Em 1974, eu era membro do PCF (Partido Comunista Francês). Lia Karl Marx, Georges Marchais, Jean-Paul Sartre e sonhava com o 'eurocomunismo'. Contudo, não conseguia aplacar a minha sede de justiça e de ideais. Então, quando li o 'Caminho', livro de S. Josemaria Escrivá, dei-me conta de que era o 'livro dos trabalhadores'.
Como chegou esse livro às suas mãos?
Em 1986 fiz um retiro numa casa de caridade de Marthe Robin. Um dos participantes – que não era do Opus Dei – emprestou-me esse livrinho. Li-o. Meditei-o. Agradavam-me muito as suas considerações espirituais, porque me falavam de coisas concretas. Repare: eu não sou um intelectual, porque deixei de estudar aos 16 anos. Ainda assim, agradou-me tanto que o emprestei a uma amiga. Depois arrependi-me de o ter feito: precisava dele para rezar! Fui a muitas livrarias para o comprar, mas era impossível. Um dia, fui a Notre Dame du Taur (Toulouse) confessar-me, e o sacerdote falou-me de 'Caminho'. Perguntei-lhe onde poderia comprá-lo e deu-me a morada de um centro do Opus Dei.
E foi?
Sim, mas o livro tinha-se esgotado. Tinham que o encomendar. Duas semanas mais tarde, quando o director do centro me vendeu o livro, perguntou-me: "Gosta do 'Caminho'? Então também gostaria de fazer uma recolecção". Tinha razão, porque apreciei este tipo de formação espiritual. Pouco depois, o mesmo sacerdote que me tinha falado do 'Caminho', perguntou-me: "Já pensou entregar a sua vida a Deus por completo?". Para dizer a verdade, há muito tempo que o pensava. Depois de pedir conselho ao bispo da minha diocese, pedi a admissão no Opus Dei.
Passou directamente do Partido Comunista Francês para o Opus Dei?
Em 1975, quando vivia em Paris num local que alojava jovens trabalhadores, conheci um rapaz chamado Vinh. O pai tinha lutado no exército do Vietname do Sul. Contou-me como era realmente o comunismo ali. Comecei a mudar. Depois, li alguns livros de Soljenitsine. Creio que foi o início da minha conversão.
Asua família como reagiu?
O meu pai era agnóstico. Quando me converti aos 27 anos, teve dificuldade em aceitar. Em 1992 a minha mãe faleceu. Durante a missa do funeral, ele entrou na igreja. Eu não contava. O sacerdote que tinha celebrado a Missa entreteve-se conversando com ele. Era, sem dúvida, a primeira vez que falava com um padre. Em 1998 ficou muito doente e animei-o a preparar-se para o seu encontro com Deus e aceitou de muito boa vontade voltar a falar com aquele sacerdote. Recebeu todos os sacramentos e morreu alguns dias mais tarde.
Os seus pais eram espanhóis, um país católico?
Procedo de uma família republicana. Os meus pais chegaram a França em Março de 1955. Aqui vivia um tio meu, refugiado político. O meu avô tinha sido miliciano republicano. Durante a guerra civil espanhola, apontando para um sacerdote, tinha ordenado aos seus camaradas: "A esse, mata-o". Era algo que todos tinham a intenção de fazer. Quando acabou a guerra, as testemunhas daquele crime denunciaram o meu avô, como acontece na altura dos ajustes de contas. Foi preso, torturado e condenado a prisão perpétua, ainda que depois tenha assistido à comutação da pena para nove anos de cadeia. A minha avó morreu de desgosto por isso. Os seus filhos – criados «na rua», pois eram órfãos – conservaram um ódio profundo pela Igreja, culpada, aos seus olhos, da morte da mãe e da sua infância infeliz. Sendo já adultos, exilaram-se em França.
Com uma história familiar assim, como reagiu quando ouviu alguns que dizem que o Opus Dei era franquista?
Quando conheci a Obra, ignorava esse qualificativo. Pertenço a uma família que não tem muita estima por Franco. E posso assegurar-lhe que não encontrei nenhum sinal de franquismo no Opus Dei.
O que é que fica dos seus anos no PCF?
A minha visão da justiça e dos ideais não mudou. Nunca estive do lado dos empresários, excepto se fossem bons. Mas não conheci muitos!
Em que é que o ajudou S. Josemaria?
Fez-me descobrir que o cristianismo se pode viver na vida ordinária. Mostrou-me também que a união com Deus não se leva a cabo simplesmente com a oração ou na igreja, mas também quando escrevo uma carta ou quando estou no metro. É possível conhecê-lo e adorá-lo em qualquer momento ou, mais exactamente, nas ocasiões que cada dia nos apresenta.
Qual foi a frase de S. Josemaria que mais o impressionou?
"Cristo vive". Ouvi-lha pronunciar num filme. Cristo não é um personagem de romance. Cristo vive. Isso faz toda a diferença.