"Não é possível aderir a Cristo, impondo condições"

Na catequese desta quarta-feira hoje, o Papa Francisco refletiu sobre o rito do sacramento do batismo realizado ao lado da pia batismal, que são: a bênção da água, a renúncia ao pecado e a profissão de fé.

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!

Prosseguindo a reflexão sobre o Batismo, hoje gostaria de meditar sobre os ritos centrais, que têm lugar junto a pia batismal.

Consideremos antes de tudo a água, sobre a qual é invocado o poder do Espírito, a fim de que tenha a força de regenerar e renovar[1]. A água é matriz de vida e de bem-estar, enquanto a sua falta provoca o esmorecimento de toda a fecundidade, como acontece no deserto; mas a água pode ser também causa de morte, quando submerge entre as suas ondas, ou em grande quantidade devasta tudo; por fim, a água tem a capacidade de lavar, limpar e purificar.

A partir deste simbolismo natural, universalmente reconhecido, a Bíblia descreve as intervenções e as promessas de Deus através do sinal da água. No entanto, o poder de perdoar os pecados não está na água em si, como explicava Santo Ambrósio aos neófitos: “Viste a água, mas nem toda a água cura: só sara a água que tiver em si a graça de Cristo. [...] A ação é da água, mas a eficácia é do Espírito Santo”[2].

Por isso, a Igreja invoca a ação do Espírito sobre a água, a fim de que “todos aqueles que, nesta água, forem batizados, sejam sepultados com Cristo na morte e ressuscitem com Ele para a vida eterna”[3]. A prece de bênção diz que Deus preparou a água “para ser sinal do Batismo”, recordando as principais prefigurações bíblicas: sobre as águas primordiais pairava o Espírito, para transformá-las em germe de vida[4]; a água do dilúvio marcou o fim do pecado e o início da nova vida[5]; através da água do Mar Vermelho, os filhos de Abraão foram libertados da escravidão do Egito[6]. A propósito de Jesus, recorda-se o Batismo no Jordão[7], o sangue e a água derramados do seu lado[8], e o mandato dado aos discípulos, para batizar todos os povos em nome da Trindade[9]. Revigorados por esta memória, pede-se a Deus que infunda na água da pia batismal a graça de Cristo morto e ressuscitado[10]. E assim, esta água é transformada em água que traz em si a força do Espírito Santo. E mediante esta água, com a força do Espírito Santo, batizamos as pessoas, os adultos, as crianças, todos.

O diabo divide; Deus une

Santificada a água da pia batismal, é preciso dispor o coração para aceder ao Batismo. Isto acontece mediante a renúncia a Satanás e a profissão de fé, dois gestos estritamente ligados entre si. Na medida em que digo “não” às sugestões do diabo — aquele que divide — torno-me capaz de dizer “sim” a Deus, que me chama a conformar-me com Ele nos pensamentos e nas ações. O diabo divide; Deus une sempre a comunidade, as pessoas num único povo. Não é possível aderir a Cristo impondo condições. É necessário desapegar-se de certos vínculos para poder realmente abraçar outros; ou você está de bem com Deus, ou com o diabo. Por isso, a renúncia e o ato de fé caminham juntos. É preciso eliminar pontes, deixando-as atrás, para empreender o novo Caminho, que é Cristo.

A resposta às perguntas — “Vocês renunciam ao demônio, a todas as suas obras e a todas as suas seduções?” — é dada na primeira pessoa do singular: “Renuncio”. E do mesmo modo é professada a fé da Igreja, dizendo: “Creio”. Eu renuncio, eu creio: isto está na base do Batismo. É uma opção responsável, que deve ser traduzida em gestos concretos de confiança em Deus. O ato de fé supõe um compromisso que o próprio Batismo ajudará a manter com perseverança nas várias situações e provas da vida. Recordemos a antiga sabedoria de Israel: “Meu filho, se te apresentares para servir o Senhor, prepara-te para a tentação”[11], ou seja, prepara-te para o combate. E a presença do Espírito Santo concede-nos a força para lutar bem.

Estimados irmãos e irmãs, quando molhamos a mão na água benta — ao entrar numa igreja, tocamos a água benta — e fazemos o sinal da Cruz, pensemos com alegria e gratidão no Batismo que recebemos — esta água benta recorda-nos o Batismo — e renovemos o nosso “Amém” — “Estou feliz” — para viver imersos no amor da Santíssima Trindade.

No final da audiência geral, o Santo Padre saudou os vários grupos linguísticos presentes na praça. Publicamos, entre outras, as seguintes saudações.

A graça do batismo deve frutificar num caminho de santidade feito de pequenos, mas profundos, gestos concretos de confiança em Deus e de amor ao próximo.

Dirijo uma cordial saudação aos peregrinos de língua portuguesa, presentes nesta Audiência, nomeadamente aos grupos vindos de Portugal e do Brasil. Queridos amigos, a graça do batismo deve frutificar num caminho de santidade feito de pequenos, mas profundos, gestos concretos de confiança em Deus e de amor ao próximo. Que Deus vos abençoe!

Dirijo uma saudação cordial aos peregrinos de língua árabe, de modo particular aos provenientes do Médio Oriente! Caros irmãos e irmãs, recordem sempre que a renúncia ao pecado, às seduções do mal, a Satanás, é aquilo em que a Igreja acredita; não se trata de gestos transitórios, limitados ao momento do Batismo, mas de atitudes que acompanham todo o crescimento e maturação da vida cristã. Que o Senhor vos abençoe!

Saúdo com alegria os peregrinos croatas, de maneira especial os dirigentes e os alunos da Escola católica de São José, em Sarajevo, na Bósnia e Herzegovina. Estimados jovens, ainda conservo vivo no coração o nosso encontro em Sarajevo, em 2015, sobretudo a sua presença jubilosa, e a sua sede de verdade e de ideais. Exorto vocês a aderirem cada vez mais a Cristo, para viver plenamente a sua existência. A Igreja conta com vocês: sejam sempre generosos, intrépidos e cheios de esperança. Abençoo vocês de coração. Louvados sejam Jesus e Maria!

Dirijo um pensamento especial aos jovens, aos idosos, aos doentes e aos recém-casados. Hoje se celebra a memória de Santo Atanásio, Bispo e Doutor da Igreja. A sua santidade, associada a uma sã doutrina, ampare a fé e fortaleça o testemunho cristão de cada um.


[1] Cf. Jo 3, 5 e Tt 3, 5.

[2] De sacramentis 1, 15.

[3] Rito do Batismo das crianças, n. 60.

[4] Cf. Gn 1, 1-2.

[5] Cf. Gn 7, 6-8, 22.

[6] Cf. Êx 14, 15-31.

[7] Cf. Mt 3, 13-17.

[8] Cf. Jo 19, 31-37.

[9] Cf. Mt 28, 19.

[10] Cf. Rito do Batismo das crianças, n. 60.

[11] Eclo 2, 1.

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