Homilía do Vigário Regional na Missa de S.Josemaria

Homilia pronunciada pelo Pe. José Rafael Espírito Santo, Vigário Regional do Opus Dei, no missa do passado dia 25 de Junho em honra a S.Josemaria. A missa foi celebrada na Igreja de Nossa Senhora de Fátima, em Lisboa.

Caríssimas irmãs e caríssimos irmãos:

É com grande alegria que mais uma vez nos reunimos à volta do altar para celebrar, adiantando para o dia de hoje por calhar em domingo, a festa litúrgica de S. Josemaria. Queremos agradecer a Deus o dom da sua vida santa, do seu ensinamento, da sua intercessão. Queremos que o exemplo que S. Josemaria nos deu, as suas palavras e a união de sentimentos nos ajudem a transformar todos os momentos e circunstâncias da nossa vida em ocasião de amor a Deus e serviço alegre e simples ao Sumo Pontífice, à Igreja e a todas as pessoas, iluminando os caminhos da terra com a luz da fé e do amor (cf. Oração para a devoção a S. Josemaria).

Este ano dá-se uma circunstância especial: o dia 26 de Junho situa-se entre a festa do Corpo de Deus e a solenidade do Sagrado Coração de Jesus, na próxima sexta-feira, Jornada Mundial de Oração pela santificação dos sacerdotes, instituída pelo queridíssimo Beato João Paulo II, em 1995. Além disso, no próximo dia 29 será também o 60º aniversário da ordenação sacerdotal do Santo Padre, Bento XVI. Com ocasião deste aniversário, a Congregação para o Clero convidou todas as dioceses a oferecer ao Papa 60 horas de adoração eucarística pela santificação do clero e para obter de Deus o dom de novas e santas vocações sacerdotais. É, sem dúvida, um bom presente que poderemos dar ao Santo Padre: como refere a carta do Prefeito da Congregação para o Clero, com a qual sugere esta iniciativa, ofereceremos “uma extraordinária coroa de oração e de união sobrenatural, capaz de mostrar o real centro da nossa vida, do qual promana todo esforço missionário e pastoral e autêntica face da Igreja e dos Seus sacerdotes”. No Patriarcado de Lisboa desde há algumas semanas se tem realizado o Laus Perene, percorrendo várias paróquias, que assume também esta intenção. Também hoje, 25 de Junho, recordamos o aniversário da ordenação sacerdotal dos três primeiros fiéis do Opus Dei, entre eles o queridíssimo D. Álvaro del Portillo, e é um dia em que costumamos rezar em especial pela santidade de todos os sacerdotes. É bom que cada um de nós procure encontrar nestes dias algum tempo para estar demoradamente em adoração diante do Santíssimo Sacramento, muito unidos ao Santo Padre, implorando para toda a Igreja o dom de sacerdotes santos, com um coração à medida do Coração de Jesus.

S. Josemaria manifestou um amor profundo ao Papa, que considerava um dom de Deus: “Obrigado, meu Deus, pelo amor ao Papa que puseste no meu coração”, escreveu no Caminho (n. 573). E animou-nos a viver muito unidos ao Santo Padre, condição para estar unidos a Cristo: “O teu maior amor,” dizia, “a tua maior estima, a tua mais profunda veneração, a tua obediência mais rendida, o teu maior afecto há-de ser também para o Vice-Cristo na terra, para o Papa. Os católicos têm de pensar que, depois de Deus e da nossa Mãe a Virgem Santíssima, na hierarquia do amor e da autoridade, vem o Santo Padre” (Forja, n. 135). Essa união, esse afecto, hão-de manifestar-se em apoiar o Papa com a nossa oração, com a nossa fidelidade a todos os seus apelos e sugestões. Como escreve S. Josemaria na Forja: “Que a consideração diária do duro peso que grava sobre o Papa e sobre os bispos, te urja a venerá-los, a estimá-los com verdadeiro afecto, a ajudá-los com a tua oração” (Forja, n. 136). Vamos portanto viver este aniversário da ordenação sacerdotal do Santo Padre fortalecendo a nossa oração e, como a Beata Jacinta, oferecendo por ele também pequenas mortificações: “coitadinho do Santo Padre” dizia ela, e João Paulo II, quando esteve aqui em Fátima, na beatificação do Francisco e da Jacinta, quis agradecer expressamente essa oração. Ao mesmo tempo, tendo presente as Bodas de ouro sacerdotais do nosso Patriarca, D. José Policarpo, a 15 de Agosto próximo, não deixemos de intensificar a nossa veneração, a nossa estima e a nossa oração pelo nosso Pastor diocesano.

