Catequese Jubileu: 24. A entrega

Nos momentos de escuridão e provação, o amor de Deus sustenta-nos e encoraja-nos a perseverar na fé. Esta foi uma das principais ideias que Leão XIV quis transmitir na sua catequese de 27 de agosto, que girou em torno da oração de Cristo no horto das Oliveiras.

Ciclo de Catequese – Jubileu 2025. Jesus Cristo Nossa Esperança. III. A Páscoa de Jesus.
4. A entrega. "Quem procurais?" (Jo 18, 4)


Prezados irmãos e irmãs!

Hoje meditamos sobre uma cena que marca o início da paixão de Jesus: o momento da sua detenção no horto das Oliveiras. O evangelista João, com a sua habitual profundidade, não nos apresenta um Jesus apavorado, que foge ou se esconde. Pelo contrário, mostra-nos um homem livre, que se aproxima e toma a palavra, enfrentando abertamente a hora em que se pode manifestar a luz do amor maior.

«Sabendo Jesus tudo o que lhe ia acontecer, aproximou-se e disse-lhes: “A quem buscais?”» (Jo 18, 4). Jesus sabe. No entanto, decide não recuar. Entrega-se. Não por debilidade, mas por amor. Um amor tão pleno, tão maduro, que não teme a rejeição. Jesus não é preso: deixa-se prender. Não é vítima de uma detenção, mas autor de um dom. Neste gesto encarna-se uma esperança de salvação para a nossa humanidade: saber que, até na hora mais obscura, podemos permanecer livres para amar até ao fim.

Quando Jesus responde «sou eu», os soldados caem por terra. Trata-se de uma passagem misteriosa, dado que na revelação bíblica esta expressão evoca o próprio nome de Deus: «Eu sou». Jesus revela que a presença de Deus se manifesta precisamente onde a humanidade experimenta a injustiça, o medo, a solidão. É exatamente ali que a verdadeira luz está disposta a brilhar, sem medo de ser dominada pelo avançar das trevas.

No coração da noite, quando tudo parece desabar, Jesus mostra que a esperança cristã não é evasão, mas decisão. Esta atitude é fruto de uma profunda oração na qual não pedimos a Deus que nos poupe do sofrimento, mas que nos dê força para perseverar no amor, conscientes de que a vida livremente oferecida por amor não nos pode ser tirada por ninguém.

«Se é, pois, a mim que procurais, deixai que estes partam» (Jo 18, 8). No momento da sua prisão, Jesus não se preocupa em salvar-se a si mesmo: deseja apenas que os seus amigos possam ser livres. Isto demonstra que o seu sacrifício é um verdadeiro ato de amor. Jesus deixa-se apanhar e aprisionar pelos guardas só para poder deixar que os seus discípulos sejam livres.

Jesus viveu cada dia da sua vida como preparação para esta hora dramática e sublime. Por isso, quando ela chega, tem a força de não procurar uma saída. O seu coração sabe bem que perder a vida por amor não é um fracasso, mas possui uma misteriosa fecundidade. Como o grão de trigo que, precisamente ao cair na terra, não fica só, mas morre, tornando-se fecundo.

Até Jesus se sente inquieto diante de um caminho que parece levar unicamente à morte e ao fim. Mas está igualmente convencido de que, no final, só uma vida perdida por amor se reencontra. É nisto que consiste a verdadeira esperança: não em procurar evitar a dor, mas em acreditar que, até no coração dos sofrimentos mais injustos, se esconde a semente de uma vida nova.

E nós? Quantas vezes defendemos a nossa vida, os nossos projetos, as nossas seguranças, sem nos darmos conta de que, agindo assim, ficamos sós. A lógica do Evangelho é diferente: só o que se dá floresce, só o amor que se torna gratuito pode restituir confiança até onde tudo parece perdido.

O Evangelho de Marcos narra-nos também de um jovem que, quando Jesus é preso, foge nu (cf. Mc 14, 51). É uma imagem enigmática, mas profundamente evocativa. Também nós, na tentativa de seguir Jesus, vivemos momentos em que somos surpreendidos e ficamos despojados das nossas certezas. São os momentos mais difíceis, nos quais somos tentados a abandonar o caminho do Evangelho porque o amor nos parece um percurso impossível. No entanto, será precisamente um jovem, no final do Evangelho, que anunciará a ressurreição às mulheres, não já nu, mas vestido com uma túnica branca.

Esta é a esperança da nossa fé: os nossos pecados e hesitações não impedem que Deus nos perdoe e nos restitua o desejo de retomar o nosso seguimento, para nos tornar capazes de oferecer a vida pelos outros.

Caros irmãos e irmãs, aprendamos também nós a entregar-nos à boa vontade do Pai, deixando que a nossa vida seja uma resposta ao bem recebido. Na vida não é necessário controlar tudo. É suficiente escolher, todos os dias, amar com liberdade. É nisto que consiste a verdadeira esperança: em saber que, até na obscuridade da provação, é o amor de Deus que nos sustenta, fazendo amadurecer em nós o fruto da vida eterna.

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