Meditações: 22 de maio, chegada de São Josemaria ao Brasil

No dia 22 de maio recordamos a chegada de São Josemaria ao Brasil. Oferecemos uma meditação para refletir sobre a mensagem que o fundador do Opus Dei deixou aos brasileiros.

Maio de 1974: No Brasil e desde o Brasil

São Josemaria visitou o Brasil de 22 de maio a 7 de junho de 1974. Ficou encantado ao conhecer a variedade de raças e culturas do povo brasileiro e abriu para nós perspectivas de apostolado universal, que ficaram sintetizados num lema, que São Josemaria repetiu diariamente, e que para nós ficou como um programa a realizar “No Brasil e a partir do Brasil!”

A seguinte meditação nos ajudará a considerar as luzes e bênçãos que Deus, por intermédio de São Josemaria, concedeu a seus filhos e filhas brasileiros. Os temas propostos são:

- São Josemaria no Brasil: “os olhos veem pelo coração”

- A “Bênção patriarcal”

- Dilataste o meu coração


O PADRE ANTÔNIO VIEIRA dizia, num sermão de 1669, que “os olhos veem pelo coração”. Foi através de seu coração repleto de amor a Deus e de vibração apostólica que São Josemaria viu o Brasil, desde que aterrissou nesta terra.

Apenas dois dias depois de sua chegada a São Paulo, em 25 de maio de 1974, comentava, num dos primeiros encontros que teve com grupos numerosos de pessoas:

Faz pouco mais de quarenta e oito horas que estou aqui e já aprendi muito. Aprendi que este país é um país maravilhoso, que há almas ardentes, que há pessoas que valem um tesouro diante de Deus nosso Senhor; que vocês sabem trabalhar e mexer-se; que sabem formar famílias numerosas, recebendo os filhos como o que eles são, um dom de Deus...”

Tanta terra e tão fecunda, tão formosa! Eu creio que as vossas almas são como esta terra: aqui tudo é generoso, tudo é abundante; os frutos deste país são mais doces, mais fragrantes... E, depois, vocês têm os braços abertos a todo o mundo: aqui não há distinções. Poderíamos repetir palavras da Escritura: gentes de todos os povos aqui encontram a Pátria, uma Pátria amadíssima. Eu já me sinto brasileiro... Meus filhos, tenho um grande remorso; não ter vindo antes ao Brasil”.

“O Brasil! – Exclamava no Parque Anhembi –. A primeira coisa que eu vi é uma mãe grande, bela, fecunda, terna, que abre os braços a todos, sem distinção de línguas, de raças, de nações, e a todos chama filhos. Grande coisa é o Brasil! Depois, eu vi que vocês se tratam de uma maneira fraterna, e fiquei comovido”.

Eram palavras amáveis? Não, era muito mais do que isso. São Josemaria queria despertar os corações dos brasileiros que o escutavam para que compreendessem que os grandes dons naturais recebidos de Deus eram, ao mesmo tempo, um fortíssimo apelo para assumir grandes responsabilidades. Por isso, dizia:

Esta terra é grande, e precisa de temperamentos grandes em todos os setores, em qualquer tarefa, porque não há tarefa pequena. Então, toca a mexer-se, a fazer muitas coisas boas nesta terra, que é tão feraz.

No Brasil há muito a fazer – acrescentava, como quem conclama a assumir essa responsabilidade −, porque há pessoas precisadas até das coisas mais elementares. Não só de instrução religiosa – há tantos sem batizar! –, como também de elementos de cultura comum. Temos de promovê-los de tal maneira que não haja ninguém sem trabalho, que não haja um ancião que se preocupe porque esteja mal assistido, que não haja um doente que se encontre abandonado, que não haja ninguém com fome e sede de justiça, e que não saiba do valor do sofrimento”.

E alargava essas perspectivas cristãs para horizontes espirituais:

Neste país, naturalmente, vocês abrem os braços a todo o mundo e o recebem com carinho. Eu quereria que isso se convertesse num movimento sobrenatural, num empenho grande de dar a conhecer a Deus a todas as almas; de se unirem, de fazer o bem não só neste grande país, mas no mundo todo. Podem! E devem!

“Vocês têm que fazer sobrenaturalmente o que fazem naturalmente; e depois, levar esse empenho de caridade, de fraternidade, de compreensão, de amor, de espírito cristão a todos os povos da terra. Entendo que o povo brasileiro é e será um grande povo missionário, um grande povo de Deus, e que vocês saberão cantar as grandezas do Senhor por toda a terra”.


