"Quem não vive para servir, não serve para viver"

Reunimos os discursos e homilias do Papa Francisco durante sua visita a Cuba e Estados Unidos.

Homilia do Santo Padre - Basílica Menor do Santuário da Virgem da Caridade do Cobre (22 de setembro)

O Evangelho que acabamos de escutar coloca-nos perante a dinâmica que o Senhor gera cada vez que nos visita: faz-nos sair de casa. São imagens que somos convidados repetidas vezes a contemplar. A presença de Deus na nossa vida nunca nos deixa tranquilos, sempre nos impele a mover-nos. Quando Deus visita, sempre nos tira para fora de casa: visitados para visitar, encontrados para encontrar, amados para amar.

Aqui vemos Maria, a primeira discípula. Uma jovem talvez nos seus 15 a 17 anos, que, numa aldeia da Palestina, foi visitada pelo Senhor anunciando-Lhe que seria a mãe do Salvador. Longe de «Se imaginar sei lá quem» e pensar que todo o povo deveria vir assisti-La ou servi-La, Ela sai de casa e vai servir. Sai para ajudar sua prima Isabel. A alegria que nasce de saber que Deus está connosco, com o nosso povo, desperta o coração, põe em movimento os pés, «tira-nos para fora», leva-nos a partilhar a alegria recebida, e partilhá-la como serviço, como entrega em todas as possíveis situações «grávidas» que os nossos vizinhos ou parentes possam estar a viver. O Evangelho diz-nos que Maria partiu apressada, com passo lento mas constante, passos que sabem aonde vão; passos que não correm para «chegar» rapidamente nem vão demasiado lento como se nunca quisessem «chegar». Nem agitada nem dormente, Maria vai com pressa fazer companhia a sua prima que ficou grávida em idade avançada. Maria, a primeira discípula, visitada saiu para visitar. E, desde aquele primeiro dia, foi sempre a sua característica peculiar. Foi a mulher que visitou tantos homens e mulheres, crianças e idosos, jovens. Soube visitar e acompanhar nas dramáticas gestações de muitos dos nossos povos; protegeu a luta de todos os que sofreram para defender os direitos dos seus filhos. E ainda agora, Ela não cessa de nos trazer a Palavra de Vida, seu Filho, Nosso Senhor.

Também estas terras foram visitadas pela sua presença maternal. A pátria cubana nasceu e cresceu ao calor da devoção à Virgem da Caridade. «Ela deu uma forma própria e especial à alma cubana – escreveram os bispos destas terras –, suscitando no coração dos cubanos os melhores ideais de amor a Deus, à família e à pátria».

E o mesmo tinham afirmado os vossos compatriotas quando, há cem anos, pediram ao Papa Bento XV que declarasse a Virgem da Caridade como Padroeira de Cuba, escrevendo: «Nem as desgraças nem as privações conseguiram “apagar” a fé e o amor que o nosso povo católico professa a esta Virgem; antes, nas maiores vicissitudes da vida, quando estava mais perto a morte ou mais próximo o desespero, sempre surgiu como luz dissipadora de todo o perigo, como orvalho consolador (...) a visão desta Virgem bendita, cubana por excelência (...), porque assim A amaram as nossas mães inesquecíveis, assim A bendizem as nossas esposas». Assim escreviam eles há cem anos.

Neste santuário, que guarda a memória do santo povo fiel de Deus que caminha em Cuba, Maria é venerada como Mãe de Caridade. Daqui Ela guarda as nossas raízes, a nossa identidade, para não nos perdermos em caminhos de desespero. A alma do povo cubano, como acabámos de escutar, foi forjada por entre dores e privações que não conseguiram extinguir a fé; aquela fé que se manteve viva, graças a tantas avós que continuaram a tornar possível, na vida diária do lar, a presença viva de Deus; a presença do Pai que liberta, fortalece, cura, dá coragem e é refúgio seguro e sinal de nova ressurreição. Avós, mães e tantas outras pessoas que, com ternura e carinho, foram sinais de visitação, como Maria, de valentia, de fé para os seus netos, nas suas famílias. Mantiveram aberta uma fenda, pequena como um grão de mostarda, por onde o Espírito Santo continuou a acompanhar o palpitar deste povo.

E «sempre que olhamos para Maria, voltamos a acreditar na força revolucionária da ternura e do afecto» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 288).

Geração após geração, dia após dia, somos convidados a renovar a nossa fé. Somos convidados a viver a revolução da ternura, como Maria, Mãe da Caridade. Somos convidados a «sair de casa», a ter os olhos e o coração abertos aos outros. A nossa revolução passa pela ternura, pela alegria que sempre se faz proximidade, que sempre se faz compaixão – que não é comiseração; é padecer com, para libertar – e leva a envolver-nos, para servir, na vida dos outros. A nossa fé faz-nos sair de casa e ir ao encontro dos outros para partilhar alegrias e sofrimentos, esperanças e frustrações. A nossa fé tira-nos de casa para visitar o doente, o recluso, quem chora e também quem sabe rir com quem ri, rejubilar com as alegrias dos vizinhos. Como Maria, queremos ser uma Igreja que serve, que sai de casa, que sai dos seus templos, que sai das suas sacristias, para acompanhar a vida, sustentar a esperança, ser sinal de unidade dum povo nobre e digno. Como Maria, Mãe da Caridade, queremos ser uma Igreja que saia de casa para lançar pontes, abater muros, semear reconciliação. Como Maria, queremos ser uma Igreja que saiba acompanhar todas as situações «grávidas» da nossa gente, comprometidos com a vida, a cultura, a sociedade, não nos escondendo mas caminhando com os nossos irmãos, todos juntos. Todos juntos, servindo, ajudando. Todos filhos de Deus, filhos de Maria, filhos desta nobre terra cubana.

Este é o nosso «cobre» mais precioso, esta é a nossa maior riqueza e o melhor legado que podemos deixar: aprender a sair de casa, como Maria, pelas sendas da visitação. E aprender a rezar com Maria, pois a sua oração é cheia de memória e agradecimento; é o cântico do povo de Deus que caminha na história. É a memória viva de que Deus está no nosso meio; é a memória perene de que Deus olhou para a humildade do seu povo, socorreu o seu servo como prometera aos nossos pais e à sua descendência para sempre.

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Discurso do Santo Padre no encontro com as famílias em Cuba (22 de setembro)

Estamos em família! E quando alguém está em família, sente-se em casa. Obrigado a vós, famílias cubanas! Obrigado, cubanos, por me terdes feito sentir todos estes dias em família, por me terdes feito sentir em casa. Obrigado por tudo isto! Este encontro convosco tornou-se como que «a cereja sobre o bolo». Concluir a minha visita vivendo este encontro em família é motivo para agradecer a Deus pelo «calor» que brota de gente que sabe receber, que sabe acolher, que sabe fazer sentir-se em casa. Obrigado a todos os cubanos!

Agradeço a D. Dionisio García, Arcebispo de Santiago, a saudação que me dirigiu em nome de todos e ao casal que teve a coragem de partilhar com todos nós os seus anseios, os seus esforços para viver o lar como uma «igreja doméstica».

O Evangelho de João apresenta-nos, como primeiro acontecimento público de Jesus, as bodas de Caná, uma festa de família. Está lá com Maria, sua mãe, e alguns dos seus discípulos. Compartilham a festa familiar.

