Missa de Quinta-Feira Santa (Missa Crismal)
A Quinta-Feira Santa é o dia em que o Senhor encomendou aos doze a tarefa sacerdotal de celebrar, com o pão e o vinho, o Sacramento do seu Corpo e do seu Sangue até ao seu regresso. O cordeiro pascoal e todos os sacrifícios da Antiga Aliança são substituídos pelo dom do seu Corpo e do seu Sangue, o dom de si mesmo. Deste modo, o novo culto fundamenta-se no facto de que, antes do mais, Deus oferece-nos um dom, e nós, saciados por este dom, tornamo-nos seus: a criação retorna ao Criador. (...)
Ser amigo de Jesus, ser sacerdote, significa ser homem de oração. Deste modo o reconhecemos e vencemos a ignorância dos servos. Deste modo aprendemos a viver, a sofrer e a actuar com ele e por ele. A amizade com Jesus é sempre por antonomásia amizade com os seus. Só podemos ser amigos de Jesus na comunhão com Cristo total, com a cabeça e o corpo; na frondosa vide da Igreja animada pelo seu Senhor. Só nela a Sagrada Escritura é, graças ao Senhor, Palavra viva e actual. Sem o sujeito vivente da Igreja que abarca os tempos, a Bíblia fragmenta-se em escritos que com frequência são heterogéneos e converte-se num livro do passado. É eloquente no presente só ali onde está a «Presença», onde Cristo segue fazendo-se nosso contemporâneo: no corpo da sua Igreja.
Domingo de Ramos
Jesus entra na Cidade Santa montado num burro, isto é, o animal da gente simples do campo, e além disso de um burro que não lhe pertence, que pediu emprestado para esta ocasião. Não chega num luxuoso coche real, nem a cavalo como os grandes do mundo, mas num burro emprestado (...).
Então as pessoas lançam este grito diante de Jesus, no qual vêem o que vem em nome do Senhor: a expressão: «O que vem em nome do Senhor», na realidade, tinha-se convertido na maneira de designar o Messias. Em Jesus reconhecem o que verdadeiramente vem em nome do Senhor e traz a presença de Deus entre eles.
Este grito de esperança de Israel, esta aclamação a Jesus durante a sua entrada em Jerusalém, converteu-se com razão, na Igreja, na aclamação a quem, na Eucaristia, nos sai ao encontro de uma maneira nova. Saudamos a quem na Eucaristia fica sempre entre nós em nome do Senhor unindo na paz de Deus os confins da terra (...).
Houve um período – ainda não totalmente superado – em que se repudiava o cristianismo precisamente por causa da Cruz. A Cruz fala de sacrifício, dizia-se, a Cruz é sinal de negação da vida. Nós, no entanto, queremos a vida inteira, sem restrições e sem renúncias. Queremos viver, nada mais que viver. Não nos deixamos limitar pelos preceitos e proibições – dizia-se e continua a dizer-se – queremos riqueza e plenitude. Todo isto parece convincente e sedutor; é a linguagem da serpente que nos diz: «Não vos deixeis atemorizar! Comei tranquilamente de todas as árvores do jardim!».
O Domingo de Ramos, todavia, diz-nos que o autêntico grande «sim» é precisamente a Cruz, que a Cruz é a autêntica árvore da vida. Não alcançamos a vida apoderando-nos dela, mas dando-a. O amor é a entrega de nós próprios e, por este motivo, é o caminho da vida autêntica simbolizada pela Cruz.