DIA 29 DE MAIO, QUARTA-FEIRA. Na sala de estar da sede onde reside o Vigário do Opus Dei para o Brasil, reuniu-se um bom grupo de fiéis da Obra mais antigos, muitos deles responsáveis por funções diretivas ou formativas.

A tertúlia transcorreu num clima de especial intimidade, muito familiar. Pipocar alegre de perguntas, relatos, detalhes de humor e mergulhos no oceano do amor de Deus e dos sonhos apostólicos (como sabia fazer tão naturalmente São Josemaria). Terminou a tertúlia, e o Padre ia saindo da sala quando alguém pediu que lhes desse a bênção, como de costume. Deteve-se. Todos se ajoelharam e, quando esperavam ouvir uma das fórmulas habituais de bênção, ficaram emocionados, porque escutaram palavras inesperadas:

– “Que vos multipliqueis:

como as areias das vossas praias,

como as árvores das vossas montanhas,

como as flores dos vossos campos,

como os grãos aromáticos do vosso café.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”.

O Padre saiu rapidamente. Quietos, sem reação, os presentes ficaram uns instantes sem saber o que dizer. Nessa bênção vislumbravam-se todos os horizontes que São Josemaria abrira, todo o futuro do trabalho apostólico do Opus Dei no Brasil.

D. Álvaro comentaria, pouco depois, que o Padre nos tinha dado a bênção dos patriarcas. Certamente, tinha um sabor bíblico. E, fazendo eco a D. Álvaro, o Dr. Xavier cunhou uma expressão que ficou até hoje: “Pela primeira vez na vida, o Padre deu uma bênção patriarcal”. É assim que sempre a recordo: “A bênção patriarcal”. E, como as bênçãos dos patriarcas, obteve de Deus frutos abundantes.

Tão gravada ficou essa bênção em todos – bênção que o fundador do Opus Dei, com algumas variantes, repetiu em outras duas ocasiões –, que se decidiu deixá-la gravada em uma pequena placa de prata. Quando o Dr. Xavier e outros diretores a mostraram ao Padre, ele reclamou carinhosamente. Achou uma despesa desnecessária, um desperdício. Acabou, porém, aceitando-a, ao perceber o que significava para seus filhos brasileiros. E, assim, um exemplar da placa está na sede do governo do Opus Dei no Brasil e outro em Roma.

No dia em que se despediu das suas filhas, alguém estava com essa placa na mão. São Josemaria, cordialmente, comentou:

– “Este Brasil da minha alma, que me fez poeta! Dei-vos a bênção dos patriarcas sem me dar conta”.


A PLACA COM A BÊNÇÃO PATRIARCAL não foi a única recordação simbólica perpetuada em uma peça artística.

Um Centro da Obra, em São Paulo, dedicado a atividades com universitárias, tem – na ampla parede do vestíbulo que dá acesso ao oratório – um panô grande em veludo bege claro. Todo ele está ornado com sanefas, mapas e dizeres, feitos em pirogravura e suavemente coloridos. Abraçando toda a ampla moldura, repetem-se as palavras do lema “No Brasil e a partir do Brasil” (En el Brasil y desde el Brasil), que foi como um leit-motif de São Josemaria na sua permanência em São Paulo. A maior parte do panô é ocupada por um planisfério, em que aparecem os perfis dos cinco continentes. E no coração da tapeçaria podem ler-se, em latim, os seguintes dizeres:

22 de maio de 1974

Dilatasti cor meum

[Dilataste o meu coração]

7 de junho de 1974

Entre a data de chegada do Padre ao Brasil e a data de saída, estão inscritas as palavras do versículo 32 do Salmo 118: “Dilataste o meu coração”.

A bênção patriarcal, sem o pretender, foi a proposta de um programa apostólico para todo o futuro. O reposteiro foi a resposta dada ao Padre por suas filhas e seus filhos brasileiros. Era como dizer-lhe: “Não esqueceremos. Com a graça de Deus, entendemos. O Padre alcançou de Deus que o nosso coração, sempre acanhado demais, se dilatasse, se tornasse muito maior, e se abrisse ao mundo inteiro”.

Gravado a fogo no veludo, esse versículo – dilatasti cor meum! – ajudará a todos a manter o coração aberto para os horizontes divinos de apostolado que Deus desfraldou, diante de seus olhos através de São Josemaria Escrivá.


Foto: São Josemaria no dia 02 de junho de 1974, no Palácio Mauá.