“Todos os dias eu corto o cabelo de Nosso Senhor Jesus Cristo”

Fermín Montoya tem 77 anos e trabalha como cabeleireiro em Viña del Mar, no Chile. Conheceu o Opus Dei graças a um cliente que o convidou incansavelmente para recolhimentos espirituais, apesar das suas evasivas. Um dia ele decidiu ir. Naquele dia, a mensagem de São Josemaria o cativou.

Fermín Montoya Carmona queria estudar arquitetura, mas sua mãe, Rosa, tinha outros planos. Sem aviso prévio, aos 15 anos disse que o havia matriculado na Escola de Cabeleireiros de Valparaíso. Não teve outra escolha senão obedecer e, dois anos depois, em 1962, recebeu o diploma.

“Quando me formei percebi que ser cabeleireiro era algo malvisto socialmente. E havia uma razão para isso: uma péssima formação profissional”, afirma Fermín. “Sendo o melhor aluno na minha turma, eu sabia que tinha um longo caminho a percorrer para ser cabeleireiro e eram coisas que não eram ensinadas na Escola”, acrescenta.

“GRAÇAS AO MEU TRABALHO CONSEGUI FORMAR A FAMÍLIA QUE TENHO”

Por isso disse a um colega: “Somos apenas máquinas de cortar cabelo. Para sermos cabeleireiros temos que saber dermatologia, psicologia, estética, ética…”. E então decidiram fazer cursos para aprender outras matérias necessárias ao desenvolvimento de sua profissão. Mais tarde formaram a associação de cabeleireiros “Atelier Georges Hardy”, onde davam palestras para outros colegas. Com o tempo, esta organização tornou-se a Associação de Cabeleireiros do Chile.

Devido ao seu trabalho, Fermín conheceu Violeta, sua esposa e mãe dos seus dois filhos. Ela também é cabeleireira. “Sou muito grato a Deus por ter me dado a vocação profissional que tenho, e que, a princípio, quando minha mãe me matriculou sem me perguntar, pensei que não tinha. Mas gostei e graças ao meu trabalho pude formar a família que tenho hoje”, afirma Fermín.

Um convite incômodo

Eugênio era um cliente frequente do salão de cabeleireiros que Fermín montou com a sua esposa em Recreo, Viña del Mar. Era um capitão da Marinha e convidava-o incansavelmente para os recolhimentos do Opus Dei que se realizavam às segundas-feiras. Aquele dia da semana era o mais movimentado no salão e parecia impossível para Fermín sair mais cedo para poder ir “Ele me convidava e eu dizia que não”.

Até que um dia outro de seus clientes, um arquiteto, chegou ao cabeleireiro com um cartão para ele e Violeta. Era um convite para a inauguração da reforma de um templo anglicano. “Ainda por cima era justamente uma segunda-feira”, pensou Fermín. Procurando uma desculpa para responder que não poderia ir, pensou que era o dia dos recolhimentos do Opus Dei. “Agradeci... e como não podia mentir, fui ao recolhimento com o Eugênio, e foi aí que fiquei entusiasmado e comecei a ir todo mês”, resume.

O que mais chamou a sua atenção naquele primeiro recolhimento foi a mensagem de São Josemaria sobre a santificação do trabalho no meio do mundo. “Gostei muito disso, porque tem gente que pensa que para ser santo é preciso estar numa abadia, num convento ou algo assim. Essa coisa de santidade parecia impossível, mas ele mostra isso de uma forma tão singela, simples e real: todos somos chamados a ser santos”, reflete.

Além disso, outra coisa que chamou a sua atenção foi um vídeo em que uma empregada doméstica faz uma pergunta a São Josemaria e ele responde sobre a importância do trabalho. “Os seres humanos temos a estupidez de classificar as pessoas de acordo com o sobrenome, a profissão, o carro, o local onde moram. E São Josemaria coloca-nos todos no mesmo nível. Somos todos filhos de Deus e não existem diferenças. Eu gostei disso e fiquei muito atraído por isso. Senti-me muito identificado e isso tocou a minha alma. Quando vi aquelas imagens, acho que despertou em mim a vocação à Obra”, afirma Fermín. E assim, cerca de três anos depois daquele primeiro recolhimento, pediu para ser admitido como supernumerário.

“SÃO JOSEMARIA COLOCA TODOS NÓS NO MESMO PLANO. SOMOS TODOS FILHOS DE DEUS E NÃO HÁ DIFERENÇAS. GOSTEI E ME SENTI MUITO ATRAÍDO POR ESSA IDEIA. SENTI-ME MUITO IDENTIFICADO E ATINGIU MINHA ALMA”

A importância do apostolado

Fermín estudou numa escola católica, mas diz que quando entrou na Obra teve uma visão diferente de Deus. “Percebi a importância do apostolado”, diz.

“E o meu trabalho me permite fazer um apostolado bastante amplo porque tenho muito contato com outras pessoas”, explica. Assim, Fermín tenta falar de Deus às pessoas que vão ao seu salão ou dar-lhes algum conselho. Ele vê isso como uma responsabilidade sua. No seu caso, foi a fé que o ajudou a enfrentar a morte do filho de 28 anos, diagnosticado com leucemia.

“Percebo que as pessoas realmente precisam de alguém que as ouça e elas se abrem comigo. Fico impressionado com a confiança que têm para me contar as coisas”, comenta. E depois esclarece: “Tenho sempre um alto senso da ética e não tenho problemas em ouvir o que me dizem, porque daqui não sai nada”.

Às vezes, quando sabe que um cliente é católico, se oferece para rezar com ele por uma preocupação específica que o cliente tenha; dá uma estampa de São Josemaria ou do Bem-aventurado Álvaro; convida-os a rezar uma novena; ou rezar a Nossa Senhora, porque também há uma imagem dela no seu local de trabalho. Se eles não acreditam em Deus, ele oferece silenciosamente seu trabalho e alguma oração por eles.

“NO MEU CORAÇÃO VEJO NOSSO SENHOR EM CADA CLIENTE E COM MUITO AMOR FAÇO O CORTE DE CABELO MAIS PERFEITO DENTRO DAS MINHAS POSSIBILIDADES”

“Todos os dias corto o cabelo de Nosso Senhor Jesus Cristo”, reflete. “Pode parecer um pouco estranho e talvez exagerado, mas no meu coração vejo nosso Senhor em cada cliente e com muito amor faço o corte de cabelo mais perfeito dentro das minhas possibilidades. E eu trato meu cliente com a delicadeza com que trataria Jesus. É assim que pratico o amor a Deus. Rezo, ofereço o trabalho a Deus e, na medida em que vou oferecendo a Ele, procuro fazer o melhor possível”, conclui.

Fermín Montoya