S. Josemaria, logo nos começos do Opus Dei, referia que se podia resumir a sua finalidade com três frases: “Deo omnis gloria”: para Deus toda a glória. “Regnare Christum volumus!”: queremos que Cristo reine e “Omnes cum Petro ad Iesum per Mariam!”: todos, bem unidos ao Papa, vamos a Jesus por Maria. Sim: todos e cada um há-de procurar viver as circunstâncias correntes da sua vida com o desejo de dar glória a Deus; assim instaurar o reino de Cristo no seu coração e na sociedade; e bem conscientes de constituir a Igreja, formando a família dos filhos de Deus unidos ao nosso Pai Comum, o Santo Padre, levar todas as pessoas ao encontro de Cristo, através da Nossa Mãe do Céu.

Ouvíamos há pouco no Evangelho como Jesus entra na barca de Simão, pede-lhe que se afaste um pouco da margem para falar à multidão e depois lhe dá aquela ordem, que hoje na Igreja ressoa de modo ainda mais interpelante: “Faz-te ao largo e lançai as redes para a pesca!” Jesus dirige-se a Pedro e espera que os outros, unidos a Pedro, lancem as redes. É assim na vida da Igreja: Pedro dirige; todos e cada um, seguindo o Santo Padre, somos os instrumentos dos milagres divinos que resgatam os corações para a Verdade e para o Bem.

“Mestre: (...) já que o dizes, lançarei as redes!” Vemos como o Papa, Bento XVI, de modo infatigável vai lançando continuamente as redes ao longo de todo o mundo, reabrindo “ao homem actual o acesso a Deus, a Deus que fala e nos comunica o seu amor para que tenhamos vida em abundância (cf. Jo 10, 10)” (Bento XVI, Exort. Apost. Verbum Domini, n. 2). Quando esteve entre nós o ano passado, o Papa também nos envolveu nessa tarefa: “Meus irmãos e irmãs,” disse na homilia no Porto, “é necessário que vos torneis comigo testemunhas da ressurreição de Jesus. Na realidade, se não fordes vós as suas testemunhas no próprio ambiente, quem o será em vosso lugar?” (Homilia, 14 de Maio de 2010). E referindo-se ao papel dos leigos, à liberdade cristã que têm de viver, disse ao nossos Bispos em Fátima: “Há necessidade de verdadeiras testemunhas de Jesus Cristo, sobretudo nos meios humanos onde o silêncio da fé é mais amplo e profundo: políticos, intelectuais, profissionais da comunicação que professam e promovem uma proposta mono-cultural com menosprezo pela dimensão religiosa e contemplativa da vida” (Discurso aos Bispo portugueses, 13 de Maio de 2010). Essas testemunhas tão necessárias, são cada um de vós. Todos, juntamente com o Sucessor de Pedro, queremos também dizer: “já que o dizes, lançarei as redes”.

