Homilia da missa no Montijo por ocasião da festa de S.Josemaria

Missa celebrada no passado dia 25 de Junho pelo Pe. António Barbosa

Queridos cristãos:

Oferecemos hoje a Deus o Santo Sacrifício da Missa na memória litúrgica de S. Josemaria Escrivá a quem o Senhor deu na Igreja a missão de proclamar a vocação universal à santidade.

Fazemo-lo em união com muitas mais pessoas que, em Portugal e no estrangeiro, dão graças pelo dom que Deus fez por meio da vida santa de este sacerdote exemplar. Com efeito, são inumeráveis as mulheres e os homens de todas as idades, nações e condições sociais que aprenderam a amar e a seguir Jesus através dos ensinamentos e do exemplo da vida abnegada de S. Josemaria.

Já passaram à volta de 40 anos depois da sua morte. Neste tempo, a influência da sua santidade não deixou de aumentar e a sua devoção difunde-se continuamente. De este modo, é confirmada a actualidade da mensagem que Deus lhe confiou. Mensagem que efectivamente frutificou através da sua correspondência generosa ao chamamento que o Senhor lhe fez quando ainda era adolescente. S. Josemaria contou em certas ocasiões esses momentos singulares em que Deus lhe fez pressentir a existência de um desígnio de amor e de uma missão específica para a sua vida. A resposta daquele rapaz, que tinha então só 15 ou 16 anos, foi um acto de completa adesão à vontade de Deus, que o fez decidir-se ser sacerdote, como sinal de uma total disponibilidade perante um chamamento de que desconhecia ainda os pormenores.

A partir de esse momento e ao longo de toda a sua vida foi verdadeiramente um enamorado de Deus, ao mesmo tempo que amava igualmente o mundo e as pessoas de todos os tempos, a quem soube contagiar a sua paixão de alma cristã. A festa de hoje lembra-nos que entre o Criador e todas as criaturas se estabeleceu um diálogo de amor semelhante. Peçamos a intercessão de este sacerdote santo para que nos anime a corresponder com generosidade e alegria a tanto amor que Deus nos tem.

S. Josemaria, quando animava os fiéis a rezar pela santidade dos sacerdotes, gostava de dizer “que um sacerdote não vai sozinho para o céu; vai sempre rodeado de um grupo de almas”. São as almas que se aproximaram a Deus através dos Sacramentos e da pregação, através da sua oração sacerdotal e do seu zelo apostólico. Por isso é necessário rezar todos os dias para que o Espírito Santo conceda muitos sacerdotes santos à Sua Igreja.

Por outro lado, como sabeis a missão do Opus Dei é ajudar a todos os cristãos a conhecer Jesus para o poderem imitar nos seus sentimentos e acções divinas. É nisto que consiste a santidade a que todos os baptizados são chamados por Cristo. O rasgo mais conhecido do Opus Dei é, porém, que este encontro pessoal com Jesus se realiza –com ajuda da graça dos Sacramentos—por meio do trabalho profissional, também na vida familiar, e através da amizade e das restantes e variadas situações da vida corrente.

A formação espiritual que o Opus Dei dá aos seus membros, ou às pessoas que pretendem beneficiar dos meios de formação –e é bem sabido que a imensa maioria são pessoas casadas—pode descrever-se como uma grande catequese. Mas esta catequese tem um modo especial de ser activada: depois dos meios de formação colectivos, em que as pessoas assistem em conjunto, aparece uma nova dimensão absolutamente inovadora: o acompanhamento individual, de acordo com aquilo que a própria pessoa esteja em condições de receber.

O objectivo de estes meios de formação é aprender a conhecer e a amar Deus, para transmitir esse amor a todos os nossos semelhantes, começando por aqueles que estão junto de nós. Ninguém dúvida que o desafio a que um casal cristão tem de responder é praticar a sua fé no meio familiar, com os seus filhos, e, depois, marido e mulher, com os seus colegas de trabalho e em todos os ambientes. Como é lógico, o Opus Dei não interfere de modo nenhum na actuação profissional, na organização familiar, na opinião política ou na actividade social dos seus fiéis ou cooperadores. O Opus Dei limita-se a transmitir, com total fidelidade ao magistério da Igreja, o espírito de Cristo. Pelo seu lado, é cada mulher ou homem cristão que deve com coerência e em consciência usar livremente, com responsabilidade pessoal, do depósito da sua formação.

