• São Pio X: amar a Eucaristia e a doutrina
  
• O afeto pelo Papa, um dom de Deus.
• Il dolce Cristo in terra.

CELEBRAMOS hoje a festa de São Pio X, a quem os fiéis do Opus Dei confiam todos os assuntos relativos às relações da Obra com a Santa Sé. São Josemaria nomeou-o intercessor em 1953. Já antes disso tinha uma devoção pessoal por este santo Pontífice, cuja piedade eucarística, amor à Igreja e desejo de que o Reino de Cristo se estabeleça em todos os homens, como foi lema do seu pontificado: Instaurare omnia in Cristo.

Giuseppe Melchiorre Sarto nasceu em 1835 em Riese, uma cidade do norte de Itália. É o segundo de uma família de dez filhos, de condição social modesta. Aos quinze anos, recebeu uma bolsa de estudos e pôde entrar no seminário de Pádua. Foi ordenado sacerdote em 1858 e desempenhou várias funções pastorais com grande zelo pelas almas. Em 1884, foi nomeado bispo de Mântua e recebeu a consagração episcopal na basílica de Santo Apolinário, em Roma. A partir de 1893 foi patriarca de Veneza e cardeal. Em 1903 foi eleito Papa. O seu pontificado durou dezassete anos, até à sua morte em agosto de 1914: a partir dessa altura, cresceu em toda a Igreja uma grande devoção popular por ele, com muitas pessoas a irem rezar ao seu túmulo na Basílica de São Pedro. Em 1954 foi canonizado.

São Pio X promoveu várias reformas litúrgicas e canónicas na Igreja. O seu maior esforço foi colocar a Eucaristia no centro da vida cristã, encorajando a comunhão diária e antecipando a primeira comunhão das crianças para os sete anos de idade. Procurou também promover a difusão da doutrina cristã. Já nos seus anos de pároco tinha preparado um catecismo. E, como Romano Pontífice, escreveu um texto para a diocese de Roma, que foi imediatamente difundido em muitas partes do mundo. «Este catecismo, chamado "de Pio X", foi para muitas pessoas um guia seguro na aprendizagem das verdades relativas à fé, pela sua linguagem simples, clara e específica, e pela eficácia da sua exposição»^[1]. Como escreveu o Papa Francisco: «Pio X foi sempre conhecido como o Papa da catequese. E não só! Um Papa manso e forte. Um Papa humilde e claro. Um Papa que fez toda a Igreja compreender que, sem a Eucaristia e sem a assimilação das verdades reveladas, a fé pessoal enfraquece e morre»^[2].

«OBRIGADO, meu Deus, pelo amor ao Papa que puseste no meu coração»^[3], escreveu São Josemaria em Caminho. Com estas palavras, exprimia como a sua união filial ao Romano Pontífice, sendo ao mesmo tempo muito humana, ultrapassava, no entanto, uma simpatia superficial ou uma afinidade. Também não a entendia como uma simples convicção da sua inteligência ou uma pura decisão da sua vontade, mas como um dom de Deus, uma graça colocada no seu coração pelo Senhor que o fez amar intensamente os vários Papas que se sucederam na Sé de Pedro ao longo da sua vida. De facto, na própria manhã do dia da sua morte, o fundador da Obra pediu a dois dos seus filhos que transmitissem esta mensagem a uma pessoa muito próxima de São Paulo VI: «Há anos que ofereço a Santa Missa pela Igreja e pelo Papa. Podeis assegurar-lhe – porque me ouvistes dizê-lo muitas vezes – que ofereci a minha vida ao Senhor pelo Papa, seja quem for»^[4].

Para um cristão, estar unido à pessoa e às intenções do Papa é uma questão de fé, de confiança no Senhor, que, dirigindo-se a um pobre pescador com evidentes limitações, lhe assegurou: «Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Dar-te-ei as chaves do reino dos céus; tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus» (Mt 16, 18-19). «A suprema potestade do Romano Pontífice e a sua infalibilidade, quando fala ex cathedra – explicava São Josemaria –, não são uma invenção humana, pois baseiam-se na explícita vontade fundacional de Cristo. Que pouco sentido tem enfrentar o governo do Papa com o dos bispos, ou reduzir a validade do Magistério pontifício ao consentimento dos fiéis! Nada mais alheio à Igreja do que o equilíbrio de poderes; não servem esquemas humanos, por mais atrativos ou funcionais que sejam. Ninguém na Igreja goza por si mesmo de potestade absoluta, enquanto homem; na Igreja não há outro chefe além de Cristo; e Cristo quis constituir um Vigário seu – o Romano Pontífice – para a sua Esposa peregrina nesta terra»^[5].

