Discurso de despedida do Papa
Sexta-feira, 15 de Maio de 2009
Senhor Presidente,
Senhor Primeiro-ministro,
Excelências, Senhoras e Senhores:
Ao regressar a Roma, gostaria de partilhar convosco algumas das fortes impressões que me deixou a peregrinação à Terra Santa. Tive profícuas conversações com as autoridades civis quer em Israel quer nos Territórios Palestinianos e fui testemunha dos grandes esforços que ambos os governos estão a fazer para assegurar o bem-estar das pessoas. Tive encontros com os líderes da Igreja católica na Terra Santa, e alegra-me ver a forma como estão a trabalhar juntos para atender o rebanho do Senhor. Tive, além disso, oportunidade de me encontrar com os líderes de varias igrejas cristãs e de comunidades eclesiais, bem como com os líderes de outras religiões da Terra Santa. Esta terra é realmente um terreno fértil para o ecumenismo e o diálogo inter-religioso, e rezo para que a grande variedade de testemunhos religiosos na região traga como fruto um crescente entendimento e respeito mútuos.
Senhor Presidente, o Senhor e eu plantámos uma oliveira na residência de V.Exa no dia em que cheguei Israel. A oliveira, como o senhor sabe, é uma imagem utilizada por São Paulo para descrever as relações sumamente próximas entre cristãos e judeus. Paulo descreve na sua carta aos Romanos como a Igreja dos gentios é como um rebento da oliveira silvestre, enxertado na oliveira cultivada, o Povo da Aliança (cf. 11, 17-24). Somos alimentados pelas mesmas raízes espirituais. Encontramo-nos como irmãos, irmãos que nalguns momentos da nossa história tiveram relações tensas, mas que agora estão firmemente comprometidos em construir pontes de amizade duradoura.
À cerimónia no palácio presencial seguiu-se um dos momentos mais solenes da minha estadia em Israel, a minha visita ao Memorial do Holocausto em Yad Vashem para prestar homenagem às vítimas da Shoá. Pude também aí encontrar alguns dos sobreviventes. Esses encontros, profundamente comovedores, trouxeram-me à memoria a visita que há três anos fiz ao campo de morte de Auschwitz, onde muitos judeus – mães, pais, maridos, esposas, filhos e filhas, irmãos e irmãs, amigos – foram brutalmente exterminados sob um regime sem Deus que propagava uma ideologia de anti-semitismo e ódio. Este espantoso capítulo da história nunca deve ser esquecido ou negado. Pelo contrário, aquelas obscuras recordações deveriam reforçar a nossa determinação para nos aproximarmos ainda mais uns dos outros, como ramos da mesmo oliveira, alimentados pelas mesmas raízes e unidos pelo amor fraterno.
Senhor Presidente, agradeço-lhe pelo calor da sua hospitalidade, sumamente apreciada, e desejo que fique com a certeza do facto de que vim visitar este país como amigo dos israelitas, da mesma forma que sou amigo do povo palestiniano. É grato aos amigos passarem tempo em companhia recíproca e afligem-se profundamente ao ver que o outro sofre. Nenhum amigo dos israelitas e dos palestinianos pode deixar de se entristecer pela tensão contínua entre os vossos dois povos. Nenhum amigo pode deixar de chorar pelo sofrimento e a perda de vidas humanas de que foram vítimas ambos os povos nas últimas seis décadas. Permita-me lançar este apelo a todas as pessoas destas terras: Nunca mais derramamento de sangue! Nunca mais confrontos! Nunca mais terrorismo! Nunca mais guerra! Pelo contrário, quebremos o círculo vicioso da violência. Que possa estabelecer-se uma paz duradoura baseada na justiça, que haja uma reconciliação e uma cura verdadeiras. Que seja universalmente reconhecido que o Estado de Israel tem directo a existir e a gozar de paz e segurança no interior das suas fronteiras internacionalmente reconhecidas. Que seja igualmente reconhecido que o povo palestiniano tem o direito a uma pátria independente, soberana, a viver com dignidade e a viajar livremente. Que a solução dos dois Estados se converta em realidade e não fique uma quimera. E que a paz possa difundir-se a partir destas terras; que posa ser "luz para as nações"(Isaías 42,6), levando esperança a muitas outras regiões que são massacradas por conflitos.
Uma das imagens mais tristes para mim no decurso da minha visita a estas terras foi o muro. Ao passar junto dele, rezei por um futuro em que os povos da Terra Santa possam viver juntos, em paz e harmonia, sem necessidade de semelhantes instrumentos de segurança e de separação, mas antes respeitando-se e confiando mutuamente, renunciando a toda a forma de violência e agressão. Senhor Presidente, sei quão difícil será alcançar esse objectivo. Sei quão difícil é a sua tarefa e a da Autoridade Palestiniana. Mas asseguro-lhe que as minhas orações e as orações dos católicos de todo o mundo acompanham-no sempre, enquanto continua com os seus esforços por edificar uma paz justa e duradoura nesta região.
Não me resta senão agradecer de todo o coração a todos quantos colaboraram de tantas formas na minha visita. Sinto-me profundamente agradecido ao governo, aos organizadores, aos voluntários, aos meios de comunicação e a todos quantos me manifestaram a sua hospitalidade e quantos me acompanharam. Podeis estar seguros de que vos recordarei com afecto nas minhas orações. A todos vós digo: muito obrigado e que Deus esteja convosco. Shalom! Discurso de Bento XVI aos líderes religiosos da Galileia Quinta-feira, 14 de Maio de 2009
Queridos Amigos,
Estou agradecido pelas palavras de boas-vindas do bispo Giacinto –Boulos Marcuzzo e pelo seu caloroso acolhimento, saúdo cordialmente os líderes das diversas comunidades presentes, que compreendem Cristãos, Muçulmanos, Judeus, Drusos e outras personalidades religiosas.
Sinto como uma particular bênção o facto de poder visitar esta cidade, venerada por cristãos, como o lugar onde o Anjo anunciou à Virgem Maria que tinha concebido por obra do Espírito Santo. Também aqui José, o seu prometido, viu o Anjo em sonhos e foi-lhe indicado que chamasse “Jesus” ao Menino. Depois destes maravilhosos eventos que acompanharam o Seu nascimento, o Menino foi trazido para esta cidade por José e Maria onde “crescia e fortificava-Se, cheio de sabedoria e a graça de Deus estava com Ele” (Lc 2,40).
A convicção de que o mundo é um dom de Deus e que Deus entrou nas vicissitudes e nos eventos da história humana, é a perspectiva pela qual os cristãos vêm que a criação tem uma razão de ser e uma finalidade. Longe de ser o resultado de um facto casual, o mundo foi querido por Deus e revela o Seu glorioso esplendor.
No cerne de toda a tradição religiosa encontra-se a convicção de que a própria paz é um dom de Deus, ainda que não possa alcançar-se sem o esforço humano. Uma paz duradoura provém do reconhecimento de que o mundo não é propriedade nossa, mas antes o horizonte no qual estamos convidados a participar do amor de Deus e a cooperar em guiar o mundo e a história sob a Sua inspiração. Não podemos fazer com o mundo tudo o que nos apeteça; mais, estamos chamados a conformar as nossas decisões com as complexas e ainda perceptíveis leis escritas pelo Criador no universo e a modelar as nossas acções de acordo com a bondade divina que transborda no reino do criado.