As bodas são momentos especiais na vida de muitos. Para os «mais veteranos», pais, avós, é uma ocasião para recolher o fruto da sementeira. Dá alegria à alma ver os filhos crescerem, conseguindo formar o seu lar. É a oportunidade de verificar, por um instante, que valeu a pena tudo aquilo por que se lutou. Acompanhar os filhos, apoiá-los, incentivá-los para que possam decidir-se a construir a sua vida, a formar a sua família, é um grande desafio para os pais. Os recém-casados, por sua vez, encontram-se na alegria. Todo um futuro que começa. E tudo tem «sabor» a casa nova, a esperança. Nas bodas, sempre se une o passado que herdámos e o futuro que nos espera. Há memória e esperança. Sempre se abre a oportunidade de agradecer tudo o que nos permitiu chegar até ao dia de hoje com o mesmo amor que recebemos.

E Jesus começa a sua vida pública precisamente numa boda. Insere-Se nesta história de sementeiras e colheitas, de sonhos e buscas, de esforços e compromissos, de árduos trabalhos lavrando a terra para que dê o seu fruto. Jesus começa a sua vida no interior duma família, no seio dum lar. E é precisamente no seio dos nossos lares que Ele incessantemente continua a inserir-Se, e deles continua a fazer parte. Gosta de entrar na família.

É interessante observar como Jesus Se manifesta também nos almoços, nos jantares. Comer com diferentes pessoas, visitar casas diferentes foi um lugar que Jesus privilegiou para dar a conhecer o projecto de Deus. Vai à casa dos seus amigos – Lázaro, Marta e Maria -, mas – atenção! – não é selectivo: não Lhe importa se há publicanos ou pecadores, como Zaqueu. Vai a casa de Zaqueu. E não era só Ele que agia assim; quando enviou os seus discípulos a anunciar a boa nova do Reino de Deus, disse-lhes: «Ficai na casa [que vos receber], comendo e bebendo do que lá houver» (Lc 10, 7). Bodas, visitas aos lares, jantares: algo de «especial» hão-de ter estes momentos na vida das pessoas, para que Jesus prefira manifestar-Se lá.

Lembro-me que, na minha diocese anterior, muitas famílias me explicavam que o único momento que tinham para estar juntos era, normalmente, o jantar, à noite, quando se voltava do trabalho e as crianças terminavam os deveres da escola. Era um momento especial de vida familiar. Comentava-se o dia, aquilo que cada um fizera, arrumava-se a casa, guardava-se a roupa, organizavam-se as tarefas principais para os dias seguintes, as crianças pegavam-se. Era o momento para isso. São momentos em que uma pessoa chega também cansada, e pode acontecer uma ou outra discussão, um ou outro «litígio» entre marido e mulher. Surgem, mas não há que temer… eu tenho mais medo quando os casais me dizem que nunca, nunca tiveram uma discussão. É raro, muito raro. Jesus escolhe estes momentos para nos mostrar o amor de Deus, Jesus escolhe estes espaços para entrar nas nossas casas e ajudar-nos a descobrir o Espírito vivo e actuante nas nossas casas e nas nossas realidades quotidianas. É em casa onde aprendemos a fraternidade, onde aprendemos a solidariedade, onde aprendemos a o não ser prepotentes. É em casa onde aprendemos a receber e agradecer a vida como uma bênção, e aprendemos que cada um precisa dos outros para seguir em frente. É em casa onde experimentamos o perdão, e somos continuamente convidados a perdoar, a deixarmo-nos transformar. É curioso! Em casa, não há lugar para «máscaras»: somos aquilo que somos e, duma forma ou doutra, somos convidados a procurar o melhor para os outros.

Por isso, a comunidade cristã designa as famílias pelo nome de igrejas domésticas, porque é no calor do lar onde a fé permeia cada canto, ilumina cada espaço, constrói comunidade; porque foi em momentos assim que as pessoas começaram a descobrir o amor concreto e o amor operante de Deus.

Em muitas culturas, hoje em dia, vão desaparecendo estes espaços, vão desaparecendo estes momentos familiares; pouco a pouco, tudo leva a separar-se, a isolar-se; escasseiam os momentos em comum, para estar juntos, para estar em família. Assim não se sabe esperar, não se sabe pedir licença, não se sabe pedir desculpa, não se sabe dizer obrigado, porque a casa vai ficando vazia: vazia não de gente, mas de relações, vazia de contactos humanos, vazia de encontros entre pais, filhos, avós, netos, irmãos. Recentemente, uma pessoa que trabalha comigo contava-me que a sua esposa e os filhos tinham ido de férias e ele ficara sozinho, porque tinha de trabalhar naqueles dias. No primeiro dia, a casa estava toda em silêncio, «em paz», estava feliz, nada estava fora do lugar. Ao terceiro dia, quando lhe perguntei como estava, disse-me: quero que regressem todos já. Sentia que não podia viver sem a sua esposa e os seus filhos. E isto é bonito. Isto é bonito.

Sem família, semo calor do lar, a vida torna-se vazia; começam a faltaras redes que nos sustentam na adversidade, as redes que nos alimentam na vida quotidiana e motivam na luta pela prosperidade. A família salva-nos de dois fenómenos actuais, duas coisas que acontecem hoje em dia: a fragmentação, ou seja, a divisão, e a massificação. Em ambos os casos, as pessoas transformam-se em indivíduos isolados, fáceis de manipular, de e controlar. E assim encontramos no mundo sociedades divididas, desfeitas, separadas ou altamente massificadas, que são consequência da ruptura dos laços familiares, quando se perdem as relações que nos constituem como pessoa, que nos ensinam a ser pessoa. E, infelizmente, a pessoa acaba por se esquecer como se diz pai, mãe, filho, filha, avô, avó… de certo modo, vão-se esquecendo estas relações que são o fundamento. São o fundamento do nome que temos.

A família é escola da humanidade, escola que ensina a pôr o coração aberto às necessidades dos outros, a estar atento à vida dos demais. Quando se vive bem em família, os egoísmos diminuem – existem, porque todos temos algo de egoísta -, mas, quando não se vive uma vida de família, vão-se formando personalidades que poderíamos designar deste modo: «eu, me, mim, comigo, para mim», personalidades totalmente centradas em si mesmas, que nada sabem de solidariedade, de fraternidade, de trabalho em comum, de amor, de discussão entre irmãos. Não sabem. Apesar de tantas dificuldades como estas que afligem hoje as nossas famílias no mundo, não nos esqueçamos, por favor, disto: as famílias não são um problema, são sobretudo uma oportunidade; uma oportunidade que temos de cuidar, proteger, acompanhar. É uma maneira de dizer que são uma bênção. Quando começas a viver a família como um problema, cansas-te, não caminhas, porque estás muito centrado em ti mesmo.

