Evangelho (Mt 7,1-5)
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: Não julgueis, e não sereis julgados. Pois, vós sereis julgados com o mesmo julgamento com que julgardes; e sereis medidos, com a mesma medida com que medirdes.
Por que observas o cisco no olho do teu irmão, e não prestas atenção à trave que está no teu próprio olho? Ou, como podes dizer ao teu irmão: 'deixa-me tirar o cisco do teu olho', quando tu mesmo tens uma trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu próprio olho, e então enxergarás bem para tirar o cisco do olho do teu irmão.
Comentário
Jesus instrui seus discípulos a serem misericordiosos em seus julgamentos sobre os outros. Isto é central para o próprio cristianismo. Qualquer que seja a ofensa que o próximo tenha cometido, o discípulo deve a sua salvação a Nosso Senhor, perante cujo tribunal todos devem comparecer e prestar contas. Esta salvação se deve a sua extraordinária misericórdia, como testemunham suas palavras na cruz: “perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem” (Lc 23,34).
Toda essa misericórdia está disponível; mas como podemos esperar que ela se aplique a nós se não aprendemos a lição e nós não praticamos a misericórdia? Portanto, nunca devemos condenar nosso próximo. O discípulo deve ser muito positivo em relação aos outros e ter o coração disponível para perdoar as falhas, sejam elas reais ou sentidas.
É possível que Jesus estivesse falando especialmente aos fariseus ao mencionar a pessoa com uma trave no olho que julga injustamente os menos afortunados do que ela; no entanto, o ensinamento em si tem aplicação universal. A misericórdia evita muitos males; ela vai diretamente contra a nossa dureza de coração, que é expressão do nosso orgulho, e nos endurece contra a ação do Espírito Santo.
Os juízos que fazemos são frutos dos nossos pensamentos invisíveis, e é por isso que São Josemaria escreve: “Não admitas um mau pensamento acerca de ninguém, mesmo que as palavras ou obras do interessado deem motivo para assim julgares razoavelmente” (São Josemaria Escrivá, Caminho 442).
A misericórdia é um dos temas mais constantes da pregação de nosso Senhor, e Ele a praticou em suas interações com pessoas de todos os tipos, mesmo com as que a Lei apontava como pecadores. Ele chegou até as “periferias”, palavra usada pelo Papa Francisco para descrever aqueles que não estão em um bom lugar e precisam de ajuda. Portanto, seguindo o exemplo de Jesus, o cristão deve saber amar todos os tipos de pessoas, perdoa-las e perseverar com elas. Este é o caminho da caridade, que, como diz São Paulo, “é paciente, é benigna ... desculpa tudo, crê tudo, espera tudo, suporta tudo” (1 Cor 13,4 e 7).