Galileia, uma terra conhecida pela sua heterogeneidade étnica e religiosa, é a casa de um povo que conhece bem os esforços exigidos para viver em harmónica coexistência. As nossas diversas tradições religiosas têm em si um potencial notável para promover uma cultura da paz, especialmente através do ensino e da pregação dos valores espirituais mais profundos da nossa comum humanidade. Moldando os corações dos jovens, moldamos o futuro da humanidade. De bom ânimo os cristãos se unem aos judeus, muçulmanos, drusos e pessoas de outras religiões no desejo de proteger as crianças do fanatismo e da violência, enquanto as preparamos para serem as construtoras de um mundo melhor.
Meus queridos amigos, sei que acolhem com alegria e com a saudação da paz os numerosos peregrinos que chegam à Galileia. Convido-vos a continuarem a exercitar o respeito recíproco enquanto se empenham em aliviar as tensões concernentes aos lugares de culto, garantindo assim um ambiente sereno para a oração e a meditação, aqui e em toda a Galileia. Representando diversas tradições religiosas, partilham o desejo comum de contribuir para a melhoria da sociedade e, assim, poder testemunhar os valores religiosos e espirituais que ajudem a manter a vida pública. Asseguro-lhes que a Igreja Católica está comprometida em participar nesta nobre empresa. Cooperando com homens e mulheres de boa vontade, procurará assegurar que a luz da verdade, da paz e da bondade continue a resplandecer a partir da Galileia, e guie as pessoas do mundo inteiro na procura de tudo aquilo que promova a unidade da família humana. Que Deus os abençoe a todos!
Homilia da Missa em Nazaré
Quinta –feira, 14 de Maio de 2009
Queridos irmãos e irmãs
A Anunciação, o lugar que contemplou os anos escondidos do crescimento de Jesus em sabedoria, idade e graça (cfr. Lc 2,52). Agradeço ao Arcebispo Elias Chacour as suas gentis palavras de boas-vindas, e abraço com o sinal da paz os meus irmãos bispos, sacerdotes, religiosos e todos os fiéis da Galileia, que na diversidade dos seus ritos e tradições, dão expressão à universalidade da Igreja de Cristo. Saúdo com respeito o Presidente de Israel que nos honra com a sua presença. Desejo agradecer de forma especial a quantos tornaram possível esta celebração, particularmente aqueles que participaram no planeamento e construção deste novo teatro que nos oferece um panorama magnífico da cidade.
Aqui na cidade de Jesus, Maria e José, estamos reunidos para assinalar a conclusão do Ano da Família celebrado pela Igreja na Terra Santa. Como sinal prometedor do futuro, benzerei a primeira pedra de um Centro Internacional para a Família, que será construído em Nazaré. Oremos para que este Centro promova uma sólida vida familiar nesta região, dê apoio e assistência às famílias em qualquer lugar e as anime na sua insubstituível missão na sociedade.
Além disso, tenho esperança em que nesta etapa da minha peregrinação chame a atenção de toda a Igreja para esta cidade de Nazaré. Como disse o Papa Paulo VI todos necessitamos de voltar a Nazaré para contemplar sempre de novo o silêncio e o amor da Sagrada Família, modelo de toda a vida familiar cristã. Aqui, com o exemplo de Maria, José e Jesus, podemos apreciar ainda mais a santidade da família que, no plano de Deus, se baseia na fidelidade por toda a vida de um homem e uma mulher, consagrada pelo pacto conjugal e aberta ao dom de Deus de novas vidas. Que necessidade têm os homens e mulheres do nosso tempo de se reapropriarem desta verdade fundamental, que está na base da sociedade e quão importante é o testemunho de casais casados para a formação de consciências maduras e a construção da civilização do amor!
Na primeira leitura de hoje, do livro do Eclesiástico (Ecl 3,3-7.14-17), a palavra de Deus apresenta a família como a primeira escola da sabedoria, uma escola que educa os próprios membros na prática daquelas virtudes que conduzem à felicidade autêntica e duradoura. No plano de Deus para a família, o amor do marido e da mulher produz o fruto de novas vidas e encontra a sua expressão quotidiana nos esforços amorosos dos pais para assegurar uma formação integral humana e espiritual para os seus filhos. Na família cada pessoa, quer se trate do filho mais pequeno ou do familiar mais idoso, é valorizada pelo que é em si mesma, e não simplesmente como um meio para outros fins. Aqui começamos a observar alguns dos papéis essenciais da família como primeira pedra da construção de uma sociedade bem ordenada e acolhedora. Além disso conseguimos apreciar, dentro da sociedade mais ampla, o papel do Estado chamado a apoiar as famílias na sua missão educadora, a proteger a instituição da família e os seus direitos inerentes e a assegurar que todas elas possam viver e florescer em condições de dignidade.
Escrevendo aos Colossenses, o apóstolo Paulo fala instintivamente da família quando procura ilustrar as virtudes que edificam “o único corpo” que é a Igreja. Como “eleitos de Deus, santos e amados”, estamos chamados a viver em harmonia e em paz uns com os outros, mostrando sobretudo magnanimidade e perdão, com o amor como o vínculo maior de perfeição (cfr. Col 3, 12-14). Como no pacto conjugal, o amor do homem e da mulher é elevado pela graça até se converter em partilha, e expressão do amor de Cristo e da Igreja (cfr. Ef 5, 32), de modo que a família, fundada sobre o amor, está chamada a ser uma “igreja doméstica”, um lugar de fé, de oração e de preocupação amorosa pelo verdadeiro e duradouro bem de cada um dos seus membros.
Enquanto reflectimos nestas realidades, nesta que é a cidade da Anunciação, o nosso pensamento dirige-se naturalmente para Maria, “cheia de graça”, a Mãe da Sagrada Família e nossa Mãe. Nazaré recorda-nos o dever de reconhecer e respeitar a dignidade e missão concedidas por Deus às mulheres, como também os seus carismas e talentos particulares. Seja como mães de família, como presencia vital nas forças laborais e nas instituições da sociedade, ou como na particular vocação a seguir o Senhor a través dos conselhos evangélicos de castidade, pobreza e obediência, as mulheres têm um papel indispensável na criação dessa “ecologia humana” (cfr Centesimus annus, 39) de que o nosso mundo e também esta terra, têm necessidade tão urgente: um ambiente em que as crianças aprendam a amar e a acolher os outros, a ser honestos e respeitadores para com todos, a praticar as virtudes da misericórdia e do perdão.
Aqui pensamos também em São José, o homem justo que Deus colocou à frente da Sua casa. Do exemplo forte e paterno de José, Jesus aprendeu as virtudes da piedade masculina, da fidelidade à palavra dada, da integridade e do trabalho duro. No carpinteiro de Nazaré vemos como a autoridade posta ao serviço do amor é infinitamente mais fecunda do que o poder que procura dominar. Quanta necessidade tem o nosso mundo do exemplo, da orientação e da silenciosa calma de homens como José!
Por último, contemplando a Sagrada Família de Nazaré, dirijamos agora o olhar para o Menino Jesus, que na casa de Maria e de José cresceu em sabedoria e conhecimento, até ao dia em que iniciou o Seu ministério público. Queria aqui acrescentar um pensamento particular para os jovens presentes. O Concílio Vaticano II ensina que as crianças têm um papel especial no crescimento dos seus pais em santidade (cfr. Gaudium et spes, 48). Peço-vos que reflictam sobre isso e deixem que o exemplo de Jesus vos guie, não só mostrando respeito pelos vossos pais mas, também, ajudando-os a descobrir com mais plenitude o amor que dá à nossa vida o sentido mais completo. Na Sagrada Família de Nazaré foi Jesus que ensinou algo a Maria e a José sobre a grandeza do amor de Deus, o Seu celeste Pai, a fonte última de todo o amor, o Pai de quem toda família no céu e na terra toma o seu nome (cfr. Ef 3, 14-15).
