Bento XVI: 80º aniversário e novo livro sobre Jesus

O Santo Padre agradeceu aos fiéis que participaram na Missa celebrada em São Pedro as felicitações pelo seu 80º aniversário. Esta data coincide com a publicação do novo livro de Joseph Ratzinger-Bento XVI, intitulado "Jesus de Nazaré".

80º ANIVERSÁRIO E INVOCAÇÃO DA MISERICÓRDIA DIVINA

O Papa celebrou o seu 80º aniversário com um dia de antecedência com uma Missa na Praça de São Pedro, em que participaram cardeais, sacerdotes e milhares de fiéis. Bento XVI nasceu em 16 de Abril de 1927, na localidade alemã de Marktl am Inn.

"Estamos aqui reunidos para comemorar o culminar de um longo período da minha vida", disse na sua homilia. O Papa referiu-se especialmente à sua família e aos seus amigos: "Agradeço a Deus ter podido viver o que significa a família, ter experimentado profundamente o significado da bondade maternal".

Também deu graças a Deus "pelos meus irmãos, que permaneceram toda a vida e continuam ao meu lado, leais e disponíveis para ajudar" e "pelos companheiros de caminho, amigos e colaboradores com que Deus me prendou".

Também recordou com gozo o dia da sua ordenação sacerdotal, em que experimentou "a premente consciência da insignificância da minha própria existência diante desta missão".

Referiu-se igualmente à festividade do dia: o Domingo da Divina Misericórdia, instaurado por João Paulo II. Bento XVI pediu que a "misericórdia divina" se estenda às nações onde reina o ódio e a guerra.  

Depois da oração, afirmou que "a humanidade necessita todos os dias da misericórdia divina" e desejou que "este dom chegue, sobretudo, àquelas nações espezinhadas e onde domina o ódio, a tragédia e a guerra".

Animou os fiéis católicos a "cooperar na obra de paz que Deus está a realizar no mundo", que "não faz ruído e actua através dos inumeráveis gestos da caridade de todos os seus filhos".

O Pontífice explicou que "a paz é o dom que Cristo deixou como bênção destinada a todos os homens e todos os povos", mas destacou "que não se trata de uma paz, como o mundo a concebe, como um equilíbrio entre forças, mas uma realidade nova fruto do amor de Deus, da Sua misericórdia".

O LIVRO "JESUS DE NAZARÉ"

Jesus de Nazaré, o livro de Bento XVI, será posto à venda nas livrarias italianas, alemãs e polacas no dia 16 de Abril, coincidindo com o 80º aniversário do Papa. O livro de 448 páginas será traduzido em 20 idiomas.   

A editorial Rizzoli, responsável pela Livraria Editora Vaticana e pela venda dos direitos do livro em todo o mundo, emitiu um comunicado de imprensa em que informa que "Jesus de Nazaré é a primeira parte de uma obra de dois volumes que examina a vida pública de Cristo, desde o Baptismo no Rio Jordão até à Transfiguração".

"Trata-se, por um lado, de um relato pastoral", diz o comunicado, que através de um comentário aos Evangelhos "oferece uma introdução aos princípios do cristianismo". É também "um ensaio que conserva o rigor científico que distingue os escritos e discursos do teólogo Ratzinger".

"A preocupação pastoral e a excepcional doutrina teológica do Papa unem-se para determinar o tema central da obra: a convicção de que para entender a figura de Jesus Cristo é necessário partir da sua união com o Pai".

A este respeito "o método histórico-crítico é indispensável para uma exegese séria e disponibilizou uma grande quantidade de material e conhecimentos que permitem reconstruir a figura de Jesus com uma profundidade que até há poucas décadas era difícil de imaginar; mas só a fé pode fazer-nos compreender que Jesus é Deus e se à luz desta convicção se lerem os textos sagrados com os instrumentos facilitados pelo método histórico-crítico (...), revelam-nos (...) um caminho e uma figura dignos de fé".

"Para Ratzinger – prossegue o comunicado – fé e investigação crítica são complementares e não antagónicas e o Jesus dos Evangelhos é o Jesus histórico. 