Discute-se muito hoje sobre o futuro, sobre o tipo de mundo que queremos deixar aos nossos filhos, que sociedade queremos para eles. Creio que uma das respostas possíveis se encontra pondo o olhar em vós, nesta família que falou, em cada um de vós: deixemos um mundo com famílias. É o melhor legado. Deixemos um mundo com famílias. É certo que não existe a família perfeita, não existem esposos perfeitos, pais perfeitos nem filhos perfeitos, nem – eu diria, mas não se aborreçam – sogras perfeitas. Não existem. Não existem, mas isso não impede que sejam a resposta para o amanhã. Deus incentiva-nos ao amor, e o amor sempre se compromete com as pessoas que ama. O amor sempre se compromete com as pessoas que ama. Portanto, cuidemos das nossas famílias, verdadeiras escolas do amanhã. Cuidemos das nossas famílias, verdadeiros espaços de liberdade. Cuidemos das nossas famílias, verdadeiros centros de humanidade. Aqui vem-me à mente uma imagem: uma imagem de quando, nas Audiências das Quartas-feiras, passo a saudar as pessoas, e muitas, muitas mulheres me mostram o ventre dizendo: «Padre, abençoe-mo?» Pois bem! Agora eu vou propor uma coisa a todas as mulheres que estão «grávidas de esperança» – porque um filho é uma esperança –: proponho-lhes que neste momento toquem o ventre. Se aqui há alguma, faça-o aqui. Ou as que estão a ouvir pela rádio ou pela televisão. E a cada uma delas, a cada menino ou menina que dentro está lá esperando, eu dou-lhe a bênção. Então cada uma toque o ventre e eu dou-lhe a bênção em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. E desejo que venha sãozinho, que cresça bem, que o possa criar bonito. Acariciem o filho, que estão esperando.

Não quero concluir sem fazer menção da Eucaristia. Tereis notado que Jesus, como espaço do seu memorial, quis utilizar uma ceia. Escolhe como espaço da sua presença entre nós um momento concreto da vida familiar; um momento vivido e compreensível a todos: a ceia.

E a Eucaristia é a ceia da família de Jesus, que, de um extremo ao outro da terra, se reúne para escutar a sua Palavra e alimentar-se com o seu Corpo. Jesus é o Pão de Vida das nossas famílias, quer estar sempre presente, alimentando-nos com o seu amor, sustentando-nos com a sua fé, ajudando-nos a caminhar com a sua esperança, para que possamos, em todas as circunstâncias, experimentar que Ele é o verdadeiro Pão do Céu.

Daqui a alguns dias, participarei juntamente com famílias de toda a terra no Encontro Mundial das Famílias e, dentro de um mês, no Sínodo dos Bispos, cujo tema é a família. Convido-vos a rezar. Peço-vos, por favor, que rezeis por estas duas intenções, para que saibamos todos juntos ajudar-nos a cuidar da família, para que saibamos cada vez mais descobrir o Emanuel, isto é, o Deus que vive no meio do seu povo fazendo de cada família e de todas as famílias a sua morada. Conto com a vossa oração. Obrigado!

Palavras do Papa, no final, saudando do terraço

Quero saudar-vos e agradecer-vos a recepção, o entusiasmo… Obrigado! Realmente os cubanos são amáveis, bondosos e fazem sentir a uma pessoa como se estivesse em casa. Muito obrigado! E quero dizer uma palavra de esperança. Uma palavra de esperança, que nos pede talvez para voltar a cabeça para trás e para diante. Olhando para trás, memória. Memória daqueles que nos foram transmitindo a vida e, de modo especial, memória dos avós. Uma grande saudação aos avós. Não transcuremos os avós. Os avós são a nossa memória viva. E, olhando para diante, temos as crianças e os jovens, que são a força dum povo. Um povo que cuida dos seus avós e que cuida das suas crianças e dos seus jovens, tem o triunfo assegurado. Que Deus vos abençoe e permitam que lhes dê a bênção, mas com uma condição – vão ter de pagar qualquer coisa -: peço-vos que rezeis por mim. Esta é a condição. Abençoe-vos Deus Todo-poderoso, o Pai e o Filho e o Espírito Santo. Adeus e obrigado!

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Homilia da Santa Missa na Praça da Revolução em Holguín (21 de setembro)

Celebramos a festa do apóstolo e evangelista Mateus. Celebramos a história duma conversão. Ele próprio nos conta, no seu Evangelho, como foi o encontro que marcou a sua vida, introduzindo-nos numa «troca de olhares» que pode transformar a história.

Um dia, como outro qualquer, estava ele sentado no posto de cobrança de impostos, quando Jesus passou, viu-o, aproximou-Se e disse-lhe: «Segue-me». E ele, levantando-se, seguiu-O.

Jesus olhou para ele. Que força de amor teve o olhar de Jesus para mover assim Mateus! Que força deviam ter aqueles olhos para o levantar! Sabemos que Mateus era um publicano, ou seja, cobrava os impostos dos judeus para os entregar aos romanos. Os publicanos eram malvistos, até considerados pecadores, e por isso viviam separados e eram desprezados pelos outros. Com eles, não se podia comer, falar nem rezar. Eram considerados pelo povo como traidores: tiravam da sua gente para dar aos outros. Os publicanos pertenciam a esta categoria social.

E Jesus parou, não passou ao largo acelerando o passo, olhou-o sem pressa, olhou-o com calma. Olhou-o com olhos de misericórdia; olhou-o como ninguém o fizera antes. E aquele olhar abriu o seu coração, fê-lo livre, curou-o, deu-lhe uma esperança, uma nova vida, como a Zaqueu, a Bartimeu, a Maria Madalena, a Pedro e também a cada um de nós. Mesmo quando não ousamos levantar os olhos para o Senhor, o primeiro a olhar-nos é sempre Ele. É a nossa história pessoal; tal como muitos outros, cada um de nós pode dizer: eu também sou um pecador, sobre quem Jesus pousou o seu olhar. Convido-vos a que hoje, em vossas casas ou na igreja, quando estiverdes tranquilos, sozinhos, façais um tempo de silêncio recordando, com gratidão e alegria, as circunstâncias, o momento em que o olhar misericordioso de Deus pousou sobre a nossa vida.

O seu amor precede-nos, o seu olhar antecipa-se à nossa necessidade. Jesus sabe ver para além das aparências, para além do pecado, para além do fracasso ou da nossa indignidade. Sabe ver para além da categoria social a que possamos pertencer. Ele vê para além de tudo isso. Ele vê a dignidade de filho que todos temos, talvez manchada pelo pecado, mas sempre presente no fundo da nossa alma. É a nossa dignidade de filhos. Veio precisamente à procura de todos aqueles que se sentem indignos de Deus, indignos dos outros. Deixemo-nos olhar por Jesus, deixemos que o seu olhar percorra as nossas veredas, deixemos que o seu olhar nos devolva a alegria, a esperança, o gozo da vida.

Depois de olhá-lo com misericórdia, o Senhor disse a Mateus: «Segue-Me». E Mateus levantou-se e seguiu-O. Depois do olhar, a palavra. Depois do amor, a missão. Mateus já não é o mesmo; mudou intimamente. O encontro com Jesus, com o seu amor misericordioso, transformou-o. E para trás ficou a mesa dos impostos, o dinheiro, a sua exclusão. Antes, ele esperava sentado para arrecadar, para tirar aos outros; agora, com Jesus, tem de se levantar para dar, para entregar, para se dar aos outros. Jesus olhou-o, e Mateus encontrou a alegria no serviço. Para Mateus e para quantos sentiram sobre si o olhar de Jesus, os compatriotas deixam de ser aqueles à custa de quem «se vive», usando e abusando deles. O olhar de Jesus gera uma actividade missionária, de serviço, de entrega. Aqueles a quem Ele serve, são os seus compatriotas. O seu amor cura as nossas miopias e incita-nos a olhar mais além, a não nos determos nas aparências ou no politicamente correcto.