Queridos amigos, na oração colecta da Missa de hoje pedimos ao Pai que “nos ajude a viver como a Sagrada Família, unidade no respeito e no amor”. Renovemos aqui o nosso compromisso de ser levedura de respeito e de amor no mundo que nos rodeia. Este Monte do Precipício recorda-nos, como o fez com gerações de peregrinos, que a mensagem do Senhor foi nalgumas ocasiões fonte de contradição e de conflito com os mesmos que o escutavam. Desgraçadamente, como sabe o mundo, Nazaré experimentou tensões em anos recentes, que causaram danos nas relações entre as comunidades cristã e muçulmana. Convido as pessoas de boa vontade de ambas as comunidades a reparar os danos causados e na fidelidade ao credo comum num único Deus, Pai da família humana, trabalhar para construir pontes e encontrar formas de conviver pacificamente. Que cada um recuse o poder destrutivo do ódio e do preconceito, que matam a alma humana primeiro que o corpo!
Permitam-me que conclua com uma palavra de gratidão e louvor para quantos se esforçam para levar o amor de Deus às crianças desta cidade e para educar as novas gerações pelos caminhos da paz. Penso de maneira especial nos esforços das igrejas locais, particularmente nas suas escolas e nas suas instituições caritativas, para derrubar os muros e para ser terreno fértil de encontro, de diálogo, de reconciliação e de solidariedade. Animo os sacerdotes, os religiosos, os catequistas e os professores a comprometerem-se, juntamente com os pais e quantos se dedicam ao bem dos nossos jovens, a perseverar em dar testemunho do Evangelho, a ter confiança no triunfo do bem e da verdade e a confiar em que Deus fará crescer toda a iniciativa destinada a difundir o Seu Reino de santidade, solidariedade, justiça e paz. Ao mesmo tempo reconheço com gratidão a solidariedade que muitos irmãos e irmãs nossos em todo o mundo expressam aos fiéis da Terra Santa, apoiando os louváveis programas e actividades da “Catholic Near East Welfar Association”.
“Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Que a Virgem da Anunciação, que valorosamente abriu o coração ao misterioso plano de Deus e se converteu em Mãe de todos os crentes, nos guie e nos auxilie com a sua oração! Que obtenha para nós e para as nossas famílias a graça de abrir os ouvidos a esta palavra do Senhor que tem o poder de construir (cfr. Act 20, 32), que nos inspire decisões valorosas, e que guie os nossos passos pelo caminho da paz!
Despedida de Belém e dos territórios palestinianos Quarta-feira, 13 de Maio de 2009
Senhor Presidente,
Queridos amigos,
Muito obrigado pelo grande carinho que tiveram para comigo ao longo deste dia que passei convosco, aqui nos territórios palestinianos. Agradeço ao Senhor Presidente, o Senhor Mahmoud Abbas, pela sua hospitalidade e pelas suas palavras gentis. É para mim comovedor ouvir também os testemunhos dos residentes que falaram connosco sobre as condições de vida na Ribeira Ocidental e em Gaza. Asseguro-vos a todos que vos levo no coração e na esperança de ver a paz e a reconciliação em todas estas atormentadas terras.
Foi realmente um dia memorável. Desde a minha chegada a Belém esta manhã, tive a alegria de celebrar a Missa, com uma grande multidão de fiéis no lugar onde Jesus Cristo, luz das nações e a esperança do mundo, nasceu. Vi os cuidados que se prestam às crianças no “Caritas Baby Hospital”. Com angústia, fui testemunha da situação dos refugiados que, como a Sagrada Família, tiveram que fugir dos seus lares. E vi, ao lado do acampamento e eclipsando a maior parte de Belém, o muro que invade o seu território, separando vizinhos e dividindo famílias.
Embora os muros possam ser facilmente construídos, todos sabemos que não duram sempre. Podem também derrubar-se. Em primeiro lugar, no entanto, é necessário eliminar os muros que construímos à volta dos nossos corações, as barreiras que criámos contra os nossos vizinhos. Por isso, na minha partida, quero fazer um novo apelo à abertura e à generosidade dos espíritos, para que se ponha fim à intolerância e à exclusão. Pouco importa que o conflito possa parecer insolúvel e estar tão profundamente arraigado; há sempre motivos para a esperança de que possa ser resolvido, de que o esforço paciente e perseverante dos que trabalham pela paz e reconciliação acabe por dar os seus frutos. O meu desejo mais sincero para vós e para o povo da Palestina é que isto suceda depressa para que, finalmente se possa desfrutar de paz, liberdade e estabilidade, de que estiveram privados durante tanto tempo.
Estai seguros de que vou continuar a aproveitar todas as oportunidades que tenha para instar os participantes nas negociações de paz a trabalhar para uma solução justa que respeite as aspirações legítimas de israelitas e palestinianos. Como passo importante neste sentido, a Santa Sé espera que se estabeleça em breve, em colaboração com a Autoridade Palestiniana, a Comissão Bilateral Permanente de Trabalho prevista no Acordo Básico, assinado no Vaticano em 15 de Fevereiro de 2000 (cfr.Basic Agreement between the Holy See and the Palestine Liberation Organization, art. 9).
Senhor Presidente, queridos amigos, agradeço-vos uma vez mais, encomendo-vos todos à protecção do Todo Poderoso. Que Deus vos olhe com amor a cada um de vós, às vossas famílias e a todos os vossos entes queridos. E que abençoe com a paz o povo palestiniano.
Discurso no Hospital Infantil da Caritas em Belém
Terça-feira, 13 de Maio de 2009
Queridos amigos:
Saúdo-vos carinhosamente em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo "que morreu, que ressuscitou, que à direita de Deus e que intercede por nós" (cf. Rom 8:34). Que a fé na Sua ressurreição e na Sua promessa de uma vida nova através do Baptismo encha os vossos corações de alegria neste tempo Pascal!
Agradeço as calorosas boas-vindas que me deu, em vosso nome, o Padre Michael Schweiger, Presidente da Associação Kinderhilfe, o Sr. Ernesto Langensand, que termina agora o seu mandato como Presidente do Conselho de Administração do “Caritas Baby Hospital”, e a Madre Erika Nobs, Superiora da comunidade local das Irmãs Franciscanas de Pádua. Saúdo também cordialmente o Arcebispo Robert Zollitsch e o Bispo Kurt Koch, em representação, respectivamente, das Conferências Episcopais da Alemanha e da Suiça, que contribuem com a sua generosa ajuda financeira para a missão do “Caritas Baby Hospital”.
Dou graças a Deus por esta oportunidade para poder expressar o meu reconhecimento aos administradores, médicos, enfermeiras e pessoal do “Caritas Baby Hospital” pelo inestimável serviço que prestam e continuarão a prestar às crianças na região de Belém e de toda a Palestina desde há mais de cinquenta anos. O padre Ernst Schnydrig fundou esta instituição com a convicção profunda de que as crianças merecem um lugar seguro de tudo o que os possa prejudicar em épocas e locais de conflito. Muito obrigado pela dedicação do Socorro à Infância de Belém, esta instituição continuou a ser um oásis de tranquilidade para as mais vulneráveis e brilhou como um farol da esperança de que o amor pode triunfar sobre o ódio e a paz sobre a violência.
