Uma festa da fé

Crônica da Canonização de São João XXIII e São João Paulo II."Uma jornada histórica, uma festa da fé", como a definiu o Papa Francisco.

Vista da praça de S. Pedro durante a cerimónia

Durante toda a madrugada pessoas do mundo inteiro dirigiram-se à Praça de São Pedro, sem saber se conseguiriam entrar devido à quantidade de peregrinos prevista. Uma vez instaladas, as horas de espera fizeram-se de breves ações de graças e canções, conversas entre pessoas de diferentes nacionalidades…, inclusivamente algumas encontraram espaço para poder dormir um pouco.

Peregrinos do mundo inteiro participaram na Canonização dos dois Papas

Shu Pon Liu e Lu Jiang da China (Beijing) com a tia delas que vive nos Estados Unidos, conseguiram chegar às primeiras filas da Praça. Shu Pon Liu explica que decidiu realizar a viagem para estar na Canonização dos dois Papas porque quando era pequena o pai lhe falava com carinho de João XXIII. “E João Paulo II é o Papa com quem cresci, sempre tem estado presente na minha vida desde a infância”.

Shu Pon Liu pertence à oitava geração de católicos na sua família. Os seus antepassados sofreram perseguição religiosa durante a rebelião dos boxers em 1900.

Diz comovida: “Hoje encontramo-nos com 4 Papas: Bento XVI deu-nos muita teologia e respeitamos a sua ciência, e o Papa Francisco representa a esperança do seu povo”.

Cristina e o marido são de Roma e também quiseram fazer os impossíveis para participar na cerimônia porque têm uma dívida de gratidão para com São João Paulo II. Relatam que durante a doença e agonia do Pontífice estiveram a acompanhá-lo com a sua oração na Praça de São Pedro. No momento em que morreu estavam a rezar o Terço, quiseram dar-lhe apoio até ao último momento. No dia seguinte estiveram no funeral: nessa altura estavam casados há quatro anos e não conseguiam ter filhos, e encomendaram especialmente isso à sua intercessão.

Pouco depois nasceu Benedetta, que hoje tem 8 anos. Cristina não duvida que São João Paulo II foi o intermediário diante de Deus.

Rita, da Calábria, chegou com o marido numa cadeira de rodas. Disse que sentia uma alegria inexplicável, cheia de paz: “No meio de tanta confusão, tantas nacionalidades, tantas línguas, estamos a celebrar os dois santos da Unidade da Igreja, dois papas muito semelhantes na sua simplicidade”.

Rita com o marido e a filha

Orgulhosa comenta que o seu filho Andrea, de 26 anos, é um dos voluntários que colaboram na organização.

Daniel é austríaco mas reside na Polônia. Sente-se muito tocado por João Paulo II já que quando era criança, durante uma audiência, o Papa polaco o abençoou. Veio de carro com alguns amigos numa viagem de doze horas.

Judith, de origem congolesa vive em França. Relata que sempre tinha querido vir ao Vaticano, mas até ao momento não tinha podido fazê-lo. Quando era pequena conheceu João XXIII pela televisão, mas nesse momento não entendia muito o que significava que esse homem era a Cabeça da Igreja. Depois, já adulta, entendeu o papel do Papa. Teve oportunidade de estar com João Paulo II quando o pontífice visitou o Congo. Recorda que todos correram para ver o Papa e ela conseguiu chegar primeiro por ser pequena. Define São João Paulo II como “o Papa humanista, o evangelizador, o papa simples. O grande Papa que quis levar a mensagem cristã ao povo de Deus”. Afirma que Deus dá a santidade a uma pessoa, mas essa santidade mostra-se na correspondência dos seus atos.

Judit, congolesa, levava um vestido próprio para a ocasião

Por volta das 9.30 começaram a tomar lugar os bispos, sacerdotes, etc. Um momento especialmente emotivo protagonizou-o o Papa Emérito Bento XVI: quando apareceu, um sonoro e longo aplauso ouviu-se em toda a Praça, em sinal de afeto e agradecimento.

A cerimônia começou pontualmente às 10 da manhã. Enquanto o coro entoava a Ladainha dos Santos, a procissão dos celebrantes dirigia-se para o altar. Centenas de milhares de pessoas seguiam oc cânticos com devoção e recolhimento. Pouco depois chegou o momento esperado, a fórmula da Canonização com a qual o Papa Francisco declarava e considerava santos João Paulo II e João XXIII.

Durante a cerimônia foi proclamado o Evangelho, cantado em latim, língua oficial da Igreja, e em grego. Um dos pedidos foi lido pela religiosa curada da sua doença por intercessão de João Paulo II, milagre decisivo para a beatificação. O relicário do Papa Wojtyla foi levado por Floribeth Mora, a costa-riquenha cuja cura em 2011 foi considerada o milagre para a canonização. O relicário de João XXIII foi levado pelos sobrinhos-netos de Roncalli.

O Papa Francisco na homilia comentou o Evangelho do Segundo Domingo da Páscoa, em que se narra a aparição de Cristo Ressuscitado aos apóstolos reunidos no Cenáculo. O Papa falou das Chagas de Jesus: “são um escândalo para a fé, mas são também o comprovativo da fé. Por isso, no corpo de Cristo Ressuscitado as chagas não desaparecem, permanecem, porque aquelas chagas são o sinal permanente do amor de Deus por nós, e são indispensáveis para crer em Deus. Não para crer que Deus existe, mas sim para crer que Deus é amor, misericórdia, fidelidade”. Mais tarde, referiu-se aos novos santos: “Não esqueçamos que são precisamente os santos que levam para a frente e fazem crescer a Igreja. Ao convocar o Concílio, São João XXIII demonstrou uma delicada docilidade ao Espírito Santo.

No serviço ao Povo de Deus, São João Paulo II foi o Papa da família. Gosto de sublinhá-lo agora que estamos a viver um caminho sinodal sobre a família e com as famílias, um caminho que ele, do Céu, certamente acompanha e sustenta”.

Por fim, o Papa agradeceu a assistência dos peregrinos vindos de tantas partes do mundo, especialmente, os que tinham vindo das dioceses de Cracóvia e Bérgamo. E concluiu dizendo que tínhamos assistido a uma jornada histórica, uma festa da fé.