Entrevista original publicada em 2013

Ian e Nicola moram em Hamilton, Nova Zelândia, com seus 8 filhos, de um ano e meio a 15 anos de idade, com o nono filho chegando em abril.

Como vocês se prepararam para o matrimônio?

Antes do noivado, discutimos os aspectos essenciais do matrimônio: para a vida toda, abertura à vida e fé em Deus. Embora não tivéssemos certeza de como administrar uma família numerosa, (se esse fosse o plano de Deus), sabíamos que Ele nos ajudaria a lidar com as coisas conforme fossem aparecendo. Estávamos um pouco nervosos em relação ao futuro e resolvemos confiar um no outro e em Deus e dar esse grande passo juntos.

Ian fez o pedido de casamento durante uma caminhada no Monte Victoria em Auckland, e apesar das intenções românticas, não conseguiu fazê-lo de joelhos porque havia muito estrume de gado no pasto. Sendo assim, desde o início estávamos bem conscientes das realidades cotidianas da vida e da importância de se ter bom senso de humor.

Durante o nosso noivado, recebemos aulas de um sacerdote do Opus Dei, que nos ajudou a fortalecer nosso relacionamento e nos deu um entendimento muito claro do compromisso que estávamos assumindo. Aprendemos que a comunicação entre esposos é crucial, e que sempre teremos a graça de Deus quando precisarmos, através do sacramento do matrimônio.

Qual é a melhor coisa no casamento de vocês?

Achamos que a melhor coisa em nosso casamento somos nós, o fato de sermos um para o outro. Compartilhamos as mesmas crenças e valores e isso tem sido ótimo para tomarmos decisões fundamentais tais como ter filhos, lidar com problemas e aprender a nos amarmos e perdoarmos mutuamente. Também amamos muito nossos filhos, embora às vezes eles nos deixem de cabelos em pé. Rezamos juntos, vamos à Missa juntos e somos conscientes de que precisamos nos ajudar mutuamente para irmos para o Céu.

Quais são os desafios da vida matrimonial?

Às vezes é um desafio dar conta de tudo. Nossa vida em casa às vezes é caótica e desorganizada. É um desafio manter a serenidade e a paciência. Às vezes a logística de deixar as crianças na escola, no esporte e outras atividades faz com que nos sintamos motoristas de taxi sem descanso.

Também é um desafio criar filhos numa sociedade que não vive os valores cristãos que transmitimos. No entanto, acreditamos que podemos mudar a sociedade sendo parte ativa dela. Estamos atentos aos livros que nossos filhos leem, filmes que assistem e amigos com os quais convivem. Fazemos um esforço para passar tempo com eles: viagens em família, tempo com cada um, (mesmo que seja lavando pratos juntos), de vez em quando levando um ou mais deles para tomar um sorvete etc. Temos algumas regras que podem parecer um pouco rígidas: não dormir fora de casa, um único celular que deve ser compartilhado por todas as crianças, tempo limitado de computador e TV. Fazemos um monte de outras coisas divertidas em família, como viagens e aventuras, viagens à praia para ver o sol nascer e beber um chocolate quente, viagens para a costa oeste para ver o pôr do sol e as estrelas, passar o dia em parques nacionais para brincar com a neve e visitar nascentes. Muitos dos amigos de nossos filhos comentam com eles que nossa família faz muitas coisas legais, e não achamos que nossos filhos sentem falta dos últimos eletrônicos e de tecnologias.

Como a fé de vocês impacta a visão que têm do casamento?

Somos católicos praticantes, participamos da Missa diariamente e nos confessamos regularmente. O socorro espiritual que vem dos Sacramentos é uma grande ajuda quando problemas inevitáveis surgem em nossa vida familiar. Se um de nós perde a paciência, sempre nos desculpamos e conversamos sobre o assunto. Isso porque fizemos um compromisso para a vida toda de nos amarmos e honrarmos, e também porque sabemos que Deus está presente em nosso casamento e em nossa família, e “boas maneiras” superficiais não são suficientes, Deus sabe tudo o que acontece em nossos corações. Isto nos ajuda a ir muito mais fundo nas razões que geram conflitos, e a nos tratarmos com respeito e humildade ao invés de reagir por orgulho ferido.

Nossa fé também nos dá um sentido mais profundo de nosso casamento: ao invés de ser algo valioso, porém meramente humano, acreditamos que nosso casamento é uma fonte de graça e um meio para crescermos em santidade, e tratamos as coisas que ameaçam ou enfraquecem nosso casamento com muita seriedade. Rezamos regularmente por nosso matrimônio e pela nossa família também, pedindo a Nossa Senhora e a São José que nos ajudem a imitá-los na vida em família.

Como os ensinamentos de São Josemaria os ajudaram enquanto casal?

Os ensinamentos de São Josemaria de que a vida matrimonial é uma fonte de santificação para o casal têm sido uma grande ajuda para nós. Sabemos que a maneira como nos amamos, a maneira como nos comportamos em casa, como lidamos com nossos vizinhos e amigos e como criamos nossos filhos, estão todos relacionados à graça de Deus e à vida cotidiana que cada cristão leigo deve ter.

Somos membros do Opus Dei e os nossos esforços diários para viver nossa vocação, tentando oferecer nosso trabalho a Deus e ser bons pais e amigos, encontrando tempo para Deus na oração, Missa e terço, confissão, tentando estar alegres, ajuda a recomeçar sempre, com a graça de Deus, quando nos desorganizamos ou fazemos algo de errado. A direção espiritual e a formação nos ajudam humana e espiritualmente.

Vocês acham importante terem tempo para estar a sós?

Sem dúvida! Embora às vezes isso possa ser um grande desafio. Frequentemente o tempo à noite quando as crianças estão na cama é dedicado a outras coisas e pode ser difícil encontrar tempo nos finais de semana para podermos conversar e passar algum tempo juntos. Mas encontramos tempo para jantar fora e irmos ao cinema regularmente, e todo ano viajamos sozinhos por um final de semana. Às vezes também colocamos as crianças mais cedo na cama para que tenhamos tempo de conversar ou apenas termos tempo de casal.

Do que jamais abririam mão enquanto família?

Comunicação, oração em família e o terço. Rezamos juntos todas as noites e as crianças participam de uma dezena do Terço e contribuem com suas próprias intenções, normalmente uma grande fonte de diversão para nós e os filhos mais velhos, e provavelmente para o nosso Senhor também.

Qual conselho dariam para jovens casais que se preparam para o matrimônio?

Peçam conselhos a pessoas de confiança, resolvam questões importantes antes mesmo de considerar o casamento, por exemplo: indissolubilidade, abertura à vida, fundamentados na fé e amor e ajuda de Deus. Então, quando tiverem esclarecidos esses pontos importantes, e tiverem recebido aconselhamento e formação sólidos, não esperem. Casem e comecem essa aventura.

Vocês têm algum costume ou tradições de Natal?

Temos uma árvore de Natal e uma árvore de Jessé que decoramos. Montamos o presépio e colocamos a guirlanda. As crianças se envolvem, levando os personagens do presépio cada vez mais perto da manjedoura à medida que a noite de Natal se aproxima. Conversamos com eles sobre o que São José e Nossa Senhora estão vivendo e o que os magos estariam pensando. Na noite de Natal vamos à Missa da meia noite e temos a tradição de colocar gentilmente o Menino Jesus na manjedoura e todas as crianças lhe dão um beijo.