Jesus vai à frente, precede-nos, abre o caminho e convida-nos a segui-Lo. Convida-nos a ir superando lentamente os nossos preconceitos, as nossas resistências à mudança dos outros e até de nós mesmos. Desafia-nos dia a dia com uma pergunta: Crês tu? Crês que é possível que um arrecadador de impostos se transforme num servidor? Crês que é possível um traidor transformar-se num amigo? Crês que é possível o filho de um carpinteiro ser o Filho de Deus? O seu olhar transforma os nossos olhares, o seu coração transforma o nosso coração. Deus é Pai que procura a salvação de todos os seus filhos.

Deixemo-nos olhar pelo Senhor na oração, na Eucaristia, na Confissão, nos nossos irmãos, especialmente naqueles que se sentem postos de lado, que se sentem mais sozinhos. E aprendamos a olhar como Ele nos olha. Partilhemos a sua ternura e misericórdia pelos doentes, os presos, os idosos e as famílias em dificuldade. Uma vez mais somos chamados a aprender de Jesus, que sempre olha o que há de mais autêntico em cada pessoa, isto é, a imagem de seu Pai.

Sei do grande esforço e sacrifício com que a Igreja em Cuba trabalha para levar a todos, mesmo nos lugares mais remotos, a palavra e a presença de Cristo. Menção especial merecem aqui as chamadas «casas de missão» que permitem a muitas pessoas, dada a escassez de templos e sacerdotes, ter um espaço para a oração, a escuta da Palavra, a catequese e a vida comunitária. São pequenos sinais da presença de Deus na nossa terra e uma ajuda diária para tornar vivas estas palavras do apóstolo Paulo: «Exorto-vos, pois, a que procedais de um modo digno do chamamento que recebestes; com toda a humildade e mansidão, com paciência: suportando-vos uns aos outros no amor, esforçando-vos por manter a unidade do Espírito, mediante o vínculo da paz» (Ef 4, 1-3).

Quero agora dirigir o olhar para Maria, Virgem da Caridade do Cobre, que Cuba acolheu nos seus braços abrindo-Lhe as suas portas para sempre, e a Ela peço-Lhe que mantenha, sobre todos e cada um dos filhos desta nobre nação, o seu olhar materno e que estes seus «olhos misericordiosos» velem sempre por cada um de vós, vossas casas, vossas famílias, pelas pessoas que possam sentir que não há lugar para elas. Que Ela nos guarde a todos, como guardou Jesus no seu amor. E que Ela nos ensine a olhar para os outros, como Jesus olhou para cada um de nós.

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Saudação aos jovens no Centro Cultural Padre Félix Varela em Havana (20 de setembro)

Vós estais de pé e eu sentado, que vergonha! Mas, sabeis por que me sentei? Porque tomei nota de algumas coisas que disse o nosso companheiro e é sobre elas que vos quero falar. Uma palavra que me tocou fortemente: sonhar. Um escritor latino-americano dizia que as pessoas têm dois olhos: um de carne e outro de vidro. Com o olho de carne, vemos o que fixamos. Com o olho de vidro, vemos o que sonhamos. É bonito, não é?

Na objectividade da vida, deve entrar a capacidade de sonhar. E um jovem que não é capaz de sonhar, está encerrado em si mesmo, está fechado em si mesmo. As pessoas, às vezes, sonham coisas que nunca vão acontecer, mas sonham-nas, desejam-nas, buscam horizontes, abrem-se, abrem-se a coisas grandes. Não sei se aqui, em Cuba, se usa a expressão mas nós, os argentinos, dizemos «não te enrodilhes!». Está bem? Não te enrodilhes, abre-te. Abre-te e sonha. Sonha que o mundo contigo pode ser diferente. Sonha que se deres o melhor de ti, vais ajudar a que este mundo seja diferente. Não vos esqueçais: sonhai! E se por acaso vos foge de mão, sonhais demasiado e a vida vos corta o caminho? Não importa; sonhai. E contem os vossos sonhos. Contai, falai das coisas grandes que desejais, porque quanto maior for a capacidade de sonhar, mesmo que a vida te deixe a metade do caminho, mais caminho terás percorrido. Então, em primeiro lugar, sonhar.

Tu disseste uma pequena frase, que eu já tinha sublinhado durante a tua intervenção e tomei algumas notas: saibamos acolher e aceitar quem pensa de modo diferente. Realmente, às vezes, estamos fechados. Encerramo-nos no nosso pequeno mundo: «Ou ele é como que eu quero que seja, ou não é nada». E tu foste ainda mais longe: não nos fechemos nos cubículos das ideologias ou nos cubículos das religiões. Oxalá possamos crescer contra os individualismos. Quando uma religião se transforma em cubículo, perdeu o melhor que tem, perdeu a sua realidade que é adorar a Deus, crer em Deus. É um cubículo. É um cubículo de palavras, de orações, de «eu sou bom, tu és mau», de prescrições morais. E quando tenho a minha ideologia, o meu modo de pensar e tu tens o teu, encerro-me nesse cubículo da ideologia.

Corações abertos, mentes abertas. Se tu pensas diferente de mim, por que não havemos de falar? Por que fixar sempre o dedo sobre aquilo que nos separa, sobre aquilo em que somos diferentes? Por que não nos damos a mão naquilo que temos em comum? Tenhamos a coragem de falar do que temos em comum. E, depois podemos falar das coisas que temos diferentes ou pensamos de modo diferente. Disse falar; não disse brigar, não disse fecharmo-nos. Não disse «fechar-se no cubículo», para usar a tua expressão. Mas isso só é possível quando uma pessoa tem a capacidade de falar daquilo que tem em comum com o outro, daquilo para que somos capazes de trabalhar juntos. Em Buenos Aires, numa paróquia nova situada numa área muito pobre, andava um grupo de jovens universitários a construir uns salões paroquiais. E o pároco disse-me: «Por que não vens lá um sábado para que tos apresente?» Eles trabalhavam sábados e domingos na construção. Eram rapazes e meninas da universidade. Cheguei e vi-os, e o pároco foi-mos apresentando: «Este é o arquitecto, que é judeu; este é comunista, este é católico praticante, este é...». Todos eram diferentes, mas todos estavam a trabalhar em comum para o bem comum. Buscar o bem comum chama-se amizade social. A inimizade social destrói. E uma família destrói-se pela inimizade. Um país destrói-se pela inimizade. O mundo destrói-se pela inimizade. E a inimizade maior é a guerra. E hoje vemos que o mundo se está a destruir pela guerra. Por que motivo são eles incapazes de se sentar e falar: «Bem! Vamos negociar. Que podemos fazer em comum? Há coisas em que não vamos ceder, mas não matemos mais ninguém». Quando há divisão, há morte. Há morte na alma, porque estamos a matar a capacidade de unir. Estamos a matar a amizade social. E isto é o que vos peço hoje: sede capazes de criar a amizade social.

