Meditações: quarta-feira da XXX semana do Tempo Comum

Reflexão para meditar na quarta-feira da XXX semana do Tempo Comum. Os temas propostos são: Uma preocupação comum; a fragilidade não é obstáculo; salvação ao alcance de todos.


UM DIA, enquanto «Jesus Se dirigia para Jerusalém e ensinava nas cidades e aldeias por onde passava. Alguém Lhe perguntou: “Senhor, são poucos os que se salvam?”» (Lc 13, 22-23). A pergunta assim formulada revela um toque de desesperança. Contém uma suspeita subjacente que, em certo sentido, todos partilhamos: a salvação é apenas para os privilegiados? Estarei entre eles? O que faço é suficiente para entrar no Reino de Deus? Cristo parece captar essa dúvida. Mas a sua resposta, longe de nos tranquilizar, confirma a nossa preocupação: «Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, porque Eu vos digo que muitos tentarão entrar sem o conseguir» (Lc 13, 24). O Senhor afirma que a salvação implica esforço e, ao mesmo tempo, expressa que só o esforço pessoal não basta: muitos tentarão, mas não conseguirão. O Senhor, que «quer que todos os homens se salvem» (1Tm 2, 4), adverte-nos que só com as boas obras não merecemos o céu, dom concedido a quem corresponde à graça.

Em que consiste, pois, o caminho da salvação? Jesus não o diz explicitamente nesta passagem, mas aponta algumas pistas sobre o que não é suficiente. «Uma vez que o dono da casa se levante e feche a porta, vós ficareis fora e batereis à porta, dizendo: “Abre-nos, senhor”; mas ele responder-vos-á: “Não sei donde sois”. Então começareis a dizer: “Comemos e bebemos contigo e tu ensinaste nas nossas praças”. Mas ele responderá: “Repito que não sei donde sois”» (Lc 13, 25-27).

Com esta imagem, Jesus mostra que não basta conhecê-l’O superficialmente, ter uma vaga noção da sua pessoa e dos seus ensinamentos, para chegar ao céu. De alguma forma, convida-nos a ter uma relação pessoal com Ele, a levar uma vida de oração, a sair do anonimato da multidão para sermos seus discípulos. «Neste esforço por nos identificarmos com Cristo, costumo falar de quatro degraus: procurá-l’O, encontrá-l’O, conhecê-l’O, amá-l’O. Talvez pareça que estamos na primeira etapa… procuremo-l’O com fome, procuremo-l’O dentro de nós com todas as forças! Se o fizermos com este empenho, atrevo-me a garantir que já O encontrámos e que já começámos a conhecê-l’O e a amá-l’O e a ter a nossa conversa nos céus»[1].


«AÍ HAVERÁ choro e ranger de dentes, quando virdes no reino de Deus Abraão, Isaac e Jacob e todos os Profetas, e vós a serdes postos fora» (Lc 13, 28). Jesus continua o seu discurso. Mas nestas palavras, que nos podem soar duras e negativas, notamos uma grande nota de esperança, porque o Senhor fala de pessoas que entraram pela porta estreita e foram salvas. E não se trata de figuras totalmente estranhas. Graças às Escrituras conhecemos as suas histórias e podemos constatar que não eram impecáveis. Tinham fraquezas e defeitos, como nós também temos. Portanto, Jesus faz-nos ver que a fragilidade não é um obstáculo que nos fecha as portas do Céu.

«De bom grado, portanto, prefiro gloriar-me nas minhas fraquezas, para que habite em mim a força de Cristo. Por isso me comprazo nas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições e nas angústias, por Cristo. Pois quando sou fraco, então é que sou forte» (2Cor 12, 9-10). O testemunho das pessoas que nos antecederam diz-nos como é o caminho para a santidade: não consiste em levar uma existência perfeita, mas em deixar que a misericórdia divina ilumine a nossa luta para nos identificarmos cada vez mais com Jesus. Afinal, é ele que «compreende a nossa debilidade e atrai-nos a Si como em plano inclinado, desejando que saibamos insistir no esforço de subir cada dia um pouco»[2].

Certamente, para receber essa misericórdia é necessário admitir as nossas faltas. «Para realizar a sua obra, a graça tem de pôr a descoberto o pecado, para converter o nosso coração e nos obter “a justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo, nosso Senhor” (Rm 5, 21). Como um médico que examina a chaga antes de lhe aplicar o penso, Deus, pela sua Palavra e pelo seu Espírito, projeta uma luz viva sobre o pecado»[3]. O simples reconhecimento da nossa fragilidade comove Jesus e faz com que Ele se aproxime de nós quando mais precisamos d’Ele.


NO FINAL da passagem, Jesus não satisfez a nossa curiosidade: não disse se serão muitos ou poucos os que se salvarão. No entanto, deixou bem claro que a salvação exige esforço, mas esse esforço está ao alcance de todos. Os critérios para chegar ao céu são os mesmos para todos. Por isso «virão muitos do Oriente e do Ocidente, do Norte e do Sul, e sentar-se-ão à mesa no reino de Deus» (Lc 13, 29).

A porta do céu, a santidade, embora estreita, está aberta a todos, sem distinções. «Jesus não exclui ninguém. Alguém dentre vós talvez me possa dizer: “Mas Padre, eu certamente estou excluído, porque sou um grande pecador: fiz muitas coisas feias na vida”. Não, não estás excluído! Precisamente por isso tu és o preferido, porque Jesus prefere sempre o pecador, para o perdoar, para o amar. Jesus está à tua espera para te abraçar, para te perdoar: Ele está à sua espera»[4].

Deus conta com cada um de nós para difundir este chamamento universal à santidade a todos os homens. «Os que encontram Cristo não podem fechar-se no seu ambiente. Triste coisa seria essa redução! Têm de abrir-se em leque para chegar a todas as almas. Cada um deve criar – e alargar – um círculo de amigos, no qual influa com o seu prestígio pessoal, com a sua conduta, com a sua amizade, procurando que Cristo influa por meio desse prestígio profissional, dessa conduta, dessa amizade»[5]. Podemos pedir à Virgem Maria que nos dê um coração como o do Seu Filho, sempre aberto às pessoas que dele precisam.


[1] São Josemaria, Amigos de Deus, n. 300.

[2] São Josemaria, Cristo que passa, n. 75.

[3] Catecismo da Igreja Católica, n. 1848.

[4] Francisco, Angelus, 25/08/2013.

[5] São Josemaria, Sulco, n. 193.