21 de Março de 2009
Bento XVI celebrou a Santa Missa, às 10H00 na Igreja de São Paulo. "São Paulo, padroeiro da cidade de Luanda e desta magnífica igreja fala-nos, por experiência pessoal de um Deus rico de Misericórdia – disse o Papa na homilia. (...) Estou muito contente porque me encontro entre vós, meus companheiros de jornada na vinha do Senhor; ocupais-vos dela diariamente preparando o vinho da Misericórdia divina e vertendo-o depois nas feridas de vosso povo tão atribulado".
Na vida do apóstolo das gentes foi fundamental "o encontro com Jesus a caminho de Damasco. (...).O apóstolo viu Jesus ressuscitado, ou seja, o ser humano na sua estatura perfeita. Verifica-se então em Paulo uma inversão de perspectiva e consegue ver todas as coisas a partir dessa estatura final da humanidade em Jesus".
"Apressemo-nos a conhecer o Senhor ressuscitado! – Exclamou o Santo Padre. Como sabeis, Jesus, homem perfeito, é também o nosso verdadeiro Deus. N’Ele, Deus, tornou-se visível aos nossos olhos para nos tornar participantes da Sua vida divina. Desta forma se inaugura com Ele uma nova dimensão do ser, da vida, em que se integra também a matéria e mediante a qual surge um novo mundo".
Essa nova dimensão "chega a cada um de nós através da fé e do Baptismo. Efectivamente este sacramento é morte e ressurreição, transformação numa vida nova. (...) Eu vivo, mas já não sou eu que vivo. De alguma forma, o meu eu desaparece e integra-se num Eu maior; conservo, no entanto, o meu eu mas transformado e aberto aos outros mediante a minha inserção no Outro; em Cristo adquiro o meu novo espaço de vida".
"Mediante a nossa "cristificação", por obra e graça do Espírito de Deus, vai-se completando paulatinamente a gestação do Corpo de Cristo ao longo da história", explicou o Santo Padre e recordou a constituição do primeiro reino cristão subsaariano nestas terras em 1506, graças ao rei português D. Afonso I, Mbemba-a-Nzinga. O reino foi oficialmente católico até ao século XVIII. "Duas etnias tão diversas, a banta e a lusitana – observou o Papa – encontraram na religião cristã uma plataforma de entendimento e comprometeram-se para que durasse e para que as divergências – e muitas e graves houve – não separassem os dois reinos. De facto, o Baptismo faz com que todos os crentes sejam um em Cristo".
"Hoje cabe-vos (...) propor Cristo ressuscitado aos vossos patrícios. Muitos deles vivem aterrorizados pelos espíritos, pelos poderes nefastos que pensam que os ameaçam; desorientados, chegam a condenar as crianças da rua e mesmo os idosos porque dizem que são bruxos. Quem pode anunciar-lhes que Cristo venceu para sempre a morte e todos os poderes obscuros? Alguns dizem: "Porque é que não os deixamos em paz? Eles têm a sua verdade e nós a nossa. Vivamos pacificamente deixando que cada um seja como é para que se realize, do melhor modo possível, a sua autenticidade".
"Mas se nós estamos convencidos e experimentámos que sem Cristo a vida é incompleta e lhe falta uma realidade, mais ainda, a realidade fundamental – observou o Papa – temos que estar convencidos de que não é uma injustiça para ninguém se lhes apresentamos Cristo e lhes damos a possibilidade de encontrar desta forma a sua autenticidade verdadeira, a alegria de ter encontrado a Vida. Temos que o fazer, é nossa obrigação oferecer a todos a possibilidade de alcançar a vida eterna".
"Ajudemos a miséria humana a encontrar-se com a Misericórdia divina – concluiu Bento XVI. O Senhor faz-nos Seus amigos, entrega-se a nós, dá-nos o seu Corpo na Eucaristia, confia-nos a sua Igreja. (...) Abracemos a Sua vontade como fez São Paulo: "Pregar o Evangelho (...) é para mim um dever. Ai de mim se não anunciar o Evangelho!".
