiastes, convida-nos a entrar em contacto, como os dois discípulos de que falámos, com a experiência dos nossos limites, da finitude das coisas que passam (cf. Ecl 1, 2; 2, 21-23); e o Salmo responsorial, que ecoa a mesma mensagem, propõe-nos a imagem da «erva que de manhã brota vicejante, mas à tarde está murcha e seca» (Sl 90, 5-6). São duas advertências fortes, talvez um pouco chocantes, mas que não devem assustar-nos, como se fossem temas “tabu” a evitar. Na verdade, a fragilidade de que nos falam faz parte da maravilha que somos. Pensemos no símbolo da erva: não é lindo um campo florido? Claro, é delicado, feito de caules finos, vulneráveis, sujeitos a secar, dobrar-se, partir-se, mas, ao mesmo tempo, imediatamente substituídos por outros que brotam depois deles e dos quais os primeiros se tornam generosamente alimento e adubo, ao desfazerem-se no solo. É assim que vive o campo, renovando-se continuamente e, mesmo durante os meses gelados do inverno, quando tudo parece silencioso, a sua energia vibra sob a terra e prepara-se para, na primavera, explodir em milhares de cores.

    Queridos amigos, nós também somos assim: fomos feitos para isto. Não para uma vida onde tudo é óbvio e parado, mas para uma existência que se renova constantemente no dom, no amor. E assim aspiramos continuamente a um “algo mais” que nenhuma realidade criada nos pode dar. Sentimos uma sede tão grande e ardente que nenhuma bebida deste mundo pode saciar. Diante dela, não enganemos o nosso coração, tentando extinguí-la com subterfúgios ineficazes! Antes, ouçamo-la! Façamos dela um estrado para subir e espreitar na ponta dos pés, como crianças, pela janela do encontro com Deus. Encontrar-nos-emos diante d’Ele, que nos espera, ou melhor, que bate gentilmente ao vidro da nossa alma (cf. Ap 3, 20). E, mesmo aos vinte anos, é bom abrir-lhe o coração, deixá-lo entrar, para depois nos aventurarmos com Ele rumo aos espaços eternos do infinito.

    Santo Agostinho, falando da sua intensa busca por Deus, perguntava-se: «Qual é, então, o objeto da nossa esperança […]? É a terra? Não. Algo que deriva da terra, como o ouro, a prata, as árvores, a messe, a água […]? Estas coisas agradam, são belas, são boas» (Sermo 313/F, 3). E concluía: «Procura quem as fez. Ele é a tua esperança» (ibid.). Em seguida, pensando no caminho que tinha percorrido, rezava dizendo: «Eis que habitavas dentro de mim e eu te procurava do lado de fora! […] Tu me chamaste, e teu grito rompeu a minha surdez. Fulguraste e brilhaste e tua luz afugentou a minha cegueira. Espargiste tua fragrância e, respirando-a, suspirei por ti. Eu te saboreei (cf. Sl 33, 9; 1 Pe 2, 3), e agora tenho fome e sede de ti (cf. Mt 5, 6; 1 Cor 4, 11). Tu me tocaste, e agora estou ardendo no desejo de tua paz» (Confissões, 10, 27).

    Irmãs e irmãos, essas são lindas palavras que lembram o que o Papa Francisco disse a outros jovens como vós em Lisboa, durante a Jornada Mundial da Juventude: «todos somos chamados a confrontar-nos com grandes interrogativos que […] não têm uma resposta simplista ou imediata, mas convidam a realizar uma viagem, superando-se a si mesmo, indo mais além […], uma decolagem sem a qual não há voo. Portanto, não nos alarmemos se nos encontramos intimamente sedentos, inquietos, incompletos, desejosos de sentido e de futuro […] Não estamos doentes, estamos vivos!» (Discurso no Encontro com os Jovens Universitários, 3 de agosto de 2023).

    Há uma solicitação importante no nosso coração, uma necessidade de verdade que não podemos ignorar, que nos leva a perguntar: o que é realmente a felicidade? Qual é o verdadeiro sabor da vida? O que nos liberta dos pântanos do absurdo, do tédio, da mediocridade?

    Nos últimos dias, vivestes muitas experiências bonitas. Encontrastes-vos com jovens da vossa idade, vindos de várias partes do mundo, pertencentes a diferentes culturas. Trocastes conhecimentos, partilhastes expectativas, dialogastes com a cidade através da arte, da música, da informática, do desporto. No Circo Massimo, aproximando-vos do Sacramento da Penitência, recebestes o perdão de Deus e pedistes a sua ajuda para uma vida boa.

    Em tudo isto, podeis encontrar uma resposta importante: a plenitude da nossa existência não depende do que acumulamos nem do que possuímos, como ouvimos no Evangelho (cf. Lc 12, 13-21). Em vez disso, está ligada ao que sabemos acolher e partilhar com alegria (cf. Mt 10, 8-10; Jo 6, 1-13). Comprar, acumular, consumir não basta. Necessitamos levantar os olhos, olhar para cima, para as «coisas do alto» (Cl 3, 2), para perceber que, entre as realidades do mundo, tudo tem sentido apenas na medida em que serve para nos unir a Deus e aos irmãos na caridade, fazendo crescer em nós «sentimentos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de paciência» (Cl 3, 12), de perdão (cf. ibid., v. 13), de paz (cf. Jo 14, 27), como os de Cristo (cf. Fl 2, 5). E neste horizonte compreenderemos cada vez melhor o que significa «a esperança não engana, porque o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado» (cf. Rm 5, 5).

    Queridos jovens, a nossa esperança é Jesus. É Ele, como dizia São João Paulo II, «quem suscita em vós o desejo de fazer da vossa vida algo de grande […], no aperfeiçoamento de vós próprios e da sociedade, tornando-a mais humana e fraterna» (XV Jornada Mundial da Juventude, Vigília de Oração, 19 de agosto de 2000). Mantenhamo-nos unidos a Ele, permaneçamos sempre na sua amizade, cultivando-a com a oração, a adoração, a Comunhão eucarística, a Confissão frequente, a caridade generosa, como nos ensinaram os beatos Piergiorgio Frassati e Carlo Acutis, que em breve serão proclamados Santos. Onde quer que estejais, aspirai a coisas grandes, à santidade. Não vos contenteis com menos. Então, vereis crescer todos os dias, em vós e à vossa volta, a luz do Evangelho.

    Confio-vos a Maria, Virgem da Esperança. Com a sua ajuda, ao regressarem nos próximos dias aos vossos países, em todas as partes do mundo, continuai a caminhar com alegria seguindo as pegadas do Salvador e contagiai com o vosso entusiasmo e o testemunho da vossa fé todos aqueles que encontrardes! Bom caminho!

    Libreria Editrice Vaticana