Para iluminar, ter o fogo aceso: Matrimônio e celibato apostólico (2)

Viver como Cristo, tanto no matrimônio como no celibato, leva a acolher um estilo de vida novo que o Espírito Santo nos oferece: um amor fecundo, um coração limpo e uma opção pelas riquezas de Deus e pelo cuidado dos mais necessitados, no estilo do Evangelho.

Em meados dos anos cinquenta depois de Cristo, Suetônio escreve que o imperador Cláudio “expulsou [de Roma] os judeus que, impulsionados por Cresto, provocavam altercações com frequência”[1]. Aos olhos da autoridade romana, afirmavam que Cristo estava vivo, embora os de Jerusalém insistissem em que havia morrido crucificado: tratava-se dos cristãos procedentes da Judeia que possivelmente tinham ido à capital do império para anunciar Jesus ressuscitado. Eles compreenderam que não eram só os dozes apóstolos que estavam chamados a realizar aquela missão, mas todos os discípulos de Cristo de todos os tempos. Isso São Paulo recorda a uma das primeiras comunidades: “Sois uma carta de Cristo” – diz-lhes – que foi redigida em vossos corações ‘com o Espírito de Deus vivo’” (2 Cor 3,3). Todos eram chamados a ser, com sua vida, uma mensagem para os outros, escrita pelo próprio Cristo.

Naquele grupo muitos eram casados, como “o centurião Cornélio, que foi dócil à vontade de Deus e em cuja casa consumou-se a abertura da Igreja aos gentios (At 10, 24-48); Áquila e Priscila que difundiram o cristianismo em Corinto e em Éfeso e que colaboraram no apostolado de São Paulo (At 18, 1-26); Tábita, que com sua caridade assistiu os necessitados de Jope (At 9, 36)”[2]. Muitos outros, pelo contrário, não abraçavam o matrimônio por diferentes razões, entre elas, ter recebido o dom do celibato, com uma chamada a unir-se também a esse aspecto da vida de Jesus. É o que relata Galeno – um famoso médico pagão – por volta do ano 200 que também “há entre eles mulheres e homens que se abstiveram da união sexual por toda sua vida”[3]. O que também, na mesma época, São Justino testemunha: “Muitos homens e mulheres, já septuagenários, cristãos desde a juventude, conservam-se virgens”[4]. O que havia de novidade na mensagem ou no estilo de vida daqueles cristãos, casados e solteiros, viúvos e celibatários, que fizeram temer o próprio imperador?

Viviam sob uma nova lei

“Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28, 19): com esta frase o Senhor envia os apóstolos – e continua enviando-nos – a todo o mundo. Jesus acrescentou, além disso, que aonde fossem, ensinassem “a observar tudo o que vos prescrevi” (Mt 28,20). Se estas palavras chegaram aos ouvidos do imperador Cláudio, seria compreensível que ele se enchesse de nervosismo, pois Jesus Cristo estava estabelecendo uma nova lei, que, ao que parece, afetava qualquer território, inclusive o dele. O mandamento de Cristo, no entanto, era muito diferente do que talvez o imperador imaginasse: a lei dos discípulos – que os distinguiriam se a vivessem – não era outra, senão amar como Ele mesmo amou.

Jesus definiu essa lei peculiar como o “mandamento novo” (cfr Jo 13, 34) e, em boa medida, é sempre novo, pois não é simples aprender a amar assim. Se observarmos à nossa volta, há muitos cantos de sereia que nos convidam a viver de outra forma, a amar ídolos, interiores ou exteriores. E se olharmos dentro de nós, também existem motivos de sobra para tornar evidente, inclusive, que pode ser delicado amar-nos assim a nós mesmos: com a passagem do tempo acumulamos tensões, fracassos, medos, que vão golpeando a nossa própria autoestima. Quem pode amar a Deus, a si mesmo e ao próximo como Jesus fez?

