Da Porta de Alcalá a Nobel de Física

Jiho Yang nasceu em Seul (Coreia) há 19 anos. Atravessou a Porta de Alcalá com o Papa Bento XVI no passado dia 18 de agosto, na JMJ. É bom estudante, gosta muito de Física e acaba de ganhar um dos “First Step to Nobel Prize in Physics”, um prémio internacional para jovens investigadores. Em setembro deixa Madrid, onde viveu três anos, para iniciar o curso de Aeronáutica em Bristol (Inglaterra). Antes de partir, conta-nos algumas coisas sobre a JMJ e dá um conselho aos jovens que não têm fé: “que sejam ab...

Jiho saúda Bento XVI na Porta de Alcalá de Madrid, durante a Festa de Acolhimentodos jovens da JMJ.

...ertos”.

Qual foi a tua experiência, na festa de acolhimento, com o Santo Padre?

Era a minha primeira JMJ e a primeira vez que via o Papa. Foi uma sorte vê-lo tão de perto e fiquei muito emocionado quando nos começou a cumprimentar, pois falava com todos tranquilamente. Tenho pena de dizer que tinha coisas pensadas para lhe contar, mas quando cheguei junto dele fiquei bloqueado e não consegui dizer-lhe nada. Depois fomos para Cibeles. Do estrado via-se o imenso público com milhares de bandeiras; havia muito bom ambiente, fiquei encantado, foi uma experiência inolvidável. Tenho consciência de que ter saudado o Papa significa para mim uma responsabilidade. Estar tão perto dele ajudou-me a seguir melhor as orações desse dia, recordo que rezei mais seriamente do que outras vezes.

Cinquenta jovens dos cinco continentes acompanharam o Santo Padre ao entrar em Madrid pela Porta de Alcalá.

Como conheceste o Opus Dei?

No laboratório de Física, rodeado de companheiros e de aparelhos.

Nos últimos três anos estudei no colégio Retamar em Madrid, que é um trabalho apostólico do Opus Dei. Era católico desde sempre, fui batizado na Coreia quando nasci; mas não conhecia praticamente nada do Opus Dei. Em Retamar comecei a conhecer a sua missão e a mensagem de São Josemaria. As pessoas que conheci no colégio põem muitíssima paixão no seu trabalho e procuram viver o que São Josemaria disse: que dedicar-se ao trabalho é uma maneira de servir a Deus. Praticavam-no realmente, não eram apenas frases feitas. Não diziam: “isto é o que ensinava São Josemaria”, mas viviam-no de facto. Isto impressionou-me muito porque para mim era uma ideia nova. Parecia-me muito interessante: trabalhar na sua própria área e com isso servir a Deus.

 

Que dirias aos jovens que estão afastados da fé?

Dir-lhes-ia que têm de ser abertos. Na Coreia há muita gente que realmente não crê em Deus, embora em teoria sejam de alguma religião. Há também católicos que estão batizados mas não são muito praticantes. Isso forma uma espécie de cultura, a de viver afastados de Deus. E se alguém diz que crê em Deus, as pessoas não lhe ligam devido à pressão do ambiente. Por isso, gostaria de lhes dizer que têm de ser abertos; há que escutar, porque estamos a procurar transmitir-lhes umas ideias, nada mais. Não é bom recusá-las sem ouvir. E se acharmos bem podemo-nos ir formando pouco a pouco. Se continuamos, nalgum momento, chegaremos a acreditar em Deus e encontraremos uma vida mais feliz do que antes.

Comigo foi o que aconteceu. Era católico desde criança e recebi um pouco de formação, mas tinha sempre dúvidas. Quando lia a Bíblia, havia coisas que não me convenciam absolutamente nada, como os milagres, etc. O ambiente também me influenciava, levava-me a não acreditar em Deus. Não era ateu, mas tinha muitas dúvidas. Desde que tive a sorte de estudar em Retamar passei, pouco a pouco, a ser católico praticante. Explicavam-me as coisas e, sobretudo, eu estava disposto a escutar. Tinha verdadeiro interesse e pensava: “eles crêem em Deus, como é que pensam realmente?”.

Comecei a rezar um pouco e a ir à Missa. Tentava falar com Deus e dizia interiormente: “Deus: não sei se estarás aí ou não, mas interessa-me a religião católica”. E sentia, então, que Deus me escutava. Ficava muito confortado depois de ter rezado. Haverá quem me diga que estou louco e compreendo, porque antes eu pensava exatamente o mesmo.

Com o passar do tempo comprovamos que Deus nos muda a vida. Deus vai alterando o nosso ponto de vista e começamos a querer ajudar os outros. Por exemplo, quando encontrava pessoas que não tinham tanta sorte como eu, pensava: “tenho de os ajudar, porque todos somos iguais”. Essa parte da fé emocionou-me: começar a rezar para que Deus esteja com os outros, que os salve, que os ajude muito.

“Vale a pena participar em concursos científicos internacionais. Trabalha-se muito, mas também se aprendem muitas coisas novas”. Na imagem, Jiho expõe um trabalho em Andenes (Noruega) no Primeiro Concurso Europeu de CanSat, de experiências com micro-satélites

Tenho ainda muito pouca formação, digo-o sinceramente, mas sou feliz. E digo aos meus amigos: “são estas as ideias da Igreja Católica. Se te parecem bem, dizes-me e vamos a uma igreja”. Mas acrescento: “tu és meu amigo e não quero forçar-te a que sejas católico praticante, só te conto a minha experiência: que sou feliz. E se te parece que estou louco, pois… óptimo, continuamos a ser bons amigos. O que faço é aconselhar-te, a decisão é tua”.