Meditações: 19 de dezembro

Reflexão para meditar no dia 19 de dezembro. Os temas propostos são: Confiança e temor de Zacarias; as lições do silêncio; confiar em Deus.

– Confiança e temor de Zacarias

– As lições do silêncio

– Confiar em Deus


ZACARIAS e Isabel “eram justos diante de Deus, e obedeciam fielmente a todos os mandamentos e ordens do Senhor” (Lc 1, 6). O Antigo Testamento está chegando à sua plenitude. O Messias está prestes a chegar, e a Igreja propõe-nos a consideração da fé deste casal. São Josemaria dialogava frequentemente com as personagens do Evangelho que conviveram de perto com Jesus: “Esta manhã, comecei a pedir por todas as coisas a Santa Isabel, e a seguir passei a falar com seu filho João e com Zacarias; e depois com a Virgem, com São José e com Jesus. É que, neste trato com o Senhor, acontece o mesmo que nas amizades humanas: o círculo de conhecidos amplia-se por meio dos amigos”[1].

Desejamos preparar-nos para a vinda iminente do Salvador aprendendo do Evangelho a confiar em Deus. É verdade que costumamos ter muitas razões que nos levam a confiar mais na nossa experiência ou na nossa visão das coisas. Por isso a pergunta feita por Zacarias, com certo tom de dúvida nos parece tão familiar: “Como terei certeza disto?” (Lc 1, 18). Foi à procura de certezas, mas deparou-se com um eloquente silêncio divino, até que se cumpriu aquilo que tantas vezes tinha pedido ao Senhor.

Talvez o pai de João Batista tivesse medo de não estar à altura. Nós também procuramos referências, seguranças, desculpas. Argumentou que já não tinha idade, que a sua mulher não tinha condições. Acontece sempre o mesmo: quando olhamos para nós mesmos, pensamos que podemos levar os planos de Deus ao fracasso. Parece-nos que somos decisivos e imprescindíveis, e o medo bloqueia-nos. “Num mundo em que corremos o risco de confiar unicamente na eficácia e no poder dos meios humanos, neste mundo somos chamados a redescobrir e dar testemunho do poder de Deus que se comunica na oração”[2]. O Evangelho de hoje convida-nos precisamente a isso: a confiar em Deus. Apesar de ter duvidado, Zacarias deve ter ficado repleto de alegria ao ouvir o anúncio de Gabriel: “Não tenhas medo, Zacarias, porque Deus ouviu tua súplica” (Lc 1, 13).


QUANTAS coisas Zacarias teve de aprender ao longo daqueles meses de silêncio! Todos intuíam que tinha tido uma visão. Não podia falar, mas o seu rosto refletia algo mais que o falar: de certo modo, tinha-se tornado extraordinariamente expressivo. Seguramente passou muitos dias em intensa oração; aquele silêncio conferiu-lhe uma especial proximidade com Deus. Quando por fim voltou a falar, as suas palavras demonstram que esse tempo tinha-lhe servido para se preparar melhor para a vinda do seu filho, o Precursor, e do seu parente, o Messias esperado: “No mesmo instante, a boca de Zacarias se abriu, sua língua se soltou, e ele começou a louvar a Deus” (Lc 1, 64).

Zacarias não cabia em si de contente. Nessas semanas seguramente também reconheceu o valor de muitos gestos comuns, muito significativos quando não há palavras: um gesto, uma carícia, um sorriso. Isabel procuraria intuir o que ele queria dizer. Bastava-lhes olhar um para o outro e partilhar o que Deus tinha feito nas suas vidas. Quiseram viver na intimidade esse presente do Senhor, saboreá-lo juntos e em silêncio. Deus tinha-Se manifestado e não havia mais nada a dizer: era o momento de se regozijarem e de sonhar. “O temor apoderou-se de todos os seus vizinhos e divulgaram-se todas estas maravilhas por todas as montanhas da Judeia. Todos os que as ouviram as ponderavam no seu coração, dizendo: ‘O que virá a ser este menino?’ De fato, a mão do Senhor estava com ele” (Lc 1, 65-66).

A experiência de Zacarias ensina-nos que também nós podemos conhecer melhor os planos de Deus através das pessoas e dos eventos que temos à nossa volta. E que talvez não tenhamos compreendido antes porque ouvíamos demais a nós mesmos. “É necessário aprender a confiar e a silenciar diante do mistério de Deus, e a contemplar com humildade e silêncio a sua obra, que se revela na história e que muitas vezes supera a nossa imaginação”[3].

Quando fazemos silêncio e ouvimos o Senhor, enchemo-nos de imensa alegria, como sucedeu a Zacarias e Isabel, ao ver que Deus nos abençoa, mesmo quando e onde não esperávamos.


COM FREQUÊNCIA, amar e deixar-se amar implica não dizer ao outro como tem de fazer as coisas. O amor deixa a pessoa amada livre para se expressar como quiser. Não lhe dita nem exige maneiras de manifestar o carinho. Algo semelhante acontece na nossa relação com Deus: ficamos entusiasmados com deixarmo-nos surpreender pelo Senhor. A graça não é previsível – é livre e criativa. Zacarias pôde comprovar como é maravilhosa a iniciativa divina. Descobriu que a confiança sempre recebe o seu prêmio e que Deus está perto em todos os momentos, ainda que não pareça: “Não Te fies de mim. Eu, sim, é que me fio de Ti, Jesus. Abandono-me em teus braços. Aí deixo o que tenho: as minhas misérias!”[4].

Preparando o nosso coração para a chegada do Menino Jesus, podemos pedir a este santo varão a sua fé, o seu entusiasmo e a sua paciência. Fé para pedir durante anos um milagre que acabou por se realizar quando já não havia esperança; entusiasmo para sonhar com o Messias e com a salvação que traria a Israel; e paciência consigo mesmo enquanto aprende a buscar a segurança em Deus. O amor pressupõe sempre um risco, porque não é possível garanti-lo; depende da vontade de quem nos ama. Por isso pedimos a Zacarias que nos ajude nos momentos de inquietação, quando temos que confiar apenas em Deus. Ele é a nossa segurança. Santa Teresa afirmava-o com poucas palavras, mas com grande firmeza: “confiai em Sua bondade, pois Ele nunca faltou aos seus amigos”[5].

“Ressoa muitas vezes no Evangelho este não temais: parece o estribilho de Deus à procura do homem. Porque o homem, desde o princípio, por causa do pecado tem medo de Deus: ‘tive medo (…) e escondi-me’ (Gn 3, 10), diz Adão, depois do pecado. Belém é o remédio para o medo, porque ali, não obstante os ‘nãos’ do homem, Deus diz sempre ‘sim’: será para sempre Deus conosco. E para que a sua presença não provoque medo, faz-Se um menino”[6].

Podemos pedir a Nossa Senhora que saibamos confiar em Deus, na sua bondade e no seu carinho; que não procuremos controlar o Senhor e que nos deixemos surpreender pela sua Providência amorosa.


[1] Javier Echevarría, Recordações sobre Mons. Escrivá, Quadrante, São Paulo, 2001, p. 248.

[2] Bento XVI, Audiência Geral, 13/06/2012.

[3] Francisco, Ângelus, 24-VI-2018.

[4] São Josemaria, Caminho, n. 113.

[5] Santa Teresa de Jesus, Livro da Vida, 11, 12.

[6] Francisco, Homilia, 24/12/2018.