20 de Março de 2009
O Santo Padre chegou às 17H00 ao Palácio do Povo, o palácio presidencial de Luanda, onde foi recebido pelo presidente angolano, José Eduardo dos Santos. Depois de um encontro privado com o Presidente, o Papa pronunciou um discurso perante as autoridades políticas e civis e o corpo diplomático acreditado em Angola.
"Sois artífices e testemunhas de uma Angola que se está a levantar – disse o Papa. Após vinte e sete anos de guerra civil que devastou o país, a paz começou a lançar raízes, trazendo consigo os frutos da estabilidade e da liberdade. Os esforços tangíveis do governo para instalar as infra-estruturas e refazer as instituições fundamentais para o desenvolvimento e o bem-estar da sociedade, fizeram florescer a esperança entre os cidadãos da nação. Para consolidar esta esperança concorreram diversas iniciativas de organismos multilaterais, decididos a superar os interesses particulares para actuar com a perspectiva do bem comum. Também não faltam, em diversos locais do país, exemplos de professores, de pessoal de saúde e de funcionários estatais que, com salários baixos servem, com integridade e dedicação, as suas comunidades e se multiplicam os voluntários ao serviço dos mais necessitados. Deus abençoe e multiplique estas boas vontades e as suas iniciativas ao serviço do bem!".
"Angola sabe que chegou o tempo da esperança para África. Todo o recto comportamento humano é esperança em acção. As nossas acções nunca são indiferentes a Deus e nem ao desenvolvimento da história. Meus amigos, armados de um coração íntegro, magnânimo e compassivo, podeis transformar este continente libertando o vosso povo do açoite da cobiça, da violência e da desordem, guiando-o pelo caminho marcado pelos princípios indispensáveis a uma democracia civil e moderna, no respeito e na promoção dos direitos humanos, um governo transparente, uma magistratura independente, uma comunicação social livre, uma administração pública honrada, uma rede de escolas e de hospitais que funcione e a determinação firme enraizada na conversão dos corações, de acabar para sempre com a corrupção".
"Na mensagem deste ano para a Jornada Mundial da Paz – assinalou Bento XVI – quis chamar a atenção de todos para um enfoque ético do desenvolvimento. Efectivamente, mais do que programas e protocolos, as pessoas deste país pedem justamente uma conversão profunda e duradoura dos corações à fraternidade. Dizem aos que trabalham na política, na administração pública, nos organismos internacionais: Estai perto de nós de uma forma realmente humana; estai connosco, com as nossas famílias, com as nossas comunidades".
"O desenvolvimento económico e social de África requer a coordenação do governo nacional com as iniciativas regionais e com as decisões internacionais. Uma coordenação desse tipo pressupõe que as nações africanas não se considerem apenas como destinatárias de planos e de soluções elaboradas por outros. Os próprios africanos, trabalhando pelo bem das suas comunidades, devem ser os protagonistas do seu desenvolvimento. Com este propósito há um número cada vez maior de iniciativas que merecem ser apoiadas. Entre elas a New Partnerships for Africa's Development (NEPAD), o Pacto para a segurança, a estabilidade e o desenvolvimento na região dos Grandes Lagos, o Kimberley Process, a Publish What You Pay Coalition e a Extractive Industries Transparency Initiative, cujo objectivo comum é promover a transparência, a praxis comercial honrada e a boa governança".
"No que se refere à comunidade internacional em conjunto, é urgente coordenar os esforços para enfrentar a questão das alterações climáticas, a plena e justa realização dos objectivos de desenvolvimento indicados pela “Doha round” e o cumprimento da promessa dos países desenvolvidos, muitas vezes repetida, de destinar 0,7 % do seu PIB (produto interno bruto) às ajudas oficiais ao desenvolvimento. Esta ajuda é hoje ainda mais necessária com a tempestade financeira mundial em curso; o meu desejo é que não se converta numa das suas vítimas".
