Quarta-Feira de Cinzas

“Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta, e reza ao teu Pai que está oculto. E o teu Pai, que vê o que está escondido, te dará a recompensa”. A oração autêntica de um filho de Deus não fica só em palavras, mas transforma a vida.

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos:

Ficai atentos para não praticar a vossa justiça na frente dos homens, só para serdes vistos por eles. Caso contrário, não recebereis a recompensa do vosso Pai que está nos céus.

Por isso, quando deres esmola, não toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem elogiados pelos homens. Em verdade vos digo: eles já receberam a sua recompensa. Ao contrário, quando deres esmola, que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua mão direita, de modo que, a tua esmola fique oculta. E o teu Pai, que vê o que está oculto, te dará a recompensa.

Quando orardes, não sejais como os hipócritas, que gostam de rezar em pé, nas sinagogas e nas esquinas das praças, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo: eles já receberam a sua recompensa. Ao contrário, quando tu orares, entra no teu quarto, fecha a porta, e reza ao teu Pai que está oculto. E o teu Pai, que vê o que está escondido, te dará a recompensa.

Quando jejuardes, não fiqueis com o rosto triste como os hipócritas. Eles desfiguram o rosto, para que os homens vejam que estão jejuando. Em verdade vos digo: Eles já receberam a sua recompensa. Tu, porém, quando jejuares, perfuma a cabeça e lava o rosto, para que os homens não vejam que tu estás jejuando, mas somente teu Pai, que está oculto. E o teu Pai, que vê o que está escondido, te dará a recompensa.


Comentário

Hoje começa a Quaresma, os quarenta dias de preparação para a Páscoa, e a Igreja, como em todos os anos, levanta a voz para lembrar aos cristãos a chamada à penitência e à conversão pessoal.

A cor roxa das vestes sacerdotais e do véu que cobre o sacrário penetra em nossos olhos e a sentença “lembra-te, homem, que és pó da terra, e à terra hás de voltar” nos introduz neste tempo litúrgico que antecede os mistérios centrais da nossa fé.

Na passagem do Evangelho que a Igreja nos convida a meditar hoje, o Senhor considera os atos fundamentais da piedade individual: a esmola, o jejum e a oração.

Não há maior sacrifício que um coração puro (cfr. Salmo 50). Por isso, Jesus, diante de um possível cumprimento meramente externo destas práticas, ensina-nos que a verdadeira piedade deve ser vivida com retidão de intenção, na intimidade com Deus e fugindo de toda a ostentação.

Conseguimos a pureza de coração por meio de uma comunhão íntima com o Senhor. A oração, necessariamente, tem de ser uma ação marcada pela simplicidade e pela veracidade. Com ela, procuramos o Senhor e nos deixamos encontrar por Ele.

“Que nossa mente seja conforme ao que dizem os nossos lábios”, escrevia são Bento na sua famosa Regula. E agora, neste tempo de especial penitência, podemos desejar também que os nossos sentidos, o nosso corpo e todas as nossas ações estejam também em conformidade com o que dizemos.

Por isso, a oração está tão ligada ao jejum e à esmola. Um diálogo pessoal e amoroso com nosso Pai Deus que não seja acompanhado de obras dificilmente mostrará uma oração autêntica, uma oração que dá vida aos outros e que muda a nossa vida.

Pablo Erdozáin // Foto: Exe Lobaiza - Cathopic