Preparação da visita do Papa

No dia 28 de abril, organizou-se um ciclo de conferências sobre os escritos e idéias do Papa no Centro de Extensão Universitária, em São Paulo. O tema era "Visões de Bento XVI para o Século XXI".

O prof. Henrique Elfes abordou o tema: 'Construir e conservar a identidade cristã'

No ciclo de palestras e debates "Visões de Bento XVI para o Século XXI", realizado no último sábado, 28 de abril, discutiram-se os escritos e idéias do Papa que, em breve, estará no Brasil. Os professores Henrique Elfes, Lenise Garcia e Rafael Ruiz Gonzalez fizeram exposições de quarenta e cinco minutos e responderam às perguntas do público presente no auditório do Centro de Extensão Universitária, em São Paulo.

O Prof. Henrique Elfes abordou o tema "Construir e Conservar a Identidade Cristã", tratando das questões que, na homilia inicial do último conclave, o então Cardeal Ratzinger apresentou como fundamentais para a atuação do novo Pontífice.

O primeiro ponto exposto foi a relação entre verdade e maturidade. Para Bento XVI, a chamada "ditadura do relativismo", isto é, a renúncia à crença no definitivo e absoluto, conduz as pessoas a um grau de arbitrariedade que as torna "crianças na fé", influenciáveis por doutrinas pouco consistentes e norteadas apenas pelo próprio "eu". O Papa pondera que a fé adulta está no inverso dessa visão individualista e relativista: em praticar a verdade na caridade, pois uma não se sustenta sem a outra.

Outro ponto estratégico para o novo Pontificado é preservar a identidade cristã. Bento XVI ressalva que Cristo não trouxe o projeto de uma nova sociedade, mas o modelo de um novo homem, capaz de experimentar a liberdade somente na amizade com Cristo.

Henrique Elfes também destacou o empenho do novo Papa em mostrar que a fé católica está profundamente vinculada à razão. Bento XVI afirma que, no diálogo com outras cosmovisões, os cristãos devem permanecer fiéis à idéia de que o Cristianismo é a religião do Logos por excelência, aberta a tudo aquilo que é racional.

Para tratar do tema "Verdade, razão e fé no pensamento de Bento XVI", a Profa. Lenise Garcia, Doutora em Microbiologia e professora da UNB, começou discorrendo sobre o equívoco contemporâneo de que a verdade é inimiga da paz e do diálogo; a partir desse ponto de vista, o relativismo constitui-se como dogma e o apelo à conversão torna-se mais difícil. Na realidade, a verdade é a premissa para a paz e o diálogo.

Profa. Lenise Garcia: 'A verdade como premissa para qualquer diálogo'.

O Papa Bento XVI constata no mundo de hoje uma crise do ethos . É cada vez maior a convicção de que não é possível fundamentar o ethos . Desta forma, os códigos de ética tornam-se arbitrários e nada resta além de "regras de trânsito para o comportamento humano".

O Prof. Rafael Ruiz Gonzalez, Doutor em História Social, comentou a primeira encíclica do novo Papa, "Deus Caritas Est" ("Deus é Amor").

O palestrante observou que a modernidade trouxe uma série de conceitos e definições que tornaram comum a atitude de "não agir, não arriscar, antes que se tenha a compreensão total e detalhada de todos os termos". Para ele, "o amor rompe com tudo isso, porque não se deixa conceituar, nem se submete aos limites da racionalização – brota e nos extasia, arranca-nos do egoísmo e nos dirige à pessoa amada."

Outro ponto enfatizado da "Deus Caritas Est" foi a crítica feita pelo Papa à idéia de que uma sociedade justa e igualitária é uma sociedade completa. Como o homem é um ser carente, que tem a constante necessidade de amar e de ser amado, o amor é vital mesmo onde a justiça reina.

Bento XVI lembra que o caminho percorrido pelo amor consiste em sair de si e doar-se integralmente ao outro, para depois retornar a si. À luz dessa idéia, Rafael Ruiz afirma: "Só seremos nós mesmos se assumirmos essa responsabilidade para com o outro".

Leonardo Freitas