O Santo Padre falou depois da sua alegria por se encontrar nesta viagem como em família e acrescentou que esse tipo de experiência podia ser "o dom comum que África oferece a quantos procedem de outros continentes e aqui chegam, onde "a família é o fundamento sobre o qual está construído todo o edifício social".
"No entanto, como todos sabemos – observou – também aqui a família se vê submetida a numerosas pressões, dificuldades e humilhações causadas pela pobreza, desemprego, doenças, exílio. (...) Assume um dramatismo particular o jugo da discriminação das raparigas e das mulheres, sem falar da inominável prática da violência e exploração sexual que lhes acarreta tantas humilhações e traumas. Outro aspecto muito preocupante é das políticas daqueles que, com a miragem do avanço do "edifício social", ameaçam as suas próprias bases. Que amarga ironia a daqueles que promovem o aborto entre os cuidados de saúde materna! Que desconcertante a tese de que a supressão da vida é uma questão de saúde reprodutiva!".
"Encontrareis sempre a Igreja, por vontade do seu divino fundador, ao lado dos mais pobres deste continente. Asseguro-vos que através das suas diversas iniciativas (...) continuará a fazer todo o possível para ajudar as famílias, incluindo as afectadas pelos trágicos efeitos da SIDA e para promover a igual dignidade de homens e mulheres baseada numa complementaridade harmoniosa. O caminho espiritual do cristão é o da conversão quotidiana; a Igreja convida todos os líderes da humanidade a fazê-lo para que esta siga o caminho da verdade, da integridade, do respeito e da solidariedade".
Terminado o discurso, o Papa deslocou-se à Nunciatura apostólica, onde teve um encontro com os Bispos de Angola e São Tomé.
O Papa pediu a Deus que recompense os prelados por "todos os esforços apostólicos levados a cabo em condições difíceis, quer durante a guerra quer actualmente, em contacto com tantas deficiências e limitações, contribuindo deste modo para outorgar à Igreja em Angola e em São Tomé e Príncipe aquele dinamismo que todos lhe reconhecem".
Referindo-se aos desafios que devem enfrentar, Bento XVI afirmou que "contra um relativismo difundido que nada reconhece como definitivo, mas mais do que isso, tende a defender como última medida o próprio eu e os seus caprichos, propomos outra medida: o Filho de Deus, que também é verdadeiro homem. Ele é a medida do verdadeiro humanismo. O cristão de fé adulta e madura não é aquele que segue as modas e as últimas novidades, mas o que vive profundamente enraizado na amizade com Cristo. Esta amizade abre-nos para tudo o que é bom e oferece-nos o critério para discernir entre erro e a verdade".
"A cultura e os modelos de comportamento – continuou – estão cada vez mais condicionados e caracterizados pelas imagens propostas pelos meios de comunicação social". Neste contexto, disse, "são louváveis todos os vossos esforços por ter, também a este nível, uma capacidade de comunicação que os capacite para oferecer a todos uma interpretação cristã dos eventos, dos problemas e das realidades humanas".
O Santo Padre salientou as "dificuldades e ameaças" que encontra a família, a qual "tem uma particular necessidade de ser evangelizada e concretamente apoiada, porque além da fragilidade e instabilidade interna de tantas uniões conjugais, existe a tendência difundida na sociedade e na cultura de pôr em dúvida o carácter único e a missão própria da família fundada no matrimónio".
"Na vossa solicitude de pastores por cada ser humano, continuai a levantar a voz em defesa do carácter sagrado da vida humana e do valor do instituto matrimonial e pela promoção do papel da família na Igreja e na sociedade, pedindo medidas económicas e legislativas que as apoiem na geração e na educação dos filhos".
O Papa manifestou a sua alegria pelas "numerosas comunidades vibrantes de fé, com um laicado comprometido em muitas obras de apostolado, bem como pelo número consistente de vocações para o ministério sacerdotal e para a vida consagrada, especialmente para a vida contemplativa, são um verdadeiro sinal de esperança para o futuro".
