A ordenação sacerdotal de São Josemaria Escrivá

São Josemaria Escrivá recebeu a ordenação sacerdotal a 28 de março de 1925, na cidade de Saragoça, na igreja de São Carlos. Dois dias depois, celebrou a sua primeira Missa na Basílica do Pilar. Andrés Vázquez de Prada relata este acontecimento na sua biografia sobre o santo.

São Josemaria em 1923.

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No sábado de Têmporas, dia 28 de março de 1925, celebrou-se na igreja de São Carlos a cerimónia da ordenação sacerdotal, tendo-lhe conferido o presbiterado D. Miguel de los Santos Díaz Gómara.

O ordenado seguiu com os cinco sentidos as cerimónias litúrgicas: a unção das mãos, a traditio instrumentorum, as palavras da consagração... Emocionado e confuso perante a bondade do Senhor, considerou desprezíveis as dificuldades passadas desde o dia do seu chamamento, dando graças como um terno apaixonado.

Fez os preparativos para a sua Missa Nova. Não fazia sentido classificá-la como solene; seria uma missa rezada, na segunda-feira da Semana da Paixão, com paramentos roxos e oferecida em sufrágio pela alma de seu pai. O recém-ordenado convidou muito poucas pessoas, por estar de luto. A festa seria celebrada na intimidade. Os convites eram umas estampas de Nossa Senhora, com o seguinte texto impresso nas costas:

«O Presbítero José María Escrivá y Albás celebrará a sua Missa Nova na Santa e Angélica Capela do Pilar de Saragoça, no dia 30 de março de 1925, às dez e meia da manhã, em sufrágio pela alma de seu pai, José Escrivá Corzán, que adormeceu no Senhor no dia 27 de novembro de 1924. A.M.D.G. Convite e memória».

Recordatório da primeira Missa de São Josemaria.

Não lhe tinha sido fácil conseguir que lhe cedessem a Santa Capela; mas tinha um vivo desejo de celebrar ali, no lugar que visitava diariamente e onde clamava o seu Domina, ut sit! De resto, a missa foi mais dolorosa do que o celebrante podia prever, embora escondesse a memória e as circunstâncias do ato numa frase muito simples: «na Santa capela, diante de uma mão-cheia de pessoas, celebrei sem ruído a minha Missa Nova».

O seu irmão Santiago, que contava seis anos de idade, recorda a simplicidade da cerimónia e a escassa companhia: «foi Missa rezada, a qual assistimos a minha mãe, a minha irmã Carmen, eu e mais algumas pessoas». A sua prima, Sixta Cermeño, faz um relato mais explícito:

«O meu marido e eu fomos os únicos da família Albás que acompanhámos a sua mãe, assistindo àquela Missa Nova (...).

Estávamos a mãe de Josemaria – a tia Lola –, a sua irmã, o irmão – que teria então uns seis anos –, nós – o meu marido e eu –, duas vizinhas de Barbastro que se chamam Cortes e eram amigas íntimas da sua irmã Carmen – deviam ter a mesma idade que ela – e mais algumas pessoas que eu não conhecia: julgo lembrar-me de dois ou três sacerdotes, e é possível que estivessem também alguns amigos, da Universidade ou do Seminário. E difícil dizer, porque é sabido que aquela Capela do Pilar está sempre cheia de gente».

Devido à ausência dos sacerdotes da família de D. Dolores, o reduzido número dos presentes dava uma impressão de solidão. «Os meus tios Carlos, Vicente e Mariano Albás – conta Amparo Castillón – não estiveram na sua Missa Nova, em 1925, à qual eu assisti, e apercebi-me de que estava muito só».

Reverso do recordatório da primeira Missa.

O Reitor, o P.e José López Sierra, acrescenta que foram padrinhos de altar dois sacerdotes amigos da família, e descreve pateticamente a cena da Santa Capela: a mãe estava «num mar de lágrimas, de tal maneira que às vezes parecia desmaiar», enquanto nós, de joelhos, «sem pestanejar sequer, imóveis durante toda a missa, contemplávamos os gestos sagrados daquele anjo na terra».

A emoção de D. Dolores, que nessa manhã se tinha levantado doente, avivava-se com a consideração dos muitos sacrifícios que ela e o marido tinham feito para ver a cerimónia a que assistia. Este pensamento deve ter cruzado a mente da sobrinha, Sixta Cermeño, ali presente, quando diz recordar que «a par da intimidade daquele momento, havia uma nota de tristeza» e que a mãe chorava, «possivelmente por se lembrar da recente perda do marido».

O novo presbítero tinha o desejo filial de que a sua mãe fosse a primeira pessoa a receber das suas mãos uma das partículas por ele consagradas. Viu-se privado dessa alegria. Uma senhora adiantou-se a D. Dolores e ajoelhou-se no genuflexório quando ele ia dar a comunhão, pelo que o sacerdote se viu obrigado a dar de comungar primeiro a essa boa mulher, para evitar um embaraço. Acabada a missa, houve um beija-mãos, os parabéns do costume na sacristia, e a despedida do pequeno grupo de assistentes. Josemaria guardou daquela missa nova um sabor de sacrifício. Imaginava-a como «uma estampa de dor, com a sua mãe vestida de luto».

Ao celebrar a Santa Missa, o sacerdote exerce sobre o altar o seu ministério litúrgico do modo mais excelso. Aí se imola a mesma Vítima que se ofereceu na Cruz para redimir toda a humanidade. Josemaria, identificado pessoal e definitivamente com Cristo em virtude do sacramento da Ordem, fez do Sacrifício Eucarístico o centro da sua vida interior. E, assim como na véspera da sua Primeira Comunhão tinha recebido como lembrança a dolorosa carícia de uma queimadura provocada por um descuido do barbeiro, também agora lhe ficou impresso na memória o sacrifício de um piedoso desejo: dar a comunhão à sua mãe antes de a qualquer outra pessoa, na sua Missa Nova. Era claro que o Senhor o atraía mais e mais para a Cruz com estas pequenas demonstrações de predileção.

Os sobrinhos de D. Dolores, as duas amigas de Carmen vindas de Barbastro e uma ou outra pessoa de mais confiança tinham sido convidados para almoçar no andar da Rua Rufas. A modesta refeição combinava a pobreza e o bom gosto. A dona da casa tinha preparado um excelente prato de arroz.

No final da refeição, o sacerdote retirou-se para o seu quarto. Acabavam de lhe comunicar a primeira nomeação da sua carreira eclesiástica. Reviu os acontecimentos dos últimos meses e os golpes recentes, recebidos naquele dia. Tinha razões para pensar que o Senhor mantinha o conhecido martelar: «uma no cravo e cem na ferradura». Desconsolado, a soluçar, protestava filialmente com o Senhor: «Como me tratas, como me tratas!».

Texto tomado da biografia “Josemaría Escrivá – Fundador do Opus Dei”.


Para saber mais

Os anos no seminário de São Josemaria Escrivá. Breve relato biográfico.

Breve vídeo sobre a ordenação sacerdotal de São Josemaria.