Acolher a realidade como amada por Deus, sem devolver o mal por mal, sem procurar a justiça por nossa conta , tentando ver como nós também podemos amá-la é parte de “guardar o que Ele ensinou”. No casamento, os esposos declaram um ao outro: “eu te recebo e me entrego a ti e prometo ser fiel na prosperidade e na adversidade, na saúde e na doença, e amar-te e respeitar-te todos os dias da minha vida”. De certa forma, Deus realiza isso mesmo conosco; promete-nos que, junto dele, toda realidade pode ser aceita. Inclusive no que é mais obscuro – desgraças, doenças, injustiças, infidelidades, fracassos – podemos descobrir o significado misterioso, uma luz tênue e, com sua ajuda, podemos compreender como “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus” (Rom 8, 28).

A bem-aventurada Guadalupe[5] dizia que, para realizar o apostolado do Opus Dei, estaria “contente onde me necessitem”[6], pois sabia que qualquer circunstância era propícia para viver esse novo mandamento de Jesus, essa nova lei do amor que convida todos a viverem em uma lógica diferente. Por isso, “seu projeto de vida ficou engrandecido ao ser colocado dentro do plano divino: Guadalupe deixou-se levar por Deus, com alegria e espontaneidade de um lugar a outro, de um trabalho a outro. O Senhor potencializou sua capacidade e talentos, desenvolveu sua personalidade e multiplicou os frutos de sua vida”[7]. A vida dos santos recorda-nos o que é viver sob este novo império que vence o egoísmo com o amor de Cristo que se encarna nos cristãos.

A chamada à paternidade e maternidade espirituais

É lógico, por isso, que os discípulos tenham começado a ver as pessoas com outros olhos; já não viam distinções de nação nem de qualquer outro tipo, mas procuravam amar com o coração misericordioso de Deus, judeus, samaritanos, galileus, romanos, gregos ou persas. Imitando Jesus, adquiriam pouco a pouco um coração de pai e de mãe, pois eram chamados a comunicar uma vida nova ao dar à luz na fé a tantas pessoas. São Gregório de Nisa indica que o motivo pelo qual Jesus era celibatário era precisamente porque Ele vinha ao mundo não para gerar filhos nascidos do sangue ou da carne (cfr Jo 1, 13), e sim para dar-nos a vida sobrenatural, engendrando-nos como filhos de Deus[8]. Todos os cristãos – seguidores de Jesus Cristo –, solteiros e casados, somos chamados a essa paternidade ou maternidade espirituais.

Viver esse novo tipo de paternidade ou maternidade é a missão mais alta de toda pessoa. Assim como o Gênesis sublinha a vocação à paternidade e à maternidade físicas (cfr Gn 1,28), poderíamos dizer que os primeiros discípulos, herdeiros de um novo gênero humano a partir da Ressurreição do Senhor, foram chamados a uma nova paternidade e maternidade em Cristo. A própria bem-aventurada Guadalupe várias vezes, ao escrever a São Josemaria, não pode ocultar sua alegria vendo crescer essa vida nova nas pessoas à sua volta, especialmente nas estudantes da residência em que morava: “Às vezes, vendo-as todas contentes e trabalhando bem, nos parece que já conseguimos tudo, e esquecemos que o nosso trabalho é nada menos que ensiná-las a ser santas, sendo nós também”[9].

Os cônjuges recebem essa fecundidade especialmente através da graça do matrimônio, mas não somente aí. Com o Espírito Santo e os outros sacramentos, dispõem sempre de luz e forças novas para cuidar um do outro e para educar os filhos – quando chegam – nutrindo-os com a vida de Deus. Aqueles que não têm filhos podem também descobrir essa fecundidade inflamar o amor de Deus em pessoas e lugares que talvez nunca tivessem imaginado.

É também o próprio Espírito Santo que concede uma graça especial às pessoas solteiras ou àquelas que receberam o dom do celibato: com isso imitam a vida de Cristo no modo particular de cuidar e de dar a vida espiritual a tanta gente.

Na vida de Marcelo Câmara[10], supernumerário do Opus Dei que faleceu muito jovem, observa-se claramente essa paternidade espiritual. Uma amiga recorda uma conversa com o Marcelo, num dia em que se sentia triste: “Lá estava eu – diz ao recordar um desses momentos – ganhando de presente mais uma vez aquela sensação, como se eu estivesse por poucos segundos sentindo Cristo muito próximo, cuidando de mim, me incentivando na fé. Uma sensação de paz indescritível”[11]. Algo similar recordam os alunos de Arturo Álvarez[12], adscrito do Opus Dei, engenheiro e professor mexicano. Numa carta dirigida a ele, diziam: “Um mestre é aquele que além de dar sua matéria, dá a seus alunos parte do seu próprio ser, de sua filosofia de vida e de seu credo. Ao dar sua aula cada manhã, vemos como em cada atividade procura a oportunidade de realizar-se, de santificar-se (...). É um mestre que deixará uma marca profunda em nossa vida”[13].

