Comentário do Evangelho: Encontrareis descanso

Evangelho do 14º Domingo do Tempo Comum (Ano A) e comentário ao evangelho da Missa

Evangelho (Mt 11,25-30)

Jesus pôs-se a dizer:

“Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado.

Tudo me foi entregue por meu Pai, e ninguém conhece o Filho, senão o Pai, e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar.

Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vós encontrareis descanso. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.”


Comentário

Jesus faz uma oração em voz alta e o evangelista menciona quais foram as palavras concretas com as que se dirigiu a Deus. “Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos” (Mt 11,25-27). Chama-o Pai e se alegra com a sua predileção pelos pequeninos e de que a eles sejam reveladas as coisas mais profundas. Com efeito, Deus se alegra com as crianças já que, como lembra o Papa Francisco, “as crianças são em si uma riqueza para a humanidade e também para a Igreja, porque nos chamam constantemente à condição necessária para entrar no Reino de Deus: a de não nos considerarmos autossuficientes, mas necessitados de ajuda, de amor, de perdão. E todos nós precisamos de ajuda, de amor, de perdão!”[1].

São Josemaria experimentou essa predileção divina que, quando quer, ilumina os corações de quem o procura com simplicidade, para que penetre na intimidade divina e capte o que implica o ser filhos de Deus. Uma experiência singular que teve lugar em um dia concreto, 16 de outubro de 1931. Anos depois, São Josemaria relembrava o que viveu naquele dia, vendo cumpridas em si mesmo as palavras de Jesus que Mateus recolhe: “Até poderia dizer-vos quando, em que momento, onde foi aquela primeira oração de filho de Deus. Aprendi desde criança, no Pai-Nosso, a chamar Pai a Deus, mas sentir, ver, admirar esse querer de Deus de que sejamos seus filhos..., foi na rua e num bonde – durante uma hora, hora e meia, não sei – Abba Pater! tinha de gritar. Há no Evangelho umas palavras maravilhosas, todas o são: ‘Ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar’. (Mt 11,27). Naquele dia, naquele dia, Ele quis de uma maneira explícita, clara, terminante que, comigo, vós vos sentísseis sempre filhos de Deus, deste Pai que está nos céus e que nos dará o que pedirmos em nome do seu Filho”[2].

Jesus nos deu exemplo dessa humildade e simplicidade que admira nas crianças. Assim nos explicava São Josemaria enquanto meditava esta passagem do evangelho: “Jesus Cristo, Senhor Nosso, propõe-nos com muita frequência na sua pregação o exemplo da sua humildade: Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração. Para que tu e eu saibamos que não há outro caminho, que só o conhecimento sincero do nosso nada encerra a força capaz de nos atrair a graça divina. Por nós, Jesus veio padecer fome e alimentar, veio sentir sede e dar de beber, veio vestir-se da nossa mortalidade e vestir de imortalidade, veio pobre para fazer ricos[3].

Na cena do evangelho que estamos considerando, Jesus, depois de manifestar a sua alegria pela predileção de Deus pelos que são simples, como as crianças, acrescenta algo muito consolador: “Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu vos darei descanso” (Mt 11,28). Porém, coloca uma condição para proporcionar o descanso: “Tomai sobre vós o meu jugo” (Mt 11,29). Bento XVI se perguntava: “O que é este ‘jugo’, que em vez de pesar alivia, e em vez de esmagar conforta? O ‘jugo’ de Cristo é a lei do amor, é o seu mandamento, que Ele deixou aos seus discípulos (cf. Jo 13, 34; 15, 12). O verdadeiro remédio para as feridas da humanidade, quer materiais, como a fome e as injustiças, quer psicológicas e morais causadas por um falso bem-estar, é uma regra de vida baseada no amor fraterno, que tem a sua fonte no amor de Deus. Por isso é preciso abandonar o caminho da arrogância, da violência utilizada para obter posições de poder sempre maiores, para garantir o sucesso a qualquer preço”[4].


[1] Papa Francisco, Audiência geral, quarta-feira 18 de março de 2015.

[2] São Josemaria, Diálogo com o Senhor, Rezar com mais urgência (Meditação de 24-XII-1969), n. 3.

[3] São Josemaria, Amigos de Deus, n. 97.

[4] Bento XVI, Ângelus, 3 de julho de 2011

Francisco Varo