É suficientemente conhecido o empenho que o Opus Dei aplica na ajuda às familias. Está bem experimentado que constituir familia é hoje um ideal grande para as mães e pais cristãos. Os problemas são bem conhecidos: a casa, a escola para os filhos, atender os parentes velhinhos ou doentes, as pressões do trabalho...Não podemos, porém, esquecer que às familias aquilo que falta por cima de tudo é o apoio espiritual, que é também um apoio humano. As familias não podem sentir-se sós perante os problemas que precisam de resolver. Precisam de sentir o calor amigo, a companhia alegre e o exemplo positivo de outras familias e sobretudo a ajuda insuperável de Deus. Por esta razão se explica o empenho que muitos membros do Opus Dei, em geral contando com a ajuda de outras pessoas, colocam na promoção de actividades para os pais e mães de familia e para os filhos e filhas. Podemos mencionar além dos cursos de orientação familiar (de género diverso conforme as diferentes situações familiares, que podem ir dos que ainda namoram aos que já vão chegando á maravilhosa classe dos avós...) aos clubes de raparigas e de rapazes, onde se proporciona uma educação exigente no que diz respeito à prática das virtudes humanas e da piedade cristã, de acordo com as diferentes idades.

Meus caros cristãos: o Senhor serve-se de nós como archotes, para que essa luz ilumine e dê calor aos nossos contemporâneos. Depende de nós que muitas pessoas não continuem nas trevas, mas que andem por caminhos que conduzem à vida eterna.

Meus amigos em Cristo: trabalhar é certamente uma actividade orientada a fazer frente às necessidades económicas pessoais e familiares. Mas não podemos esquecer, como ensinou S. Josemaria que o trabalho deve ser muito mais do que isto. Porque o trabalho “nasce do amor, manifesta o amor e orienta-se para o amor”. Claro que o trabalho não é um castigo para uma alma de fé. Mas nem sempre é,....como devia ser...”santificar o trabalho, santificar-se no trabalho e santificar com o trabalho”. Se não existe espírito de serviço, se não agimos com rectidão de intenção, se não bloqueamos as exigências instintivas do nosso eu não trabalharemos como gente que sabe que não se pode limitar a cumprir, mas a amar que é...exceder-se nos próprios deveres.

Queridos irmãs e irmãos: O chamamento que recebemos no nosso baptismo a colaborar na missão salvífica da Igreja é inseparável da nossa condição de cristãos. Também hoje, como nos tempos de Jesus, as multidões têm fome de ouvir a palavra de Deus. É a cena que recordamos na leitura do Evangelho. O Senhor utiliza a barca de Pedro para falar à multidão; aproveita a colaboração material de Simão e dos outros discípulos para que a sua mensagem chegue mais longe. Neste episódio, como em  muitos outros, descobrimos como os afazeres diários não tem porque ser um estorvo para fazer com que as pessoas com quem estamos descubram Cristo. No livro mais conhecido de S. Josemaria, “Caminho”, lá aparece com todas as letras: “De que tu e eu nos portemos como Deus quer, não o esqueças, dependem coisas grandes”. É precisamente nessas condições, no meio do trabalho, aproveitando uma ocasião de descanso, ao participar alegremente com pessoas de familia ou amigos num momento de lazer, é precisamente aí, nessas condições aparentemente inúteis que Cristo quer estar connosco, porque é nosso amigo, para poder ser amigo daqueles que porventura O não conhecem ainda.

Não há dúvida, estas crises mundiais são crises de falta de mulheres e de homens de fé!

Também nós teremos a mesma experiência dos efeitos inesperados da nossa fé em Cristo..... SE...aumentamos a nossa amizade com Jesus na oração pessoal,...SE...frequentamos os sacramentos da Reconciliação e da Eucaristia,....SE procuramos ter mais e melhor devoção a Nossa Senhora,....SE não esquecemos a devoção aos santos Anjos da Guarda,...SE...somos generosos com os nossos bens materiais,....SE...não deixamos de ser quem somos, nem acreditar naquilo em que sempre acreditámos, como nos disse o Papa Bento XVI na sua recente viagem. Sim, é verdade, precisamos de reconquistar a certeza da fé, para não desertar do nosso lugar nesta sociedade paganizada e, por isso mesmo, imensamente necessitada do nosso testemunho vibrante e alegre..

Confiamos à Mãe do Céu,  à Santíssima Virgem Maria, nossa Mãe e nossa doce companhia, os propósitos concretos que formulámos durante estes minutos, para que sejam verdadeiramente eficazes. Amém.