BeDoCare 2025: O futuro de África começa com o cuidado

A terceira edição do BeDoCare 2025, realizada na Strathmore University (Nairobi, Quénia), reuniu líderes de todo o continente para examinar como educação, trabalho e solidariedade podem transformar África, inspirados na visão cristã da pessoa humana.

Durante três dias (de 1 a 3 de outubro de 2025), cerca de trezentos participantes de mais de uma dezena de países reuniram-se na Strathmore University para a primeira edição africana desta iniciativa global.

Lançado em Roma, em 2022, como espaço de diálogo sobre educação, desenvolvimento e dignidade humana, o BeDoCare procura fomentar a colaboração entre pessoas que acreditam que o progresso integral da humanidade começa com o cuidado dos outros – no trabalho, na educação e na vida social. A edição de Nairobi, com o tema “O destino de África”, assentou nesta visão, reunindo académicos, líderes empresariais, jovens empreendedores e profissionais de ONG para partilhar experiências sobre como o crescimento do continente deve enraizar-se no cuidado pelas pessoas, na criatividade no trabalho, no empreendedorismo e na fé na providência de Deus.


Educação e a história africana

O primeiro dia, dedicado à educação, deu o tom do encontro. No seu discurso de boas-vindas, o Dr. Vincent Ogutu, reitor da Strathmore University, encorajou os participantes a olhar para África não apenas como uma terra de desafios, mas de imensas oportunidades: «Precisamos de formar jovens criativos, éticos e compassivos, capazes de moldar as suas nações com integridade».

As conferências principais refletiram esta visão. Francis Okello, presidente do Grupo Serena Hotels, apresentou uma perspetiva de longo prazo, exortando os jovens africanos a «sonhar grande e preparar-se bem», construindo instituições duradouras. De seguida, a Dra. Julie Gichuru, presidente e CEO do Africa Leadership and Dialogue Institute, prosseguiu com um apelo apaixonante a «contar a história de África a partir de dentro», recuperando a narrativa de um continente criativo e resiliente.

Durante a tarde, os workshops versaram sobre como as universidades podem atuar como motores de progresso social e como as ONG podem ultrapassar barreiras no acesso à educação em comunidades rurais e de baixos rendimentos: «A educação não se resume à transmissão de conhecimento», disse um dos oradores. «Trata-se de despertar o desejo de servir e cuidar».


Uma cultura do dom

O segundo dia – 2 de outubro, aniversário da fundação do Opus Dei – centrou-se no trabalho, um tema profundamente ligado à mensagem de Josemaria Escrivá sobre encontrar Deus na vida quotidiana.

Começou com a conferência do Pe. Javier del Castillo, vigário geral do Opus Dei. Na sua intervenção convidou os participantes a redescobrir a dignidade humana através da generosidade e do cuidado: «O mundo muda quando cada um de nós começa a tratar as pessoas que nos rodeiam como dons. Esse é o coração do desenvolvimento cristão».

O mundo muda quando cada um de nós começa a tratar as pessoas que nos rodeiam como dons

Nessa mesma manhã, a Prof.ª África Ariño (da IESE Business School) falou sobre governança, competitividade e contributo das empresas para o bem comum. Os workshops da tarde abordaram temas como liderança jovem, empreendedorismo, formação profissional e o futuro da agricultura. «Os jovens africanos não esperam oportunidades», afirmou um dos intervenientes. «Estão a criá-las».

O dia terminou com a apresentação da Transform Africa Network, uma iniciativa da Strathmore University que promove a colaboração intersectorial, e com intervenções que relacionaram as discussões com o significado espiritual da data: o trabalho, feito com competência e amor, torna-se um caminho de santificação.


Trabalho: competência e serviço

No terceiro dia, o Prof. Luis Franceschi (Secretário-Geral Adjunto da Commonwealth) inaugurou as conferências com uma intervenção marcante, apresentando a justiça e a liderança ética como a «infraestrutura invisível» de que África mais necessita.

As sessões da manhã destacaram também o contributo da Igreja para o progresso social, com a participação nos painéis de Anthony Muheria (arcebispo de Nyeri) e da Irmã Rosemary Ndege. Durante a tarde, foram apresentados projetos de base bem-sucedidos nas áreas de empreendedorismo, saúde, energia sustentável e artes. Oradores da Nigéria, Costa do Marfim, Quénia e República Democrática do Congo apresentaram iniciativas que vão desde tecnologias verdes e empresas lideradas por mulheres até projetos culturais que fomentam a consciência social.

A edição de 2025 encerrou com a apresentação do BeDoCare Hub, uma nova rede que ligará participantes e projetos em toda a África, para continuar a promover o diálogo e a cooperação.

Ao despedirem-se, muitos participantes descreveram a edição de Nairobi como um sinal visível de que a energia e a fé africanas estão no centro das conversas globais sobre desenvolvimento humano. Na sessão final, o Dr. Vincent Ogutu resumiu o sentido do BeDoCare: «O futuro de África será construído por homens e mulheres que sejam autênticos, façam bem o seu trabalho e cuidem dos outros. É esse o espírito que queremos difundir».