Uma limpeza necessária do coração

Jesus, durante os delicados momentos da Última Ceia, diz aos apóstolos: “Vós estais limpos”; embora acrescente a seguir: mas “nem todos”, referindo-se a Judas (cfr Jo 13, 10). Há aqui outra pista sobre esta nova vida à qual Ele convida os apóstolos: um estilo de vida “limpo”. Quer dizer, coerente e em sintonia com Ele, e que encontra no coração de Jesus a melhor maneira de amar os outros. E esta chamada é para todos, em qualquer estado em que a pessoa esteja. São Josemaria compreendeu-o bem, e por isso escreveu: “Prometo-vos um livro – se Deus me ajudar – que poderá ter este título: ‘Celibato, Matrimônio e Pureza’”[14]. A limpeza de coração é fonte de fecundidade para uns e outros. Embora o fundador do Opus Dei não tenha chegado a escrever esse livro, desejava dizer que todos podem ser igualmente abençoados com a fecundidade quando encontram a fonte de sua vida no amor de Deus e no amor aos outros, nesse “novo mandamento”. Aos casados dizia: “Vejo o leito conjugal como um altar”[15]. E aos celibatários: “Ânsia de filhos? ... Filhos, muitos filhos, e um rasto indelével de luz[16]”.

Talvez possamos compreender melhor essa “limpeza” da qual fala o Senhor ao olhar com um pouco mais de perspectiva a história de Judas. Os grandes planos e ambições que ele albergava estavam misturados com um mundanismo ao qual não quis renunciar. No final, sem sentir-se abençoado nem sequer com as trinta moedas de prata que ele mesmo negociou, acabou detestando tudo o que possuía: esse dinheiro, ser contado entre os apóstolos, e até sua própria vida. Tudo o que se afasta dessa limpeza de coração termina por revelar-se como um vil engano que nos defrauda, que nos distancia de nossa verdadeira felicidade. Neste sentido, as tentações de Jesus no deserto são bem eloquentes: mostram como o diabo, prometendo um pouco de pão, de glória e de honra, na verdade está interessado em que Jesus se desvie e deixe de realizar os planos divinos. O demônio é capaz de seduzir uma pessoa com alguma coisa boa desde que a desvie da missão que dá sentido à sua própria vida. A tentação não está tanto no “apropriar-se” de alguns bens, pequenos ou grandes, mas em que esses bens nos segurem e nos impeçam de dedicar as melhores energias ao serviço de Deus e dos outros.

Essa “limpeza de coração”, embora se forje no fundo da alma, manifesta-se também exteriormente, muitas vezes em pequenos gestos. Na vida matrimonial, pode ser vital uma maneira detalhista de relacionar-se, lembrar de aniversários, surpreendendo o outro adivinhando seus gostos etc. Do casal Alvira[17], por exemplo, aprendemos como “ao comprar a própria roupa, Paquita escolhia quase sempre as cores que agradavam a seu marido”. E, por sua vez, Tomás, “quando iam ao cinema, planejava para ir ver – muito feliz - os filmes... que ele sabia que agradavam mais a ela”[18]. A pessoa celibatária também comunica, com palavras e atitudes, que é chamada a dar vida sobrenatural e que o amor de sua vida tem um nome. Aprende a ser compreensiva com todos, sensível às necessidades dos outros, aprende ainda a deixar claro, sem equívocos, o compromisso de sua vida e de sua intimidade. “O celibato apostólico – afirma o Prelado do Opus Dei – pelo fato de comportar um compromisso de coração indiviso para Deus, deve ser visível num teor de vida entregue, análogo ao de uma pessoa casada, que não se comporta como se não tivesse nenhum compromisso”[19].

