Uma questão de prioridades

Chef, dono de restaurante e pai de família. Como equilibrar trabalho e vida familiar? Como ajudar os funcionários a desfrutar de suas famílias? Francisco conta a sua experiência, em primeira pessoa.

Meu nome é Francisco, tenho 34 anos, sou de Badajoz e sou cozinheiro. Venho de uma família grande e constituí uma família grande. Tenho um restaurante e dediquei a vida toda a este ramo. Fiz curso de Administração de Empresas Hoteleiras e Cozinha e é esse o meu trabalho.

Uma coisa que teve muita influência na minha vida foi participar, com o Clube Puentenuevo da JMJ de Madri, e estar com o Papa. Quando cheguei, vi muitos jovens, esta sensação me encantou: sentir-se integrado, saber-se um entre outros, perceber que há muita gente com nossas mesmas convicções, reconforta. Penso que o trabalho que se faz nos clubes é muito importante, porque desde pequenos nos relacionamos com outros que têm os mesmos ideais... Tudo passa da moda exceto ser cristão, isso não sai de moda: já é assim há 2.000 anos e sem dúvida continuará durante mais 2.000 anos.

Estudei em um colégio relacionado com a Obra, El Tomillar, em Badajoz; sempre estive em contato com a Obra, através do clube Puentenuevo, por intermédio do colégio, do meu pai que é também supernumerário.... Procurei viver uma vida cristã intensa, por assim dizer, pois desde os meus dezenove anos vou à Missa quase todos os dias. Sempre me relacionei muito de perto com Deus, gostava de rezar para estar perto d’Ele até que chegou o momento em que vi que a vocação à qual Deus me chamava era o Opus Dei e tomei a decisão de pedir a admissão à Obra faz dois anos.

É verdade que dar esse passo de pedir a admissão constitui sempre algo que gera dúvidas pelo compromisso e uma vez que você o deu, arrepende-se, no entanto, de não ter feito isso antes, porque a Obra se baseia no recomeçar. Se mais gente soubesse disso, mais gente se aproximaria do Opus Dei. Recomeçar cada dia é reconhecer que errei e que Deus não se cansa de me perdoar, antes sou eu que me canso, às vezes, de pedir perdão. Na Obra você se sente apoiado, seguro, ajudado no modo correto de viver o seu caminho cristão.

Nestes dois anos, fazer parte da Obra foi para mim um modo de confirmar tudo o que eu conhecia por minhas raízes e que tinha vivido na minha família e aprendido com meu pais, que também são da Obra. Muitas vezes, nós estudamos Religião no colégio e a isso se acrescenta a formação que recebemos em casa, mas chega um momento, quando você está no meio do mundo, por assim dizer, em que você nota que precisa deste constante apoio, da preparação recebida nos meios de formação, da ajuda para estar mais perto de Deus, que lhe recorda como oferecer-lhe o trabalho e a vida familiar: graças à Obra sinto-me uma pessoa mais feliz e mais comprometida com as minhas tarefas normais.

Meu trabalho, como cozinheiro e proprietário de um restaurante, é bastante intenso em horas, 24/7: vinte e quatro horas por dia e sete dias por semana. Estou exagerando, não é tanto assim, mas é verdade que me levanto muito cedo e me deito muito tarde trabalhando: como cozinheiro e dono, faço um pouco de tudo.

A família é a prioridade da minha vida. Foi o que vivi em minha casa desde pequeno, na casa dos meus pais, e é o que eu quero na minha casa, com minha mulher e meus filhos. Sou membro de uma família numerosa, tenho cinco irmãos. Fomos criados com muito amor, com muito carinho, com muita proximidade uns dos outros. Nossos pais sempre inculcaram em nós esses valores: Deus e a família estão em primeiro lugar. Creio que é na família que se sustenta todo edifício bem construído.

Temos três filhos, tentamos estar com eles o maior tempo possível: é minha obrigação e me faz muito feliz. Como tenho um trabalho exigente, minha mulher e eu procuramos organizar-nos bem para ter tempo de estar com eles: tomar o café da manhã com eles, levá-los ao colégio, fazer os deveres à tarde, atividades extraescolares para que não apenas trabalhem e estudem conosco, mas também façam tarefas divertidas; procuramos descansar e fazer atividades em família nos dias em que eles não têm obrigações.

