«É Deus que multiplica o pouco que fazemos»

Pablo López é de Leganés, Madrid, e foi ordenado padre em 2016. Atualmente, colabora em iniciativas como Hallow ou Rezar hoy, que difundem áudios para ajudar todos os cristãos a rezar. Neste vídeo, conta a sua vida de fé, desde a infância até algumas das suas experiências como sacerdote.

O meu nome é Pablo López, sou padre do Opus Dei e moro em Madrid, Espanha. Sou padre há oito anos.

Quando comecei a estudar no seminário, aconteceu-me algo curioso. Fui a Pamplona, à Universidade de Navarra, e como adoro desporto, um dia fui escalar a Cidadela, que é uma muralha horizontal onde se pode escalar de lado. Enquanto subia, comecei a conversar com uma pessoa que estava lá, do mundo da escalada, a fumarmarijuana.

Depois de algum tempo de conversa, sem saber quem eu era nem por que estava em Pamplona, disse-me: “Aqui em Navarra tens que ter cuidado com dois tipos de pessoas: os etarras – porque naquela época a ETA ainda estava ativa – e os membros do Opus Dei”. Eu respondi: “Bem, então só preciso de ter cuidado com um dos dois tipos”. Ele perguntou-me se eu era membro da ETA, eu disse que não, que era do Opus Dei. Ficou extremamente surpreendido: “Tu? Membro do Opus Dei? Isso é incrivelmente estranho para mim!”. Expliquei-lhe que muitas vezes achamos os membros do Opus Dei estranhos, mas pura e simplesmente não os conhecemos. Quando se conhecem, vê-se que são pessoas normais.

Mais tarde, como diácono, depois de seis anos de estudos e a trabalhar na minha tese, ajudei numa associação de jovens chamada Noray. Costumávamos andar de skate com as crianças. Certa vez, num skate park, depois de algum tempo, comecei a conversar com um rapaz. Eu trabalhava num banco e era uma pessoa totalmente normal. Ele pediu-me uma ferramenta para ajustar os eixos do patim.

Disse-lhe: “Vamos à minha carrinha, tenho lá ferramentas”. Quando abri o porta-bagagens, via-se lá pendurado o meu traje de padre. Ele soltou um palavrão e disse-me: “Isto é das coisas mais fortes que já me aconteceram na vida”. Respondi-lhe: “Para mim, também das coisas mais fortes foi Deus ter-me escolhido para ser seu representante. Mesmo sendo indigno, cheio de defeitos, Deus conta com todos”.

Fui ordenado sacerdote em 2016 em Torreciudad. Não tive uma conversão espetacular nem milagres. Deus deu-me uma mãe maravilhosa que me ajudou a ficar perto d’Ele desde pequeno. As minhas tardes eram muito tranquilas: jogava futebol, mas todos sabiam que íamos à Missa às 19h30. O meu pai não praticava naquela época, mas agora pratica: Missa diária, terço, uma fé muito viva.

Um dia, quando tinha apenas 8 anos, na Missa, olhando para o Senhor na cruz, senti que Ele estava a pedir-me para ser padre. Não contei a ninguém, mas disse-Lhe: “Se vier de Ti, Senhor, então que assim seja”.

Cresci num bairro operário em Leganés, estudei numa escola pública e depois fui para Retamar, um colégio obra corporativa do Opus Dei em Pozuelo, graças a uma bolsa de estudos. Lá, o que eu já vivia – rezar, ir à Missa – era algo natural. Comecei a fazer oração diariamente, rezar o terço e fazer leitura espiritual. Percebi claramente que Deus me pedia para segui-l’O no Opus Dei como agregado.

Mais tarde, aos 16 anos, senti outro impulso do Senhor: pedia-me para ser sacerdote do Opus Dei. Falei disso com os meus diretores. Disseram-me que primeiro deveria fazer um curso e trabalhar, como queria São Josemaria. Estudei Educação Física, depois Psicopedagogia, trabalhei como professor durante quatro anos e, aos 25 anos, fui para Pamplona estudar Teologia.

Passei anos maravilhosos lá, aproveitando a universidade, os meus amigos e desporto. Depois de ser ordenado sacerdote, voltei para Madrid e dediquei-me principalmente aos jovens. Tenho visto muitos frutos, muitas conversões.

