A jornada realizou-se na Pontifícia Universidade da Santa Cruz, em Roma. Começou com a intervenção de S.E.R. D. Fabio Fabene, secretário do Dicastério para as Causas dos Santos, que destacou como a história da Igreja pode ser lida como uma história de caridade, especialmente para com os doentes e os mais frágeis.
Desde as suas origens, o cuidado foi parte integrante da missão cristã Encontramos disso um exemplo nos santos e beatos que souberam unir a competência médica à caridade evangélica. Vittorio Trancanelli, Ernesto Cofiño, Enzo Piccinini, Stanisława Leszczyńska, Jérôme Lejeune e José Gálvez Ginachero, “além de proporcionarem atendimento médico, souberam infundir esperança e luz no momento obscuro da doença, com a sua proximidade, ajudando as pessoas a descobrir o sentido profundo e cristão do sofrimento”.
“Também nós hoje, neste Jubileu da Esperança, devemos mover os nossos corações e os nossos passos para organizar a esperança a favor dos doentes e dos frágeis”, concluiu D. Fabio Fabene, convocando todos à responsabilidade de continuar esta tradição de proximidade e de misericórdia.
Serviço, sentido e esperança
O Professor Martín Luque, da Pontifícia Universidade da Santa Cruz, apresentou um enquadramento teológico para refletir sobre a relação entre santidade e profissões de saúde, a partir de três palavras-chave: serviço, sentido e esperança. Convidou a olhar para a doença não só como uma situação clínica, mas também como uma experiência existencial que põe em crise o amor e a fé, fazendo emergir o sentimento de solidão e fragilidade do ser humano. Daí o valor único dos seis veneráveis e servos de Deus de quem se iria falar depois na mesa redonda.
Nas suas vidas, o contacto com os doentes “não foi captado simplesmente como uma prestação profissional, mas como um serviço amoroso capaz de proporcionar um horizonte de sentido à condição de sofrimento e de reabrir assim a possibilidade da esperança”, destacou o Professor Luque.

Os cuidados paliativos e a arte de existir
A terceira intervenção, dedicada aos cuidados paliativos, correu a cargo de Chiara Mastroianni, professora de Ciências da Enfermagem Gerais, Clínicas e Pediátricas na Link Campus University.
Os cuidados paliativos vão para lá do tratamento dos sintomas: são um acompanhamento que coloca no centro a pessoa como um todo, especialmente quando já não é possível a cura. Não se trata só de aliviar a dor, mas de reconhecer e guardar a dignidade, escutar com profundidade, estar ao lado na fragilidade. Como afirmava Cicely Saunders, fundadora do movimento moderno dos cuidados paliativos: “Tu és importante porque és tu. Tu és importante até ao último momento da tua vida”.

Os cuidados paliativos, resumia a Professora Mastroianni, “são a arte de existir”, porque permitem dar sentido e significado à vida, mesmo em tempo de provação. Têm a força de “fazer reflorescer o ser” quando tudo parece destinado a apagar-se.
Depois da intervenção da Professora Chiara Mastroianni, começou a mesa redonda em que participaram os testemunhos de seis veneráveis e servos de Deus.

O venerável Vittorio Trancanelli, denominado “o santo do bloco operatório”, era oriundo de Spello (Perúgia,Itália) e foi um “médico amorosamente solícito com os doentes, pai de coração aberto ao acolhimento de crianças com dificuldades, homem animado de profunda fé”. A sua história foi narrada pelo postulador da sua causa de beatificação, Enrico Solinas.
O venerável Ernesto Cofiño, considerado o pai da Pediatria na Guatemala, como destacou o postulador, Rev. Santiago Callejo, “procurava sempre soluções para os problemas e acreditava no respeito pela vida já desde os seus inícios”. Conheça mais sobre a sua vida aqui.
A história do servo de Deus Enzo Piccinini, médico especialista de Cirurgia Geral, foi contada pela filha. Recordando o pai, Chiara Piccinini afirmou: “Era contagiante, porque levava esperança”.
O testemunho sobre a serva de Deus Stanisława Leszczyńska foi exposto pelo seu biógrafo, Włodzimierz Rędzioch. Stanisława foi uma parteira polaca que viveu parte da vida no tremendo período da Segunda Guerra Mundial e que, durante os dois anos que passou no campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, conseguiu salvar a vida de mais de 3000 crianças.
O venerável Jérôme Lejeune foi um médico e investigador francês que dedicou a sua vida ao cuidado das crianças com síndrome de Down. Descobriu a causa genética da trissomia 21 e deu testemunho com valentia da dignidade inviolável de toda a vida humana. “Médico por paixão, tornou-se investigador por necessidade”, disse dele o postulador da sua causa, Rémi Bazin.
A história do servo de Deus José Gálvez Ginachero foi apresentada pelo postulador Salvador Aguilera López. Médico e presidente da Câmara de Málaga, foi pioneiro em Espanha da realização de um parto post-mortem e fundou um hospital para os mais pobres. Católico fervoroso, “viveu a profissão como um serviço”, disse o postulador da sua causa.