Cristo é a verdadeira riqueza

Essa “limpeza” da qual Jesus fala na Última Ceia oferece-nos ainda outro ensinamento. Sabemos que o fato de que Judas não estivesse limpo deve-se, pelo menos em parte, a que ele tenha deixado crescer no seu interior um afã desordenado pelas riquezas (cfr Jo 12, 6). Não se sabe de que quantidade de dinheiro o grupo dos doze dispunha. Não seria muito, mas tinham o suficiente para valer-se por si mesmos e para atender os mais necessitados. Quando Jesus disse a Judas “o que tens que fazer, faze-o logo”, os outros pensaram que, como ele era quem guardava o dinheiro, Jesus lhe estava pedindo que comprasse o necessário para a festa ou que desse alguma coisa aos pobres (cfr Jo 13, 27-29).

Essa “limpeza” à qual o Senhor convida seus apóstolos inclui também a ordem em nossas relações com as coisas materiais; recorda eloquentemente como é decisivo confiar em Deus e, portanto, ter a convicção de que a finalidade dos bens materiais está em impulsionar nossa missão espiritual. Quando Jesus envia setenta e dois discípulos para anunciar o Reino, e em muitos outros momentos, insiste em que não levem coisas supérfluas, não atesourem sem sentido e não se preocupem de modo desordenado pelos bens da terra. Porque é fácil que nosso coração se afeiçoe, se apegue a essas seguranças e que deixe de brilhar nele a tênue luz do Espírito Santo para dar lugar ao falso resplendor da avareza. Por isso não é estranho ver, nos inícios da Igreja, os apóstolos distribuindo bens aos mais necessitados com magnanimidade (cfr At 4,34; 24, 17; 1Cor 16, 1-4; Gal 2,10; e outros) e sempre, possuindo ou não riquezas, mostrando qual era a fonte essencial de sua missão: “Não tenho ouro nem prata – disse São Pedro a um paralítico – mas o que tenho te dou: Em nome de Jesus Cristo Nazareno, levanta-te e anda!”(At 3,6).

O cristão aprende a amar “na prosperidade e na adversidade, na saúde e na doença”: ou chegando ao fim do mês fazendo malabarismos com as contas, ou procurando com criatividade como pôr os bens a serviço dos outros. O casal Alvira conta que conseguiu um verdadeiro “milagre econômico”[20] ao permitir a seus filhos terminarem os estudos. Toni Zweifel[21], numerário suíço do Opus Dei, por seu lado também é recordado como alguém que “levou uma vida generosa e sóbria”[22]. Isso, porém, era o fruto maduro de um caminho que ele começou ainda quando era um jovem engenheiro. Conta-se que antes de descobrir sua vocação como numerário possuía um luxuoso carro esportivo, presente de seu pai como prêmio a seus êxitos de estudante de engenharia[23]. Quando se decidiu pelo celibato apostólico, “deu logo a entender a seu pai que precisava de um modelo de carro mais adequado a suas condições de vida, e conseguiu que ele o trocasse por outro mais útil para a residência: um Saab de sete lugares”[24] que foi essencial para a vida de todos. Em definitivo, aprendeu a utilizar os bens de modo que contribuíssem para reforçar sua missão de apóstolo.

Se é preciso preferir, prefere os mais fracos

Existe uma característica peculiar do estilo de vida de um apóstolo, consequência do que ficou dito. Saber-se apóstolo, aprender a amar sempre e a todos como Cristo, viver com um coração limpo e ancorado nos bens de Deus, permite que se sinta predileção – como Cristo – pelos mais fracos e necessitados. Jesus, com efeito, cura os enfermos, louva os simples de coração, preocupa-se pelas crianças, compadece-se dos pecadores. Poderíamos dizer que, se é preciso preferir, Jesus prefere os mais fracos e necessitados, os que se sentem perdidos, em desvantagem, desprotegidos. Quando os discípulos de João Batista querem saber se ele é o Messias, manda-lhes dizer: “Anunciai a todos o que estais vendo e ouvindo: os cegos veem, os paralíticos andam, os leprosos ficam limpos e os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres se anuncia o Evangelho. E bem-aventurado quem não se escandalizar de mim” (Mt 11, 4-5)