Depois de constatar que o clero "é cada vez mais autóctone", elogiou o trabalho "paciente e heróico dos missionários para anunciar Cristo e o seu Evangelho e para que nasçam comunidades cristãs de que hoje sois responsáveis".
O Santo Padre convidou os Bispos a "acompanhar de perto os presbíteros, preocupando-vos pela sua formação permanente, quer teológica quer espiritual, e estando atentos às suas condições de vida e de exercício da própria missão, para que sejam testemunhas autênticas da Palavra que anunciam e dos sacramentos que celebram".
"Que no dom de si mesmos a Cristo e ao povo de que são pastores – terminou – sejam fiéis às exigências do seu estado e vivam o seu ministério presbiteral como um verdadeiro caminho de santidade, procurando fazer-se santos para suscitar à sua volta novos santos".
Visita ao Centro Nacional de Reabilitação de Deficientes de Yaundé (19.03.09)
Bento XVI recordou aos doentes que "não estais sós no vosso sofrimento, porque o próprio Cristo é solidário com os que sofrem. Ele revela aos doentes o lugar que têm no coração de Deus e na sociedade".
No seu discurso, o Santo Padre recordou que "o evangelista Marcos oferece-nos como exemplo a cura da sogra de Pedro" e que "nesta passagem do Evangelho vemos Jesus a passar um dia entre os doentes para os aliviar. Ele revela-nos também, com gestos concretos, a sua ternura e a sua benigna atenção para com todos os que têm o coração dorido e o corpo ferido".
O Papa assinalou depois que "penso também em todos os doentes, especialmente aqui, em África, que são vítimas das doenças como a SIDA, a malária e a tuberculose. Sei bem como a Igreja Católica está fortemente empenhada convosco numa luta eficaz contra estes terríveis flagelos e alento-vos a prosseguir com determinação esta obra urgente".
"A vós que sois provados pela doença e pelo sofrimento, a todas as vossas famílias, desejo levar da parte do Senhor um pouco de consolo, renovar-vos o meu alento e convidar-vos a dirigirem-se a Cristo e a Maria que Ele nos deu como Mãe. Ela conheceu o sofrimento e seguiu o seu Filho no caminho para o Calvário, conservando no seu coração o próprio amor que Jesus veio trazer a todos os homens".
Em presença de "sofrimentos atrozes, sentimo-nos ultrapassados e não encontramos as palavras justas. Diante de um irmão ou de uma irmã imerso no mistério da Cruz, o silêncio respeitoso e compassivo, a nossa presença apoiada pela oração, um gesto de ternura e de consolo, um olhar, um sorriso, podem fazer mais do que muitos discursos", prosseguiu o Papa.
Bento XVI explicou depois que Deus, "o Pai de todas as misericórdias acolhe sempre com benevolência a oração de quem se Lhe dirige. Ele responde à nossa invocação e à nossa oração como Ele quer e quando quer, para nosso bem e não de acordo com os nossos desejos".
Por eles, precisou, "está em nós discernir a sua resposta e acolher os dons que nos oferece como uma graça. Fixemos o nosso olhar no Crucificado, com fé e coragem, porque d’Ele provém a Vida, o consolo, a cura. Saibamos olhar Aquele que quer o nosso bem e enxugar as lágrimas dos nossos olhos, saibamos abandonar-nos nos seus braços como uma criança nos braços da sua mãe".
Seguidamente o Papa alentou a olhar para São José como "mestre de oração. Não somente aqueles que estão de boa saúde, mas também vós, queridos doentes e todas as famílias. Penso particularmente em vós que fazeis parte do pessoal hospitalar e em todos aqueles que trabalham no mundo da saúde. Acompanhando os que sofrem com a vossa atenção e com os tratamentos que lhes fazem, praticam actos de caridade e de amor que Deus reconhece".