Aos doentes jovens e aos membros das suas famílias que beneficiam dos seus cuidados, quero dizer simplesmente que "o Papa está convosco"! Hoje está convosco em pessoa, mas espiritualmente acompanha-vos todos os dias em pensamento e orações, pedindo ao Todo Poderoso que vele por todos os que necessitam de cuidados e de atenção.
O Padre Schnydrig descreve este lugar como "uma das pequenos pontes construídas para a paz". Agora, depois de ter passado de catorze para oitenta camas-berço e de ter cuidado das necessidades de milhares de crianças todos os anos, esta ponte já não é pequena! Junta pessoas de diferentes origens, línguas e religiões, em nome do Reino de Deus, o Reino da Paz (cf. Rm 14,17). Animo-vos vivamente a perseverar na vossa missão de exercer a caridade junto de todos os doentes, os pobres e os débeis.
Nesta festa de hoje de Nossa Senhora de Fátima, gostaria de concluir, invocando a intercessão de Maria antes de dar a minha bênção apostólica às crianças e a todos vós. Oremos, pois:
Maria, Saúde dos Enfermos, Refúgio dos pecadores, Mãe do Redentor: juntamo-nos às muitas gerações que te chamaram "Bem aventurada". Escuta os teus filhos que te encomendamos. Prometeste às três crianças de Fátima que "no fim, o meu Coração Imaculado triunfará". Assim será! O amor triunfará sobre o ódio, a solidariedade e a paz sobre todas as formas de violência e de divisão! Que o vosso amor pelo vosso Filho nos ensine a amar a Deus com todo o nosso coração, força e alma. Que o Todo Poderoso nos mostre a Sua misericórdia, nos fortaleça com o Seu poder, e nos encha dos seus dons (cf. Lc 1:46-56). Pedimos ao teu Filho Jesus que abençoe estas crianças e todas as crianças que sofrem em todo o mundo. Que recebam a saúde do corpo, a força da mente e a paz da alma. Mas sobretudo, que eles saibam que são amados com um amor que não conhece fronteiras ou limites: o amor de Cristo que ultrapassa todo o entendimento (cf. Ef 3:19). Amén. Santa Missa na praça da Manjedoura de Belém, homilia do Santo Padre
Belém, Quarta-feira, 13 de Maio de 2009
Queridos irmãos e irmãs em Cristo,
Agradeço a Deus Omnipotente por me ter concedido a graça de vir a Belém, não só para venerar o lugar onde nasceu Cristo, mas também para estar ao vosso lado, irmãos e irmãs na fé, nestes Territórios Palestinianos. Agradeço ao patriarca Fouad Twal os sentimentos que expressou em vosso nome, e saúdo com afecto os irmãos Bispos e todos os sacerdotes, religiosos e fiéis leigos que se empenham todos os dias para confirmar esta Igreja local na fé, na esperança, no amor. O meu coração dirige-se de maneira especial para os peregrinos provenientes da martirizada Gaza: peço-lhes que levem às vossas famílias e comunidades o meu caloroso abraço, as minhas condolências pelas perdas, as adversidades e os sofrimentos que tiveram que suportar. Asseguro-vos a minha solidariedade na imensa obra de reconstrução que agora têm pela frente e as minhas orações para que o embargo seja rapidamente levantado.
"Não temais porque vos anuncio uma boa nova…Nasceu-vos hoje na cidade de David um Salvador” (Lc 2,10-11). A mensagem da vinda de Cristo, veio do céu através da voz dos anjos, continua como um eco nesta cidade, assim como ecoa nas famílias, nas casas e nas comunidades do mundo inteiro. É uma “boa nova”, disseram os anjos, “para todo o povo”. Esta mensagem proclama que o Messias, Filho de Deus e filho de David nasceu “para vós”: para ti e para mim, e para todos os homens e mulheres de todos os tempos e lugares. No plano de Deus, Belém, “tão pequena entre os clãs de Judá” (Miq 5,1) converteu-se num lugar de glória imortal: o lugar que, na plenitude dos tempos, Deus escolheu para se fazer homem, para acabar com o longo reinado do pecado e da morte e para trazer vida nova e abundante a um mundo que se tinha tornado velho, cansado e oprimido pelo desespero.
Para os seres humanos, Belém está associada à alegre mensagem do renascer, da renovação, da luz e da liberdade. E, no entanto, aqui no meio de nós, quão longínqua parece estar o cumprimento desta magnífica promessa! Quão distante parece aquele Reino de amplo domínio e de paz, segurança, justiça e integridade, que o profeta Isaías tinha anunciado, de acordo com o que ouvimos na primeira leitura (cfr Is 9,7) e que proclamamos como definitivamente estabelecido com a vinda de Jesus Cristo, Messias e Rei!
Desde o dia do Seu nascimento, Jesus foi “sinal de contradição” (Lc 2,34) e continua a sê-lo, também hoje. O Senhor dos exércitos, cujas “origens são antigas, desde tempos remotos” (Miq 5,1), quis inaugurar o Seu Reino nascendo nesta pequena cidade, entrando no nosso mundo no silêncio e humildade de uma gruta, e jazendo, como um menino necessitado de tudo, numa manjedoura. Aqui em Belém, no meio de todo o tipo de contradições, as pedras continuam a gritar esta “boa nova”, a mensagem de redenção que esta cidade, acima de todas as outras, está chamada a proclamar ao mundo. Aqui, de facto, de um modo que supera todas as esperanças e expectativas humanas, Deus mostrou-se fiel às suas promessas. No nascimento do Seu Filho, revelou a vinda de um Reino de amor: um amor divino que se rebaixa para nos trazer a cura e nos levantar; um amor que se revela na humilhação e na debilidade da cruz, e que triunfa na gloriosa ressurreição para a nova vida. Cristo trouxe um Reino que não é deste mundo, mas que é um Reino capaz de transformar este mundo, pois tem o poder de transformar os corações, de iluminar as mentes e de reforçar a vontade. Ao assumir a nossa carne, com todas as suas debilidades e ao transfigurá-la com o poder do Seu Espírito, Jesus chamou-nos a ser testemunhas da Sua vitória sobre o pecado e a morte. E é isto o que a mensagem de Belém nos chama a ser: testemunhas do triunfo do amor de Deus sobre o ódio, sobre o egoísmo, sobre o medo e sobre o rancor que paralisam as relações humanas e criam divisões entre os irmãos que deveriam viver juntos em unidade, destruição onde os homens deveriam edificar, desespero onde a esperança deveria florescer!
“Fomos salvos na esperança”, diz o apóstolo Paulo (Rom 8,24). Mas afirma – com grande realismo – que a criação continua com gemidos de parto, bem como nós, que recebemos as primícias do Espírito, esperamos pacientemente o cumprimento da nossa redenção (cf. Rom 8,22-24). Na segunda leitura de hoje, Paulo retira uma lição da Encarnação que é particularmente aplicável aos sofrimentos que vós, os predilectos de Deus em Belém, estais a experimentar: “porque foi manifestada a graça de Deus”, diz-nos, “que nos ensina a que, renunciando à impiedade e às paixões mundanas, vivamos com sensatez, justiça e piedade no tempo presente”, enquanto aguardamos a feliz esperança, o Salvador Cristo Jesus” (Tit 2,11-13).