É constante o convite que o Santo Padre nos dirige para levarmos o coração do ser humano ao encontro do Deus que salva. Há poucos meses, dizia de um modo muito gráfico: “Todos se podem abrir à acção de Deus, ao seu amor; com o nosso testemunho evangélico, nós cristãos devemos ser uma mensagem viva, aliás, em muitos casos somos o único Evangelho que os homens de hoje ainda lêem” (Homilia, 9-III-2011). Quando o Papa nos convida a ser com ele testemunhas de Jesus Resuscitado, pede-nos que sejamos Evangelho vivo, “o único que os homens de hoje ainda lêem”. Cada uma, cada um, no próprio ambiente familiar, de trabalho, de descanso, principalmente onde o silêncio da fé é mais profundo, tem de ser Cristo que passa, dar a conhecer com o seu comportamento, e apesar dos seus erros e defeitos, o amor de Jesus por cada um, de tal modo a permitir aos que convivam connosco o encontro com Cristo. Diz S. Josemaria “– Não é verdade que sentíamos abrasar-se-nos o coração, quando nos falava caminho? Se és apóstolo, esta palavras dos discípulos de Emaús deviam sair espontaneamente dos lábios dos teus companheiros de profissão, depois de te encontrarem a ti no caminho da vida” (Caminho, n. 917).

Para isso, é fundamental que tenhamos nós experiência desse encontro com Cristo que nos transforma, na oração, na Eucaristia e no Evangelho. Bento XVI, ao dirigir-se aos participantes do Congresso UNIV, na Páscoa passada, citou um texto de S. Josemaria: “Oxalá fossem tais as tuas atitudes e as tuas palavras, que todos pudessem dizer quando te vissem ou ouvissem falar: «Este lê a vida de Jesus Cristo»” (Caminho, n. 2). É um desafio, um programa para a nossa vida de cristãos, testemunhas de Jesus Ressuscitado. Para isso, é importante que leiamos todos os dias a Sagrada Escritura, o Evangelho, de modo pessoalíssimo. O fundador do Opus Dei propunha algo que tinha bem experimentado e vivido: “Eu aconselho-te a que, na tua oração, intervenhas nas passagens do Evangelho, como um personagem mais. Primeiro, imaginas a cena ou o mistério, que te servirá para te recolheres e meditares. Depois, aplicas o entendimento, para considerar aquele rasgo da vida do Mestre: o seu Coração enternecido, a sua humildade, a sua pureza, o seu cumprimento da Vontade do Pai. Conta-lhe então o que te costuma suceder nestes assuntos, o que se passa contigo, o que te está a acontecer. Mantém-te atento, porque talvez Ele queira indicar-te alguma coisa: surgirão essas moções interiores, o caíres em ti, as admoestações” (Amigos de Deus, n. 253).

Para sermos testemunhas vivas, para que os que nos encontrem possam ler o Evangelho, cuidemos a nossa leitura do Evangelho. Levemos a Sagrada Escritura à nossa oração. Descobriremos sempre aspectos novos, aprenderemos a conhecer cada vez melhor o nosso Jesus, e possibilitaremos que, através da nossa amizade, das nossas palavras e acções, os outros também encontrem Jesus. E poderemos animar, com a convicção de algo vivido, a que leiam por sua vez o Evangelho directamente. Assim, estaremos a chamar os da outra barca, os que talvez tenham a sua fé adormecida, para que também eles sejam pescadores de homens, para que todos vivamos com a alegria dos que se sabem filhos de Deus e a levemos a todos os recantos deste nosso mundo.

Adoração Eucarística, união afectiva e efectiva ao Santo Padre, viver o Evangelho no dia-a-dia. “Todos, bem unidos a Pedro, a Jesus, por Maria”. Com a Nossa Mãe do Céu nascemos para a vida da graça, aprendemos a estar com Jesus na Eucaristia, na oração, a voltar a Jesus no sacramento da Penitência, a ser Igreja, família de Deus. Diz Bento XVI: “Maria é também símbolo da abertura a Deus e aos outros; escuta activa, que interioriza, assimila, na qual a Palavra se torna forma de vida” (Exort. Apost. Verbum Domini, n. 27). Peçamos a S. Josemaria que nos conduza ao tal “amor confiado a Maria Santíssima” (Santo Rosário, Prólogo), que faça do Evangelho a nossa forma de vida e assim, com o Santo Padre, levemos todos ao encontro de Cristo.

Pe. José Rafael Espírito Santo