Por que Jesus nos adverte sobre a possibilidade de escandalizar-nos dele? Talvez porque costumamos ter outras prioridades. O coração humano já foi descrito como uma “máquina de preferir e desdenhar”[25], e em boa medida é verdade, pois tendemos a querer o que nos agrada e a rejeitar o que nos incomoda. Talvez seja espontâneo aproximar-nos daqueles que nos beneficiam e afastar-nos dos que nos incomodam; queremos os primeiros lugares e estamos dispostos a atropelar os outros para conseguir algum bem. Os discípulos do Senhor, pelo contrário, são chamados a ser aqueles que, tendo purificado o coração, os afetos e os sentidos, priorizam as pessoas e os âmbitos que mais têm sede da vida de Cristo; deixam-se impressionar pelo que representa um tesouro para o Senhor.

Pedro Ballester[26], por exemplo, percebeu “que havia um menino de oito anos na vizinhança que não tinha com quem brincar. Embora fosse vários anos mais velho, Pedro convidou-lhe para brincar em sua casa. Desde então, aquela criança batia à porta dos Ballester com muita frequência”[27]. Também nós podemos perceber, entre os que estão perto de nós, os mais pobres de amor de Deus, quer dizer, os tristes, cansados, inoportunos ou descartados, por idade ou doença. “Criança. – Doente. – Ao escrever estas palavras – pergunta São Josemaria – não sentis a tentação de escrevê-las com maiúsculas? É que, para uma alma enamorada, as crianças e os doentes são Ele”[28].

Na Obra, São Josemaria também quis que se cuidasse de modo especial os mais necessitados. Ensinou, por isso, a formar a juventude atendendo aos pobres, dando catequese às crianças, impulsionando iniciativas sociais em ambientes muito diversos. E com sensibilidade paterna pediu a todos os membros do Opus Dei que rezassem todo dia a Nossa Senhora a oração Lembrai-vosde São Bernardo pedindo pela pessoa da Obra que mais necessitasse de oração. Isidoro Zorzano, um dos primeiros membros da Obra, mostra como essa realidade já era vivida durante a guerra civil espanhola. Ele, que tinha liberdade de movimentos por sua nacionalidade argentina, podia visitar os membros do Opus Dei que estavam escondidos em Madri. Entre todos, não ocultava que tinha um que mais gostava de visitar: Vicente Rodríguez Casado. Isidoro dizia com simplicidade: “Eu vou vê-lo com frequência pois é o que está mais sozinho”[29].

***

“O que ilumina deve aceitar aquilo que queima”[30], diz um poeta contemporâneo. Com efeito, o fogo interior da vocação cristã é aquilo que precisamos conservar e alimentar para ser, como dizia São Paulo aos de Corinto, “uma carta de Cristo” que foi “escrita não com tinta, mas com o espírito de Deus vivo; não em tábuas de pedra, mas em tábuas que são corações de carne” (2 Cor 3, 3). Esse fogo, tanto em solteiros como em casados, e naqueles que receberam o dom do celibato, acende-se no amor de Cristo, propaga-se em outros fogos, purifica o coração e procura dar calor a quem mais necessita.


[1] Suetonio, Vitae XII Caesarum. Vita Claudii, XXVV, 3. Na versão original se lê: “Iudeos impulsore Chresto assidue tumultuantes Roma expulit”.

[2] São Josemaria, É Cristo que passa, n. 30

[3] Galeno, Libro de sententiis Politiae Platonicae, exposto por Abu Al-Fida Ismail Ibn-Ali, Abulfedae Historia Anteislamica Arabice, F.C.G. Vogel, Lipsia 1831, 109. Na versão original lê-se: “Sunt enim inter eos, et foeminae et viri, qui por totam vitam a concubitu abstinuerint”. Galeno nasceu em Pérgamo (Turquia) por volta do ano 130 e faleceu em 201. Foi médico da corte imperial no tempo de Marco Aurélio, bem como de seu filho Cómodo e dos imperadores seguintes.

[4] São Justino, Apologia I, 15, 6-7

[5] Guadalupe Ortiz de Landázuri (1916-1975) era química e professora espanhola e foi uma das primeiras mulheres do Opus Dei, como numerária. Destacou-se por sua entrega ao ensino e por seu trabalho evangelizador na Espanha e na América Latina. Foi beatificada em 2019.