Não são estas, por ventura, as virtudes requeridas a homens e mulheres que vivem na esperança? Em primeiro lugar, a constante conversão a Cristo que se reflecte não só nas nossas acções, mas também no nosso modo de raciocinar; a valentia de abandonar linhas de pensamento, de acção e de reacção, infrutíferas e estéreis. Também a cultura de uma mentalidade de paz baseada na justiça, no respeito dos directos e nos deveres de todos e o compromisso de colaborar no bem comum. E depois a perseverança, perseverança no bem e na recusa do mal. Aqui em Belém pede-se uma especial perseverança aos discípulos de Cristo: perseverança em testemunhar fielmente a glória de Deus aqui revelada no nascimento do Seu Filho, a boa nova da Sua paz que desceu do céu para habitar na terra.
“Não tenhais medo”. É esta a mensagem que o Sucessor de São Pedro deseja entregar-vos hoje, fazendo-se eco da mensagem dos anjos e da consigna que o amado Papa João Paulo II vos deixou no ano do Grande Jubileu do nascimento de Cristo. Contem com as orações e a solidariedade dos vossos irmãos e irmãs da Igreja universal e trabalhem em iniciativas concretas para consolidar a vossa presença e para oferecer novas possibilidades a quantos têm a tentação de partir. Sejam uma ponte de diálogo e de colaboração construtiva na edificação de uma cultura de paz que supere o actual nível de medo, de agressão e de frustração. Edifiquem as vossas Igrejas locais fazendo delas laboratórios de diálogo, tolerância e esperança, bem como de solidariedade e de caridade activa.
Sejam acima de tudo, testemunhas do poder da vida, a nova vida que nos doou Cristo ressuscitado, a vida que pode iluminar e transformar mesmo as mais obscuras e desesperadas situações humanas. Esta terra necessita não só de novas estruturas económicas e comunitárias, mas mais importante ainda – poderíamos dizer – de uma nova infra-estrutura “espiritual”, capaz de galvanizar as energias de todos os homens e mulheres de boa vontade no serviço da educação, do desenvolvimento e da promoção do bem comum. Tendes os recursos humanos para edificar a cultura da paz e do respeito recíproco que poderão garantir um futuro melhor para os vossos filhos. Esta nobre empresa espera-vos. Não tenhais medo!
A antiga basílica da Natividade, que experimentou os ventos da história e o peso dos séculos, ergue-se diante de nós qual testemunho da fé que permanece e triunfa sobre o mundo (cf. 1Jn 5,4). Nenhum visitante de Belém pode deixar de notar que no decurso dos séculos a grande porta que introduz na casa de Deus se tornou cada vez mais pequena. Oremos hoje para que pela graça de Deus e com o nosso compromisso, a porta que introduz os homens no mistério do Deus vivo, o templo da nossa comunhão no Seu amor e a antecipação de um mundo de paz e alegria perenes, se abra cada vez mais amplamente para acolher a cada coração humano, renová-lo e transformá-lo. Deste modo, Belém continuará a ser eco da mensagem confiada aos pastores, a nós e à humanidade: Glória a Deus!
Homilia da Missa no Vale de Josafat de Jerusalém
Terça-feira, 12 de Maio de 2009
Queridos irmãos e irmãs no Senhor,
Caros Irmãos e Irmãs no Senhor
"Cristo ressuscitou, aleluia!". É com estas palavras que vos saúdo afectuosamente. Agradeço ao Patriarca Fouad Twal as suas palavras de boas-vindas proferidas em vosso nome, e antes de tudo exprimo também a minha alegria por estar aqui a celebrar esta Eucaristia juntamente convosco, a Igreja em Jerusalém. Reunimo-nos aqui sob o Monte das Oliveiras, onde nosso Senhor rezou e padeceu, onde chorou por amor a esta cidade e pelo desejo de que ela pudesse conhecer "o caminho da paz" (cf. Lc 19, 42), aqui de onde Ele regressou ao Pai, dando a sua última bênção terrena aos seus discípulos e a nós. Acolhamos hoje esta bênção. Ele concede-a de modo especial a vós, queridos irmãos e irmãs, que estais ligados numa linha ininterrupta àqueles primeiros discípulos que encontraram o Senhor Ressuscitado na fracção do pão, que experimentaram a efusão do Espírito Santo no Cenáculo, que foram convertidos pela pregação de São Pedro e dos demais Apóstolos. Dirijo as minhas saudações a todos os presentes, e de modo especial àqueles fiéis da Terra Santa que, por vários motivos, não puderam estar hoje connosco.
Como Sucessor de São Pedro, voltei a percorrer os seus passos para proclamar o Senhor Ressuscitado no meio de vós, para vos confirmar na fé dos vossos pais e invocar sobre vós a consolação que é o dom do Paráclito. Encontrando-me aqui diante de vós hoje, desejo reconhecer as dificuldades, a frustração, a pena e o sofrimento que muitos dentre vós padeceram por causa dos conflitos que têm afligido estas terras, e também as amargas experiências do deslocamento que muitas das vossas famílias têm conhecido e – Deus não o permita – ainda podem vir a conhecer. Faço votos por que a minha presença aqui seja um sinal de que vós não fostes esquecidos, que a vossa presença e o vosso testemunho perseverantes são efectivamente preciosos aos olhos de Deus e constituem um componente do futuro destas terras. Precisamente por causa das vossas profundas raízes nestes lugares, da vossa antiga e forte cultura cristã, e da vossa confiança duradoura nas promessas de Deus, vós cristãos da Terra Santa sois chamados a ser não apenas como um faro de fé para a Igreja universal, mas também como fermento de harmonia, sabedoria e equilíbrio na vida de uma sociedade que tradicionalmente foi e continua a ser pluralista, multiétnica e multirreligiosa.
Na segunda leitura de hoje, o Apóstolo Paulo pede aos Colossenses que "procurem as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus" (Cl 3, 1). Estas palavras ressoam com força particular aqui, sob o horto do Getsémani, onde Jesus aceitou o cálice do padecimento em completa obediência à vontade do Pai e onde, em conformidade com a tradição, subiu à direita do Pai para interceder continuamente por nós, membros do seu Corpo. São Paulo, o grande arauto da esperança cristã, conheceu o preço desta esperança, o seu custo em sofrimento e perseguição por amor ao Evangelho, e no entanto jamais vacilou na sua convicção de que a Ressurreição de Jesus Cristo era o início da nova criação. Come ele nos diz: "Quando Cristo se manifestar, Ele que é a nossa vida, então vós também vos manifestareis juntamente com Ele na glória" (Cl 3, 4)!
A exortação de Paulo a "procurar as coisas do alto" deve ressoar continuamente nos nossos corações. As suas palavras indicam-nos o cumprimento da visão de fé na Jerusalém celeste onde, em fidelidade às antigas profecias, Deus enxugará as lágrimas de todos os olhos e há-de preparar um banquete de salvação para todos os povos (cf. Is 25, 6-8; Ap 21, 2-4).
Esta é a esperança, esta é a visão que impele todos aqueles que amam esta Jerusalém terrestre, a vê-la como uma profecia e uma promessa da reconciliação e paz universais que Deus deseja para toda a família humana. Infelizmente, junto dos muros desta mesma Cidade, nós somos levados também a considerar como o nosso mundo está distante do cumprimento daquela profecia e promessa. Nesta Cidade Santa, onde a vida derrotou a morte, onde o Espírito foi infundido como primeiro fruto da nova criação, a esperança continua a combater a dispersão, a frustração e o cinismo, enquanto a paz, que é dom e chamamento de Deus, continua a ser ameaçada pelo egoísmo, pelo conflito, pela divisão e pelo peso dos erros do passado. Por esta razão, a comunidade cristã nesta Cidade que viu a Ressurreição de Cristo e a efusão do Espírito Santo deve fazer tudo o que for possível para conservar a esperança concedida pelo Evangelho, tendo em grande consideração o penhor da vitória definitiva de Cristo sobre o pecado e sobre a morte, dando testemunho da força do perdão e manifestando a natureza mais profunda da Igreja como sinal e sacramento de uma humanidade reconciliada, renovada e feita una em Cristo, o novo Adão.
