À janela da minha casa, espero que baixe a febre à Sonsoles, a minha filha de dez meses. Vicente, o meu marido, verifica que Rocío e Nacho, de quatro e dois anos, continuam a dormir. É quase meia-noite e na rua não há vivalma. Vejo, ao longe, a cruz no cimo da igreja de S. Josemaria.

Essa cruz acompanha-me e confirma, na placidez desta noite valenciana, que não estamos sós nesta aventura. Amanhã pela manhã teremos que ver quem fica a tratar da menina, porque não poderei ser eu. Espera-me outra jornada de trabalho no Consórcio provincial de bombeiros, onde estou há sete anos.  

  Anima-me pensar que todos os que trabalham na administração estão a colaborar com esses companheiros que enfrentam o fogo e em tantas ocasiões, salvam a vida de pessoas como eu.  

Entre a reunião e o gabinete, ligarei para saber como está a minha menina. Ao terminar o trabalho, vou ao colégio buscar os dois mais velhos para começar outra jornada diferente. Substituirei o fogo e as mangueiras pelos brinquedos e os biberões. Recordo umas palavras de São Josemaria numa das homilias de que mais gosto, Amar o mundo apaixonadamente: “É a vida corrente o verdadeiro lugar da nossa existência cristã (…) onde estão as vossas aspirações, o vosso trabalho, os vossos amores, esse é o sítio do vosso encontro quotidiano com Cristo. É no meio das coisas mais materiais da terra, onde devemos santificar-nos servindo a Deus e a todos os homens”.  

Aprendi de São Josemaria que esse deve ser o único fim da minha vida: amar. Com essa perspectiva, tudo tem sentido. Quando se faz por amor, o esforço vale a pena, tudo o que faço pela minha família e o meu trabalho, que me encanta.  

Continuo a olhar pela janela e a controlar a febre. Em muitos desses edifícios que agora recortam a paisagem à luz da lua, talvez haja muitas mulheres como eu, que caminham pela casa com o termómetro na mão, procurando não fazer barulho. E peço a Deus que também elas encontrem nas suas vidas esta luz interior que Deus me deu.