Dirigindo-se depois aos investigadores e médicos, o Santo Padre indicou que "os espera porem em prática tudo aquilo que é legítimo para ultrapassar a dor, espera-vos em primeiro lugar proteger a vida humana, ser defensores da vida desde a sua concepção até à morte natural".
"Para cada homem, o respeito à vida é um direito e, ao mesmo tempo, um dever, porque cada vida é um dom de Deus. Quero, juntamente convosco, dar graças ao Senhor por todos aqueles que, de uma maneira ou de outra, trabalham ao serviço das pessoas que sofrem.
Alento os sacerdotes e os que visitam os doentes a esforçarem-se com a sua presença activa e amiga na pastoral da saúde nos hospitais ou para assegurar uma presença eclesial ao domicílio, para o consolo e o apoio espiritual dos doentes. De acordo com a Sua promessa, Deus conceder-vos-á o justo salário e recompensar-vos-á no céu".
Finalmente, o Papa assegurou a cada um dos presentes "a minha afectuosa proximidade e as minhas orações. Desejo também exprimir o meu desejo de que cada um de vós nunca se sinta só. Espera cada homem, criado à imagem de Cristo, fazer-se próximo do seu próximo. Confio-vos todos à intercepção da Virgem Maria, nossa Mãe e à de São José. Que Deus nos conceda sermos uns para os outros portadores da misericórdia, da ternura e do amor do nosso Deus e que Ele vos abençoe!"
Eucaristia no Estádio Amadou Ahidjo (19.03.09)
Ao presidir esta manhã às 10H00 a.m. (hora local) à Eucaristia no Estádio Amadou Ahidjo para a apresentação do Instrumento de Trabalho da II Assembleia Especial do Sínodo para África, o Papa Bento XVI alentou os milhares de fiéis reunidos a "esperar contra toda a esperança" e exprimiu o seu desejo de que "África pode transformar-se no continente da esperança".
Na festividade de São José, o Santo Padre desejou um bom dia a "todos os que como eu receberam a graça de ter este formoso nome" e recordou que "José é na história o homem que deu a Deus a maior prova de confiança".
O Papa assinalou depois, às 60 mil pessoas presentes, que "nesta época em que tantas pessoas sem escrúpulos querem impor o reino do dinheiro desprezando os mais pobres, tendes que estar atentos. A África em geral e os Camarões em particular, estão em perigo se não reconhecem o verdadeiro autor da Vida. Não vos deixeis fascinar por falsas glórias e falsos ideais. Acreditai! Cristo é o único caminho de Vida".
"Como noutros continentes, a família atravessa um período difícil que a sua fidelidade a Deus ajudará a superar. Alguns valores da vida tradicional alteraram-se. As relações entre as gerações modificaram-se de tal forma que não favorecem, como antes, a transmissão dos conhecimentos antigos e da sabedoria herdada dos antepassados. Com demasiada frequência somos testemunhas de um êxodo rural. A qualidade dos laços familiares fica profundamente afectada. Desenraizados e frágeis, os membros das gerações jovens, frequentemente sem trabalho desgraçadamente, procuram remédios para o mal de viver refugiando-se em paraísos importados, efémeros e artificiais".
"Por vezes os africanos vêm-se obrigados a fugir de si próprios e a abandonar tudo o que constituía a sua riqueza interior. Perante o fenómeno de uma urbanização galopante, abandonam a sua terra, física e moralmente, não como Abraão para responder à chamada do Senhor, mas por uma espécie de exílio interior que os afastam do seu próprio ser, dos seus irmãos e irmãs de sangue, de Deus".
"Será uma fatalidade, uma evolução inevitável?", questionou o Papa. "Certamente que não. Agora mais do que nunca temos que esperar contra toda a esperança. A primeira prioridade consiste em voltar a dar sentido ao acolhimento da vida como dom de Deus. Para a Sagrada Escritura, como para a sabedoria do vosso continente, a chegada de uma criança é uma graça, uma bênção de Deus. Na nossa época a humanidade é convidada a modificar a sua óptica; efectivamente cada ser humano, mesmo o mais pobre e pequeno, é criado à imagem e semelhança de Deus".
