«Depois de descobrir o amor de Deus, as drogas nunca mais tiveram lugar na minha vida»

Walter estava atolado num mundo de drogas, dinheiro e relacionamentos fracassados. O abuso sexual na infância destruiu a sua vida. Tudo mudou quando conheceu um padre que o encorajou a deixar-se amar por Deus e permitir que Ele o ajudasse a sair do buraco em que estava.

A história de Walter (Peru) faz parte do projeto multimédia “A Viagem da viagem”, para comemorar o 50.º aniversário da catequese de São Josemaria na América. Abaixo reproduzimos a sua história.


Os nossos primos cuidaram de nós, e foi lá que um deles, que era uns 10 anos mais velho que eu, perturbou as minhas emoções e a minha intimidade pessoal. Para mim, foi abuso sexual. Desde então repudiei o meu corpo e até senti certas confusões. E isso criou em mim uma agressividade passiva e uma rebelião ainda maior contra a minha família.

Isolei-me dos meus irmãos. Fui expulso da escola no ensino básico e foi um golpe muito duro para mim. Aos 14 anos, tive minha primeira namorada, e foi então que conheci o tio dessa menina, que me deu pasta básica de cocaína pela primeira vez. Era o refúgio perfeito para escapar – para anestesiar – os meus sentidos e escapar de tudo, até de mim mesmo...

Consumia para viver. Não dormia se não soubesse como iria ganhar dinheiro no dia seguinte

Especificamente, a violação sexual foi o gatilho que me levou ao uso de drogas. Consumia para viver e não conseguia dormir sem pensar em como iria ganhar dinheiro no dia seguinte. Foi aí que comecei a fazer microtráfico, acreditando que vendendo drogas – marijuana e cocaína – poderia sustentar o meu vício.

Isso levou-me a conhecer muita gente do submundo: criminosos de todos os tipos, pessoas do mundo da prostituição... obviamente, deixaram de me dar dinheiro em casa, então comecei a andar com um rapaz que já tinha experiência em pequenos furtos. Foi ele quem me introduziu no furto de carteiras, ao roubo sem que ninguém percebesse e ao roubo de pneus de carro... até que, finalmente, acabei a passar cinco dias na prisão.

O pior foi vivido pela minha mulher, que não só teve de aturar um viciado, mas também como microtraficante que, apesar de ter dinheiro, não lhe dava o que ela precisava para sobreviver. Entrei numa espiral de loucura alimentada pelas drogas, sem perceber o dano que estava a causar.

Quando conheci o amor de Deus, comecei a saber quem eu era e, a partir daí, as drogas nunca mais tiveram um papel na minha vida

Entrava e saía de hospitais psiquiátricos. A minha ex-mulher – que ainda era minha mulher na altura – trabalhava, enquanto eu cuidava das tarefas domésticas.

Estava sem consumir havia cerca de nove meses quando falei com ela e disse: “Olha, não quero usar drogas de novo, porque se não vou morrer. Se volto a usar drogas, não há ninguém que me pare. De verdade, se Deus existe, que me mostre, porque eu não sei que fazer mais. Se Ele não me tirar disto, então não há nada a fazer”.

Perto da minha casa, a seis quarteirões de distância, havia uma paróquia, e decidi ir até lá. O padre, um sacerdote diocesano agregado do Opus Dei, disse-me: “Se queres que Deus te cure, vem às seis da manhã rezar comigo na capela”. Começámos a fazer oração juntos e depois assisti à Santa Missa.

Aquele silêncio na capela foi fundamental, pois ali encontrei o espaço que precisava para me reconectar comigo mesmo e com aquele Deus que eu tanto desejava que curasse as minhas feridas.

Quando conheci Deus e encontrei o amor n’Ele, comecei a saber quem era eu e diagnostiquei a natureza exata do meu problema. Daí em diante, as drogas nunca mais fizeram parte da minha vida, até hoje.

Para receber o sacramento do matrimónio, confessei-me. Pude receber o perdão de muitos pecados e senti o maior alívio, a libertação mais importante da minha vida. Senti que era um homem novo e, ao receber o sacramento da comunhão, experimentei que pertencia a Cristo.

Depois de um período de formação, o padre disse-me: “Walter, por que não formas um grupo?”. Respondi que mal conseguia lidar com a minha vida e, portanto, não podia ajudar os outros. Ele respondeu: “Não te preocupes, Deus vai dizer-te como”.

Pouco depois, entendi a mensagem que o padre me deu e foi assim que nasceu o Grupo Libertad, na garagem da casa dos meus pais, onde recebi o primeiro paciente. Dois anos e meio depois, quando mudámos de casa, começámos a trabalhar com profissionais de saúde para que o atendimento ao paciente, além da ajuda espiritual, também tivesse uma abordagem profissional.

Interessei-me em conhecer a espiritualidade do Opus Dei. São Josemaria dizia que, para ser santo, um homem não precisa fazer grandes coisas. Então entendi que a minha santidade estava no trabalho de reabilitação.

Tive oportunidade de me formar em Itália, numa importante fundação, onde aprendi como as estruturas de reabilitação são administradas e tentei adaptá-las de acordo com a nossa cultura. Nestes 23 anos, recebemos cerca de 3000 pacientes; e alguns deles foram reabilitados há mais de 20 anos.

Deus permitiu-me formar uma pessoa que hoje tem um centro de reabilitação com 17 anos de experiência. São Josemaria dizia: “Amo a Deus porque me dá na gana”, e adotei isso na minha vida: “Não voltarei a usar drogas porque não me dá na gana, mesmo que o mundo se desmorone”.

Estou agradecido ao padre que me ajudou, pois estou livre das drogas há 25 anos. Quando ele veio para esta paróquia, senti que ele tinha vindo por mim. O que Deus fez em mim foi um milagre, porque nem eu nem aqueles que tentaram ajudar-me conseguíamos fazer nada, mas eu deixei-me amar por Deus.