Depois vem outra palavra que disseste: a palavra esperança. Os jovens são a esperança de um povo. Isto ouvimo-lo dizer por todos os lados. Mas, que é a esperança? É ser optimistas? Não. O optimismo é um estado de espírito. Amanhã acordas com dor de fígado e não és optimista, vês tudo negro. A esperança é algo mais. A esperança é sofrida. A esperança sabe sofrer para levar a cabo um projecto, sabe sacrificar-se. Tu és capaz de te sacrificar por um futuro, ou queres apenas viver o presente e os vindouros que se arranjem? A esperança é fecunda. A esperança dá vida. Tu és capaz de dar vida, ou vais ser um jovem ou uma jovem espiritualmente estéril, sem capacidade de criar vida para os outros, sem capacidade de criar amizade social, sem capacidade de criar pátria, sem capacidade de criar grandeza? A esperança é fecunda. A esperança empenha-se no trabalho. Aqui quero referir-me a um problema muito grave que se está a viver na Europa: a enorme quantidade de jovens que não têm trabalho. Há países na Europa onde 40% dos jovens de vinte e cinco anos para baixo vivem desempregados. Estou a pensar num país. Mas, noutro país, são 47%. Noutro, 50%. Evidentemente, um povo que não se preocupa em dar trabalho aos jovens, um povo – e, quando digo povo, não digo governos, mas todo o povo, as pessoas que não se preocupam com que estes jovens trabalhem – esse povo não tem futuro. Os jovens tornam-se parte da cultura de descarte. E todos sabemos que hoje, neste império do deus dinheiro, descartam-se as coisas e descartam-se as pessoas. Descartam-se as crianças, porque não querem tê-las ou matam-nas antes de nascer. Descartam-se os idosos – falo do mundo em geral –, descartam-se os idosos porque já não produzem. Em alguns países, há a lei da eutanásia, mas em muitos outros reina uma eutanásia escondida, encoberta. Descartam-se os jovens, porque não lhes dão trabalho. Então, que resta a um jovem sem trabalho? Num país que não inventa, num povo que não inventa oportunidades de emprego para os seus jovens, a esse jovem restam-lhe os vícios ou o suicídio ou então sair à procura de exércitos de destruição para criar guerras. Esta cultura do descarte está a fazer-nos mal a todos, tira-nos a esperança. E isso é o que tu pediste para os jovens: queremos esperança. Esperança que é sofrida, é trabalhadora, é fecunda. Dá-nos trabalho e salva-nos da cultura de descarte. E esta esperança que é convocadora, convocadora de todos, porque um povo que sabe auto-convocar-se para olhar o futuro e construir a amizade social – como disse, mesmo que se pense diferente – esse povo tem esperança.

E, se me cruzo com um jovem sem esperança, digo, como fiz uma vez, é um jovem aposentado. Há jovens que parece que se aposentam aos vinte e dois anos. São jovens de existência triste. São jovens que apostaram a sua vida basicamente no derrotismo. São jovens que se lamentam. São jovens que fogem da vida. O caminho da esperança não é fácil nem se pode percorrer sozinho. Há um provérbio africano que diz: «Se queres ir depressa, vai sozinho, mas se queres chegar longe, vai acompanhado». E eu quero que vós, jovens cubanos, mesmo que penseis de forma diferente, mesmo que tenhais um ponto de vista diferente, eu quero que vós vades acompanhados, juntos, buscando a esperança, buscando o futuro e a nobreza da pátria.

E assim, começamos com a palavra «sonhar» e quero terminar com outra palavra que tu disseste e que eu costumo usar bastantes vezes: «a cultura do encontro». Por favor, não nos desentendamos entre nós. Prossigamos acompanhados, como se fôssemos um só. Encontremo-nos, ainda que pensemos diferente, ainda que sintamos diferente. Pois há algo maior que nós mesmos: é a grandeza do nosso povo, é a grandeza da nossa pátria, é essa beleza, essa doce esperança da pátria a que temos de chegar. Muito obrigado!

Despeço-me, desejando-vos o melhor. Desejando-vos… Bem, tudo isso que vos disse vo-lo desejo. Vou rezar por vós. E peço que rezeis por mim. E se algum de vós não for crente – e não pode rezar, porque não é crente – que ao menos me deseje coisas boas. Que Deus vos abençoe, vos faça continuar por este caminho da esperança para a cultura do encontro, evitando esses cubículos de que falou o nosso companheiro. Deus vos abençoe a todos.


Queridos amigos!

Sinto uma grande alegria em poder estar convosco, precisamente neste Centro Cultural muito significativo na história de Cuba. Dou graças a Deus por me ter concedido a oportunidade de ter este encontro com tantos jovens que, através do seu trabalho, estudo e preparação, estão sonhando, e tornando já realidade também, o amanhã de Cuba.

Agradeço ao Leonardo as suas palavras de saudação, especialmente porque, podendo ter falado de muitas outras coisas, certamente importantes e concretas como as dificuldades, os medos, as dúvidas – tão reais e humanas –, preferiu falar-nos de esperança, dos sonhos e aspirações que estão fortemente impressos no coração dos jovens cubanos, independentemente das suas diferenças de formação, cultura, crença ou ideias. Obrigado, Leonardo, porque eu também, quando vos vejo, a primeira coisa que me vem à mente e ao coração é a palavra esperança. Não posso imaginar um jovem que não se mova, que esteja bloqueado, que não tenha sonhos nem ideais, que não aspire por algo mais.

Mas, qual é a esperança dum jovem cubano neste momento da história? Nem mais nem menos que a esperança de qualquer outro jovem em qualquer parte do mundo. Porque a esperança fala-nos duma realidade que está enraizada no mais fundo do ser humano, independentemente das circunstâncias concretas e dos condicionamentos históricos em que vive. Fala-nos duma sede, duma aspiração, dum anseio de plenitude, de vida bem-sucedida, de querer agarrar o que é grande, o que enche o coração e eleva o espírito para coisas grandes, como a verdade, a bondade e a beleza, a justiça e o amor. Todavia, isto comporta um risco. Supõe estar dispostos a não se deixar seduzir pelo que é passageiro e caduco, por falsas promessas de felicidade vazia, de prazer imediato e egoísta, duma vida medíocre, centrada em si mesmo e que, no seu rasto, só deixa tristeza e amargura no coração. Não, a esperança é ousada, sabe olhar para além das comodidades pessoais, das pequenas seguranças e compensações que reduzem o horizonte, para se abrir aos grandes ideais que tornam a vida mais bela e digna. Eu perguntaria a cada um de vós: O que é que move a tua vida? O que há no teu coração, onde se fixam as tuas aspirações? Estás sempre disposto a arriscar por algo maior?

Talvez possais dizer-me: «Sim, Padre, a atracção desses ideais é grande. Sinto a sua atracção, a sua beleza, o brilho da sua luz na minha alma; mas, ao mesmo tempo, a realidade da minha fragilidade e das minhas poucas forças é muito pesada para que me consiga decidir a trilhar o caminho da esperança. A meta é muito alta, e as minhas forças são poucas. O melhor é contentar-me com pouco, com coisas talvez menores mas mais realistas, mais dentro das minhas possibilidades». Compreendo esta reacção; é normal sentir o peso daquilo que é árduo e difícil; mas cuidado para não cair na tentação da decepção, que paralisa a inteligência e a vontade, nem ceder à resignação, que é um pessimismo radical perante toda a possibilidade de alcançar o sonho. No fim, estas atitudes acabam ou numa fuga da realidade para paraísos artificiais ou fechando-nos no egoísmo pessoal, numa espécie de cinismo, que não quer escutar o grito de justiça, de verdade e de humanidade que se eleva ao nosso redor e dentro de nós.