Bento XVI assinalou a seguir: "filhos e filhas de África: Não tenhais medo de acreditar, de esperar, de amar, não tenhais medo de dizer que Jesus é o Caminho, a Verdade e a Vida, que somente Ele nos pode salvar! Firmes na esperança contra toda a esperança, não é uma definição magnífica do cristão?".
"África está chamada à esperança por vosso intermédio e convosco. Com Cristo Jesus que pisou o solo africano, África pode transformar-se no continente da esperança. Todos somos membros dos povos que Deus deu como descendência a Abraão. Cada um e cada uma de nós foi pensado, querido e amado por Deus. Cada um e cada uma de nós tem um papel a desempenhar no plano de Deus, Pai, Filho e Espírito Santo".
"Se o desalento vos invadir, pensai na fé de José, se a inquietação vos espreita, pensai na esperança de José, descendente de Abraão que esperava contra toda a esperança; se vos incita a aversão ou o ódio, pensai no amor de José que foi o primeiro homem que descobriu o rosto humano de Deus na pessoa do Menino concebido pelo Espírito Santo no seio da Virgem Maria".
"Como José não tenhais medo de tomar Maria convosco, ou seja, não tenhais medo de amar a Igreja. Maria, Mãe da Igreja, vos ensinará a seguir os seus pastores, a seguir o que vos ensinam. Os casados, olhai para o amor de José por Maria e Jesus; os que se preparam para o matrimónio, respeitai a vossa futura ou futuro cônjuge, como fez José com Maria; os que se consagraram a Deus no celibato reflecti sobre os ensinamentos da nossa Mãe, a Igreja: 'A virgindade e o celibato para o Reino de Deus, não só não contradizem a dignidade do matrimónio, mas pressupõem-na e confirmam-na. O matrimónio e a virgindade são as duas formas de exprimir e viver o único mistério da Aliança de Deus com o seu povo’".
Bento XVI falou depois aos pais de família, cujo modelo é São José. "Ele pode ensinar-vos o segredo da paternidade, ele que velou pelo Filho do Homem. Todo o pai recebe de Deus os filhos criados à Sua imagem e semelhança. São José foi o marido de Maria. Como ele, respeitai e amai a vossa esposa e guiai os vossos filhos com amor e com a vossa presença para Deus, onde devem estar".
O Papa exortou os jovens a manterem "a valentia frente às dificuldades da vida. A vossa existência tem um valor infinito aos olhos de Deus".
Por último, o Santo Padre dirigiu-se às crianças: "aqueles que não têm um pai ou que vivem abandonados na miséria da rua, aos que foram separados com violência dos seus pais, maltratados e submetidos a abusos, arrolados à força para grupos militares que devastam alguns países, quero dizer: Deus ama-vos, não vos esquece e São José protege-vos".
Terminada a Missa, Bento XVI entregou o "Instrumentum laboris" (documento de trabalho) aos presidentes das Conferências Episcopais nacionais e regionais de África, auspiciando "vivamente que os trabalhos da Assembleia Sinodal contribuam para incrementar a esperança para as populações de África e para todo o continente e infundam em cada uma das Igrejas locais um novo impulso evangélico e missionário ao serviço da reconciliação, da justiça e da paz".
Primeirodia (17.03.09)
No seu primeiro discurso ao descer do avião que o transportou na sua histórica primeira viagem a África, o Papa Bento XVI assinalou que "venho ao vosso encontro como pastor. Venho para confirmar os meus irmãos e as minhas irmãs na fé. É esta a tarefa que Cristo confiou a Pedro na Última Ceia e é este o papel dos sucessores de Pedro".
No seu discurso em francês, a seguir às boas vindas do Presidente dos Camarões, Paul Biya, Bento XVI recordou que "o testemunho de muitos grandes santos deste Continente nos primeiros séculos do cristianismo – São Cipriano, Santa Mónica, Santo Agostinho, Santo Atanásio, apenas para nomear alguns – assegura a África um lugar de distinção nos anais da história da Igreja".