Por isso, «o amor ao Romano Pontífice há de ser em nós uma formosa paixão, porque nele vemos a Cristo. Se tivermos intimidade com o Senhor na nossa oração, caminharemos com um olhar desanuviado que nos permitirá distinguir, mesmo nos acontecimentos que às vezes não compreendemos ou que nos causam pranto ou dor, a ação do Espírito Santo»^[6].

FREQUENTEMENTE os Romanos Pontífices afirmam que contam com as nossas orações. Por exemplo, Bento XVI, logo que foi eleito, pronunciou as seguintes palavras da varanda central da Basílica do Vaticano: «Consola-me saber que o Senhor sabe trabalhar e agir também com instrumentos insuficientes. E, sobretudo, recomendo-me às vossas orações»^[7]. Em muitos dos seus discursos, o Papa Francisco tem recordado a necessidade deste apoio: «Peçam ao Senhor que me abençoe. A vossa oração dá-me força e ajuda-me a discernir e a acompanhar a Igreja, à escuta do Espírito Santo»^[8]. Numa carta a um cardeal, São Josemaria expressou a sua convicção de que, através da oração, estava a ajudar o Papa e a Igreja: «A oração é a única coisa que posso fazer. O meu pobre serviço à Igreja reduz-se a isto. E sempre que penso na minha limitação, sinto-me cheio de força, porque sei e sinto que é Deus que faz tudo»^[9].

Para além de rezar pela sua pessoa e intenções, a fé e a comunhão que vivemos na Igreja levam-nos a conhecer e a seguir os ensinamentos do Romano Pontífice e a tratá-lo com afeto filial. Se, por vezes, não compreendemos algum aspeto das suas palavras ou obras, isso não nos impede de aceitar os seus ensinamentos com espírito de fé e confiança. Neste sentido, São Josemaria, que tinha uma grande devoção a Santa Catarina de Sena pela sua defesa do Papa, dizia: «Mil vezes cortaria a língua com os dentes e a cuspiria para longe, antes de pronunciar o menor murmuração sobre aquele que mais amo na terra, depois de Nosso Senhor e de Santa Maria: il dolce Cristo in terra, como costumo dizer, repetindo as palavras de Santa Catarina»^[10]. Esta atitude é o oposto de falar negativamente em público sobre o Papa ou de minar a confiança nele, mesmo nos casos em que não se partilha um determinado critério pessoal. Em todo o caso, é devido, pelo menos, um «assentimento religioso do espírito»^[11].

Podemos concluir recorrendo à intercessão da Virgem Maria, para que a festa de São Pio X nos ajude a reforçar cada vez mais a nossa união filial com o Romano Pontífice: «Maria, na verdade, edifica continuamente a Igreja, reúne-a, mantém-na coesa. É difícil ter autêntica devoção à Virgem sem nos sentirmos mais vinculados aos outros membros do Corpo Místico, e também mais unidos à sua cabeça visível, o Papa. Por isso me agrada repetir: omnes cum Petro ad Iesum per Mariam, todos, com Pedro, a Jesus por Maria!»^[12].

[1] Bento XVI, Audiência, 18/08/2010.

[2] Francisco, Prefácio do livro de Lucio Bonora Omaggio a Pio X. Ritratti coevi, ed. Kappadue 2023.

[3] São Josemaria, Caminho, n. 573.

[4] Beato Álvaro del Portillo, Entrevista sobre el fundador del Opus Dei, Rialp, Madrid 2001, p. 232.

[5] São Josemaria, Amar a Igreja, n. 13.

[6] Ibid. n. 28.

[7] Bento XVI, Discurso, 19/04/2005.

[8] Francisco, Intenção para novembro 2023.

[9] São Josemaria, Carta 15/07/1967.

[10] São Josemaria, Carta 17, n. 53.

[11] Código de Direito Canónico, n. 752; cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 892.

[12] São Josemaria, Cristo que passa, n. 139.