Lembro-me que no dia 24 de dezembro, depois de uma recoleção em Bilbao, combinei com um amigo médico ir fazer surf. Estávamos a preparar as pranchas quando se aproximou outro homem. Conversámos e ele disse-me: “Tu tens mais ar de bombeiro do que de padre”. Respondi-lhe: “No fundo, dedicamo-nos ao mesmo: tu evitas que as pessoas se queimem nesta vida, e eu, na eternidade”.

Muitas vezes conheci pessoas que ficavam surpreendidas ao ver um padre. Um dia, quando estava a sair de um rio depois de praticar paddle surf, um guarda civil parou-me porque os meus faróis do carro não estavam acesos. Ao ver-me de perto, disse: “Ora, o senhor é padre!”. Sorri e confirmei. Ele respondeu: “Já há poucos como o senhor”. Nós, sacerdotes, temos a sorte de que muitas pessoas, ao verem que representamos Jesus Cristo, nos olham com respeito ou até nos contam a sua história.

Outro dia, com um grupo de jovens num parque de skate, um deles perguntou-me se eu era o monitor. Disse que sim, mas que também era padre. “Dedicaste a tua vida a celebrar Missa para velhinhas?” – perguntou-me. Respondi-lhe: “Tal como tu estudas Farmácia para dar qualidade de vida e fazer as pessoas felizes, eu procuro ajudar as pessoas a encontrar a maior felicidade: Deus”.

Lembro-me também de um episódio chocante. Num bar, três rapazes que vinham de uma festa viram-nos entrar, a mim e a dois amigos padres. Um deles veio ter connosco e pediu uma bênção para o amigo, que estava muito doente, a tossir sangue. Saímos e vi que era um rapaz que eu conhecia da equipa do meu irmão. Estava devastado pelas drogas, olhou para mim, reconheceu-me e disse: “Que maus caminhos eu escolhi e que caminhos bons tu seguiste!”. Encorajei-o a regressar a Deus.

Muitas pessoas perguntam-me: “Como sabe que Deus existe para poder dedicar-Lhe a vida?”. Digo-lhes que há milagres, mas também há consciência, esse altifalante que todos temos dentro e que nos avisa quando erramos. Se Deus não existisse, tanto fazia.

Nestes anos como padre vivi mil histórias. Sinto-me como um instrumento: não o mais inteligente, nem o melhor em nada, mas Deus atua com o pouco que lhe oferecemos. Muitos jovens dizem-me que perdem horas por dia nas redes sociais ou jogos. Vi claramente que também tinha de estar presente ali.

Durante a pandemia, criamos o canal Rezar Hoy com áudios diários de oração. Depois, unimos forças com os Jovens Católicos, que têm mais de 400 000 seguidores em todas as suas redes sociais. Em conjunto, temos visto muitos frutos.

Uma jovem grávida de 17 anos começou a rezar com os nossos áudios. Decidiu não fazer um aborto, voltou-se para Deus e veio com o seu bebé a Madrid para nos agradecer. Outra jovem com anorexia, após sete anos de sofrimento, encontrou paz através da oração. Atualmente é noviça em Iesu Communio.

Lembro-me também de um antigo aluno, cheio de tatuagens, que me escreveu a dizer que queria voltar para Deus. Tinha batido no fundo. Hoje é um exemplo: Missa diária, terço, formação. Digo-lhe que ele pode ser o primeiro santo tatuado da história.

Às vezes, publicamos conteúdo nas redes sociais que não obtém muitas visualizações. Mas se apenas uma pessoa se converter, já terá valido a pena. Não fazemos isso por “likes”, mas por almas.

Agora também colaboro com a aplicação Hallow, onde coloco áudios diariamente. Uma venezuelana escreveu-me depois de ouvir um: tinha passado 12 anos sem se confessar, afastada da mãe e da Igreja. Graças ao áudio, pediu perdão, confessou-se e mudou de vida.

Oxalá que todos tentemos ser instrumentos de Deus. Na nossa família, no trabalho, onde quer que estejamos. É Deus que multiplica o pouco que fazemos. É Ele que nos faz verdadeiramente felizes.