A nossa família tornou-se mais sólida

O relato de um favor concedido pela Bem-Aventurada Guadalupe Ortiz de Landázuri, na cidade de Butuan (Filipinas)

No dia 1 de fevereiro, recebi um telefonema do meu irmão a dizer que a nossa única irmã tinha sido internada de urgência no hospital. Estava a ter dificuldade em respirar. Era Covid. Toda a família em Butuan City (Filipinas) ficou a saber disso, incluindo os meus pais.

E todos foram obrigados a ficar de quarentena, como o exigiam os protocolos do governo local. A minha irmã ficou sozinha no hospital. E eu era o único membro da família que restava para atender às necessidades da minha família, mas estava em Manila e não podia voar para Butuan devido às rigorosas restrições de viagens. Tive de coordenar as coisas de longe, com familiares e amigos que viviam lá. Não foi fácil...

Mas ia confiando as coisas à Bem-aventurada Guadalupe. Precisamente em dezembro passado, esta minha irmã (mãe de 2 filhas) foi diagnosticada com uma insuficiência renal. Depois de vários dias a tentar, consegui finalmente ‘estar’ com ela online. Apresentou-me a sua médica assistente, uma senhora de quem fui recebendo atualizações regulares sobre o seu estado. Isso já me causou um grande alívio!

Em 6 de fevereiro, a médica enviou-me uma mensagem a dizer que a minha irmã tinha de se submeter a um tratamento para evitar que o vírus danificasse os seus outros órgãos. Invadiu-me uma sensação de impotência. Gostaria de poder carregar num botão que me transportasse logo para o lado dela.

Enviei à médica uma pagela com a oração à Bem-aventurada Guadalupe, através do Facebook. Surpreendentemente, ela conhecia-a. "Quando andava na Faculdade", disse-me, "costumava frequentar atividades num Centro do Opus Dei". Foi um grande consolo ouvir isto. Achei que a minha irmã ia ser bem cuidada. O tratamento correu bem.

Alguns dias mais tarde, ela precisava de sangue e de oxigénio, difíceis de obter, na altura do surto de Covid em Butuan. Do sítio onde estava, não consegui agilizar as coisas suficientemente depressa. Mas, para minha surpresa, tudo se conseguiu nesse mesmo dia. Não tive de fazer mais nada. Ela já podia agora respirar e os pulmões estavam a clarear.

À hora de almoço de 11 de fevereiro, a minha tia telefonou-me, de Butuan. "A tua irmã está a piorar. Vamos pedir um milagre", disse ela. Foi um choque. Senti-me como se estivesse prestes a chocar contra um muro, indefeso e incapaz. A residência onde eu vivo tem um oratório com o Santíssimo Sacramento. Entrei e supliquei a Deus pela vida da minha irmã. Ela era a pessoa com quem todos contavam, em casa e no seu trabalho. Pedi a Nossa Senhora (era dia de Nossa Senhora de Lourdes) que a acompanhasse.

Publiquei um pedido de oração no Facebook com a pagela à Bem-aventurada Guadalupe. Pedi aos meus amigos para implorarem a Deus, por sua intercessão, o milagre da recuperação e da cura. Muitos amigos me enviaram as suas palavras reconfortantes e de força. Estavam a pedir um milagre. Rezei muitos terços implorando a Deus que desse uma oportunidade à minha irmã, a minha melhor amiga.

Às 23h30m, liguei à nossa empregada, que estava junto da cama da minha irmã. Pedi-lhe que nos pusesse em alta voz. Disse à minha irmã: "Querida, não tenhas medo! Não tenhas medo! A ‘Mamã Mary’ -nossa Mãe Maria- está aí para te ajudar. Reza-lhe, hoje é dia da sua festa". A minha irmã ouvia e concordava, dizia-me a empregada.

Nesse dia, acabei de rezar o meu último terço quando recebi um telefonema da médica assistente. Contou-me os acontecimentos do dia e… deu-me a notícia: "A sua irmã faleceu hoje às 12h45m ".

Não sabia como reagir. Só consegui dizer: "Obrigada por tudo, Dra. Vamos rezar por ela". Depois seguiu-se um longo silêncio.

Liguei primeiro aos meus irmãos, depois aos meus pais, para dar aquela notícia. A primeira reação de todos foi: "Porquê?". Eu perguntei a Deus o mesmo. Estive acordado a noite inteira e não consegui dormir em todo o dia. Continuava a perguntar: "Senhor, porque não ouviste o meu pedido? Porquê? Porque me abandonaste de repente?"

As contas do hospital eram incríveis. Alguns amigos da família e familiares prometeram ajuda financeira, mas para grande surpresa, fomos informados de que uma agência governamental iria cobrir todos os custos, uma vez que a minha irmã foi considerada uma profissional de saúde na linha da frente de Covid. Não era isto um favor concedido?

Todos os membros da família recuperaram de Covid e terminaram sem incidentes a sua quarentena de 14 dias. E sim, este foi outro favor concedido.

Na primeira oportunidade, logo que as restrições para viajar foram aliviadas, fui a Butuan, para acompanhar a minha família. Foi um reencontro emocionado. Nos dias e semanas que se seguiram, dei por mim a acompanhar as frustrações e os arrependimentos de cada um: sentimentos de culpa, de perda e de solidão.

Durante essas semanas, fizemos questão de tomar todas as refeições em família. Quando alguém falava da minha irmã, os outros ouviam; e concordámos em tornar-se um hábito dizer uma oração por ela sempre que isso acontecia. Partilhei com eles a minha devoção à Bem-aventurada Guadalupe. À noite, rezávamos o Terço juntos. Aproximei-me dos meus pais e dos meus irmãos como nunca antes tinha feito, curando mutuamente as nossas feridas do passado, recente e não tão recente. A minha família tem o seu quinhão de conflitos e disfunções.

Com o Father Daryl

O Opus Dei ainda não tem nenhum Centro na cidade de Butuan, mas já vive lá um bom número de cooperadores. Tive o prazer de conhecer o Padre Daryl, um sacerdote cooperador na paróquia, que estudou na Universidade Pontifícia da Santa Cruz, em Roma. Antes da Semana Santa, combinei com ele um encontro para confissões e direção espiritual da minha família. Animei os meus familiares a encontrar-se com ele, pedindo à Bem-aventurada Guadalupe e à minha querida irmã que rezassem por essa intenção. E a verdade é que foram ter com ele. Mais um favor concedido.

As restrições para viajar tornaram-se de novo mais apertadas, desta vez por causa do surto de Covid em Manila. Isso obrigou-me a estar mais tempo com a minha família. Ao longo dessas semanas, durante os nossos passeios, visitas ao cemitério, e conversas pessoais sinceras com os meus pais e com cada um dos meus irmãos, os nossos laços afetivos tornaram-se mais sólidos e mais sobrenaturais. E isso não tem preço. Este era o grande desejo da minha irmã para a família. E isto foi o Céu a responder às nossas orações.

Três meses depois, estou de regresso a Manila. O meu pai, o meu cunhado e os meus irmãos estão de volta ao trabalho. A minha mãe frequenta os seus grupos e atividades semanais na paróquia. Ela e o meu pai estão a desfrutar da companhia dos netos. A minha irmã estará feliz na sua nova Casa, e de lá continua a ajudar-nos incondicionalmente.

J. R.