Que havemos de fazer então? Como encontrar caminhos de esperança na situação em que vivemos? Como fazer para que estes sonhos de plenitude, de vida autêntica, de justiça e verdade sejam uma realidade na nossa vida pessoal, no nosso país e no mundo? Penso que existem três ideias que podem ser úteis para manter viva a esperança.

A esperança, um caminho feito de memória e discernimento. A esperança é a virtude daquele que está a caminho e se dirige para algum lugar. Assim, não se trata de um simples caminhar pelo prazer de caminhar, mas tem um fim, uma meta, que é o que lhe dá sentido e ilumina o caminho. Ao mesmo tempo, a esperança alimenta-se da memória, abrange com o seu olhar não só o futuro, mas também o passado e o presente. Para caminhar na vida, além de saber para onde queremos ir, é importante saber também quem somos e donde vimos. Uma pessoa ou um povo, que não tem memória e cancela o seu passado, corre o risco de perder a sua identidade e arruinar o seu futuro. Por isso, é necessária a memória daquilo que somos, daquilo que constitui o nosso património espiritual e moral. Creio que esta é a experiência e a lição daquele grande cubano que foi o Padre Félix Varela. E é preciso também o discernimento, porque é essencial abrir-se à realidade e saber lê-la sem medo nem preconceitos. Não servem as leituras parciais ou ideológicas, que deformam a realidade para caber nos nossos pequenos esquemas preconcebidos, provocando sempre desilusão e desespero. Discernimento e memória, porque o discernimento não é cego, mas realiza-se sobre a base de sólidos critérios éticos, morais, que ajudam a discernir o que é bom e justo.

A esperança, um caminho feito em companhia. Diz um provérbio africano: «Se quiseres ir depressa, vai sozinho; se quiseres ir longe, vai acompanhado». O isolamento ou o fechamento em si mesmo nunca gera esperança; pelo contrário, a proximidade e o encontro com o outro, sim. Sozinhos, não chegamos a lado nenhum. E, com a exclusão, não se constrói um futuro para ninguém, nem sequer para si próprio. Um caminho de esperança exige uma cultura do encontro, do diálogo, que supere os contrastes e o confronto estéril. Para isso, é fundamental considerar as diferenças no modo de pensar, não como um risco, mas como uma riqueza e um factor de crescimento. O mundo precisa desta cultura do encontro, precisa de jovens que queiram conhecer-se, que queiram amar-se, que queiram caminhar juntos e construir um país como o sonhava José Martí: «Com todos e para o bem de todos».

A esperança, um caminho solidário. A cultura do encontro deve levar, naturalmente, a uma cultura da solidariedade. Gostei muito do que disse o Leonardo ao princípio, quando falou da solidariedade como força que ajuda a superar qualquer obstáculo. Com efeito, se não houver solidariedade, não há futuro para nenhum país. Acima de qualquer outra consideração ou interesse, tem de estar a preocupação concreta e real pelo ser humano, que tanto pode ser meu amigo, meu companheiro, como alguém que pensa diferente, que tem as suas ideias, mas que é tão humano e tão cubano como eu mesmo. Não basta a simples tolerância; é preciso ir mais longe passando duma atitude suspeitosa e defensiva para outra feita de acolhimento, colaboração, serviço concreto e ajuda eficaz. Não tenhais medo da solidariedade, do serviço, de dar a mão ao outro, para que ninguém fique fora do caminho.

Este caminho da vida é iluminado por uma esperança mais alta: a que nos vem da fé em Cristo. Ele fez-Se nosso companheiro de viagem, e não só nos anima, mas acompanha-nos, permanece ao nosso lado e estende-nos a sua mão de amigo. Ele, o Filho de Deus, quis fazer-Se um como nós, para percorrer também o nosso caminho. A fé na sua presença, no seu amor e amizade acende e ilumina todas as nossas esperanças e sonhos. Com Ele, aprendemos a discernir a realidade, a viver o encontro, a servir os outros e a caminhar na solidariedade.

Queridos jovens cubanos, se o próprio Deus entrou na nossa história e Se fez homem em Jesus, Se carregou aos seus ombros a nossa fraqueza e pecado, não tenhais medo da esperança, não temais medo do futuro, porque Deus aposta em vós, crê em vós, espera em vós.

Queridos amigos, obrigado por este encontro. Que a esperança em Cristo, vosso amigo, vos guie sempre na vossa vida. E, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Que o Senhor vos abençoe!

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Homilia da celebração das vésperas com sacerdotes, consagrados e seminaristas (20 de setembro)

Reunimo-nos nesta histórica Catedral de Havana para cantar, com os Salmos, a fidelidade de Deus para com o seu povo, dar graças pela sua presença, pela sua infinita misericórdia. Fidelidade e misericórdia, de que se faz memória não só nas paredes desta casa, mas também nalguns aqui presentes com «cabelos brancos», uma memória viva e atualizada de que «a misericórdia do Senhor é infinita e a sua fidelidade dura para sempre». Irmãos, juntos, demos graças!

Demos graças pela presença do Espírito com a riqueza dos seus diferentes carismas no rosto de tantos missionários que vieram para estas terras, tornando-se cubanos entre os cubanos, sinal de que é eterna a misericórdia do Senhor.

O Evangelho apresenta-nos Jesus em diálogo com seu Pai, coloca-nos no centro da intimidade entre o Pai e o Filho feita oração. Quando se aproximava a sua hora, Jesus rezou ao Pai pelos seus discípulos, pelos que estavam com Ele e pelos que haviam de vir (cf. Jo 17, 20). Faz-nos bem pensar que, naquela hora crucial, Jesus coloca na sua oração a vida dos seus, a nossa vida. E pede a seu Pai que os mantenha na unidade e na alegria. Jesus conhecia bem o coração dos seus, conhece bem o nosso coração. Por isso, reza, pede ao Pai que não prevaleça neles uma consciência que tenda a isolar-se, a refugiar-se nas próprias certezas, seguranças, nos próprios espaços; que tenda a desinteressar-se da vida dos outros, instalando-se em pequenos «grémios domésticos» que quebram o rosto multiforme da Igreja. São situações que desembocam numa tristeza individualista; tristeza que pouco a pouco vai dando lugar ao ressentimento, à lamentação contínua, à monotonia. «Este não é o desígnio que Deus tem para nós, esta não é a vida no Espírito» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 2) a que vos chamou, a que nos chamou. Por isso, Jesus reza, pede que a tristeza e o isolamento não prevaleçam no nosso coração. E nós queremos fazer o mesmo, queremos unir-nos à oração de Jesus, às suas palavras, dizendo juntos: «Pai santo, (…) guarda-os em ti, para serem um só, como Nós somos (…), e tenham em si a plenitude da minha alegria» (Jo 17, 11.13).

