Meditações: Domingo de Páscoa

Reflexão para meditar no Domingo de Páscoa. Os temas propostos são: A Ressurreição volta a acender a vida das santas mulheres; Pedro e João correm até o sepulcro; Junto a Nossa Senhora na alegria da Ressurreição.

- A Ressurreição volta a acender a vida das santas mulheres;

- Pedro e João correm até o sepulcro;

- Junto a Nossa Senhora na alegria da Ressurreição.


AMANHECE em Jerusalém. A escuridão enchia tudo até que o sol começou a iluminar as muralhas, o Templo, as torres da fortaleza ... Maria Madalena e outras mulheres caminham em direção ao noroeste da cidade, onde está o Calvário. As ruas estão vazias. Elas têm a impressão de que a morte de Jesus escureceu a terra para sempre: o sol não brilhará da mesma forma como quando seu mestre estava com elas. No entanto, elas não se importam com a falta de luz, nem com a guarda colocada ali pelo Sinédrio, nem que Cristo esteja morto há três dias. Elas não sabem quem vai remover a pedra que fecha o túmulo, mas não estão dispostas a ficar em casa. Voltam a passar pelos lugares por onde Jesus andou; seus corações estremecem novamente, mas não cedem diante do medo.

“A fé destas mulheres me comove – dizia São Josemaria –, e traz-me à memória tantas coisas boas da minha mãe, como vocês recordarão também muitos detalhes maravilhosos da sua (...). Aquelas mulheres sabiam dos soldados, sabiam que o sepulcro estava completamente fechado: mas gastam seu dinheiro, e às primeiras luzes da manhã vão ungir o corpo do Senhor (...). É necessário ser valentes! (...). Quando elas chegaram ao túmulo, notaram que a pedra estava afastada. Isso sempre acontece. Quando nos decidimos a fazer o que temos que fazer, as dificuldades são facilmente superadas”[1].

Vamos pedir a elas esse amor a Jesus, mais forte que o tremendo sofrimento da Paixão. No coração daquelas mulheres, a fogueira que o próprio Cristo acendeu não havia se apagado totalmente. Elas madrugaram e não foi em vão. Deus não resiste a um amor assim e lhes entrega a melhor notícia, a página definitiva em que se cumprem todas as profecias: “‘Ressuscitei e estou contigo para sempre’, diz a cada um de nós. A minha mão te mantém. Onde quer que possas cair, cairás em minhas mãos. Estou presente até mesmo nas portas da morte. Onde ninguém já não pode acompanhar-te e aonde nada podes levar, ali eu te espero e transformo para ti as trevas em luz”[2].


ELAS CORREM ALEGRES, embora ainda um pouco confusas, ao Cenáculo para anunciar aos apóstolos o que viram. Para eles parece loucura o que ouvem dos lábios dessas mulheres que chegam ofegantes pela corrida. Suas palavras se misturam com lágrimas e manifestações de alegria pela tensão do momento. Pedro e João querem saber tudo sobre seu mestre e, ainda que talvez não estejam convencidos do que ouvem, saem correndo: “Os dois corriam juntos, mas o outro discípulo correu mais depressa que Pedro e chegou primeiro ao túmulo” (Jo 20,4). Queremos correr com eles e até chegar antes de João. E se for verdade o que as mulheres estão dizendo? E se Jesus cumpriu o que prometeu? Cruzando as ruas, enquanto o dia irrompia, a esperança vai crescendo no coração desses dois apóstolos.

Concentremos o nosso olhar, por um momento, em São Pedro, que “não ficou sentado pensando, não ficou fechado em casa como os outros. Não se deixou enredar pela atmosfera pesada daqueles dias, nem se aliciar pelas suas dúvidas; não se deixou absorver pelos remorsos, o medo e as maledicências sem fim que não levam a nada. Procurou Jesus, não a si mesmo. (...) Isto foi o início da ‘ressurreição’ de Pedro, a ressurreição do seu coração. Sem ceder à tristeza nem à escuridão, deu espaço à voz da esperança: deixou que a luz de Deus entrasse no seu coração, sem a sufocar”[3].

Embora, como Pedro, alguma vez tenhamos negado Jesus, também como Pedro queremos voltar a estar perto d’Ele: “É o momento de renovar-se, meus filhos – dizia São Josemaria – santidade é isso: cada dia renascer, cada dia recomeçar. Não se preocupem com os seus erros, se vocês têm a boa vontade de começar de novo (...). Esses obstáculos que surgem no seu caminho, coloque-os aos pés de Jesus Cristo, para que Ele fique bem alto, para que triunfe: e você, com Ele. Não se preocupe nunca, retifique, volte a começar, tente uma e outra, que no fim, se você não puder, o Senhor o ajudará a saltar o parapeito, o parapeito da santidade. Este é também um modo de se renovar, é um modo de vencer-se: cada dia uma ressurreição, que seja a certeza de que chegaremos ao fim do nosso caminho, que é o amor”[4]


MARIA, a mãe de Jesus, não foi ao túmulo nesta manhã. Ela ficou em casa e talvez estivesse sorrindo por dentro. Ninguém, exceto ela, conseguia realmente aceitar o desígnio de Deus Pai; os outros “ainda não tinham compreendido a Escritura, segundo a qual ele devia ressuscitar dos mortos” (Jo 20,9). Maria costumava guardar no coração as palavras de Jesus: desde aquela sexta-feira de dores, procurava concentrar-se nas maravilhas que Jesus tinha dito e feito. Possivelmente, viriam ao seu coração essas palavras misteriosas falando da ressurreição no terceiro dia. Nada mais, vindo de seu Filho, a surpreendia.

Para nós, mais de dois mil anos depois dos acontecimentos que contemplamos, a Sexta-Feira Santa e a Ressurreição de Jesus continuam a dar força e sentido às nossas vidas. Por isso, “todas as coisas da terra têm a importância que queiramos dar-lhes. Tudo o que acontecer aqui embaixo, se estamos impregnados de Deus, não nos perturbará. Quando, por causa da nossa fraqueza e dos nossos erros, damos importância a essas minúcias e sofremos, é porque queremos. Junto do Senhor, estamos seguros. Unidos à Cruz de Cristo, à glória da Ressurreição e ao fogo de Pentecostes, tudo se supera”[5].

São Josemaria gostava de saber-se muito próximo de Nossa Senhora, especialmente durante a alegria pascal, “sempre seguros na vitória da Ressurreição”[6]. Ao rezar o Regina Coeli, poderemos arrancar muitos sorrisos de nossa Mãe, santamente orgulhosa de seus filhos recém-nascidos, renovados pela Páscoa. Vamos dizer “Alegrai-vos, Virgem Maria”, com o desejo de nos juntarmos a essa alegria, sabendo que Jesus permanece conosco para sempre.


[1] São Josemaria, Meditação, 29/03/1959.

[2] Bento XVI, Homilia, 7/04/2007.

[3] Francisco, Homilia, 26/03/2016.

[4] São Josemaria, Meditação, 29/03/1959.

[5] Ibíd.

[6] Ibíd.