Meditações: sábado da 16ª semana do Tempo Comum

Reflexão para meditar no sábado da 16ª semana do Tempo Comum. Os temas propostos são: não nos admirarmos com a presença do joio; contar com a luz do Senhor; saber olhar com paciência.


“Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde veio então o joio?” (Mt 13, 27). Estas perguntas do Evangelho refletem a surpresa dos servos de uma parábola que, depois de semear boa semente, descobrem que também cresce joio no campo. Ficam desconcertados, sem entender a sua origem. A princípio, talvez pensem que foi culpa deles, já que, para olhos menos experientes, as duas plantas podem parecer semelhantes. Mas rapidamente compreendem que o seu senhor não teria permitido algo mau. Então se dirigem a ele para averiguar o que aconteceu. A resposta do dono é clara e simples: “Foi algum inimigo que fez isso” (Mt 13, 28).

Mais adiante, ao explicar esta parábola ou outras relacionadas com sementeiras, Jesus esclarecerá que o campo pode representar o mundo ou o coração humano. Isso esclarece o sentido profundo das perguntas que nos fazemos ao encontrar o mal: de onde surgem os sentimentos negativos que descobrimos em nosso coração e ao nosso redor? Perante esta inquietação, São Josemaria comentava: “o mundo não é mau porque saiu das mãos de Deus, porque é uma criatura Sua, porque Javé olhou para ele e viu que era bom. Nós, os homens, é que o tornamos mau e feio, com os nossos pecados e as nossas infidelidades”[1].

Comprovar a presença de joio na sociedade ou em nós mesmos, longe de nos desanimar, pode nos ajudar a ser humildes e a confiar na graça de Deus. Os próprios defeitos, quando os combatemos, levam-nos ao Senhor. Ele não se escandaliza ao descobrir o mal que pode haver na nossa vida, mas nos anima a fazer crescer tudo o que há de bom em nós e, inclusive, a aproveitar a presença do joio para fortalecer os nossos desejos de servi-lo. “Portanto, quando sentirmos em nós mesmos, ou nos outros, qualquer debilidade, não deveremos mostrar surpresa: lembremo-nos daqueles que, com indiscutível fraqueza, perseveraram e levaram a palavra de Deus a todos os povos e foram santos. Estamos dispostos a lutar e a caminhar: o que importa é a perseverança”[2].


A BOA DISPOSIÇÃO dos servos, embora tardia, por não terem sido vigilantes, leva-os a tomar uma medida decisiva: destruir a cizânia. Mas, antes de atuar, são prudentes e decidem perguntar: “Queres que vamos arrancar o joio?” (Mt 13, 28). O olhar do seu senhor tem maior alcance e vê as dificuldades que podem surgir ao levar a cabo essa operação: “Não! Pode acontecer que, arrancando o joio, arranqueis também o trigo” (Mt 13, 29).

Não basta querer se livrar do joio. As energias que surgem no ser humano perante a percepção da injustiça e do mal têm que ser encaminhadas adequadamente. O uso intempestivo e imprudente delas pode nos levar a julgamentos precipitados que nos impedem de reconhecer a boa semente e arrancá-la junto com as ervas daninhas. Daí a necessidade de olhar no nosso interior o bem e o mal que podem estar crescendo. “Há um bom método para fazer isso: chama-se exame de consciência, que consiste em ver o que aconteceu na minha vida hoje, o que atingiu o meu coração e que decisões tomei. Precisamente para ver, à luz de Deus, onde está o joio e onde está a boa semente”[3].

Depois de uma reação impetuosa, será prudente recorrer ao Senhor na nossa oração e pedir-lhe que nos ajude a entender os acontecimentos à luz do seu olhar. Procuraremos o seu conselho e o de pessoas que possam nos ajudar. Contaremos o que temos intenção de fazer e explicaremos qual é a nossa percepção da situação, permitindo que sugeriram outros pontos de vista, tal como faz o Senhor na parábola: “Deixai crescer um e outro até a colheita” (Mt 13, 30).


O MOTIVO de deixar crescer juntos o trigo e o joio não é uma questão de cálculo ou de preguiça. Corresponde antes à capacidade de captar o bem como algo que deve ser protegido até ter amadurecido, pois muitas vezes não é fácil distingui-lo do mal. “No campo do Senhor, isto é, na Igreja, às vezes o que era trigo torna-se cizânia e o que era cizânia converte-se em trigo; e ninguém sabe o que será no futuro. Por isso, o pai de família não consentiu que os seus trabalhadores indignados arrancassem a cizânia; queriam arrancá-la, mas não lhes permitiu que separassem a cizânia”[4].

A má semente, no nosso dia a dia, pode ser mais complicada de reconhecer quando tem aspecto de boa. “O método do diabo é misturar sempre a verdade com o erro, revestindo este com as aparências e cores da verdade, de maneira a poder seduzir facilmente os que se deixam enganar”[5]. O inimigo tentará nos enganar para que nos centremos em fazer algo bom, mas que não é a semente que Deus quer plantar em nós. E talvez só quando tiver passado o tempo e virmos as consequências, perceberemos que não produziu o fruto que esperávamos.

Por isso, quando procuramos ajudar alguém, convém ter presente que as pessoas não mudam de um dia para o outro: todos precisamos de um olhar cheio de compreensão e carinho para aprender a distinguir a cizânia e o trigo que crescem simultaneamente na própria vida. Também podemos aprender com os efeitos da semente má – quando tivermos feito algo errado – para que isso nos ajude a ter uma decisão mais firme de fazer crescer a boa semente e dedicar as mais nobres energias ao bem. “A paciência não é apenas uma necessidade, é uma vocação: se Cristo é paciente, o cristão é chamado a ser paciente. E isto faz-nos ir contra a corrente em relação à mentalidade generalizada de hoje, na qual dominam a pressa e o ‘tudo já’; na qual, em vez de esperar que as situações amadureçam, pressionam-se as pessoas, esperando que mudem instantaneamente. Não esqueçamos que a pressa e a impaciência são inimigas da vida espiritual. Por quê? Deus é amor, e quem ama não se cansa, não é irascível, não impõe ultimatos, Deus é paciente, Deus sabe esperar”[6]. A Virgem Maria, como boa mãe, pode ajudar-nos a entender que o amor é paciente e respeita o ritmo dos outros.


[1] São Josemaria, Entrevistas a São Josemaria, n. 114.

[2] Ibid., Carta 2, n. 48.

[3] Francisco, Ângelus, 23/07/2023.

[4] Santo Agostinho, Sermão 73 A (Caillau II, 5), 1.

[5] São João Crisóstomo, Homilias sobre São Mateus, 46, 1.

[6] Francisco, Audiência, 27/03/2024.