O domingo é nosso dia preferido por estarmos todos juntos: descansamos do trabalho, vamos juntos à Missa, fazemos as refeições juntos... Embora na minha área seja habitual trabalhar nos domingos, nós tentamos que esse dia seja só nosso, para a família e é nele que conseguimos realizar tudo o que nos agrada. Meus filhos ainda são pequenos, mas já procuramos que vivam perto de Deus, os levamos à Missa, ensinamos a rezar... Tentamos assim compaginar um trabalho exigente com a família.

A Obra ajudou-me muito em minha vida diária, na temperança, por exemplo. Tendo uma grande responsabilidade – muitos funcionários a meu cargo, a família, tudo o que compõe a vida diária – tornei-me um homem mais temperado e sereno, graças à Obra. Parece-me que o melhor modo de fazer apostolado é através do exemplo. Procuramos transmitir às pessoas que trabalham conosco e que estão ao meu lado, essa tranquilidade, essa temperança, essa alegria constante mesmo que seja um trabalho exigente e que requeira esforço, porque muitas vezes quando os outros estão descansando, nós estamos trabalhando. Procuro que meu exemplo lhes sirva para perceber que somos privilegiados por poder oferecer o trabalho a Deus.

Fechamos o restaurante nos domingos à tarde, às segundas feiras e outro dia à noite e chegamos à conclusão de que queremos fechar o dia inteiro no domingo e mais um dia para que os funcionários também possam compatibilizar o trabalho com a família, para que tenham tempo, eles e suas mulheres para desfrutar dos filhos e da vida em família, que é o que dá sentido a tudo: ter unidade familiar forte é básico na vida.

Procuro ter Deus muito presente em minha vida diária e também a São Josemaria Escrivá; colocamos sua estampa no balcão do restaurante e muitos nos perguntam por que fizemos isso, e aproveito para explicar que sou da Obra e que São Josemaria é o santo que ajuda a santificar o trabalho... Nós explicamos que queremos fazer o nosso trabalho do melhor modo possível, por eles e para oferecê-lo a Deus. Penso que moveu a consciência de muitos que me perguntaram sobre a estampa, pois veem que essa atitude é positiva, que você é uma pessoa trabalhadora, agradável... e isso é positivo na hora de fazer apostolado com as pessoas que não conhecem a Obra de perto.

Nestes dois anos de formação, uma das coisas que aprendi é a universalidade do Opus Dei. Alguns não conhecem a Obra, que não é senão um meio para que as pessoas comuns estejam perto de Deus, saibam aproximar-se de Deus, saibam que não estão sozinhas... Parece que as inquietações religiosas não estão na moda e a pessoa se sente meio excluída, e, no entanto, mais pessoas do que pensamos têm essa inquietação. Muitos necessitam de Deus em sua vida e quando você chega à Obra, percebe que não se trata de algo exclusivo para poucos, e sim, que estar perto de Deus, rezando, fazendo oração, indo à Missa, é gratificante e está ao alcance de todos os que tiverem essa vocação de servir a Deus e de agradá-lo e de ser bom cristão.

Minha esposa e eu nos casamos bem jovens – aos vinte e cinco anos – tivemos filhos sendo ainda bem jovens, montamos o negócio bem jovens também: seis meses depois de casados abrimos um restaurante, começando com três funcionários e poucos meses depois tínhamos treze. Muitos amigos meus que estão casando agora e começando a constituir família dizem-me: como você teve coragem, sendo ainda tão jovem? E embora possa parecer uma aventura, respondo simplesmente que colocava tudo nas mãos de Deus; e se eu esperava na época que tudo corresse bem e não tivesse acontecido isso, era porque Deus tinha outro plano para mim.

Ao lado de Deus você não tem medo, pode ter incerteza sobre o que acontecerá, mas medo não, sabe que no final vai ser bom e se esse não era o seu caminho, se essa porta fechasse, Ele lhe abriria outras dez mil. Confiar na providência divina é a melhor coisa para ir em frente com valentia e com vontade de viver e de lançar-se a novos empreendimentos.