Congregados aos pés dos muros desta Cidade, santa para os seguidores das três grandes religiões, como podemos deixar de dirigir os nossos pensamentos à vocação universal de Jerusalém? Anunciada pelos profetas, esta vocação manifesta-se como um acontecimento inquestionável, uma realidade irrevogável, fundada na história complexa desta Cidade e do seu povo. Judeus, muçulmanos e cristãos qualificam em conjunto esta Cidade como sua pátria espiritual. Quanto ainda é necessário realizar para a tornar verdadeiramente uma "cidade de paz" para todos os povos, onde todos possam vir em peregrinação à procura de Deus, e para ouvir a sua voz, "uma voz que fala de paz" (cf. Sl 85, 8)!
Na realidade, Jerusalém foi sempre uma cidade em cujas ruas ressoam diferentes línguas, cujas pedras são pisadas por povos de todas as raças e línguas, cujos muros constituem um símbolo da atenção providencial de Deus por toda a família humana. Como um microcosmos do nosso mundo globalizado, esta Cidade, se tiver que viver a sua vocação universal, deve ser um lugar que ensine a universalidade, o respeito pelo próximo, o diálogo e a compreensão recíproca; um lugar onde o preconceito, a ignorância e o medo que os alimenta sejam superados pela honestidade, pela integridade e pela busca da paz. Entre estes não deveria haver lugar para o egoísmo, a discriminação, a violência e a injustiça. Os crentes num Deus de misericórdia – qualificam-se eles judeus, cristãos ou muçulmanos – devem ser os primeiros a fomentar esta cultura da reconciliação e da paz, por mais lento que o processo possa ser, e gravoso o peso da memória do passado.
Aqui gostaria de referir-me directamente à trágica realidade – que nunca pode deixar de ser fonte de preocupação para todos aqueles que amam esta Cidade e esta terra – da partida de um número tão elevado de membros da comunidade cristã nos anos mais recentes. Não obstante algumas razões compreensíveis levem muitos, especialmente jovens, a emigrar, esta decisão acarreta consigo como consequência um grande depauperamento cultural e espiritual da cidade. Hoje, desejo reiterar quanto eu disse em outras ocasiões: na Terra Santa há lugar para todos! Enquanto exorto as Autoridades a respeitar, apoiar e valorizar a presença cristã aqui, desejo assegurar-vos a solidariedade e, contemporaneamente, o amor e o apoio de toda a Igreja e da Santa Sé.
Dilectos amigos, no Evangelho que há pouco ouvimos, São Pedro e São João correm até ao túmulo vazio, e João disseram-nos "viu e acreditou" (Jo 20, 8). Aqui na Terra Santa, com os olhos da fé, vós juntamente com os peregrinos de todas as regiões do mundo que apinham as igrejas e os santuários, estais felizes por ver os lugares santificados pela presença de Jesus Cristo, pelo seu ministério terreno e pela sua paixão, morte e ressurreição, bem como pelo dom do seu Espírito Santo. Aqui, como o Apóstolo S. Tomé, é-vos concedida a oportunidade de "tocar" as realidades históricas que se encontram no fundamento da nossa profissão de fé no Filho de Deus. A minha oração por vós hoje é a fim de que continueis, dia após dia, a "ver e acreditar" nos sinais da Providência de Deus e da sua misericórdia inesgotável, a "ouvir" com fé e esperança renovadas as palavras consoladoras da pregação apostólica, e a "tocar" os mananciais da graça nos sacramentos, e encarnar para os outros o seu penhor de novos inícios, a liberdade nascida do perdão, a luz interior e a paz que podem levar a salvação e a esperança também às realidades humanas mais obscuras.
Na igreja do Santo Sepulcro, os peregrinos de todos os séculos veneraram a pedra que a tradição nos diz que estava no ingresso do túmulo na manhã da Ressurreição de Cristo. Voltemos com frequência a este túmulo vazio. Reconfirmemos ali a nossa fé sobre a vitória da vida e oremos a fim de que cada "pedra pesada" posta à porta dos nossos corações, para bloquear a nossa entrega total à fé, à esperança e ao amor pelo Senhor, possa ser tirada com a força da luz e da vida que, a partir daquela primeira manhã de Páscoa, resplandecem de Jerusalém sobre o mundo inteiro. Cristo ressuscitou, aleluia!
Ele ressuscitou verdadeiramente, aleluia!
Discurso de Bento XVI no Cenáculo (lugar da última ceia e do Pentecostes)
Terça-feira, 12 de Maio de 2009 Caros Irmãos Bispos
Prezado Padre Guardião
É com imensa alegria que vos saúdo, Ordinários da Terra Santa, neste Cenáculo onde, segundo a tradição, Deus abriu o seu Coração aos discípulos por Ele escolhidos e celebrou o Mistério pascal, e onde o Espírito Santo no dia de Pentecostes inspirou os primeiros discípulos a sair e a anunciar a Boa Nova. Estou grato ao Padre Pizzaballa pelas suas calorosas palavras de boas-vindas que me dirigiu em vosso nome. Vós representais as comunidades católicas da Terra Santa que, na sua fé e devoção, são como que velas acesas que iluminam os lugares santos, outrora honrados pela presença de Jesus, nosso Deus vivo. Este privilégio particular confere-vos, bem como ao vosso povo, um lugar especial no afecto do meu coração como Sucessor de Pedro.
"Quando Jesus soube que tinha chegado a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que erravam no mundo, amou-os até ao fim" (Jo 13, 1). O Cenáculo recorda a última Ceia de nosso Senhor com Pedro e com os demais Apóstolos, e convida a Igreja a uma contemplação orante. É com este estado de espírito que nos reunimos, o Sucessor de Pedro com os Sucessores dos Apóstolos, neste lugar onde Jesus revelou na oferta do seu corpo e do seu sangue as novas profundidades da aliança de amor estabelecida entre Deus e o seu povo. No Cenáculo, o mistério de graça e de salvação, do qual somos destinatários e inclusive arautos e ministros, só pode ser manifestado em termos de amor. Dado que Ele nos amou primeiro e continua a amar-nos, nós podemos responder com o amor (cf. Deus caritas est, 2). A nossa vida de cristãos não é simplesmente um esforço humano por viver as exigências do Evangelho que nos são impostas como deveres. Na Eucaristia, somos atraídos para o interior do mistério do amor divino. As nossas vidas tornam-se uma aceitação grata, dócil e activa do poder de um amor que nos é concedido. Este amor transformador, que é graça e verdade (cf. Jo 1, 17), estimula-nos como indivíduos e como comunidade, a superar a tentação de nos fechar em nós mesmos, no egoísmo ou na indolência, no isolamento, no preconceito ou medo, e a entregar-nos generosamente ao Senhor e aos outros. Ele leva-nos como comunidades cristãs a ser fiéis à nossa missão com franqueza e coragem (cf. Act 4, 13). No Bom Pastor que dá a própria vida pelo seu rebanho, no Mestre que lava os pés aos seus discípulos, vós meus queridos Irmãos, encontrais o modelo do vosso próprio ministério no serviço do nosso Deus que promove o amor e a comunhão.
