A questão é que se trata de um rapaz com muitos problemas: consumo e tráfico de drogas, agressões, maus-tratos a mulheres, com proibição de comunicar com a vítima… Não teria mais de 20 anos, mas já contava com um “bom currículo”. Devido a essa má influência, o caráter da nossa filha começou a mudar. Já não era a mesma, assim o achávamos nós e os nossos amigos.
Na noite de Ano Novo de 2013 enganou-nos dizendo que ia a uma festa e não regressou a casa. Ficámos loucos à procura dela, ligando-lhe pelo telefone. Imaginávamo-la caída em qualquer valeta. Quando conseguimos localizá-la por telemóvel respondeu-nos que não pensava voltar, que estava na casa do amigo: “Não os suporto”, disse literalmente. Não pode haver dor maior. Caiu-nos o mundo em cima. Tínhamos estado juntos na ceia da noite de Ano Novo e nada fazia prever algo assim.
No dia seguinte aproximámo-nos da casa. O rapaz vivia com a mãe, que é uma mulher muito boa, que também estava a passar um calvário com o filho, tal como nós. A nossa filha estava lá, mas não queria falar. Lembro-me de dizer à minha mulher: “Perdemos uma filha”.
Nos dias seguintes continuámos a tentar. Por fim convencemo-la. O encontro foi muito duro; era outra pessoa mas conseguimos impor-nos e concordou em voltar para casa. Não cedemos e estabelecemos umas normas de conduta inflexíveis.
Passaram meses e por muitos conselhos e exemplo que lhe demos todos, não aceitava nada. O ambiente em casa era insustentável. As nossas outras duas filhas, a mais velha casada e a mais nova que ainda vivem connosco, passaram muito mal. A minha filha continuava com esse rapaz. Saía de nossa casa de manhã e só voltava à noite. Muitas vezes chegava a chorar porque tinha brigado com ele. Engordou, deixou de se arranjar, abandonou os estudos – até atirou os livros para um contentor. Uma “angústia”.
Eu estava para fazer um retiro no mês de março perto da minha cidade e pensava cancelá-lo devido à situação tão tensa que tínhamos em casa, mas a minha mulher insistiu para eu ir, e assim fiz.
No primeiro dia, antes de começar a Santa Missa, peguei no armário num Evangelho e ao abri-lo caiu ao chão uma pagela de Montse Grases. A primeira coisa que me veio à cabeça foi a minha filha e disse-lhe: “Montse, ajuda-a! Já que ela não pode ou não quer, que seja o namorado a deixá-la”. Eu tinha a certeza de a minha filha estava louca por esse rapaz mas que ele não gostava dela, pelo modo como a tratava.
Duas horas depois liguei à minha mulher, que por acaso, se chama Montse, para lhe dizer que tinha começado a pedir pela nossa filha a Montse Grases. E então a minha mulher interrompeu-me: “Não vais acreditar. O rapaz telefonou à Ângela para lhe dizer que não queria continuar com a relação”. Deu-me um aperto no coração. De alegria, e impressionado fui buscar um livro sobre a Montse e li-o todo seguido.
Nos anos que se seguiram, a Ângela reconsiderou. Pediu perdão inúmeras vezes por nos ter feito sofrer, sobretudo à mãe; tem consciência da loucura que viveu. Voltou a estudar, até já acabou o curso com boas notas, começou a trabalhar para ganhar dinheiro. Voltou a ser a mesma rapariga feliz e esse rapaz não voltou a incomodá-la.
Não tenho a mais pequena dúvida de que foi a intercessão de Montse Grases que nos ajudou a recuperar a nossa filha. Tenho a certeza de que qualquer dia subirá aos altares.
Obrigado, Montse!
Obrigado, Senhor!