[6] María del Rincón, Maria Teresa Escobar, Cartas para um santo.

[7] Mons. Fernando Ocáriz, mensagem de 9 de abril de 2019.

[8] Cfr. São Gregório de Nisa, De Virginitate 2, 1, 1-11.

[9] María del Rincón, María Teresa Escobar, Cartas para um Santo.

[10] Marcelo Henrique Câmara (1979 – 2008) era um leigo brasileiro, advogado e professor, conhecido por sua profunda vida de fé e de apostolado no Opus Dei. Destacou-se por sua alegria, espírito de serviço e testemunho cristão na vida cotidiana. Está em processo de beatificação.

[11] Maria Zoê Bellani Lyra Espindola. No caminho da santidade; A vida de Marcelo Câmara, um promotor de justiça (Portuguese Edition) (p. 55). Cia do eBook. Edição do Kindle.

[12] Arturo Álvares Ramírez (1935 – 1992) era um engenheiro químico e professor mexicano, reconhecido por sua dedicação à docência na Universidade de Guadalajara durante mais de trinta anos. Destacou-se por sua amabilidade e disponibilidade para com todos. Seu processo de beatificação teve início em 2021 em Guadalajara.

[13] Javier Galindo Michel, La vida plena de Arturo Álvarez Ramírez, Minos, Cidade do México 2018, 71.

[14] São Josemaria, Caminho, n. 120.

[15] São Josemaria, Anotações de uma reunião familiar (1967), em José Luis Illanes (coord.), Diccionario de San Josemaría Escrivá de Balaguer, Monte Carmelo, Burgos 2013, 490.

[16] São Josemaria, Caminho, n. 28

[17] O casal formado por Tomás Alvira (1906-1992) e Paquita Domínguez (1912-1994) foi um exemplo de vida cristã no matrimônio e na família. Membros da Obra, viveram sua fé com alegria, simplicidade e espírito de serviço, procurando transmitir a fé a seus filhos e a quem os rodeavam. Seu processo de beatificação está em curso.

[18] Hilario Mendo. El secreto de los Alvira. Un ejemplo de amor matrimonial, Palabra, Madri 2023, 29.

[19] Mons. Fernando Ocáriz, Carta pastoral de 28 de outubro de 2020, n. 22.

[20] Hilario Mendo. El secreto de los Alvira. Un ejemplo de amor matrimonial, Palabra, Madri 2023,116.

[21] Toni Zweifel (1938-1989) era engenheiro suíço, conhecido por seu trabalho na Fundação Limmat, Dedicada a promover projetos de desenvolvimento e educação em todo mundo. Destacou-se por sua profunda vida de fé, espírito de serviço e confiança em Deus, inclusive durante sua doença. Seu processo de beatificação está em curso.

[22] Agustín López Kindler, Toni Zweifel. Huellas de una historia de amor, Rialp, Madri 2016, 140.

[23] Cfr. Ibidem 33

[24] Ibidem, 51.

[25] José Ortega y Gasset, La elección en amor [Revelación de la cuenca, latente] em Estudios sobre el amor, Revista de Occidente, 8ª edição, Madri 1952, 92-99.

[26] Pedro Ballester (1994-2018) era um jovem britânico, conhecido por sua fé profunda e alegria em meio à doença. Era numerário do Opus Dei. Diagnosticado com câncer aos 17 anos, enfrentou seu sofrimento com fortaleza e confiança em Deus, dando o exemplo àqueles que o conheceram. Seu processo de beatificação está em curso.

[27] Jorge Boronat, Pedro Ballester. ¡Nunca he sido más feliz!, Cobel, Murcia 2022, 19.

[28] São Josemaria, Caminho, n. 419

[29] José Miguel Pero-Sanz, Isidoro Zorzano, Palabra, Madri 1996, 203.

[30] Anton Wildgans, em Wenceslao Vial, Psicología y celibato, em Juan Luis Caballero (ed), El celibato cristiano, Palabra, Madri 2019, 183.

Gerard Jiménez Clopés y Andrés Cárdenas Matute