- Purificar o templo para a oração.
- A Igreja é o templo para o mundo.
- Junto com Cristo somos pedras vivas da Igreja.
DURANTE SUAS ESTADIAS em Jerusalém, Jesus ensinou todos os dias no Templo. Esse era o lugar do encontro com Deus através da oração e dos sacrifícios. Era o símbolo da proteção de Javé, de sua presença, sempre disposto a escutar o seu povo e a socorrer as pessoas que se dirigiam a Ele nos momentos de necessidade. Deus quis habitar entre os homens para que, assim, os homens encontrassem a Deus.
O Senhor ia até a Cidade Santa, acompanhado dos apóstolos, com a alegria do Filho que vai rezar na casa do seu Pai. No entanto, o ambiente que se respirava nem sempre era o mais propício à oração. A dinâmica que se instaurara, por causa dos sacrifícios previstos na lei, fazia com que o Templo – e, principalmente, a sua enorme esplanada – parecesse mais um lugar de negócios. Não é difícil imaginar os gritos, o movimento das pessoas e animais.
Numa destas visitas, Jesus decidiu “expulsar os vendedores. E disse: Está escrito: Minha casa será casa de oração” (Lc 19,45). A cena deve ter sido chocante. E com esta imagem em mente podemos lembrar que também nós “somos templos do Espírito Santo. Eu sou um templo. O Espírito de Deus está em mim (...). Também nós devemos purificar-nos continuamente porque somos pecadores: purificar-nos com a oração, com a penitência, com o sacramento da reconciliação, com a Eucaristia”[1].
O TEMPLO onde Deus habita não é apenas um edifício construído com as nossas mãos. Em última análise, o templo é o Corpo de Cristo, ou seja, a Igreja: a Igreja acolhe a presença de Deus. “Eis que quanto se tinha prenunciado no antigo Templo é realizado pelo poder do Espírito Santo na Igreja: a Igreja é a ‘casa de Deus’ (...). Se nos perguntarmos: onde podemos encontrar Deus? Onde podemos entrar em comunhão com Ele, através de Cristo? Onde podemos encontrar a luz do Espírito Santo que ilumina a nossa vida? A resposta é: no Povo de Deus, no meio de nós, que somos Igreja”[2].
Certamente, nós, homens, podemos “ensombrecer o rosto limpo da Igreja”[3] porque, embora seja um povo santificado por Cristo, é constituído por criaturas frágeis. São Josemaria fazia notar que “esta aparente contradição marca um aspecto do mistério da Igreja. A Igreja, que é divina, é também humana, porque está formada por homens e os homens têm defeitos: (...). Nosso Senhor Jesus Cristo, que funda a Santa Igreja, espera que os membros deste povo se empenhem continuamente em adquirir a santidade (...). Na Esposa de Cristo pode encontrar-se, ao mesmo tempo, a maravilha do caminho de salvação e as misérias daqueles que o percorrem”[4]. A Igreja é um templo para todo o mundo na vida de cada cristão. Por isso queremos, com a ajuda de Deus, fazer brilhar, com a maior transparência possível, o Deus que quer se fazer presente em nós.
A IGREJA DE CRISTO é construída com “pedras vivas” (1Pe 2,5) das quais, a primeira é Jesus, aquela pedra “que os homens rejeitaram, mas escolhida e preciosa aos olhos de Deus” (1Pe 2,4). Ao mesmo tempo, cada batizado é uma 'pedra viva' para construir um edifício espiritual, um sacerdócio santo, para oferecer vítimas espirituais, agradáveis a Deus, por Jesus Cristo”. (1Pe 2,5) Longos rituais ou sacrifícios de animais não são mais necessários. A principal oferta que Deus espera é a entrega diária da nossa vida unida à de Cristo: isto é “o sacrifício perfeito e santo”[5], a hóstia agradável aos olhos de Deus.
O Senhor deseja que o templo do nosso coração não seja, como diz Santo Ambrósio, uma “casa de negócios, mas na morada da santidade”[6]. Com a purificação do Templo, Jesus nos convida a purificar as nossas intenções, de maneira que a nossa busca por Deus seja a mais autêntica possível. Para que o coração seja uma casa de oração, é preciso afastar o ruído, o barulho, encontrar momentos de silêncio interior para contemplar Jesus. Nesse silêncio é onde, imperceptivelmente, grandes coisas acontecem, grandes mudanças para a nossa vida e para o nosso ambiente.
Assim o expressa um hino da Liturgia das horas: “Aonde quer que o cristão vá / não há solidão, mas amor, / pois ele carrega toda a Igreja / dentro de seu coração. / E sempre diz ‘nós’, / mesmo que diga ‘eu’”. E no centro desse “nós” está Maria, templo do Espírito Santo e Mãe da Igreja: ela intercede por nós para que a nossa vida seja cada dia mais santa, mais feliz: melhor pedra viva desse Templo que é o seu Filho.
[1] Francisco, Homilia, 22/11/2013.
[2] Francisco, Audiência, 26/06/2013.
[3] São Josemaria, Lealdade à Igreja
[4] Ibidem, n. 23
[5] Cânon Romano, Oração Eucarística I.
[6] Santo Ambrósio, comentário à essa passagem na Catena aurea.