JESUS veio revelar-nos a vida íntima de Deus e o seu projeto de salvação. Mas, como explicar com palavras a grandeza do amor que Ele nos quer dar? Por isso, durante o seu ministério público, o Senhor sentiu a necessidade de encontrar imagens que iluminassem o seu mistério: "A que é semelhante o reino de Deus, a que hei de compará-lo?" (Lc 13, 18), perguntava-se Ele.
Escolhendo imagens da vida quotidiana, Jesus quer introduzir-nos nesse mistério por um caminho que nos é familiar. Nesses exemplos vislumbramos algo da ação de Deus nas nossas almas e na história. O Reino de Deus "é semelhante ao grão de mostarda que um homem tomou e lançou na sua horta. Cresceu, tornou-se árvore e as aves do céu vieram abrigar-se nos seus ramos". Também "é semelhante ao fermento que uma mulher tomou e misturou em três medidas de farinha, até ficar tudo levedado" (Lc 13, 19.21).
O grão de mostarda e o fermento falam-nos de pequenez e de discrição. Deus atua de um modo muitas vezes despercebido, mas sempre eficaz. Para reconhecer esta sua omnipotência humilde e escondida, é necessário reparar naquilo que não chama a atenção. Às vezes pode não ser fácil, pois os nossos dias estão cheios de atividades que requerem boa parte da nossa concentração e podemos não nos aperceber da ação do Senhor. Nessas circunstâncias, porém, "Deus está atuando, como uma pequena semente boa, que brota silenciosa e lentamente. E, pouco a pouco, torna-se uma árvore frondosa que dá vida e abrigo a todos. Também a semente das nossas boas obras pode parecer pequena; no entanto, tudo o que é bom pertence a Deus e, portanto, de modo humilde, lentamente dá fruto. O bem – recordemo-lo – cresce sempre de maneira humilde, de forma oculta, muitas vezes invisível"[1].
AO FALAR do grão de mostarda, Jesus está a descrevendo também aos seus discípulos como será a sua Igreja no mundo: "Com isto o Senhor quis dar uma prova da sua grandeza. Pois exatamente assim acontecerá com a pregação do Reino de Deus. E, de fato, os mais fracos, os mais pequenos entre os homens, eram os discípulos do Senhor; mas, porque havia neles uma força grande, espalhou-se e difundiu-se por todo o mundo"[2]. A evangelização e a extensão do reino de Cristo é uma obra que parte do pequeno. Isto é o que acontece também com cada cristão. Podemos pensar em cada um de nós como um grão de mostarda lançado no terreno do nosso ambiente de trabalho e familiar. Através de pequenos atos de amor, podemos tornar-nos um refúgio para muitas aves do céu que virão fazer os seus ninhos nos nossos ramos.
Esta realidade pode encher-nos de esperança e de otimismo quando pensamos que é difícil estender o Reino de Deus por todo o mundo. Talvez "nos assalte o pensamento de que somos muito poucos os que decidimos responder a esse convite divino, para além de nos considerarmos instrumentos de fraca qualidade"[3]. No entanto, sabemos que um pouco de fermento é suficiente para levedar toda a massa. Estamos certos "de que Jesus Cristo nos redimiu a todos e quer servir-se de alguns de nós, apesar da nossa nulidade pessoal, para darmos a conhecer esta salvação"[4]. A história da Igreja começou com umas poucas pessoas sem muitos talentos, mas com a graça de terem visto Jesus ressuscitado e de terem recebido o Espírito Santo. Outros tinham mais condições ou meios à sua disposição, como mostram as cartas de S. Paulo ao falar das primeiras comunidades cristãs. Em qualquer caso, a força da fé feita vida levou uns e outros a chegar até aos confins do mundo conhecido e aos diferentes estratos da sociedade. E é desse modo que também nós podemos chegar a todas as pessoas que nos rodeiam.
O FERMENTO atua como uma força oculta e misteriosa. S. Josemaria descrevia assim a cena do pão caseiro: "Em muitos sítios – talvez já o tenhais presenciado – a preparação da fornada é uma verdadeira cerimônia, que permite obter um produto excelente, saboroso, que se come com os olhos. Escolhe-se boa farinha, se possível, da melhor. A massa é trabalhada na masseira, em tarefa demorada e paciente, para ficar bem misturada com o fermento. Segue-se um tempo de repouso, imprescindível para que o fermento cumpra a sua missão: fazer crescer a massa. Entretanto, o lume arde no forno, animado pela lenha que se consome. E aquela massa, metida ao calor do forno, transforma-se num pão tenro e esponjoso, de grande qualidade; um resultado que seria impossível de conseguir se o fermento – em pequena quantidade – não se tivesse diluído, desaparecendo entre os outros elementos, num trabalho eficiente, mas que passa despercebido"[5].
No silêncio da nossa oração, e também no meio da nossa jornada, podemos deixar entrar a palavra de Deus como uma pitada de fermento. Assim, pouco a pouco, ela pode atuar no nosso coração e nas nossas ações, transformando a nossa vida em pão bom e apetitoso. Talvez nos tenha acontecido que, ao ler a Sagrada Escritura, ressoe na nossa alma um versículo, uma imagem ou uma frase. Nesses casos, podemos guardar essa palavra, misturando-a com a nossa vida quotidiana para que a fermente e divinize: "A Bíblia adverte-nos que a voz de Deus ressoa na calma, na atenção, no silêncio. (...) Não é simplesmente um texto para ser lido; a Palavra de Deus é uma presença viva, é uma obra do Espírito Santo que conforta, instrui, dá luz, força, descanso e gosto de viver. Ler a Bíblia, ler um trecho, um ou dois trechos pequenos da Bíblia, são como pequenos telegramas de Deus que te chegam logo ao coração"[6]. Na parábola do fermento aparece também uma mulher. Podemos pensar que, no fundo, essa mulher é Maria, que está sempre trabalhando para esconder o fermento de Cristo no coração dos seus filhos, para fazer crescer e amadurecer as nossas vidas.
[1] Francisco, Angelus, 13/06/2021.
[2] S. João Crisóstomo, Homilias sobre o Evangelho de Mateus, n. 46.
[3] S. Josemaria, Amigos de Deus, n. 9.
[4] Ibid.
[5] S. Josemaria, Amigos de Deus, n. 257.
[6] Francisco, Audiência, 21/12/2022.