Depois de recordar que em África há cerca de 150 milhões de católicos, o Santo Padre precisou que "vim aqui para apresentar o Instrumentum laboris para a Segunda Assembleia Especial" do Sínodo dos Bispos de África "que se realizará em Roma no próximo mês de Outubro. Os padres sinodais reflectirão à volta do tema 'A Igreja em África ao serviço da reconciliação, da justiça e da paz: São o sal da terra… são a luz do mundo’ (Mt 5,13-14)".
"Passados quase dez anos do início do novo milénio, este momento de graça é um apelo a todos os Bispos, sacerdotes, religiosos e fiéis leigos do Continente para se dedicarem novamente à missão da Igreja a levar esperança aos corações do povo de África e, com isso, aos povos de todo o mundo".
Depois de recordar o testemunho de Santa Josephine Bakhita, como exemplo da "transformação que o encontro com o Deus vivo pode gerar numa situação de grande sofrimento e injustiça", o Papa Bento XVI precisou que "frente à dor ou à violência, à pobreza ou à fome, à corrupção ou ao abuso de poder, um cristão não pode permanecer em silêncio".
"A mensagem salvífica do Evangelho exige ser proclamada com energia e clareza, para que assim a luz de Cristo possa brilhar no meio da vida das pessoas. Aqui em África, como em tantas outras partes do mundo, inumeráveis homens e mulheres anseiam ouvir uma palavra de esperança e de consolo".
Seguidamente o Santo Padre afirmou que nestes tempos de escassez de alimentos, de crises financeiras, alterações climáticas, a África sofre os males da "Fome, da pobreza e da doença” perante os quais os habitantes deste continente "imploram de viva voz a reconciliação, a justiça e a paz, e isto é, efectivamente, o que a Igreja lhes oferece. Não novas formas de opressão económica ou política, mas a liberdade gloriosa dos filhos de Deus. Não a imposição de modelos culturais que ignoram o direito à vida dos não nascidos, mas a água salvífica do Evangelho da vida. Não rivalidades inter-étnicas ou inter-religiosas, mas a rectidão, a paz e a alegria do Reino de Deus, descrito de modo apropriado pelo Papa Paulo VI como a ‘civilização do amor’”.
"Aqui nos Camarões, onde mais de um quarto da população é católica, a Igreja está bem encaminhada para levar a sua missão pela saúde e a reconciliação. No Centro Cardeal Léger, poderei observar pessoalmente a solicitude pastoral desta Igreja local pelas pessoas doentes e em sofrimento, particularmente louvável, pelos doentes de SIDA neste país para que sejam curados gratuitamente".
"O esforço educativo – disse depois o Papa – é outro elemento-chave da Igreja e agora vemos os esforços de gerações de professores missionários produzirem os seus frutos na obra da Universidade Católica da África Central, um grande sinal de esperança no futuro da região".
Depois de indicar os Camarões como um exemplo de paz, Bento XVI referiu que este país "é uma terra de jovens, abençoado com uma população jovem cheia de vitalidade e impaciente por construir um mundo mais justo e pacífico. É justamente descrita como uma ‘África em miniatura’, pátria onde mais de duzentos grupos étnicos vivem em harmonia uns com os outros. São estes, dentre tantos outros, os motivos para louvar e agradecer a Deus".
Seguidamente o Papa fez votos para que "a Igreja aqui e em toda a África possa continuar a crescer em santidade, ao serviço da reconciliação, da justiça e da paz. Rezo para que o trabalho da Segunda Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos possa alentar o fogo dos dons que o Espírito derramou sobre a Igreja em África".
Finalmente, o Santo Padre precisou que reza "por cada um de vós, pelas vossas famílias e entes queridos e peço-vos para que vos unais a mim na oração por todos os habitantes deste vasto continente. Que Deus abençoe os Camarões! Que Deus abençoe África!"