Jesus reza e convida-nos a rezar, porque sabe que há coisas que só podemos alcançar como dom, coisas que só podemos viver como um presente. A unidade é uma graça que só o Espírito Santo nos pode dar; a nós, compete-nos pedi-la e dar o melhor de nós mesmos para sermos transformados por este dom.

É frequente confundir unidade com uniformidade, com fazer, sentir e dizer todos o mesmo. Isto não é unidade, mas homogeneidade. Isto é matar a vida do Espírito, matar os carismas que Ele distribuiu para utilidade do seu povo. A unidade fica ameaçada sempre que queremos fazer os outros à nossa imagem e semelhança. Por isso, a unidade é um dom; não é algo que se possa impor à força ou por decreto. Alegra-me ver-vos aqui, homens e mulheres de diferentes gerações, contextos, experiências de vida, unidos pela oração em comum. Peçamos a Deus que faça crescer em nós o desejo de proximidade; que possamos sentir-nos próximos, ser vizinhos, com as nossas diferenças, propensões, estilos, mas vizinhos; com as nossas discussões, os nossos «litígios», falando cara a cara e não pelas costas. Peçamos a Deus que sejamos pastores próximos do nosso povo, que nos deixemos questionar, interrogar pela nossa gente. Os conflitos, as discussões na Igreja são previsíveis e, ouso dizer, necessárias; sinal de que a Igreja está viva e o Espírito continua a agir, continua torná-la dinâmica. Ai das comunidades onde não há um sim ou um não! São como os esposos que já não discutem, porque perderam o interesse um pelo outro, perdeu-se o amor.

Em segundo lugar, o Senhor reza para que gozemos «da plenitude da alegria» que Ele tem (cf. Jo 17, 13). A alegria dos cristãos, especialmente dos consagrados, é um sinal muito claro da presença de Cristo nas suas vidas. Quando há rostos tristes, isso é um sinal de alerta, alguma coisa não está bem. E Jesus pede isto ao Pai precisamente antes de sair para o horto das oliveiras, ocasião em que tem de renovar o seu «fiat». Não tenho dúvida de que todos vós tendes de carregar o peso de não poucos sacrifícios; e, para alguns, há décadas que os sacrifícios têm sido duros. Jesus reza, também Ele a partir do seu sacrifício, para que não percamos a alegria de saber que Ele vence o mundo. É esta certeza que nos impele, dia após dia, a reafirmar a nossa fé. Ele – com a sua oração, no rosto do nosso povo – «permite-nos levantar a cabeça e recomeçar, com uma ternura que nunca nos defrauda e sempre nos pode restituir a alegria» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 3).

Como é importante, como é influente sobre a vida do povo cubano o testemunho de irradiar, sempre e em toda a parte, esta alegria, não obstante os cansaços, as dúvidas e até o desespero, que é uma tentação muito perigosa que atrofia a alma!

Irmãos, Jesus reza para que sejamos um e a sua alegria permaneça em nós. Façamos o mesmo: unamo-nos uns aos outros em oração.

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Homilia da Santa Missa na Praça da Revolução, Havana (20 de setembro)

Jesus faz aos seus discípulos uma pergunta aparentemente indiscreta: «Que discutíeis pelo caminho?» (Mc 9, 33). Uma pergunta que Ele nos pode fazer também hoje: De que é que falais diariamente? Quais são as vossas aspirações? Eles «ficaram em silêncio– diz o Evangelho – porque, no caminho, tinham discutido uns com os outros sobre qual deles era o maior», quem era o mais importante. Sentiam vergonha de dizer a Jesus aquilo de que estavam a falar. Como nos discípulos de ontem, também em nós hoje, pode-se encontrar a mesma discussão: Quem é o mais importante?

Jesus não insiste com a pergunta, não os obriga a dizer-Lhe o assunto de que falavam pelo caminho; e todavia a pergunta permanece, não só na mente, mas também no coração dos discípulos.

Quem é o mais importante? Uma pergunta que nos acompanhará toda a vida e à qual somos chamados a responder nas diferentes fases da existência. Não podemos fugir a esta pergunta; está gravada no coração. Mais do que uma vez ouvi, em reuniões de família, perguntar aos filhos: De quem gostas mais, do pai ou da mãe? É como se vos perguntassem: Quem é mais importante para vós? Será que esta pergunta é simplesmente um jogo de crianças? A história da humanidade está marcada pelo modo como se respondeu a esta pergunta.

Jesus não teme as perguntas dos homens; não tem medo da humanidade, nem das várias questões que a mesma coloca. Pelo contrário, Ele conhece os «recônditos» do coração humano e, como bom pedagogo, está sempre disposto a acompanhar-nos. Fiel ao seu estilo, assume os nossos interrogativos, as nossas aspirações, conferindo-lhes um novo horizonte. Fiel ao seu estilo, consegue dar uma resposta capaz de propor novos desafios, descartando «as respostas esperadas» ou aquilo que aparentemente já estava estabelecido. Fiel ao seu estilo, Jesus sempre propõe a lógica do amor; uma lógica capaz de ser vivida por todos, porque é para todos.

Longe de qualquer tipo de elitismo, Jesus não propõe um horizonte para poucos privilegiados, capazes de chegar ao «conhecimento desejado» ou a altos níveis de espiritualidade. O horizonte de Jesus é sempre uma proposta para a vida diária, mesmo aqui na «nossa ilha»; uma proposta que faz com que o dia-a-dia tenha sempre um certo sabor a eternidade.

Quem é o mais importante? Jesus é simples na sua resposta: «Se alguém quiser ser o primeiro – ou seja, o mais importante –, há-de ser o último de todos e o servo de todos» (Mc 9, 35). Quem quiser ser grande, sirva os outros e não se sirva dos outros.

E este é o grande paradoxo de Jesus. Os discípulos discutiam sobre quem deveria ocupar o lugar mais importante, quem seria seleccionado como o privilegiado – os discípulos, que eram os mais próximos de Jesus, discutiam sobre isto! , quem seria isento da lei comum, da norma geral, para se pôr em evidência com um desejo de superioridade sobre os demais. Quem subiria mais rapidamente, ocupando os cargos que dariam certas vantagens.

E Jesus transtorna a sua lógica, dizendo-lhes simplesmente que a vida autêntica se vive no compromisso concreto com o próximo, isto é, servindo.

O convite ao serviço apresenta uma peculiaridade a que devemos estar atentos. Servir significa, em grande parte, cuidar da fragilidade. Servir significa cuidar dos frágeis das nossas famílias, da nossa sociedade, do nosso povo. São os rostos sofredores, indefesos e angustiados que Jesus nos propõe olhar e convida concretamente a amar. Amor que se concretiza em acções e decisões. Amor que se manifesta nas diferentes tarefas que somos chamados, como cidadãos, a realizar. São pessoas de carne e osso, com a sua vida, a sua história e especialmente com a sua fragilidade, aquelas que Jesus nos convida a defender, assistir, servir. Porque ser cristão comporta servir a dignidade dos irmãos, lutar pela dignidade dos irmãos e viver para a dignificação dos irmãos. Por isso, à vista concreta dos mais frágeis, o cristão é sempre convidado a pôr de lado as suas exigências, expectativas, desejos de omnipotência.