O convite à comunhão de mente e de coração, tão estreitamente vinculado ao mandamento do amor e com o papel central unificador da Eucaristia nas nossas vidas, é de especial relevância na Terra Santa. As diversas Igrejas cristãs que aqui se encontram representam um património espiritual rico e diversificado, e são um sinal das múltiplas formas de interacção entre o Evangelho e as diferentes culturas. Elas recordam-nos também que a missão da Igreja consiste em anunciar o amor universal de Deus e em reunir de longe e de perto todos aqueles que são chamados por Ele, de tal modo que, com as suas tradições e os seus talentos, formem a única família de Deus. Um renovado impulso espiritual para a comunhão na diversidade na Igreja católica e uma nova consciência ecuménica têm caracterizado a nossa época, de maneira especial a partir do Concílio Vaticano II. O Espírito conduz docilmente os nossos corações para a humildade e a paz, para a aceitação recíproca, a compreensão e a cooperação. Esta disposição interior para a unidade, sob o impulso do Espírito Santo, é decisiva para que os cristãos possam cumprir a sua missão no mundo (cf. Jo 17, 21).
Na medida em que o dom do amor for aceite e crescer na Igreja, a presença cristã na Terra Santa e nas regiões vizinhas será viva. Esta presença é de importância vital para o bem da sociedade no seu conjunto. As palavras claras de Jesus sobre o laço íntimo entre o amor a Deus e o amor ao próximo, sobre a misericórdia e a compaixão, sobre a mansidão, a paz e o perdão, são um fermento capaz de transformar os corações e plasmar as obras. Os cristãos no Médio Oriente, juntamente com as outras pessoas de boa vontade, estão a contribuir como cidadãos leais e responsáveis, não obstante as dificuldades e as restrições, para a promoção e a consolidação de um clima de paz na diversidade. Apraz-me repetir-lhes aquilo que afirmei na Mensagem de Natal de 2006 aos católicos no Médio Oriente: "É com afecto que manifesto a minha proximidade pessoal nesta situação de insegurança humana, de sofrimento quotidiano, de medo e de esperança que estais a viver. Repito às vossas comunidades as palavras do Redentor: "Não tenhais medo, pequeno rebanho, porque o vosso Pai vos quis conceder o Reino" (Lc 12, 32)" (Mensagem de Natal de Sua Santidade o Papa Bento xvi aos católicos que vivem na Região do Médio Oriente, 21 de Dezembro de 2006).
Amados Irmãos Bispos, contai com o meu apoio e encorajamento ao levar a cabo tudo quanto se encontra no vosso poder, para ajudar os nossos irmãos e irmãs cristãos a permanecer e a afirmar-se aqui na terra dos seus antepassados, e a ser mensageiros e promotores de paz. Aprecio os vossos esforços em vista de lhes oferecer, como a cidadãos maduros e responsáveis, assistência espiritual, valores e princípios que os ajudem no cumprimento do seu papel na sociedade. Mediante a educação, a preparação profissional e outras iniciativas sociais e económicas, a sua condição poderá ser sustentada e melhorada. Por minha vez, renovo o meu apelo aos nossos irmãos e irmãs do mundo inteiro, a sustentar e recordar nas suas preces, as comunidades cristãs da Terra Santa e do Médio Oriente. Neste contexto, desejo manifestar o meu apreço pelo serviço oferecido aos numerosos peregrinos e visitantes que vêm à Terra Santa em busca de inspiração e renovação nos passos de Jesus. A história do Evangelho, contemplada no seu ambiente histórico e geográfico, torna-se viva e rica de cor, e obtém-se uma compreensão mais clara do significado das palavras e dos gestos do Senhor. Muitas experiências memoráveis de peregrinos da Terra Santa foram possíveis também graças à hospitalidade e à orientação fraternal oferecida por vós, de modo especial pelos Frades franciscanos da Custódia. Por este serviço, gostaria de assegurar-vos o apreço e a gratidão da Igreja universal, e exprimo o desejo de que, no futuro, peregrinos em número ainda maior venham aqui em visita.
Queridos Irmãos, ao dirigirmos a nossa alegre oração a Maria, Rainha do Céu, depositemos confiadamente nas suas mãos o bem-estar e a renovação espiritual de todos os cristãos na Terra Santa, de tal forma que, sob o olhar dos seus Pastores, possam crescer na fé, na esperança e no amor, e perseverar na sua missão de promotores de comunhão e de paz.
Oração de Bento XVI no muro das lamentações
Deus de todos os tempos,
na minha visita a Jerusalém, "Cidade da Paz",
pátria espiritual comum de judeus, cristãos e muçulmanos,
apresento-vos as alegrias, as esperanças e as aspirações,
as provações, os sofrimentos e a dor
de todo o vosso povo no mundo inteiro.
Deus de Abraão, Isaac e Jacob,
ouvi o clamor dos aflitos, dos amedrontados e dos desesperados;
enviai a vossa paz sobre esta Terra Santa, sobre o Médio Oriente
e sobre toda a família humana;
estimulai os corações de todos aqueles que invocam o vosso nome,
a percorrer humildemente o caminho da justiça e da compaixão.
"O Senhor é bom para aqueles que nele confiam,
para a alma que O procura" (Lm 3, 25)!
Bento XVI em Jerusalém. Visita aos dois Grandes Rabinos de Jerusalém Centro Centro Hechal Shlomo – Jerusalém
Terça-feira, 12 de Maio de 2009 Ilustres rabinos
Caros amigos
Estou-vos reconhecido pelo convite que me apresentastes para visitar o Centro Hechal Shlomo e para me encontrar convosco durante esta minha viagem à Terra Santa como Bispo de Roma. Agradeço ao Rabino sefardita Shlomo Amar e ao Rabino ashkenazita Yona Metzger as suas calorosas palavras de boas-vindas e o desejo que manifestaram de continuar a fortalecer os vínculos de amizade que a Igreja católica e o grão-rabinado se comprometeram tão diligentemente a fazer progredir ao longo das últimas décadas. As vossas visitas ao Vaticano, em 2003 e 2005, constituem um sinal da boa vontade que caracteriza as nossas crescentes relações.
Ilustres Rabinos, retribuo esta atitude expressando por minha vez os meus pessoais sentimentos de respeito e de estima por vós e pelas vossas comunidades. Asseguro-vos o meu desejo de aprofundar a compreensão recíproca e a cooperação entre a Santa Sé, o grão-rabinado de Israel e o povo judeu no mundo inteiro.
Um grande motivo de satisfação para mim, desde o início do meu pontificado, foi o fruto produzido pelo diálogo em curso entre a Delegação da Comissão da Santa Sé para as Relações religiosas com os judeus e o grão-rabinado da Delegação de Israel para as Relações com a Igreja católica. Desejo agradecer aos membros de ambas as Delegações a sua dedicação e o trabalho cansativo no aperfeiçoamento desta iniciativa, tão sinceramente desejada pelo meu venerado Predecessor, Papa João Paulo II, como ele quis afirmar no Grande Jubileu do Ano 2000.
