Evangelho do domingo: a alegria que muda o mundo

Quarto Domingo da Páscoa. “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas”. O bom pastor dá vida, conhece de coração, busca a unidade. É assim que Jesus Cristo é e é assim que Ele quer que sejamos. Só assim experimentamos a verdadeira liberdade. A liberdade dos filhos de Deus, a liberdade de Jesus Cristo, a liberdade da entrega generosa. Jesus Cristo, feliz, muda o mundo com a sua dedicação. Nós, em sua entrega, temos a alegria que muda o mundo.

Evangelho (Jo 10, 11-18)

Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas. O mercenário, que não é pastor e não é dono das ovelhas, vê o lobo chegar, abandona as ovelhas e foge, e o lobo as ataca e dispersa. Pois ele é apenas um mercenário e não se importa com as ovelhas.

Eu sou o bom pastor. Conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem, assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai. Eu dou minha vida pelas ovelhas.

Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil: também a elas devo conduzir; escutarão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor.

É por isso que o Pai me ama, porque dou a minha vida, para depois recebê-la novamente. Ninguém tira a minha vida, eu a dou por mim mesmo; tenho poder de entregá-la e tenho poder de recebê-la novamente; esta é a ordem que recebi do meu Pai.


Comentário

A imagem do bom pastor era bem conhecida pelos ouvintes de Jesus. No Antigo Testamento, Moisés e Davi, antes de Deus os escolher para serem pastores do seu povo, tinham sido pastores de rebanhos. Mais tarde, durante o exílio, Ezequiel falara do próprio Deus como pastor do seu povo: “Como o pastor toma conta do rebanho (...), assim irei visitar as minhas ovelhas e as resgatarei de todos os lugares em que foram dispersadas em dia de nuvens e de escuridão” (Ez 34,12).

Jesus anuncia que esse dia chegou.

Ele mesmo se apresenta como o Bom Pastor.

Ele é o Deus feito Homem que zela pelos homens, que os reúne numa só família, a família dos filhos de Deus, e os alimenta com o seu próprio corpo, para que tenham vida eterna.

Neste discurso do bom pastor, Jesus Cristo diz-nos como é, mas também para onde nos quer levar. Quer converter-nos em bons pastores na nossa vida diária.

Jesus diz três coisas sobre o verdadeiro pastor: dá a vida pelas ovelhas; conhece-as e elas conhecem-no; e busca-as para que vivam no mesmo rebanho, na mesma família[1].

Em primeiro lugar, o pastor dá a vida pelas suas ovelhas.

O mistério da Cruz está no centro da vida de Jesus Cristo.

Cristo despoja-se da sua posição, da sua glória divina, veste as nossas vestes – as vestes da humanidade, da dor, do sofrimento, da solidão, do abandono, semelhante em tudo a nós, exceto no pecado –, deixa-se humilhar até morrer na Cruz e assim se entrega a cada um de nós.

E em cada Eucaristia encontramo-Lo, Cristo o Bom Pastor. Torna-se totalmente presente, pega-nos em suas mãos feridas, abençoa-nos, levanta-nos de novo, dá a Si mesmo como alimento.

E faz isso por nós, para tocar a parte mais íntima da nossa realidade humana, para experimentar toda a nossa existência e curá-la.

Em cada Eucaristia, dá-nos o seu corpo que entrega, o seu sangue que derrama. Dá-nos a força da sua entrega até ao fim. A Eucaristia não termina com a comunhão. Ele quer que vivamos eucaristicamente todos os dias, com o coração em carne viva: que demos a vida pelos outros.

Em segundo lugar, o pastor conhece as ovelhas e as ovelhas conhecem-no.

Mas o conhecimento de Jesus Cristo não é um conhecimento formal. O relacionamento que Ele deseja ter conosco não é um relacionamento rotineiro, impessoal e árido. É uma relação de amor. É um conhecimento do coração.

Jesus Cristo conhece-nos: leva-nos em seu coração. Um coração ferido, trespassado de amor. Que nos grita: “não se esconda, vem até mim, não se canses, toque-me, Eu amo você”.

E ao aproximarmo-nos dele, ao entrarmos no seu coração, Ele dá-nos o seu, para que possamos sentir com o seu coração.

Ele pede-nos que também amemos como Ele, que conheçamos os outros como Ele: de coração. Na Eucaristia, dá-nos o seu corpo para que possamos amar de coração.

Finalmente, o pastor procura a unidade.

Cristo não morreu por alguns, morreu por todos os homens de todos os tempos.

Ele continua procurando-os todos os dias e precisa de nós. No meio da nossa vida, das nossas ruas e praças, dos nossos trabalhos e descansos, das nossas famílias e amizades, das nossas dores e doenças, dos nossos sucessos e fracassos, das nossas idas e vindas. Aí onde vivemos: viver partindo do coração de Jesus Cristo.

Em cada Eucaristia, coloca-nos no seu coração sacerdotal, para que façamos nossos o seu louvor, a sua gratidão, a sua reparação e a sua petição. Dá-nos um coração universal e católico.

O bom pastor dá vida, conhece do coração, procura a unidade.

É assim que Jesus Cristo é e é assim que Ele quer que sejamos. Só assim experimentamos a verdadeira liberdade. A liberdade dos filhos de Deus, a liberdade de Jesus Cristo, a liberdade da entrega generosa.

Jesus Cristo, feliz, muda o mundo com a sua entrega.

Nós, na sua entrega, temos a alegria que muda o mundo.


[1] Cf. Bento XVI, Homilia na Santa Missa de Ordenação Sacerdotal, 7 de maio de 2006.

Luis Cruz // Photo: Pexels - Gustavo Fring