Há um «serviço» que serve aos outros; mas temos que guardar-nos do outro serviço, da tentação do «serviço» que «se» serve dos outros. Há uma forma de exercer o serviço cujo interesse é beneficiar os «meus», em nome do «nosso». Este serviço deixa sempre os «teus» de fora, gerando uma dinâmica de exclusão.

Todos estamos chamados, por vocação cristã, ao serviço que serve e a ajudar-nos mutuamente a não cair nas tentações do «serviço que que se serve». Todos somos convidados, encorajados por Jesus a cuidar uns dos outros por amor. E isto sem olhar para o lado, para ver o que o vizinho faz ou deixou de fazer. Jesus diz: «Se alguém quiser ser o primeiro, há-de ser o último de todos e o servo de todos» (Mc 9, 35). Este será o primeiro. Não diz: Se o teu vizinho quiser ser o primeiro, que sirva. Devemos evitar os juízos temerários e animar-nos a crer no olhar transformador a que Jesus nos convida.

Este cuidar por amor não se reduz a uma atitude de servilismo; simplesmente põe no centro a questão do irmão: o serviço fixa sempre o rosto do irmão, toca a sua carne, sente a sua proximidade e, em alguns casos, até «padece» com ela e procura a promoção do irmão. Por isso, o serviço nunca é ideológico, dado que não servimos a ideias, mas a pessoas.

O santo povo fiel de Deus, que caminha em Cuba, é um povo que ama a festa, a amizade, as coisas belas. É um povo que caminha, que canta e louva. É um povo que, apesar das feridas que tem como qualquer povo, sabe abrir os braços, caminhar com esperança, porque se sente chamado para a grandeza. Assim o sentiram os vossos heróis. Hoje convido-vos a cuidar desta vocação, a cuidar destes dons que Deus vos deu, mas sobretudo quero convidar-vos a cuidar e servir, de modo especial, a fragilidade dos vossos irmãos. Não os transcureis por causa de projectos que podem parecer sedutores, mas desinteressam-se do rosto de quem está ao teu lado. Nós conhecemos, somos testemunhas da «força imparável» da ressurreição, que «produz por toda a parte, gerando rebentos de um mundo novo» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 276.278).

Não nos esqueçamos da Boa Notícia de hoje: a importância dum povo, duma nação, a importância duma pessoa sempre se baseia no modo como serve a fragilidade dos seus irmãos. E nisto, encontramos um dos frutos da verdadeira humanidade.

Porque, queridos irmãos e irmãs, «quem não vive para servir, não serve para viver».

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DISCURSO DO SANTO PADRE - Aeroporto Internacional José Martí, Havana (Sábado, 19 de Setembro de 2015)

Senhor Presidente,
Distintas Autoridades,
Irmãos no Episcopado,
Senhoras e Senhores!

Muito obrigado, Senhor Presidente, pela sua recepção e pelas suas amáveis palavras de boas-vindas, em nome do Governo e de todo o povo cubano. A minha saudação estende-se também às autoridades e aos membros do Corpo Diplomático que tiveram a amabilidade de participar neste acto.

Agradeço pela sua fraterna recepção ao Cardeal Jaime Ortega y Alamino, Arcebispo de Havana, a D. Dionisio Guillermo García Ibáñez, Arcebispo de Santiago de Cuba e Presidente da Conferência Episcopal, aos outros bispos e a todo o povo cubano.

Obrigado a todos os que se prodigaram na preparação desta visita pastoral. E queria pedir-lhe, Senhor Presidente, para transmitir os meus sentimentos de especial consideração e respeito ao seu irmão Fidel. Além disso gostaria que a minha saudação chegasse de forma especial a todas aquelas pessoas que, por diferentes motivos, não poderei encontrar e a todos os cubanos espalhados pelo mundo.

Como o Senhor Presidente sublinhou, neste ano de 2015, celebra-se o octogésimo aniversário do estabelecimento de relações diplomáticas ininterruptas entre a República de Cuba e a Santa Sé. A Providência permitiu-me chegar hoje a esta amada nação, seguindo os passos indeléveis do caminho aberto pelas memoráveis viagens apostólicas feitas a esta Ilha pelos meus dois predecessores, São João Paulo II e Bento XVI. Sei que a sua lembrança desperta gratidão e afecto no povo e nas autoridades de Cuba. Hoje renovamos estes laços de cooperação e amizade, para que a Igreja continue a acompanhar e encorajar o povo cubano nas suas esperanças, nas suas preocupações, com liberdade e todos os meios necessários para levar o anúncio do Reino até às periferias existenciais da sociedade.

Além disso, esta viagem apostólica coincide com o I centenário da declaração da Virgem da Caridade do Cobre como Padroeira de Cuba, por Bento XV. Foram os veteranos da Guerra da Independência que, movidos por sentimentos de fé e patriotismo, pediram que a Virgem mambisa [cubana] fosse a padroeira de Cuba enquanto nação livre e soberana. Desde então, Ela acompanhou a história do povo cubano, sustentando a esperança que preserva a dignidade das pessoas nas situações mais difíceis e defendendo a promoção de tudo o que dignifica o ser humano. A sua devoção crescente é um testemunho visível da presença da Virgem Maria na alma do povo cubano. Durante estes dias, terei oportunidade de ir ao Santuário do Cobre, como filho e como peregrino, rezar à nossa Mãe por todos os seus filhos cubanos e por esta amada nação, para que caminhe por sendas de justiça, paz, liberdade e reconciliação.

Geograficamente, Cuba é um arquipélago que abre para todas as rotas, possuindo um valor extraordinário de «chave» entre norte e sul, entre leste e oeste. A sua vocação natural é ser ponto de encontro para que todos os povos se reúnam na amizade, como sonhou José Martí, «mais além da língua dos istmos e da barreira dos mares» («A Conferência Monetária das Repúblicas da América», em Obras escogidas II, Havana 1992, 505). Este mesmo desejo, exprimiu-o São João Paulo II com o seu ardente apelo para que «Cuba, com todas as suas magníficas possibilidades, se abra ao mundo e o mundo se abra a Cuba» (Discurso na cerimónia de acolhimento, 21/1/1998, 5).

Desde há vários meses, temos sido testemunhas dum acontecimento que nos enche de esperança: o processo de normalização das relações entre dois povos, após anos de afastamento. É um processo, é um sinal da vitória da cultura do encontro, do diálogo, do «sistema da valorização universal (…) sobre o sistema, morto para sempre, de dinastia e de grupos», dizia José Martí (obra citada). Encorajo os responsáveis políticos a prosseguir por este caminho e a desenvolver todas as suas potencialidades, como prova do alto serviço que são chamados a prestar em favor da paz e do bem-estar dos seus povos e de toda a América, e como exemplo de reconciliação para o mundo inteiro. O mundo precisa de reconciliação, nesta atmosfera de III Guerra Mundial por etapas que estamos a viver.

Coloco estes dias sob a intercessão da Virgem da Caridade do Cobre, dos Beatos Olallo Valdés e José Lopéz Pieteira e do Venerável Félix Varela, grande propagador do amor entre os cubanos e entre todos os homens, para que aumentem os nossos laços de paz, solidariedade e respeito mútuo.

Mais uma vez, muito obrigado, Senhor Presidente!