O nosso hodierno encontro é uma ocasião muito apropriada para dar graças ao Todo-Poderoso pelas numerosas bênçãos que acompanharam o diálogo empreendido pela Comissão bilateral, e para olhar com esperança para as suas sessões futuras. A boa vontade dos delegados para debater aberta e pacientemente não apenas sobre os pontos de entendimento, mas também acerca dos pontos de desacordo, tem aberto também o caminho para uma colaboração mais eficaz na vida pública. Judeus e cristãos estão igualmente interessados em assegurar o respeito pela sacralidade da vida humana, a centralidade da família, uma válida educação dos jovens, a liberdade de religião e de consciência para uma sociedade sadia. Estes temas de diálogo representam somente a fase inicial daquilo que nós esperamos venha a ser um caminho sólido e progressivo para uma melhor compreensão recíproca. Uma indicação da potencialidade desta série de encontros viu-se imediatamente na nossa preocupação compartilhada diante do relativismo moral e das ofensas que ele gera contra a dignidade da pessoa humana. Ao abordar as questões éticas mais urgentes da nossa época, as nossas duas comunidades encontram-se perante o desafio de comprometer a nível de razão as pessoas de boa vontade, indicando-lhes simultaneamente os fundamentos religiosos que melhor sustêm os valores morais perenes. Possa o diálogo que foi encetado continuar a gerar ideias sobre o modo como é possível que cristãos e judeus trabalhem em conjunto para aumentar o apreço da sociedade pelas contribuições características das nossas tradições religiosas e éticas. Aqui em Israel, dado que constituem somente uma pequena porção da população total, os cristãos apreciam de modo particular as oportunidades de diálogo com os seus vizinhos judeus.
Inegavelmente, a confiança é um elemento essencial para um diálogo eficaz. Hoje, tenho a oportunidade de repetir que a Igreja católica está comprometida de maneira irrevogável no caminho decidido pelo Concílio Vaticano II para uma reconciliação autêntica e duradoura entre cristãos e judeus. Como a Declaração Nostra aetate esclareceu, a Igreja continua a valorizar o património espiritual comum de cristãos e judeus, e aspira a uma compreensão e estima mútuas cada vez mais profundas, tanto mediante os estudos bíblicos e teológicos, como através dos diálogos fraternos. Os sete encontros da Comissão bilateral que já tiveram lugar entre a Santa Sé e o grão-rabinado possam constituir uma prova disto! Estou-vos deveras grato pela vossa garantia compartilhada de que a amizade entre a Igreja católica e o grão-rabinado continuará no futuro a crescer no respeito e na compreensão.
Meus amigos, exprimo mais uma vez o meu profundo apreço pelas boas-vindas que me dirigistes hoje. Estou convicto de que a nossa amizade continuará a apresentar-se como exemplo de confiança no diálogo para os judeus e os cristãos do mundo inteiro. Vendo os resultados até agora alcançados e haurindo a nossa inspiração das Sagradas Escrituras, podemos apostar com confiança numa cooperação cada vez mais persuadida entre as nossas comunidades – juntamente com todas as pessoas de boa vontade – na condenação do ódio e da opressão no mundo inteiro. Rezo a Deus, que perscruta os nossos corações e conhece os nossos pensamentos (cf. Sl 139, 23), para que continue a iluminar-nos com a sua sabedoria, de tal maneira que possamos seguir os seus mandamentos de O amar com todo o coração, com toda a alma e com todas as forças (cf. Dt 6, 5) e de amor ao nosso próximo como a nós mesmos (cf. Lv 19, 18).
Obrigado!
Tel Aviv, Segunda-feira,11 de Maio de 2009
Bento XVI chegou às 11h00 hora local ao aeroporto Ben Gurion de Tel Aviv (Israel) onde foi recebido pelo Presidente do Estado de Israel, Shimon Peres e pelo Primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, para além das autoridades civis e políticas e os Bispos da Terra Santa.
O Papa agradeceu as boas-vindas ao Estado de Israel, "uma terra – disse – que para muitos milhões de crentes em todo o mundo é santa; (...) uma terra santificada pelos passos dos patriarcas e dos profetas, uma terra que os cristãos veneram especialmente porque foi o lugar da vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo. (...) Eu, como muitos outros antes de mim, venho rezar nos santos lugares, a rezar em especial pela paz, paz aqui na Terra Santa e em todo o mundo".
A Santa Sé e o Estado de Israel "partilham muitos valores, sobretudo o de dar à religião o lugar que lhe compete na vida da sociedade. A justa ordenação das relações sociais pressupõe e requer o respeito da liberdade e da dignidade de todo o ser humano em que cristãos, muçulmanos e judeus crêem que foi criado por um Deus amoroso e que está destinado à vida eterna. Quando se nega ou marginaliza a dimensão religiosa da pessoa, cambaleiam as bases da justa compreensão dos direitos humanos inalienáveis".
"Tragicamente, o povo judeu sofreu as terríveis consequências das ideologias que negam a dignidade fundamental da pessoa. É justo e adequado que, durante a minha estadia em Israel, tenha a oportunidade de prestar homenagem à memória dos seis milhões de judeus vítimas da Shoah e de rezar para que a humanidade não volte a ser testemunha de um crime de semelhante magnitude. Tristemente, o anti-semitismo continua a levantar a sua repugnante cabeça em muitas partes do mundo. É absolutamente inaceitável Há que fazer todos os esforços possíveis para combater o anti-semitismo em qualquer lugar e para promover o respeito e a estima pelos membros de todos os povos, tribos, língua e nação do mundo".
"Durante a minha estadia em Jerusalém – prosseguiu o Pontífice – terei o prazer de encontrar muitos dos seus líderes religiosos. As três religiões monoteístas partilham uma veneração especial por essa cidade santa. Espero fervorosamente que todos quantos peregrinam aos santos lugares acedam a eles livremente e sem restrições para tomar parte nas cerimónias religiosas e fomentar a digna conservação dos edifícios de culto nos espaços sagrados".
Bento XVI recordou que embora o nome Jerusalém signifique cidade de paz, "é evidente que durante décadas a paz se escapou tragicamente dos habitantes desta terra santa. Os olhos do mundo estão fixados nos povos desta região na sua luta por alcançar uma solução justa e duradoura para os conflitos que tantos sofrimentos causaram. As esperanças de inumeráveis homens, mulheres e crianças num futuro mais seguro e estável dependem do resultado das negociações de paz entre israelitas e palestinianos".
"Unido a todas as pessoas de boa vontade suplico aos seus responsáveis que explorem todos os caminhos possíveis para resolver com justiça as dificuldades pendentes de modo que ambos os povos vivam em paz na sua própria pátria com fronteiras seguras e reconhecidas internacionalmente. A este respeito, espero e rezo para que se crie rapidamente um clima de maior confiança que torne possível que as partes façam progressos reais no caminho da paz e da estabilidade".
O Santo Padre terminou o seu discurso dirigindo-se aos católicos e recordou que assistirá em Nazaré ao encerramento do Ano da Família. "A família – disse – é a primeira e indispensável mestra de paz e, portanto, tem um papel essencial para sanar as divisões da sociedade humana a todos os níveis".
"Falo agora para as comunidades cristãs da Terra Santa: mediante o vosso testemunho fiel d’Aquele que pregou o perdão e a reconciliação, com o vosso compromisso de defender o carácter sagrado de toda a vida humana, podeis dar um particular contributo para o fim das hostilidades que afligiram durante tanto tempo esta terra. Rezo para que a vossa presença continua em Israel e nos Territórios Palestinianos seja frutuosa para promover a paz e o respeito mútuo entre os povos que vivem nas terras da Bíblia".
Terminada a cerimónia o Papa deslocou-se de helicóptero para o heliporto do Monte Scopus em Jerusalém, onde foi recebido pelo presidente da Câmara Nir Barkat e daí foi de automóvel para a delegação apostólica de Jerusalém almoçar.
O Santo Padre fará esta tarde uma visita de cortesia ao Presidente do Estado de Israel, Shimon Peres, visitará o Memorial de "Yad Vashem" e vai encontrar-se com os membros de organizações para o diálogo inter-religioso na "Notre Dame of Jerusalem Centre".