Numa sinopse do volume, intitulada "O caminho do Papa para Jesus", lê-se que o livro "reflecte a busca pessoal do "rosto do Senhor" por parte de Joseph Ratzinger e não quer ser um documento de magistério".

"Para Bento XVI, no texto bíblico encontram-se todos os elementos para afirmar que o personagem histórico Jesus Cristo é também, efectivamente, o Filho de Deus vindo à terra para salvar a humanidade".

"Baseando-se no facto da estreita unidade entre o Antigo e o Novo Testamento – explica a nota – e valendo-se da hermenêutica cristológica que vê em Jesus Cristo a chave de toda a Bíblia, Joseph Ratzinger apresenta o Jesus dos Evangelhos como "o novo Moisés" que cumpre as antigas esperanças de Israel. Este novo e verdadeiro Moisés deve conduzir o Povo de Deus para a verdadeira e definitiva liberdade" e "leva-o a cabo em passos sucessivos que, não obstante, deixam sempre entrever o plano de Deus na sua totalidade".

Neste sentido "a imersão de Jesus nas águas do Jordão é símbolo da sua morte e da sua "descida aos infernos", uma realidade presente ao longo da sua vida. Para salvar a humanidade (...) deve vencer as tentações principais que ameaçam, de diversas formas, os homens de todos os tempos e transformando-as em obediência, reabrir o caminho para Deus, para a Terra prometida que é o Reino de Deus".

"O tema do "Reino de Deus", que atravessa todo o anúncio de Jesus, aprofunda-se posteriormente na reflexão sobre o "Sermão da Montanha" (...) onde as Bem-aventuranças constituem os pontos cardeais da nova Lei e ao mesmo tempo são um auto-retrato de Jesus". Demonstra-se, assim, que "esta Lei não é somente – como no caso de Moisés – o resultado de um colóquio "cara a cara" com Deus, mas contém a plenitude que procede da união íntima de Jesus com o Pai".

Daí que "um elemento fundamental" da vida do ser humano seja "falar com Deus e escutá-Lo. Por isso Bento XVI dedicou um capítulo inteiro à oração, explicando o Pai Nosso, que o próprio Jesus nos ensinou".

"O contacto profundo dos seres humanos com Deus Pai, mediante Jesus no Espírito Santo, recolhe-os no "nós" de uma nova família que, através da eleição dos Doze, recorda as origens de Israel (...) Inclusivamente na sua composição, tão heterogénea, a nova família de Jesus, a Igreja, de todos os tempos, encontra n’Ele o seu centro unificador e a orientação para viver o carácter universal do seu Evangelho". 

"Para tornar mais acessível o conteúdo da sua mensagem e transformá-lo em orientação prática, Jesus utilizava as parábolas" assinala o texto. "Mas há também uma explicação puramente teológica do sentido das parábolas que Joseph Ratzinger evidencia com uma análise de grande profundidade".

"O capítulo seguinte trata dos exemplos empregados por Jesus para explicar o seu mistério: são as grandes imagens de São João. Antes de as analisar, o Papa apresenta um resumo muito interessante dos diversos resultados da investigação científica sobre o evangelista" e "abre ao leitor novos horizontes que revelam Jesus, cada vez com mais clareza como "o Filho de Deus".

"Esta visão amplia-se posteriormente nos dois últimos capítulos (...) onde se estabelece, definitivamente, a verdadeira missão do Messias de Deus e o destino dos que O desejam seguir", e o “livro do Pontífice conclui com uma profunda análise dos títulos que, segundo os Evangelhos, Jesus utilizou para Se definir".

 "Juntamente com o homem de fé, (...) e do teólogo, emerge no livro o pastor que consegue "facilitar no leitor o crescimento de uma relação nova com Jesus Cristo (...) Deste ponto de vista o pontífice não teme falar de um mundo que, excluindo Deus e fixando-se só na realidade visível e material, corre o perigo da autodestruição procurando um bem estar só material" e renunciando "chegar à verdadeira liberdade na "Terra Prometida" do "Reino de Deus".