Meditações: Quinta-feira da 3ª semana do tempo comum

Reflexão para meditar na quinta-feira da 3ª semana do tempo comum. Os temas propostos são: Somos portadores da luz de Cristo; Difundir o Evangelho através do trabalho diário; A naturalidade do apostolado.


JESUS FALA a língua de todo mundo, uma língua impregnada da vida cotidiana. Ele pergunta, por exemplo: “Quem é que traz uma lâmpada para colocá-la debaixo de um caixote, ou debaixo da cama? Ao contrário, não a coloca num candeeiro?” (Mc 4,21). Muitos dos seus ouvintes teriam tido um alqueire em casa, que era um pequeno balde de madeira de forma retangular e uma capacidade de cerca de nove litros. O trigo ou a farinha eram derramados neste recipiente; era indispensável para fazer pequenos negócios, bem como para calcular os dízimos prescritos pela lei. As lâmpadas para uso doméstico eram geralmente feitas de terracota ou bronze, de formas variadas, embora a mais comum fosse uma base circular com um buraco no centro através do qual o óleo era derramado. Finalmente, os candeeiros eram frequentemente um simples nicho na parede. De acordo com alguns arqueólogos, os hebreus costumavam deixar uma lâmpada acesa nas suas casas, provavelmente para manter os saqueadores afastados.

Todos os cristãos receberam a luz de Cristo, que veio ao mundo para dissipar as trevas do mal e da morte. Pela graça e misericórdia do Senhor, recebemos essa luz no nosso coração e, como filhos de Deus, somos chamados a ser “portadores da única chama capaz de iluminar os caminhos terrenos das almas”[1]. É um grande dom e uma tarefa imensa. Em certo sentido, “de nós depende que muitos não permaneçam em trevas, mas andem por caminhos que levam até à vida eterna”[2]. “Um discípulo e uma comunidade cristã são luz no mundo quando orientam os outros para Deus, ajudando cada um a experimentar a sua bondade e misericórdia. O discípulo de Jesus é luz quando sabe viver a sua fé fora dos espaços restritos (...). Fazer luz. Mas não se trata da minha luz, é a luz de Jesus: nós somos instrumentos para que a luz de Jesus chegue a todos”[3].


QUEREMOS PÔR o Senhor num lugar muito alto para que a sua luz atinja a todos. Mas como podemos pôr em prática esta exortação evangélica? São Josemaria explicava que, para a grande maioria dos cristãos, difundir a luz de Cristo não consiste em renunciar às ocupações normais e dedicar-se apenas à pregação da Palavra de Deus; nem consiste simplesmente em dedicar um tempo diário ou semanal, a práticas piedosas ou atividades apostólicas. O fundador do Opus Dei sugeria um caminho mais ambicioso: ser santos e apóstolos no exercício da própria profissão ou ofício.

“Tu e eu somos cristãos, mas ao mesmo tempo, e sem solução de continuidade, cidadãos e trabalhadores, com umas obrigações claras que temos de cumprir de um modo exemplar, se nos queremos santificar de verdade (...). O trabalho profissional - seja qual for - converte-se no candeeiro que ilumina os vossos colegas e amigos. Por isso, costumo repetir aos que se incorporam ao Opus Dei, e a minha afirmação é válida para todos os que me escutam: pouco me importa que me digam que fulano é um bom filho meu - um bom cristão -, mas um mau sapateiro! Se não se esforça por aprender bem o seu ofício ou por executá-lo com esmero, não poderá santificá-lo nem o oferecer ao Senhor. E a santificação do trabalho ordinário é como que o eixo da verdadeira espiritualidade para os que - imersos nas realidades temporais - estão decididos a ter uma vida de intimidade com Deus”[4].

É muito encorajador saber que o nosso trabalho, feito por amor a Deus e com espírito de serviço, transforma-nos em pessoas que transmitem a luz divina aos outros. “Quando observamos o funcionamento interno das coisas elétricas, geralmente vemos fios pequenos e grandes, novos e velhos, caros e baratos. Até que a corrente passe através deles não haverá luz. Esses fios somos eu e você. A corrente é Deus. Temos o poder de permitir que a corrente passe através de nós, faça uso de nós, produza a luz do mundo. Ou podemos nos recusar a ser usados e permitir que a escuridão se espalhe”[5].


“TUDO O QUE está escondido deverá tornar-se manifesto, e tudo o que está em segredo deverá ser descoberto” (Mc 4,22), o Senhor continua dizendo. Estas palavras têm um valor escatológico, mas também nos ajudam a considerar o reflexo que a luz que Cristo acendeu dentro de nós, que se manifesta em nossa vida diária. Quando um cristão procura manter vivo o seu diálogo com Deus, o seu amor às almas leva-o a falar, a compartilhar, comunicar com naturalidade o que o encontro com Jesus significou na sua vida. Isto frequentemente acontece sem nenhum esforço especial. Mas talvez, em outras ocasiões, será preciso considerar a grandeza do que está em jogo, a fim de superar a própria timidez.

São Paulo VI recordava-nos que “propor Cristo e o seu reino, mais do que um direito, é um dever do evangelizador. E é também um direito dos homens seus irmãos o receber dele o anúncio da Boa Nova da salvação. Esta salvação, Deus pode realizá-la em quem ele quer por vias extraordinárias que somente ele conhece. E entretanto, se o seu Filho veio, foi precisamente para nos revelar, pela sua palavra e pela sua vida, os caminhos ordinários da salvação. E ele ordenou-nos transmitir aos outros essa revelação, com a sua própria autoridade. Sendo assim, não deixaria de ter a sua utilidade que cada cristão e cada evangelizador aprofundasse na oração este pensamento: os homens poderão salvar-se por outras vias, graças à misericórdia de Deus, se nós não lhes anunciarmos o Evangelho; mas nós, poder-nos-emos salvar se, por negligência, por medo ou por vergonha, aquilo que São Paulo chamava exatamente "envergonhar-se do Evangelho", ou por se seguirem ideias falsas, nos omitirmos de o anunciar?”[6].

Peçamos à nossa Mãe do Céu a humildade necessária para abrir as nossas almas a Jesus com simplicidade; e, através desse encontro, que muitos dos que nos rodeiam venham a receber de forma natural a luz de Deus.


[1] São Josemaria, Forja, n. 1.

[2] Ibid.

[3] Francisco, Ângelus, 9/02/2020.

[4] São Josemaria, Amigos de Deus, n. 61.

[5] Santa Teresa de Calcutá, Amor maior não há, Universo dos Livros, São Paulo, 2017.

[6] São Paulo VI, Evangelii nuntiandi, n. 80.