Sem grande dificuldade, poderíamos encontrar na nossa família, entre os nossos amigos e companheiros – para não me referir ao imenso panorama do mundo -, tantas outras pessoas mais dignas que nós de receberem a chamada de Cristo. Mais simples, mais sábias, mais influentes, mais importantes, mais agradecidas, mais generosas.
Eu, ao pensar nestes pontos, sinto-me envergonhado. Mas percebo também que a nossa lógica humana não serve para explicar as realidades da graça. Deus costuma procurar instrumentos fracos, para que se perceba claramente que a obra é dEle. (…) Fomos chamados sem mérito algum da nossa parte, dizia: porque na base da vocação encontra-se o conhecimento da nossa miséria, a consciência de que as luzes que iluminam a alma – a fé -, o amor com que amamos – a caridade – e o desejo que nos sustém – a esperança -, são dons gratuitos de Deus. Por isso, não crescer em humildade significa perder de vista o propósito da eleição divina: ut essemus sancti, a santidade pessoal.
E agora, partindo dessa humildade, podemos compreender toda a maravilha da chamada divina. A mão de Cristo colheu-nos de um trigal: o semeador aperta em sua mão chagada o punhado de trigo. O sangue de Cristo banha a semente, empapa-a. Depois, o Senhor lança ao ar esse trigo, para que, morrendo, seja vida e, afundando-se na terra, seja capaz de multiplicar-se em espigas de ouro. (É Cristo que passa, 3)