O advento explicado por Bento XVI em 20 textos

“Se falta Deus, a esperança falha. Tudo perde o sentido”, diz o Papa. Nesta seleção de textos das homilias proferidas no início do Advento, ele fala de esperança, alegria e preparação.

I domingo do advento 2006

1) A primeira antífona desta celebração vespertina apresenta-se como abertura do tempo do Advento e ressoa como antífona de todo o ano litúrgico: “Anunciai a todos os povos e dizei-lhes: Eis que vem Deus, nosso Salvador” (. ..). Paremos um pouco para refletir: ele não usa o passado – Deus veio – nem o futuro – Deus virá – mas o presente: “Deus está vindo”. Como podemos perceber, é um presente contínuo, ou seja, uma ação que sempre se realiza: está acontecendo, acontece agora e também acontecerá no futuro. Em todos os momentos “Deus vem”.

2) O Advento convida os crentes a tomar consciência desta verdade e a agir com coerência. Ressoa como um chamado saudável que se repete com o passar dos dias, das semanas, dos meses: Acorde. Lembre-se de que Deus está vindo. Não ontem, nem amanhã, mas hoje, agora.

3) O único Deus verdadeiro, “o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó” não é um Deus que está no céu, desinteressado de nós e da nossa história, mas é o Deus que vem. Ele é um Pai que nunca deixa de pensar em nós e, respeitando plenamente a nossa liberdade, deseja encontrar-nos e visitar-nos; Ele quer vir, viver entre nós, permanecer em nós. Ele vem porque quer nos libertar do mal e da morte, de tudo que impede a nossa verdadeira felicidade, Deus vem para nos salvar.

4) De uma forma que só ele conhece, a comunidade cristã pode apressar a vinda final, ajudando a humanidade a sair ao encontro do Senhor que vem. E fá-lo antes de tudo, mas não só, com a oração.

I domingo do advento 2007 

5) A esperança cristã está inseparavelmente ligada ao conhecimento do rosto de Deus, o rosto que Jesus, o Filho unigénito, nos revelou com a sua encarnação, com a sua vida terrena e a sua pregação, e sobretudo com a sua morte e ressurreição.

6) Como se pode ver no Novo Testamento e especialmente nas cartas dos Apóstolos, desde o início uma nova esperança distinguiu os cristãos das pessoas que viviam a religiosidade pagã. São Paulo, na sua carta aos Efésios, recorda-lhes que, antes de abraçarem a fé em Cristo, estavam «sem esperança e sem Deus neste mundo» (Ef 2,12). Esta expressão é extremamente relevante para o paganismo dos nossos dias: podemos referi-la em particular ao niilismo contemporâneo, que corrói a esperança no coração do homem, levando-o a pensar que dentro dele e à sua volta reina o nada: nada antes do nascimento e nada. após a morte.

7) Se Deus falta, a esperança falha. Tudo fica sem sentido. É como se faltasse a dimensão da profundidade e todas as coisas se tornassem escuras, privadas do seu valor simbólico; como se não se “destacassem” da mera materialidade.

8) Deus conhece o coração do homem. Ele sabe que quem o rejeita não conhece a sua verdadeira face; É por isso que Ele não para de bater à nossa porta, como um humilde peregrino em busca de acolhimento. O Senhor concede um tempo novo à humanidade justamente para que todos possam conhecê-Lo.

9) A minha esperança, a nossa esperança, é precedida pela esperança que Deus cultiva em relação a nós. Sim, Deus ama-nos e é precisamente por isso que espera que voltemos a Ele, que abramos o nosso coração ao seu amor, que coloquemos a nossa mão na dele e nos lembremos de que somos seus filhos. Esta espera de Deus precede sempre a nossa esperança, tal como o seu amor nos abraça sempre primeiro.

10) Cada homem é chamado a esperar correspondentemente ao que Deus espera dele. Além disso, a experiência mostra-nos que é precisamente esse o caso. O que move o mundo senão a confiança que Deus tem no homem? É uma confiança que se reflete no coração dos pequenos, dos humildes, quando através das dificuldades e das provações se esforçam todos os dias para agir da melhor maneira possível, para alcançar um bem que parece pequeno, mas que para eles o olhar de Deus é muito grande: na família, no trabalho, na escola, nas diversas áreas da sociedade. A esperança está indelevelmente escrita no coração do homem, porque Deus nosso Pai é vida, e nós fomos feitos para a vida eterna e abençoada.

I domingo do advento 2008 

11) Todo o povo de Deus partiu novamente, atraído por este mistério: o nosso Deus é “o Deus que vem” e nos convida a sair ao seu encontro. De que maneira? Acima de tudo, na forma universal de esperança e de espera que é a oração, que encontra a sua expressão eminente nos Salmos, palavras humanas nas quais o próprio Deus colocou e coloca continuamente a invocação da sua vinda nos lábios e no coração dos crentes.

12) “Senhor, (...) vem depressa” (v. 1). É o grito de uma pessoa que se sente em grave perigo, mas é também o grito da Igreja no meio das múltiplas armadilhas que a rodeiam, que ameaçam a sua santidade, a integridade irrepreensível de que fala o apóstolo São Paulo e que , em vez disso, deve ser preservado até a vinda do Senhor. E nesta invocação ressoa também o grito de todos os justos, de todos aqueles que querem resistir ao mal, às seduções de um bem-estar iníquo, de prazeres que ofendem a dignidade humana e a condição dos pobres.

I Domingo do Advento de 2009

13) Advento. Reflitamos brevemente sobre o significado desta palavra, que pode ser traduzida como “presença”, “chegada”, “vinda”. Na língua do mundo antigo era um termo técnico utilizado para indicar a chegada de um oficial, a visita do rei ou imperador a uma província. Mas também poderia indicar a vinda da divindade, que sai do esconderijo para se manifestar com força, ou que é celebrada presente no culto. Os cristãos adoptaram a palavra “Advento” para exprimir a sua relação com Jesus Cristo: Jesus é o Rei, que entrou nesta pobre “província” chamada terra para visitar todos; Ele convida todos aqueles que acreditam nele, todos aqueles que acreditam na sua presença na assembleia litúrgica, a participar na sua festa do Advento. A palavra adventus significava substancialmente: Deus está aqui, não se retirou do mundo, não nos deixou sozinhos. Embora não possamos vê-lo nem tocá-lo, como acontece com as realidades sensíveis, ele está aqui e vem nos visitar de múltiplas maneiras.

14) O significado da expressão “Advento” inclui também visitatio, que significa simplesmente “visita”; Neste caso é uma visita de Deus: ele entra na minha vida e quer falar comigo. Na vida cotidiana todos nós experimentamos que temos pouco tempo para o Senhor e também pouco tempo para nós mesmos. Acabamos ficando absorvidos no “fazer”. Não é verdade que muitas vezes é precisamente a actividade que nos domina, a sociedade com os seus múltiplos interesses que monopoliza a nossa atenção? Não é verdade que muito tempo é dedicado ao lazer e a todo tipo de entretenimento? Às vezes as coisas “nos sobrecarregam”.

15) O Advento, este forte tempo litúrgico que iniciamos, convida-nos a parar, em silêncio, para captar uma presença. É um convite a compreender que os acontecimentos de cada dia são gestos que Deus nos dirige, sinais da sua atenção para cada um de nós. Quantas vezes Deus nos faz perceber um pouco do seu amor! Escrever – por assim dizer – um “diário interior” deste amor seria uma tarefa bela e saudável para as nossas vidas. O Advento convida-nos e encoraja-nos a contemplar o Senhor presente. A certeza da sua presença não deveria nos ajudar a ver o mundo de forma diferente? Não deveria ajudar-nos considerar toda a nossa existência como uma “visitação”, como uma forma pela qual Ele pode vir até nós e estar perto de nós, em qualquer situação?

16) Na vida o homem espera constantemente: quando é criança quer crescer; Quando adulto busca realização e sucesso; Quando chega à idade avançada aspira ao merecido descanso. Mas chega o momento em que você descobre que esperou muito pouco se, fora da sua profissão ou posição social, não tem mais o que esperar. A esperança marca o caminho da humanidade, mas para os cristãos é animada por uma certeza: o Senhor está presente em toda a nossa vida, acompanha-nos e um dia enxugará também as nossas lágrimas. Um dia, não muito longe, tudo encontrará a sua realização no reino de Deus, reino de justiça e de paz.

17) Existem formas muito diferentes de esperar. Se o tempo não for preenchido com um presente significativo, a espera pode ser insuportável; se algo é esperado, mas neste momento não há nada, ou seja, se o presente está vazio, cada momento que passa parece exageradamente longo, e a espera torna-se um peso muito grande, porque o futuro é completamente incerto. Por outro lado, quando o tempo está carregado de significado e a cada momento percebemos algo específico e positivo, então a alegria de esperar torna o presente mais valioso. Queridos irmãos e irmãs, vivamos intensamente o presente, onde os dons do Senhor já nos chegam, vivamo-lo projetados para o futuro, um futuro cheio de esperança. Desta forma, o Advento cristão é uma ocasião para despertar em nós o verdadeiro sentido da espera, regressando ao coração da nossa fé, que é o mistério de Cristo, o Messias esperado durante muitos séculos e que nasceu na pobreza de Belém.

18) Ao vir entre nós, ele nos trouxe e continua a nos oferecer o dom do seu amor e da sua salvação. Presente entre nós, Ele fala-nos de muitas maneiras: na Sagrada Escritura, no ano litúrgico, nos santos, nos acontecimentos da vida quotidiana, em toda a criação, que muda de aparência se está por trás dela ou se está nublado pela névoa de origem e futuro incertos.

19) Podemos falar com ele, apresentar-lhe os sofrimentos que nos entristecem, a impaciência e as perguntas que surgem do nosso coração. Temos certeza que você sempre nos ouve. E se Jesus está presente, não existe mais um tempo sem sentido e vazio. Se Ele estiver presente, podemos continuar a ter esperança mesmo quando outros já não nos podem garantir qualquer apoio, mesmo quando o presente está cheio de dificuldades.

I Domingo do Advento de 2010

20) Durante o tempo do Advento sentiremos que a Igreja nos toma pela mão e, à imagem de Maria Santíssima, manifesta a sua maternidade, fazendo-nos experimentar a alegre expectativa da vinda do Senhor, que nos abraça a todos no seu amor que salva e consola.